Verão exige precauções contra aranha-marrom

Em 2007 foram registrados 2.632 casos de pessoas picadas em Curitiba. Sintomas aparecem 12 horas depois

Folha de Londrina | 14 de janeiro de 2009


Considerada a capital nacional da aranha-marrom, Curitiba registrou, em 2007, 2.632 mil casos de pessoas picadas. O alto índice causa espanto em pesquisadores de outras regiões do País e exige diversos cuidados por parte da população, principalmente durante os períodos mais quentes, ideais para a ação das aranhas.

À procura de abrigo e alimento, as aranhas-marrons saíram dos matagais, seu habitat natural, e abrigaram-se dentro de casa, em locais quentes e secos. Os espaços preferidos são atrás de móveis, quadros, junto de roupas e papéis e o que as atrai são casas de madeira, espaços na parede, no rodapé ou no forro, além da temperatura agradável.

Como são animais de hábitos noturnos, as aranhas-marrons saem durante a noite para caçar insetos, dos quais se alimentam. Elas não são agressivas e atacam as pessoas quando se sentem ameaçadas. ‘’A maioria das picadas acontece por descuido da pessoa. Ela ataca só para de defender, em úlitmo caso, quando não tem o que fazer’’, explica o biólogo e coordenador da Vigilância Epidemiológica, setor da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Marcelo Vetorello.

Os casos mais comuns -mais de 70%- são picadas no tronco, braços e pernas, áreas que são cobertas por roupas em que as aranhas ficam escondidas. Em menor quantidade, os acidentes atingem as mãos e dedos durante a limpeza, e os mais raros -aproximadamente 6%- são picadas na região da face, cabeça e pescoço, que acontecem quando a pessoa deita a cabeça no travesseiro, veste um boné ou chapeu.

A picada da aranha-marrom é indolor e os sintomas aparecem entre seis e doze horas depois do acidente. A região da picada fica com maior sensibilidade, ardência semelhante à queimadura de cigarro e com a formação de uma pequena bolha. Com o agravamento do machucado, a região apresenta inchaço e o tecido deixa de ser vascularizado. Os casos de morte são raros. Desde 2002 foram registrados quatro óbitos. Nesta situação, o veneno cai na corrente sanguinea e provoca insuficiência renal.

No caso de picada de aranha-marrom a recomendação é procurar imediatamente qualquer Unidade Básica de Saúde, em que os profissionais passaram por capacitações específicas sobre o tratamento.


Condições favoráveis na Capital
Diversos fatores contribuem para que a cidade tenha destaque entre as demais. Alguns são tipicamente curitibanos, como explica o biólogo e coordenador da Vigilância Epidemiológica, setor da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Marcelo Vetorello. ‘’É aquele hábito dos curitibanos de guardar as coisas em caixas de papelão e as casas coloniais, de madeira, dos imigrantes europeus, que possuem sótão e porão’’, afirma.

Vetorello também aponta o processo de urbanização de Curitiba entre as décadas de 1960 e 1980, quando as aranhas afastaram-se do desenvolvimento do centro da cidade, mas encontraram a população de aranhas que se distanciava da urbanização da Região Metropolitana de Curitiba (RMC). Os fatores climáticos que reduziram o período de frio intenso na Capital também são citados pelo biólogo. Nas épocas mais frias a população de aranhas-marrons é controlada, pois muitos filhotes morrem pelo frio e as adultas esperam pelo aumento da temperatura. ‘’Teve também uma mudança cultural. Antes a gente criava em casa galinha, pássaros, sapos, que são inimigos naturais das aranhas’’, lembra.

Os registros de casos de picadas de aranha-marrom apontam os bairros Fazendinha, Campo Comprido, Boa Vista, Barreirinha, Hauer, Xaxim e Boqueirão, como os que concentram os maiores números. ‘’Elas estão pela cidade inteira, mas no centro são menos casos, como no São Francisco, Ahú, Juvevê, Cabral’’, afirma Vetorello. Ele aponta a dinâmica de vida no centro da cidade, a estrutura das casas e fatores como radiação, umidade e poluição são os responsáveis pela diferença entre os bairros.

O ano com maior registros de picadas por aranha-marrom foi 2004, com 3,744 mil casos. A média na cidade é de 3 mil casos por ano. Este índice causa espanto em pesquisadores de outras regiões do país, como os de São Paulo, por exemplo, em que a média gira em torno de 150 casos por ano. ‘’Quando vou a congressos, eles não acreditam, perguntam como isso é possível’’, conta o biólogo.


Soro usado em todo País é produzido no Paraná
O soro utilizado no tratamento das picadas de aranha-marrom em todo o Brasil é produzido pelo Centro de Produção e Pesquisa de Imunobiológicos (CPPI).

Por ano são produzidas no centro seis mil ampolas, que são encaminhadas ao Ministério da Saúde, responsável pela distribuição aos estados. Devido ao alto índice de casos em Curitiba e região metropolitana, o Paraná consome aproximadamente metade da produção.
''O soro é o melhor medicamento para o veneno. Ele possui anticorpo de verdade'', afirma o médico veterinário e chefe do CPPI, João Minozo.

Corticóides
O biólogo e coordenador da Vigilância Epidemiológica, setor da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Marcelo Vetorello, explica que a eficácia do soro acontece entre 48 e 72 horas. Após este período, apenas o uso do corticóide é recomendado. ''O soro age no veneno e o corticóide trabalha no tecido com o veneno'', explica Vetorello.

Um comentário:

  1. Uma dúvida sobre interpretação de texto:
    "a eficácia do soro acontece entre 48 e 72 horas"
    Quer dizer que antes de 48h não há eficácia?

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