Demissões na Folha de Londrina

Sindijor-PR protesta contra 18 demissões na Folha de Londrina e tenta revertê-las na DRT

A Folha de Londrina anunciou nesta segunda-feira (8/9) a demissão de mais da metade do seu quadro de jornalistas na sucursal de Curitiba. Dos 33 profissionais que trabalham na redação, 18 seriam demitidos, segundo a empresa.

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná (Sindijor-PR) já acionou a Superintendência Regional do Ministério do Trabalho no Estado (SRTE, antiga DRT).

Uma mesa-redonda entre o jornal e o Sindicato debaterá a reversão das demissões na manhã da próxima segunda-feira (15/6), a partir das 11 horas, na sede da superintendência, localizada na esquina das ruas José Loureiro e Travessa da Lapa.

Antes, às 13 horas desta quarta-feira (10/6), os jornalistas devem protestar na Boca Maldita contra a série de demissões. A categoria já havia agendado uma manifestação para essa data, em razão do julgamento, pelo STF (Supremo Tribunal Federal), da ação que trata do diploma de jornalismo. Agora, o ato também servirá de protesto contra as 18 dispensas.

Arbitrária e injusta, a medida configura dispensa coletiva, conforme a cláusula 36 da atual convenção coletiva de trabalho da categoria.

“As demissões irregulares são a culminação de uma série de violações a direitos dos trabalhadores jornalistas pela Folha de Londrina”, diz trecho de nota divulgada pelo informativo diário “Extra-Pauta”, do Sindijor-PR.

“Atrasos no reajuste salarial determinado por convenção e irregularidades nos pagamentos de horas extras (estas somente sanadas por acordo coletivo, formalizado em 2008) foram práticas usuais da empresa nos últimos anos.”

Abaixo, a lista dos trabalhadores atingidos pela demissão coletiva anunciada pela Folha de Londrina:

Editores
Rodrigo Lopes - Esportes
Elen Taborda - Cidades
Maria Duarte - Cidades

Repórteres
André Amorim
Karla Losse
Denise Ribeiro
Dimas Rodrigues
Júlio César Lima
Rafael Urban
Bia Moraes
Cláudia Palaci
Tiago Alonso
Carolina Gabardo Belo
Rodrigo Juste Duarte

Fotógrafos
Letícia Moreira
Mauro Frasson

Diagramadores
Letícia Correia
Ivan Vilhena

do blog: http://acordajornalista.blogspot.com/2009/06/sindijor-pr-protesta-contra-17.html

Casa da Barbie chega a Curitiba

Folha de Londrina | 04 de junho de 2009

Símbolo de juventude, moda e beleza, a boneca Barbie estará em carne e osso em Curitiba no próximo domingo para celebrar seu aniversário de 50 anos, comemorado em março deste ano. Até lá, as crianças podem visitar a sua casa, que está montada no Parque Barigui e oferece, além de diversão, atividades educativas.

Com sala, cozinha, banheiro e quarto, a estrutura representa fielmente o brinquedo que é comercializado. Em cada cômodo, os visitantes conhecem onde mora a boneca e também recebem informações educativas. "O objetivo é aproximar as crianças da Barbie e, com brincadeiras, passar boas informações", explica o coordenador do evento, Bruno Lopes.

Na cozinha, a conversa dos instrutores com as crianças é sobre a alimentação saudável e a separação correta do lixo. No quarto, os livros utilizados pela personagem mostram que é muito importante a leitura, a busca por novas informações e o contato com a cultura. O papo termina no banheiro, onde é reforçada a orientação da importância da escovação correta dos dentes.

Do lado de fora, uma escolinha de trânsito dá noções de sinalização, com faixas de pedestres e até semáforos. As crianças percorrem todo o trajeto em bicicletas da Barbie e dos carrinhos Hot Wheels, para cativar os meninos.

A entrada na casa da boneca é um quilo de alimento não-perecível, que será destinado ao Instituto Pró-Cidadania de Curitiba (IPCC). Hoje, a visitação será restrita a crianças de escolas cadastradas. A partir de amanhã a visitação é aberta ao público, das 10 às 18 horas. No sábado, às 18h30, o Cine Barbie vai exibir o filme "Barbie e o Pequeno Polegarzinho". No domingo, a Barbie estará em sua casa, das 9 às 13 horas.

A casa está montada em cima de uma carreta, que depois de Curitiba vai percorrer outras 11 cidades do Estado. Entre eles Ponta Grossa, Londrina, Maringá, Cascavel, Guarapuava, Toledo e Pato Branco. Na estrada desde outubro do ano passado, o brinquedo encerra a viagem no diz 18 de dezembro, percorrendo todos os estados brasileiros.

Alunos surdos pedem intérpretes de Libras

Manifestação em Curitiba alerta para problemas de aprendizagem por falta de profissionais

Folha de Londrina | 02 de junho de 2009

Há quatro anos, o estudante Ivan Gomes Moraes,19, abandonou a colégio em que estudava, em Foz do Iguaçu. Surdo desde que nasceu, o jovem foi prejudicado pela ausência de um interprete da Língua Brasileira de Sinais (Libras) na escola, para traduzir os conteúdos passados pelos professores. "Não conseguia entender as aulas", conta.

Desde então, Moraes passa os dias em casa, sem nenhuma atividade educativa. Ele, que pretende trabalhar em uma empresa, se preocupa agora com o possível esquecimento da língua portuguesa, que não pratica mais.

Seu amigo, Jordão Siqueira Gomes, 16, continua na escola em Foz. Mesmo com 70% de audição em um ouvido e 0% em outro, ele também sente dificuldades em acompanhar os professores que não dominam Libras e não contam com a ajuda de intérpretes. "Fica difícil, os professores passam algumas matérias difíceis e eu me perco, não consigo pegar", afirma.

Na escola onde estudam, a única do município que recebe surdos, são aproximadamente 100 alunos com a deficiência, cerca de 15 em cada turma. Em nenhuma das séries um profissional faz a tradução para Libras. Entre muitos colegas de turma, os estudantes com deficiência auditiva passam ainda pelo estigma de serem burros. "Mas sem intérprete não dá." Preconceito esse que continua fora dos muros da escola. "Dizem que surdo é vagabundo, que não quer trabalhar e que não sabe falar", reclama o jovem.

Assim como Ivan e Jordão, 5 mil alunos paranaenses passam por dificuldades nas aulas pela ausência de profissionais que dominem Libras, de acordo com a Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos (Feneis). O problema estende-se desde a educação infantil ao ensino superior. Apenas 18 escolas são específicas para atender a esse público, enquanto o restante dos alunos está em processo de inclusão nas escolas regulares. "Eles passam por uma limitação cultural, que prejudica seu desenvolvimento", avalia o psicólogo Aldemar da Costa, que atende a estudantes surdos e suas famílias.

Uma manifestação realizada ontem, no centro de Curitiba, pediu o cumprimento da Lei Federal 10.436 e do Decreto Federal 5626, que reconhecem a Libras como língua das comunidades surdas brasileiras. Eles determinam que órgãos públicos garantam atendimento adequado às pessoas com deficiência auditiva e que a Libras seja inserida como disciplina curricular obrigatória em cursos de formação de professores. "Faltam intérpretes nas instituições, os professores não estão preparados. Hoje, os concursos públicos são organizados apenas para os ouvintes", critica a presidente da Feneis, Elizabete Favaro.

Os manifestantes pedem o ensino de Libras nas escolas, determinação do português como a segunda língua nas avaliações às pessoas com deficiência auditiva, educação bilíngue nas escolas frequentadas por surdos, realização de concursos públicos para a contratação de intérpretes e professores surdos e disponibilização de intérpretes nos serviços públicos.

Capacitação
Segundo a Secretaria de Educação de Curitiba, nas escolas municipais da Capital, estão matriculados 76 alunos com deficiência auditiva. Eles estudam no ensino regular e, durante o contraturno, participam de atividades de oralização. Os professores da rede municipal também podem participar de capacitações de noções básicas em Libras, para aproximação com os alunos.

Já a Secretaria Estadual da Educação informou que há 354 intérpretes de Libras atuando na rede estadual de ensino. Segundo nota, o número só não é maior porque a formação requer tempo e a oferta de profissionais é pequena. Ainda de acordo com a secretaria, desde 1998, o Paraná tem uma lei, que oficializa a Libras, anterior à norma federal.

Cardíacos precisam de tratamento rigoroso

Controle de fatores de risco e hábitos saudáveis devem ser adotados pelos pacientes

Folha de Londrina | 29 de maio de 2009

As doenças cardiovasculares não têm cura, mas são controláveis. As complicações desses problemas podem ser evitadas quando se consegue a adesão dos pacientes. Em todo o mundo, são 17,5 milhões de vítimas fatais a cada ano.

Entre as doenças mais preocupantes estão o infarto -com altos índices de mortes súbitas-, a hipertensão arterial e as alterações no colesterol, chamadas pelos especialistas de dislipidemia. A partir dos 40 anos de idade, os casos passam a ser mais frequentes e o tratamento desses males exige mudança na rotina.

O controle de fatores de risco, como o sobrepeso, a prática de atividades físicas ou dietas saudáveis possibilitam a normatização do quadro clínico sem o uso de medicamentos. Em casos moderados ou graves, os remédios são necessários com a combinação de medidas preventivas.

Para o presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia -Regional Paraná, José Carlos Moura Jorge, a principal dificuldade está na adesão dos pacientes. Ele exemplifica com os casos de hipertensão arterial, em que aproximadamente 40% dos brasileiros têm o diagnóstico da doença, mas apenas 15% realizam o tratamento adequado.

Jorge ressalta que, por não terem cura, as doenças cardiovasculares precisam ser controladas. O êxito do tratamento também depende do diálogo entre os médicos e os pacientes, para que não abandonem o acompanhamento. "Os pacientes não têm a cultura de cuidar das doenças crônicas e têm o conceito de que as coisas são finitas. Os médicos precisam conversar muito com o doente, senão não tem adesão. Em alguns casos, a conversa é mais importante que o remédio", observa.


Prevenção pode reduzir mortes em dois terços
A prevenção pode reduzir em dois terços a mortalidade por doenças cardiovasculares. Merecem atenção o controle da obesidade, diabetes, colesterol alto, tabagismo, sedentarismo e estresse, que, controlados, inibem a ocorrência das doenças e, em muitos casos, não apresentam sintomas. O histórico familiar dessas doenças também causam predisposição ao problema.

"Às vezes, o infarto do miocárdio não dá a segunda chance. Causa morte súbita, sem sintomas", alerta Jorge. A partir desse quadro, o cardiologista orienta aos pacientes atenção e rapidez na procura de atendimento nas primeiras dores no peito, uma vez que a demora no atendimento compromete gradativamente a recuperação.

"Existe sempre a negação, (os pacientes) dizem que não é nada, é um mal estar passageiro e deixa de ir a um hospital. O infarto é relacionado ao tempo, quando mais rápido o atendimento, mais preserva o músculo. Se não for nada, ótimo, mas se for o início do infarto podem salvar uma vida", orienta.

Congresso de Cardiologia
Até sábado, Curitiba é sede de três eventos sobre doenças cardiovasculares. O 1º Fórum de Prevenção de Morte Súbita, o XII Congresso Sul Brasileiro de Cardiologia e o XXXVI Congresso Paranaense de Cardiologia discutem, com profissionais do Brasil e do exterior, casos da doença em todo o mundo. Os encontros ocorrem no Estação Embratel Convention Center. No local, equipamentos de última geração também foram apresentados aos médicos.

Leitura para toda a família

Sacola itinerante promove envolvimento de crianças e pais a partir dos livros

Folha de Londrina | 22 de maio de 2009

"Pare para ler", é isso que querem dizer os estudantes da Escola Municipal Ditmar Brepohl, na Cidade Industrial de Curitiba (CIC), quando utilizam uma "mãozinha" colorida para chamar seus familiares a um momento especial. Em uma sacola, eles levam para casa livros, gibis e revistas que são compartilhados entre a família e criam o hábito da leitura conjunta.

O projeto "Sacola Itinerante da Leitura em Família" começou há pouco mais de um mês e já conquistou as 530 crianças da educação infantil e do ensino fundamental que estudam na escola. Cada turma possui uma sacola, composta por 13 publicações de variados conteúdos, que fica dois dias na casa de cada aluno. A proposta é expandir às famílias o acesso à literatua, bem como integrar pais e filhos.

Nesse tempo, eles podem escolher qual será a leitura, sem compromisso com notas nas disciplinas. Tudo é registrado em um caderno, por meio de depoimentos de pais e alunos, que contam como foram os dois dias junto com o material. Quando a criança ainda não sabe escrever, desenhos mostram como foi a experiência. Em muitos deles, imagens de toda a família mostram que o objetivo foi alcançado.

Fora do caderno de registro, as professoras já percebem os resultados no desenvolvimento dos alunos. Os benefícios vão desde a atenção nas aulas até a melhoria na interpretação de textos e responsabilidade nos compromissos com a escola. Os reflexos também saem da sala de aula e chegam às famílias. "Aqui é só uma semente que estamos plantando. É uma marca na vida deles, que eles não vão esquecer, principalmente os momentos que vivem em casa, com os pais", afirma a professora de apoio pedagógico, Erica Meirelles.

Prova disso são os depoimentos dos pequenos leitores. "Foi muito bom ler com a minha família, gostei das revistas e dos livros", lembra Rebeca, 9 anos. "Eu não lia muito com a minha família e comecei quando levei a sacola para casa", conta Gabrielli, 7. "Aprendi a ler mais", diz Isabella, 10.

As professoras comemoram ainda o envolvimento da comunidade com as atividades escolares. A grande surpresa aconteceu na comemoração pelo Dia das Mães, quando foi superado o número de participantes esperados para o evento. "A comunidade está começando a entender que a escola é nossa. Estão se apropriando dela", avalia a mãe Kelly Regina Camargo dos Santos.


Personagens atraem alunos à biblioteca
Desde o lançamento do "Sacola Itinerante", no final de abril, vários "convidados ilustres" já participaram do projeto. Pessoas fantasiadas como Emília e Visconde de Sabugosa, da obra Sítio do Pica Pau Amarelo, escrita pelo autor brasileiro Monteiro Lobato, fazem a alegria das crianças. Para as professoras, esse tipo de representação foi o fator fundamental no envolvimento dos alunos com o projeto.

Além deles, vários personagens já passaram pela biblioteca durante a hora do conto, realizada duas vezes por semana em cada turma. Esse é o momento que os alunos têm para soltar a imaginação. "Os estudantes ficam esperando, pois a gente usa sons, cenários e figurinos especiais", conta a professora e contadora de histórias, Irineide Bochelof.

Enquanto não levam a sacola para casa, as crianças têm acesso livre aos livros da biblioteca, que não param nas prateleiras. A previsão é que, até dezembro, todos recebam o material. "Quero levar logo a sacola para casa para ler com a minha mãe", aguarda o estudante Yan.

A ideia surgiu durante uma capacitação a professores da rede municipal. A professora e contadora de história da biblioteca da escola, Carla Beatriz Camargo, acreditou que o projeto iria complementar as ações de leitura já desenvolvidas na instituição.

Muitos dos livros utilizados foram doações da comunidade, que apostou na ideia. A Secretaria Municipal de Educação também disponibilizou volumes.

A diretora da escola, Ema Maria Kratsch, garante que projetos como esse são possíveis. "As pessoas pensam que é um gasto grandioso, mas não é. É também amor é muita boa voltade."


‘Mãozinha’ chama para ler
A auxiliar de produção Cristiane Pinto, 25, lembra que não entendeu o que seu filho Gustavo Nunes, 9, queria quando mostrou a ela sua mãozinha colorida. "Eu estava fazendo o jantar e ele apontou a mãozinha para mim. Disse que devia parar o que estava fazendo para ler", conta. Assim que terminaram o jantar começaram a leitura. "Naquele dia ficamos lendo por duas horas. Achamos muito interessante uma matéria sobre gelatina", conta.

Assim como na casa de Cristiane, os assuntos científicos são os que mais chamam a atenção dos leitores. A mãe, que já tem o hábito da leitura, afirma que a participação no projeto estimulou ainda mais o contato do filho com os pais. "A gente desliga a TV, senta e lê", afirma.

Na casa da professora Kelly Regina Camargo dos Santos, 30, a sacola itinerante é esperada com ansiedade pelos seus dois filhos, matriculados na segunda e quarta séries do ensino fundamental. Nenhum dos dois ainda recebeu o material, mas, enquanto isso, participam do momento da leitura todas as noites. "Quando eles levam os livros da biblioteca tenho que ler antes de dormir. Antes de devolver o volume leio 15 vezes a mesma história", conta.

Para ela, além do hábito da leitura, a importância do projeto está na aproximação entre pais e filhos. "Quando a família participa, fortalecem os vínculos", afirma.

Frio eleva em 30% procura por albergue

Segundo Ação Social, perfil dos moradores de rua mudou. Há mais mulheres e até pessoas com curso superior

Folha de Londrina | 21 de maio de 2009

A queda nas temperaturas aumenta em aproximadamente 30% a procura por vagas no albergue mantido pela Fundação de Ação Social de Curitiba (FAS). No inverno, a capacidade de atendimento chega ao máximo, com a ocupação diária de todos os 240 leitos disponibilizados no local. O problema, no entanto, é que mesmo antes do frio se tornar mais intenso o movimento já era grande no abrigo. A média registrada foi de 230 pessoas utilizando o espaço a cada dia -índice igual ao alcançado no último final de semana, quando ocorreu a primeira geada na Capital.

Para a gerente técnica da Central de Resgate da FAS, Nádia Cristina Moreira, o aumento nos atendimentos se deve a uma mudança no perfil dos moradores de rua. De acordo com ela, o consumo de drogas, em especial o crack, levou para as ruas as mulheres -até então quase inexistentes entre esta população- e pessoas mais jovens, com problemas em suas famílias ou nas comunidades onde moram. Anteriormente, o morador de rua era a pessoa com mais de 40 anos de idade e que em alguns casos optou pela vida nas ruas. "Em 80% é questão da droga, com idade entre 18 e 26 anos. Temos casos de pessoas com curso superior e que estão aprendendo a viver na rua. É uma mudança drástica, atípica", conta.

O acolhimento dos moradores de rua é centralizado pelo município, que conta com outras duas instituições parceiras no atendimento ao público. O Albergue São João Batista e o Lar Esperança atendem casos específicos relacionados à saúde. Parcerias com organizações de tratamento da dependência química também complementam o atendimento. Além do pernoite, em que podem se alimentar e fazer a higiene pessoal, os usuários recebem orientações de assistentes sociais. Muitos recusam a proposta de acompanhamento e deixam o local durante o dia, retornando apenas para dormir.

"A Central de Resgates serve para atender o público que mora na rua. Se cinco indivíduos estão usando drogas em um ponto da cidade, acham que é nosso papel, mas é de segurança pública, se está passando mal, é questão de saúde, não é da política de assistência social", esclarece Nádia, sobre uma possível confusão relacionada ao real papel da Central de Resgates.

O encaminhamento ao albergue é realizado a partir de três situações. Educadores e asssistentes sociais da central vão às ruas e seguem roteiros pré-definidos em locais de concentração constante de moradores de rua, como o Terminal do Guadalupe e as praças 19 de Dezembro, Tiradentes e Rui Barbosa, para realizar abordagens ou verificam as denúncias recebidas pela Central de Atendimentos e Informações 156. Em outro caso, os próprios moradores de rua se dirigem ao albergue, na chamada procura espontânea pelo usuário.

Em março deste ano, foram feitos 889 atendimentos a partir de denúncias da Central 156, 1.549 abordagens nas ruas e 5.414 recepções por meio da procura espontânea do usuário. No mesmo período, 5.835 pessoas utilizaram o albergue e 82 aceitaram continuidade do acompanhamento, com busca à família ou encaminhamento a instituições de desintoxicação.

Ampliação
Para solucionar o problema da grande procura pelo abrigo, especialistas estão analisando propostas de melhorias, que serão apresentadas até agosto deste ano. Na visão de Nádia, a ampliação do prédio não é a saída, mas sim a descentralização do atendimento para as outras centrais. "Este não é mais um problema do anel central de Curitiba, temos grandes regionais com grandes centros. Também precisamos de um trabalho educativo com a população, sobre a esmola. Isto contribui para que os moradores permaneçam na rua para comprar mais droga. Estamos financiando o narcotráfico desta forma", afirma.


‘Eu não tinha a malícia da rua’
Usuário do albergue da FAS há uma semana, Roberto (nome fictício), 27 anos, faz parte do novo perfil de moradores de rua. Ele deixou a casa de sua família, em Curitiba, após sete meses preso por receptação. A dependência química dificultou o relacionamento com os parentes e o levou às ruas da Vila Parolin, onde morou durante seis meses.

Antes da vida nas ruas, Roberto conta que cursava o terceiro período do curso de Direito em uma faculdade da Região Metropolitana de Curitiba e em seu trabalho como morotista conheceu quase toda a América Latina, realidade diferente da que encontrou fora de casa. "Eu andava pela Vila Parolin, Vila Hauer, pedia comida, dinheiro e às vezes roubava", lembra. A maior dificuldade, conta, era na hora de dormir, quando enfreitou noites de chuva e frio. "Eu não tinha a malícia do pessoal da rua."

O contato com a FAS só aconteceu depois que os educadores sociais esclareceram sobre o trabalho realizado. Até então, ele não sabia para onde iam os moradores de rua que aceitavam embarcar no veículo da fundação. Desde que foi ao albergue, iniciou um tratamento de desintoxicação e aguarda encaminhamento para uma entidade parceira. "Se não conseguir vaga, volto para as ruas e venho ao albergue. Aqui tenho onde deixar minhas roupas e tomar banho", afirma.

Doações ao Nordeste são tímidas

Folha de Londrina | 21 de maio de 2009

O Paraná arrecadou 30 toneladas de doações aos estados da região Norte e Nordeste que sofrem com o excesso de chuvas. Ao todo, 407 municípios de 13 estados passam por dificuldades. O último levantamento da Secretaria Nacional de Defesa Civil (Sedec) aponta 45 mortes e 377.850 pessoas desalojadas ou desabrigadas.

A arrecadação para esses estados é quase 67 vezes menor que o entregue a Santa Catarina. Os deslizamentos e alagamentos no ano passado mobilizaram duas mil toneladas de doações feitas por paranaenses. Na ocasião, de acordo com a Sedec, 10 municípios foram atingidos, 3.550 pessoas ficaram desalojadas ou desabrigadas e 135 morreram.

Na avaliação do chefe da Seção Operacional da coordenação estadual Defesa Civil no Paraná, tenente Eduardo Gomes Pinheiro, a distância entre doador e a área necessitada é um dos fatores responsáveis pelas poucas doações paranaenses. "A solidariedade é inversamente proporcional à distância. O noticiário (sobre os problemas) não chega aqui com tanta frequência", afirma o tenente. Ele também acredita que a arrecadação recorde conseguida em 2008 dificilmente seria repetida em tão pouco tempo.

Casos de desvio de donativos, como o registrado esta semana em Rio Negrinho, onde roupas encaminhadas às vítimas das enchentes no ano passado eram vendidas por R$ 1,00 por um empresário que já foi detido, também inibem as doações. A orientação do tenente é que a prática seja feita junto ao sistema de Defesa Civil, que encaminha os donativos às defesas civis dos estados. Cada estado gerencia as entregas nas localidades necessitadas.

Os donativos paranaenses ainda não foram enviados aos estados afetados pelas chuvas. A quantidade arrecadada é inferior ao necessário para embarcar nos aviões da Força Aérea Brasileira. Roupas, alimentos e artigos de higiene podem ser entregues em qualquer unidade do Corpo de Bombeiros ou na sede da Provopar, na Rua Doutor Murici, 950, centro de Curitiba.

Vida nova ao Centro Histórico

Comerciantes e moradores das ruas Richuelo e São Francisco pedem melhorias para a região

Folha de Londrina | 19 de maio de 2009

Locais importantes da história de Curitiba, as ruas Riachuelo e São Francisco, no Centro Histórico, necessitam de melhorias. As construções tradicionais e os pontos de encontros dos curitibanos no século passado deram lugar a diversos prédios abandonados, com a busca de novos investimentos em outros bairros da cidade. Hoje, comerciantes da região dividem espaço com traficantes e usuários de drogas e reclamam da falta de segurança na região.

A predominância do comércio nesses locais é de lojas que vendem móveis e roupas usadas. Algumas lanchonetes e relojoarias também funcionam no local. Porém, o que chama a atenção dos pedestres e comerciantes são os imóveis antigos, castigados pelo tempo e sem manutenção.

"Quase todo o comércio daqui está fechado", conta o comerciante Clayton Karam, que trabalha há 42 anos na Rua São Francisco. Em frente à loja, ele aponta para a situação das construções vizinhas. "Precisa melhorar a fiação, as calçadas e acabar com o uso de drogas. Parace que esqueceram deste lado da cidade", reclama.

Para o relojoeiro Mauricio Jamil Sanara, há 12 anos na Riachuelo, os problemas de segurança diminuíram, mas as construções são um problema. "Tem muito abandono. Não sei por que os proprietários fazem isso, tem que manter o prédio vivo", opina. "É uma rua feia, se as fachadas dos prédios ficassem bonitas ia melhorar muito", sugere a cabelereira Helena Ferreira.

Quem precisa passar pela região se preocupa com a falta de segurança. Vendedora de uma loja de roupas há sete meses, Kethyn Casseres conta que antes de trabalhar na Riachuelo desviava do local. "Tenho medo de sair sozinha às 18h30. A rua fica cheia de gente usando drogas. Durante o dia também tem esse problema", conta.

"Sei que posso ser assaltado. Aqui não é um abiente muito atrativo, tem tudo para ser feito", analisa o aposentado Paulo Bredow.

Com Otília Hilu, proprietária de uma loja de tecidos, a dificuldade é no início da manhã. De acordo com ela, que está no local há 40 anos, a situação piora ano a ano. "Vai desde calçada mal feita a uso de drogas e prostituição." As pessoas usam a frente da loja para usar drogas e dormir. "Eles já ficam esperando desde antes de fechar e quando eu chego de manhã está tudo sujo. É urina, fezes e restos de drogas. De tanto eu reclamar, a prefeitura lava a fachada toda manhã", conta.


Região vai passar por Plano de Atratividade
As ruas Riachuelo e São Francisco terão foco principal no processo de revitalização do Centro Histórico da cidade, com início previsto para ainda este ano pela prefeitura e organizações parceiras. Moradores e comerciantes também irão participar da iniciativa, que foi apresentada ontem em uma audiência pública.

A proposta pretende valorizar características próprias de cada rua da região. Desta forma, a Riachuelo, tradicional no comércio de móveis e roupas semi-novas, será transformada em um eixo conceitual, com foco na sustentabilidade. "A rua tem um grande comércio sustentável, na questão de reaproveitar, reutilizar, reciclar. Vamos reaproveitar os prédios históricos que estão ali", explica a consultora do Sebrae Valderes Bello, que realizou um diagnóstico do Centro
Histórico.

O estudo do Sebrae contabilizou 107 imóveis vagos que podem abrigar comércios em todo o Centro Histórico. A maioria concentrada na São Francisco, onde o projeto prevê a criação de um eixo gastronômico. "Não é apenas nova calçada ou iluminação, mas atrações e novos negócios. As duas partes precisam participar. Os empresários também precisam cuidar da preservação de seus edifícios, na despoluição visual e na organização de suas lojas", ressalta a consultora.

Também foram estudados os potenciais turísticos, culturais e emmpresariais de todo o Centro Histórico. Ao todo, foram contabilizados 697 empreendimentos na região. "São locais com grande fluxo de pessoas e que precisam de divulgação e empreendimentos de especialidades", afirma Valderes Bello.

Produção Social

Foto Reflexão, publicado às sextas-feiras no Folha Curitiba.

Folha de Londrina | 15 de maio de 2009

Enquanto aguardam o momento de voltarem à sociedade, adolescentes que cumprem medidas sócio-educativas nas unidades de internação do Paraná participam de diversos projetos. Eles trocam os instrumentos que utilizaram em seus atos infracionais por objetos pelos quais podem se expressar e que ainda promovem o preparo para novas oportunidades de vida.

O jornalista e fotógrafo Guylherme Custódio acompanhou alguns destes momentos que fazem os um, dois, três anos de internação passarem mais rápido. Ele conta que seu interesse pelas questões sociais o acompanha há tempos, mas quando era estagiário de uma organização não-governamental responsável por oficinas de educomunicação com os jovens, teve a oportunidade de ver de perto a realidade dos meninos e meninas privados de liberdade.

Nas fotos, Custódio mostra o envolvimento dos jovens com suas produções. "Acredito sim que essas atividades ajudam na ressocialização. Creio que eles podem se interessar e ir mais longe quando estiverem em liberdade. São opções que antes não conheciam. Além do mais, quando conversava com eles podia perceber que no centro de sócio-educação eles têm acesso a coisas básicas que não tinham quando estavam em liberdade, como a educação por exemplo".

As fotos foram feitas em junho de 2007, no Centro de Sócio Educação Fazenda Rio Grande, no município de Fazenda Rio Grande (Região Metropolitana de Curitiba). O jornalista foi premiado por sua produção no concurso Múltiplos Olhares, promovido pela Agência de Notícia dos Direitos da Infância (Andi).







LDO prevê receita de R$ 4 bi para ano que vem

Folha de Londrina | 13 de maio de 2009

A Prefeitura Municipal de Curitiba apresentou ontem a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) referente a 2010. O projeto prevê a receita de quase R$ 4 bilhões para o próximo ano e contou com a participação da população na definição de prioridades.

O documento estabelece metas e prioridades da administração municipal. Os investimentos específicos só serão detalhados na Lei Orçamentária Anual (LOA), debatida em audiências públicas agendadas para agosto deste ano e orientada a partir da LDO.

Ao todo, para a LDO, foram registradas 18.251 sugestões da comunidade, por meio de audiências públicas, debates, consultas e envio de sugestões pela internet ou pela Central de Atendimentos e Informações 156. Destas, ações relacionadas à manutenção de vias públicas, segurança, educação, saúde e trânsito foram definidas pela população como prioridade de investimento. "A participação da comunidade é mais do que relevante na definição do orçamento municipal. As secretarias aguardam essa manifestação para concluírem seus orçamentos", explica o secretário municipal de Finanças, Luiz Eduardo Sebastiani.

Na LDO ainda não estão definidos os pedidos da comunidade, mas a previsão de receitas e despesas que serão aplicadas 2010.

O município de Curitiba prevê para o ano que vem uma receita de R$ 3,94 bilhões e a despesa de R$ 3,907 bilhões. Apenas os investimentos em saúde, educação, gastos com pessoal e operações de crédito estão previstos no documento. O município deve destinar, pelo menos, 15% e 25% nas duas primeiras áreas, respectivamente.

Durante a apresentação da LDO, organizações populares apresentaram suas reivindicações com faixas e sugestões. Para o diretor da Associação Comunitária Vila Real, de Santa Felicidade, Erni Stein, a participação em audiências públicas é fundamental para apresentar as demandas das comunidades. Ontem, o grupo relembrou o pedido por pavimentação em uma das ruas do bairro e a criação de um centro de hidroginástica para idosos. "Às vezes, o que a gente pede não é implementado pelo argumento da falta de recursos", conta. Com a participação ativa nos debates com a administração municipal, a associação já conseguiu uma quadra de esportes e uma creche.

Além da elaboração da lei, Sebastiani ressalta o acompanhamento da execução orçamentária. Os debates ocorrem a cada quatro meses. "Torna pública a gestão municipal", complementa o secretário.

A LDO será encaminhada até o dia 15 de maio para a Câmara de Vereadores. A comunidade poderá participar das discussões da Lei Orçamentária Anual. O calendário das audiências públicas ficará disponível no site da Prefeitura de Curitiba: http://www.curitiba.pr.gov.br/.

Tratar alergia exige mudança de rotina

Médicos cobram envolvimento de pacientes, que têm dificuldades para abandonar antigos hábitos

Folha de Londrina | 08 de maio de 2009

A primeira manifestação de alergia no pequeno Jefferson Matheus Braga, 8 anos, aconteceu quando ele tinha apenas um ano e meio de idade. De repente, ele apresentou uma laringite, que veio acompanhada de diversos problemas.

"Ele tinha o nariz trancado o tempo todo, de dia, de noite. Também tinha crise de asma", lembra a mãe, a professora Fátima Aparecida Santos, 30. Tempos depois, uma reforma em casa resultou em outra crise de alergia e a descoberta do principal sintoma de seu problema. "Sempre afeta o olho. Quando o Jefferson entra em contato com o que seu organismo não aceita, ele fica com conjuntivite", conta Fátima.

Após quatro anos de tratamento, ele conseguiu estabilizar a alergia. Para isso, tem na ponta da língua uma série de restrições para controlar a alergia. Agora, o bem-estar de Jefferson só é garantido com uma rotina cheia de cuidados. "Não posso entrar debaixo da cama, mexer com gato, nem comer camarão. Mas assim é bem melhor", conta o garoto.

Diferente de Jefferson, nem todos os pacientes com o diagnóstico de alergia conseguem se adaptar. Para a presidente regional da Associação Brasileira de Alergia e Imunopatologia (Asbai), vinculada à Associação Médica do Paraná, Cinara Roberta Braga Sorice, o principal desafio no tratamento da doença é o envolvimento dos pacientes, que nem sempre estão dispostos a abandonar seus hábitos antigos. "É difícil ele incorporar o tratamento em sua rotina diária. Ele acha que está bem e que pode parar com o procedimento, mas isso piora o quadro", afirma.

Doença causada por fatores hereditários, a alergia é causada pelo contato do organismo com substâncias estranhas, chamadas pelos médicos de alérgenos. Quando ocorre esse contato, o organismo é sensibilizado, ou seja, afetado pela substância. A partir de então, cria anticorpos de proteção aos elementos, que são responsáveis pelos sintomas da doença. Entre as alergias mais comuns estão a asma (que atinge cerca de 10% da população), rinite alérgica crônica (que afeta 30%), sensibilidade a alimentos e irritação na pele.

Não existe idade certa para a manifestação de uma alergia. O contato com determinado alérgeno ou fatores hereditários favorecem a predisposição da doença. De acordo com Cinara, pessoas sem nenhum familiar alérgico têm entre 10% e 20% de chances de desenvolver a doença. Quando um dos pais convive com o problema, a probabilidade passa para 40% a 50% e sobe para até 80% quando ambos são alérgicos.

Comida
Nas crianças, os casos de alergia mais frequentes são relacionados à alimentação, como sensibilidade ao leite, ovos, trigo -primeiros alimentos oferecidos na infância-, mas que se perdem com o avanço da idade.

O leite materno é fundamental para a proteção dos pequenos às alergias. Por isso, recomenda-se que seja o único alimento até os 6 meses de idade, seguido pelo leite de vaca no primeiro ano de vida, ovos aos 2 anos e peixes a partir dos 3. Já, entre os adultos, são comuns a asma e a rinite alérgia. Nessa faixa etária, as reações alimentares, como a frutos do mar e amendoim, por exemplo, são mais graves e persistentes.


Doença não tem cura
O tratamento da alergia não cura a doença, apenas controla os sintomas. Em alguns casos, a dificuldade está na definição de qual alérgeno é responsável pela manifestação dos sintomas. "É quando o organismo não produziu o anticorpo específico, não ficou exposto o suficiente para criá-lo", explica a presidente regional da Associação Brasileira de Alergia e Imunopatologia (Asbai), Cinara Sorice. A médica também apresenta a situação inversa. "Em 50% das vezes, o paciente tem manifestação (alérgica) e nos outros 50% não tem. Nem toda a vez vai precisar evitar o alimento", conta.

Apenas o diagnóstico preciso determina o tratamento correto. Caso contrário, complicações trazem prejuízos à saúde do paciente, e em casos mais graves como asma e choques anafiláticos, pode chegar à morte. "Influencia bastante na qualidade de vida. Quanto mais cedo o início do tratamento, maior é o sucesso", garante.

Ontem, no Dia Nacional de Prevenção da Alergia, a Asbai promoveu uma série de mobilizações. Profissionais estiveram nos hospitais de Clínicas, Pequeno Príncipe e Cajuru, para alertar sobre a importância do diagnóstico, tratamento e prevenção.

Minha primeira crônica!!

Que legal!! Encontrei a crônica que fiz na minha seleção para a Folha! Estava procurando há tempos e finalmente achei. Muita coisa mudou pra muuito melhor desde então, mas muita coisa ainda continua igual (principalmente minha irritação em andar de ônibus).

Curitiba, capital conhecida pelo exemplar sistema de transporte público, famosa em todo o mundo pelas estações tubo e pelas conexões de linhas em terminais rodoviários. É em um desses terminais de ônibus que começa a minha aventura de todos os dias...

Para alguém como eu, que trabalha com a comunicação e os direitos da infância e da adolescência, uma aventura seria encontrar uma ótima fonte, requisitada por um jornalista para a produção de uma matéria importantíssima, ou como qualquer outro trabalhador comum, conseguir manter o bom humor ao encontrar o chefe neurótico já cedo. Podemos considerar esta situação como encontrá-lo -o chefe que por si só neurótico- logo na chegada ao trabalho ou surpreender-se por ele estar neurótico logo nas primeiras horas do dia. Mas acredito que este e um tema para outra crônica.

Enfim, desabafos a parte, para chegar ao centro da cidade, nada melhor que um ligeirinho. Ônibus tipicamente curitibano, que pára poucas vezes durante o trajeto e, como o próprio nome diz, vai rapidinho rapidinho. Precisaríamos de mais comodidade do que esta? Depende de quantas pessoas têm a mesma idéia que você. E serei sincera: são muitas as pessoas a procura de um lugarzinho no ligeirinho, felizes, sonolentas, animadas, todas a caminho de seus trabalhos.

Terminal do Portão, região sul de Curitiba, 7h50. Estação tubo não muito cheia e lá estou eu a espera do ônibus. Seria eu muito crica por me irritar com a insistência que as pessoas têm em entrar no ônibus antes da descida dos passageiros? Quando tenho a oportunidade de ser a primeira da fila, espero até o ultimo cidadão descer, para desespero dos aflitos que ficam atrás de mim, tentando furar a fila sem sucesso, pois sempre dou um passinho para o lado, impedindo a ultrapassagem dos meus concorrentes. Quando não tenho esta chance, a irritação continua, ao me sentir obrigada a dar uma empurradinha no pessoal que fica tão aliviado em conseguir entrar no ônibus que pára na porta mesmo e esquece que a fila atrás é grande.

O ônibus começa a se movimentar. Será que está todo mundo bem acomodado? Quem me dera!! Até hoje, toda a vez que entro no ligeirinho, lembro de um projeto lei que determina no máximo xx pessoas por metro quadrado dentro do ônibus. Ahhh que sonho! Estamos todos apertadinhos, juntinhos, unidos como irmãos. Pra se segurar é difícil, mas me sinto em vantagem por ser um pouco mais alta que o restante dos meus companheiros. Não é o braço de todo mundo que alcança as barras de ferro mais altas. Mas entre a barra de ferro e eu são milhões de cabeças. Cabeças com cabelos.

Cabelos, na maioria das vezes de mulheres, que se emperequetam todas para ir trabalhar. Cabelos cumpridos, curtos, enrolados, lisos, com chapinha, escova, cremes, soltos, presos. Parece que insistem em ficar encostando em mim. Ai que agonia que me dá. Não ligo se um grupo de senhoras conta em voz alta os problemas com suas filhas adolescentes, que aprontam muito e dão trabalho para suas preocupadas mães. Gosto muito de histórias, adoro ouvir o pessoal contar histórias. E enquanto isso, aqueles fiapos parecem prontos para dar o bote. Me sinto a única pessoa do mundo a me preocupar com isso. Me sinto uma fresca por ficar com vontade de tomar banho quando chego ao trabalho.

Às vezes consigo me mover poucos centímetros para o lado. Mas, como se estivéssemos ensaiado os movimentos, eu e as donas dos cabelos vamos na mesma direção. Será que na época em que tinha cabelos cumpridos causava o mesmo impacto nas pessoas que andavam de ônibus comigo? Mas será que mais alguém se incomoda com isso? Todos parecem tão conformados com o aperto, com o desconforto, com o engarrafamento. Como demora passar por apenas duas ruas, duas vias rápidas, mesmo de ligeirinho.

Finalmente o ônibus chega no "meu tubo". Um último stress na hora de descer: sempre fica alguém folgadamente parado na porta e não percebe que tem gente querendo descer. E depois aquele arzinho fresco do comecinho da manhã. Encerrada a minha primeira aventura, estou pronta para partir pra próxima, ou pras próximas. Afinal, uma jornalista apaixonada pela temática social tem muito a fazer!

Se essa rua fosse minha...

Ao contrário do que a maioria pode deduzir, conservação das calçadas é responsabilidade dos proprietários dos terrenos. Rampa para acessibilidade ainda é desafio

Folha de Londrina | 06 de maio de 2009

Passando pelas ruas de Curitiba, observamos diferentes situações nos seus mais de três mil quilômetros de calçadas. Em algumas tropeçamos em galhos de árvores e pedras soltas, em outras parece que andamos sobre tapetes, enquanto às vezes nem calçadas encontramos. Entre alguma torcida de pé ou um tropeço, pensamos no que fazem os administradores municipais que não solucionam estes problemas que afetam tanta gente. Mas a solução está muito mais perto do que imaginamos.

A responsabilidade pela manutenção e conservação das calçadas de Curitiba é dos proprietários dos terrenos. A determinação é prevista pela Lei Municipal 11.596/05, que estabelece que "o proprietário do terreno, edificado ou não, situado em via provida de pavimentação deverá construir e manter calçada em toda a extensão da testada do imóvel". Além disso, deve "garantir superfície firme, regular, estável e não escorregadia sob qualquer condição."

Não são todos que sabem desta atribuição e muitas vezes só descobrem quando notificados por fiscais da Secretaria Municipal de Urbanismo (SMU). "Ninguém gosta de ser notificado. É difícil, sempre perguntam ‘porque comigo e não com o outro"’, conta o diretor de fiscalização da SMU, José Luiz Filippetto.

A fiscalização das calçadas danificadas só acontece após reclamações feitas pela Central de Atendimento e Informações 156. Na vistoria dos profissionais, não apenas a via denunciada é vistoriada, mas toda a extensão da quadra. Após a notificação é dado um prazo de 45 a 60 dias para a manutenção da via e, caso a situação não seja regularizada, a punição prevista é uma multa de R$ 400,00.

Nas visitas às ruas, os fiscais são orientados a notificar os proprietários utilizando o bom senso, pois são comuns os casos de danos causados por situações específicas dos locais, como declives e aclives característicos dos terrenos. "São (notificadas) calçadas que apresentam problemas passíveis de serem solucionados pelo dono do imóvel", explica Filippetto.PadrãoA disposição das calçadas segue critérios de acordo com a região da cidade -área residencial ou central -, a importância da via ou o fluxo de pedestres. Além da adequação de imóveis antigos, os projetos de calçadas já estão previstos nas construções de novos imóveis na Capital. Todas as determinações estão disponíveis no Decreto 1.066.

Nas áreas residenciais, por exemplo, a via de passeio deve conter uma faixa de grama de um metro ao lado do meio fio, seguida por uma área de 1,20 metro de faixa pavimentada para a passagem dos pedestres - onde não não permitidos obstáculos de nenhuma natureza - e outra faixa de grama com largura variável até a propriedade. Também são obrigatórias rampas para a acessibilidade de pessoas com deficiência em todos os cruzamentos. Esta determinação, porém, não é facilmente encontrada nas esquinas fora do centro da Capital.


Tombos e reclamação diretamente ao prefeito
Maria (nome fictício, por razões pessoais), 40, perdeu as contas de quantas vezes virou o pé nas calçadas do centro de Curitiba. Ela só não esquece das situações em que caiu no chão por causa de buracos no meio do caminho. "Uma vez estava de salto baixo, falando no celular e caí num buraco", lembra.

Sem saber onde reclamar da má conservação das calçadas, Maria aproveitou a oportunidade de ter encontrado o prefeito Beto Richa (PSDB) durante a campanha eleitoral. "Comentei com ele que caí na rua e rasguei a calça. Ele disse que ia ver, mas nunca foi lá, está do mesmo jeito", reclama. Para evitar novos aborrecimentos, a moça conta que deixou de usar salto alto em algumas regiões da cidade, o que recomenda às curitibanas. "Usar salto alto na Marechal Deodoro e na Rua XV, esqueça."

Os tombos também são comuns na família da depiladora Roseli Rodrigues, 33. Mãe de duas crianças, ela conta que constantemente seus filhos tropeçam na rua onde mora há quatro meses, em um bairro residencial da Capital. "Meu filho de sete anos já ralou o joelho na pedra. Cansei de quebrar saltos, nem uso mais", lembra. Assim como Maria, Roseli não sabe onde reclamar da falta de cuidado de seus vizinhos com as calçadas. "A gente vai levando, vai deixando."

As reclamações devem ser feitas pelo telefone 156. Todos os registros são encaminhados ao setor de fiscalização da Secretaria Municipal de Urbanismo. "É uma garantia de retorno ao reclamante, que pode acompanhar o protocolo", afirma o diretor de fiscalização da SMU, José Luiz Filippetto.


Entre o desconhecimento e a iniciativa
Empresário do setor de obras públicas, Paulo Roberto Veloso investiu na reforma da calçada em frente a sua casa há cerca de seis meses. A iniciativa surgiu quando soube da lei, por intermédio de sua profissão, na qual já utiliza os novos padrões das vias.

Além do visual de sua residência, Veloso percebeu melhoria na qualidade do material utilizado. "É bom, tem boa resistência e é menos escorregadio. Achei que ninguém ia notar", brinca. Com um custo de aproximadamente R$ 48,00 por metro quadrado - incluso mão de obra e materiais -, ele acredita que a medida é um bom negócio.

A poucos metros da casa de Veloso, a calçada em frente ao estacionamento de Carlos Alberto Machado Júnior apresenta sinais da má conservação. Até a entrevista com a reportagem da FOLHA, ele acreditava que a responsabilidade pela manutenção da via era da prefeitura. "Está assim porque a prefeitura não resolve", afirmou.

Quando avisado sobre a Lei Municipal 11.596/05, garantiu que não sabia da determinação. "Falta orientação sobre isso", reclama. Agora que conhece sua responsabilidade como proprietário do imóvel, pretende arrumar sua calçada. "Mais pra frente...", disse.

Do alto do morro, fieis pedem paz e trabalho

Tradicional Missa da Paz reuniu cerca de 70 pessoas no Morro do Samambaia

Folha de Londrina | 02 de maio de 2009

Mesmo com tempo nublado e forte garoa, cerca de 70 fieis enfrentaram, ontem, 1,5 quilometro de subida até o cume do Morro do Samambaia para a tradicional celebração da Missa da Paz. Realizada há 58 anos pela comunidade de Quatro Barras (Região Metropolitana de Curitiba), a missa é uma prova de sacrifício dos participantes em prol da paz e do trabalho.

Na celebração deste ano eram esperadas 300 pessoas. No entanto, o mal tempo e os fortes ventos no alto do morro fizeram com que poucos subissem o Samambaia e a duração missa fosse reduzida. No caminho era preciso cuidado com o piso escorregadio. Em média, o percurso era realizado em 90 minutos.Os que participaram da celebração tiveram um momento de reflexão. ``Parece que subir um morro como esse não é nada. Vale à pena rezar pela paz. A oração pela paz é muito necessária. Não temos mais a guerra de quando começou (a tradição), mas temos as drogas, a violência, a arrogância e a falta de afeto’’, afirmou o padre Rodinei Thomazella, responsável pela celebração.

A missa em homenagem a São José Operário também lembrou as relações de trabalho. Thomazella pediu pelos desempregados e trabalhadores. ``Oramos pela justiça e dignidade no trabalho’’, completou.

A subida do morro para a celebração da Missa da Paz faz parte de uma tradição iniciada pelas famílias de imigrantes italianos que moravam no distrito de Borda do Campo. Do alto do Anhangava, eles pediam proteção aos seus conterrâneos, que ao final da Segunda Guerra Mundial sofriam com a miséria. Há três anos, uma determinação do Instituto Ambiental do Paraná (IAP) transferiu a realização da Missa da Paz para o Morro do Samambaia –que oferece um percurso de subida menos perigoso aos fieis-, com o objetivo de reduzir os impactos ambientais no local, considerado como área de preservação permanente.

Há quase uma década a aposentada Maria Gerônima de Oliveira, 69, faz questão de participar da Missa da Paz acompanhada de sua família. A tradição começou com os filhos, que sempre iam ao Morro do Samambaia. ``Eles vinham caminhar e na volta eu até jogava a toalha fora, de tão suja que ficava. Um dia eles me chamaram e eu me acostumei’’, conta. Neste ano, dez pessoas, entre filhos e netos, foram ao alto do morro com Maria Gerônima. ``Quanto mais sacrifício, melhor é a missa. Enquanto eu puder vir, com 70, 80 anos, eu venho’’, garante. ``É a fé que move a gente’’, complementa a filha da aposentada, Edna Oliveira, 39.

O tombo que levou na subida do morro não desanimou a jovem Juliane Cristine Santos dos Anjos, 10, que pretende seguir a tradição. ``É legal. Quero voltar’’, conta. Além da missa, a família de Maria Gerônima aproveitou a oportunidade para fazer um lanche no alto do Samambaia.

Muito além do Dó-Ré-Mi

A partir de 2012, todas as escolas brasileiras terão que oferecer ensino de música aos alunos

Folha de Londrina | 28 de abril de 2009

Aos poucos, a animação da sala transforma-se em concentração. Em seguida, sons deixam de ser desafinados e soam por meio de notas musicais de forma harmônica. São músicas, marchas e cirandas de renomados artistas reproduzidos com alegria por alunos da Escola Municipal Pró-Morar Barigui, da Cidade Industrial de Curitiba (CIC).

Na instituição, o contato com a música começa cedo, a partir dos 4 anos de idade, e se estende por toda a primeira fase do ensino fundamental. Durante as aulas, os estudantes têm contato com a musicalização, que serve como uma alfabetização musical, em que conhecem elementos e linguagens como ritmo, intensidade dos sons e timbre. Já iniciados musicalmente, os pequenos podem optar por oficinas de música, em que aprendem a tocar xilofone, flauta, violão, ou ainda participar do coral da escola.

Integrantes de famílias de baixa renda, as crianças apresentam rapidamente os resultados que o contato com as artes proporciona. Na sala de aula, as professoras percebem melhora de comportamento, interação e responsabilidade dos estudantes. Em casa, as crianças demonstram seus interesses por música, ao mesmo tempo que participam das manifestações culturais nas igrejas. ''Esses projetos resgatam valores de esperança, de um mundo melhor. Alguns alunos não tinham perspectiva e agora até dizem que querem ser flautistas'', conta a professora de música e uma das responsáveis pelos projetos, Viviane Elias Portela.

Gislaine Cristina Pereira de Souza, 9, se destaca na flauta e no coral. A estudante da quarta série quer ser veterinária, mas não pretende abandonar a música quando crescer. Até lá, garante que vai conhecer outros instrumentos musicais. ''Quero aprender violão e xilofone'', conta. Para ela, a participação nas atividades de música são um estímulo ao desenvolvimento. ''A gente melhora, começa a aprender mais. Se sente mais feliz.'' Junto com Gislaine, os jovens Bruno Luiz Oliveira, 9, e Ezequiel Alves Farias, 10, também afirmam que querem trabalhar com a música.

Assim como na Pró-Morar Barigui, os benefícios se repetem em todas as escolas municipais que desenvolvem projetos de música. Ao todo, o município conta com 70 corais e 19 fanfarras. Além disso, os estudantes participam de concertos didáticos, realizados em parceria com a Camerata Antiqua do Paraná e a Universidade Federal do Paraná (UFPR).

A professora Viviane garante, a música não tem contraindicação, pode ser trabalhada com as crianças em qualquer idade, com atividades específicas de acordo com cada faixa etária. ''Quanto mais cedo, melhor para o desenvolvimento da criança'', recomenda.


Lei é comemorada pela categoria
A lei 11.769, de 18 de agosto de 2008, determina que, a partir de 2012, todas as escolas brasileiras sejam obrigadas a oferecer o ensino de música nos ensinos fundamental e médio. A disciplina não é exclusiva e pode ser trabalhada com as demais manifestações artísticas: artes visuais, teatro e dança.

A nova determinação modifica a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), -número 9.394, de 20 de dezembro de 1996- que exigia o ensino da arte pelas instituições. Para o presidente da Associação Brasileira de Educação Musical (Abem), Sergio Luiz de Figueiredo, a medida é uma grande conquista para a categoria, que há tempos luta pela inclusão do conteúdo na grade curricular.

Muitas escolas, públicas e particulares, já trabalham a música durante as aulas de arte ou em atividades extracurriculares. A prática, porém, depende da iniciativa do profissional, do planejamento das escolas ou ainda de orientações de órgãos gestores. Mesmo com as atividades em andamento, a aplicação da lei vai exigir debates e adaptações por parte das instituições de ensino.


Profissionais exigem aulas ministradas por especialistas
A exigência de um profissional com licenciatura na área para ministrar as atividades é um ponto polêmico na lei que estabelece o ensino musical nas escolas. O artigo que determinava a execução das aulas por especialistas foi retirada da legislação. ''A lei resgata a especialidade do profissional licenciado em música'', argumenta o presidente da Abem.

A professora de música da Faculdade de Artes do Paraná (FAP), Angela Maria Trotta, conta que a procura pelo curso de Licenciatura em Música é tímida em relação às demais atividades musicais e artísticas. Mesmo assim, ela acredita que a nova lei vai aumentar a procura pelo curso. ''Os alunos já estão mais conscientes, principalmente pelo campo profissional que abriu com a lei'', afirma.

Angela defende o trabalho em música nas escolas por profissionais da área. ''A música é uma linguagem muito específica e os professores têm conhecimentos e habilidades. O ideal é que o professor seja habilitado na disciplina específica. Se não for possível, ele deve ser orientado por um profissional da área para usar a música de maneira adequada.''

Diretrizes da Secretaria Municipal de Educação (SME) recomendam às direções das escolas a realização de atividades musicais com os estudantes. No entanto, a falta de profissionais especializados na área impede que todas as instituições ofereçam contato dos alunos com a disciplina. De acordo com a coordenadora de ensino de música da SME, Cleonice dos Santos, isto acontece porque as vagas necessárias para atender toda demanda municipal não são preenchidas.

Desta forma, a principal mobilização da secretaria para a aplicação da lei é relacionada à formação continuada dos professores, com orientações de profissionais especialistas em música. Esta formação já é desenvolvida e a ampliação das capacitações por conta da lei será definida após um estudo financeiro.

A Secretaria de Estado de Educação informou à FOLHA, por meio de sua assessoria de imprensa, que a música já é trabalhada na disciplina de Arte e ainda não há discussões sobre a aplicação da lei. A previsão é que os planejamentos comecem no segundo semestre deste ano.


Socialização, cultura e desenvolvimento
Estudos da neurociência mostram: a música -assim como as demais manifestações artísticas- contribui em todos os aspectos do desenvolvimento neurológico, físico, emocional, social e mental. As atividades musicais, principalmente durante a infância, possibilitam uma série de benefícios.

''Promove o desenvolvimento individual, de suas habilidades, seus aspectos motores. E o social, nas aulas em grupo, em que o aluno experimenta cantar com o outro, precisa prestar atenção no entorno e pratica o senso crítico'', enumera a musicoterapeuta Sheila Volpi, coordenadora do curso de musicoterapia da Faculdade de Artes do Paraná (FAP).

O presidente da Associação Brasileira de Educação Musical (Abem), Sergio Luiz de Figueiredo, complementa. ''As atividades com música ajudam na autoestima, no resgate da cidadania e oferecem uma formação mais democrática. A experiência musical esteve presente em todas as sociedades humanas, desde sempre tivemos a manifestação musical'', afirma.

Cuidado: a hipertensão pode te pegar

É preciso ficar de olho na pressão alta, que muitas vezes não apresenta sintomas mas atinge boa parte da população

Folha de Londrina | 26 de abril de 2009

Matéria que fiz junto com o repórter Wilhan Santin, de Londrina. Fiquei responsável pelos personagens e a busca por alguns dados sobre a doença.

Talvez você seja hipertenso e ainda não saiba que tem a doença. É isso mesmo, a pressão alta, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), atinge em torno de 600 milhões de pessoas no mundo todo. No Brasil, estimativas indicam que pelo menos 30% da população adulta estejam com a pressão mais alta do que o normal. Quando se consideram apenas pessoas com mais de 60 anos, esse índice salta para 50%.

E o pior disso tudo é que são raros os que sentem algum mal-estar por conta da doença.''O organismo humano acaba se adaptando à hipertensão. A maioria dos hipertensos não sente nada. Estamos falando de uma epidemia que não é causada por nenhum mosquito, água contaminada, vírus ou bactéria, mas que está pegando muita gente'', alerta o cardiologista Antônio Nechar Júnior, de Londrina.

Mas como alguém se torna hipertenso? De acordo com o médico, existe uma série de fatores, porém o mais importante de todos é o genético. Boa parte dos hipertensos já tem a doença programada em seus genes, situação que Nechar Júnior compara a um barril de pólvora prestes a explodir. ''Ele está dentro do organismo, só não sabemos quando uma espoleta vai explodi-lo.'' As espoletas são os outros fatores de risco que vamos encontrando durante a vida: estresse, má alimentação, obesidade, sedentarismo, tabagismo. No entanto, isso não significa que quem não tem a predisposição genética para a doença esteja livre dela. ''Quem não tem o barril de pólvora pode fabricá-lo com os hábitos de vida equivocados'', explica o cardiologista.

Quando o ponteiro daquele aparelho de nome complicado, o esfigmomanômetro, indica que a sua pressão arterial é maior do que 120 por 80 milímetros de Mercúrio, ou 12 por 8, significa que as paredes de suas artérias estão mais rígidas do que deveriam estar, ou seja, estão perdendo a capacidade de dilatar e contrair. Com isso o coração é que acaba sofrendo.

''É como se a bomba de água do jardim estivesse ligada a mangueiras que estão com nós. Um hora ela para de funcionar. Da mesma forma, o coração que bombeia sangue para artérias endurecidas começa a crescer, hipertrofiar'', exemplifica o cardiologista. ''O nosso coração trabalha movido por impulsos elétricos. Quando esse músculo fica grande demais, a parte elétrica não funciona completamente; por isso, coração hipertrofiado é sinônimo de risco maior de morte súbita, que aumenta de 30% a 40%'', completa Nechar Júnior.

Contudo, não é só o coração que sofre. Outros órgãos do corpo humano, principalmente rins, cérebro e olhos, apanham pela falta de oxigênio, que começa a chegar de forma insuficiente até eles por causa da dificuldade de o sangue passar pelas artérias endurecidas. Pressão alta é uma das principais causas de insuficiência renal e pode causar também comprometimento da visão.

No cérebro, uma das consequências é a ''demência vascular''. A má circulação sanguínea crônica no órgão, causada pela pressão alta, resulta em micropontos de isquemia da massa cerebral, levando o doente a ter sintomas de esquecimento e lapsos de memória. ''É como se fosse um 'derrame crônico''', ressalta o cardiologista.


Desconhecimento da doença é um desafio
Doença que atinge aproximadamente 34 milhões de brasileiros, a hipertensão arterial tem como grande inimigo o desconhecimento da população a respeito de sua gravidade. Na avaliação do presidente da Sociedade Brasileira de Hipertensão, Fernando Nobre, esse cenário é ''muito ruim'', principalmente em relação às complicações cardiovasculares que a doença pode causar quando não tratada adequadamente.

Uma estimativa prevê ainda que apenas 50% dos hipertensos tenham conhecimento da doença, que 25% estejam em tratamento e 12,5% estejam com a pressão arterial controlada. O desconhecimento da doença, ou o abandono do tratamento, dificulta uma estimativa sobre a incidência.

Para o diretor do Departamento de Hipertensão da Sociedade Paranaense de Cardiologia, Osni Pereira Filho, a principal estratégia para o Dia Nacional de Combate à Hipertensão é alertar a população a respeito da doença.

Para isso, a Sociedade Paranaense de Cardiologia promove hoje uma atividade de mobilização no Passeio Público, das 9 às 17 horas, com orientações à população.

Rotina adaptada
Há um ano, a rotina de Felipe Klopffleisch, 21 anos, ganhou um novo elemento, o medicamento diário para controle da pressão arterial. Esse cuidado só foi determinado depois de uma consulta médica de rotina, que alertou o jovem para uma doença que não imaginava diagnosticar aos 20 anos de idade: a hipertensão. Até então, o estudante de Comércio Exterior não havia percebido nenhum sinal do problema.

O diagnóstico precoce evitou o aparecimento de sintomas e o início imediato do tratamento diminuiu a chance de problemas futuros. O cardiologista que acompanha Klopffleisch identificou como fatores para a hipertensão em plena juventude os casos na família, alguns quilos acima do peso ideal e a apneia durante o sono.

Como já praticava exercícios e tentava seguir uma alimentação balanceada, pouca coisa mudou no seu dia a dia para controlar a hipertensão.

Após um ano de tratamento, o jovem lembra que se assustou com o diagnóstico e o tratamento a ser seguido, principalmente por conta de sua idade. ''Achei estranho tomar remédio pelo resto da vida, é diferente, mas já me acostumei''. Agora, Klopffleisch garante que leva uma vida normal.

E é uma vida normal que o motorista Joaquim Nelson Coelho, 53, pretende levar depois que descobriu a razão de seu cansaço repentino para subir os três lances de escada de sua casa. A causa da hipertensão, conta, está nos pãezinhos a mais que costumava comer e no excesso do consumo diário de sal.

Com o diagnóstico de hipertensão feito há poucos dias, Coelho se prepara para novos hábitos alimentares e de atividades físicas. ''Tenho de diminuir a cervejinha, o sal, o açúcar e substituir o pão. Também vou começar a fazer hidroginástica''. Para Coelho, um fator importante o deixa ''à frente dos demais''. Ele não é e nem nunca foi fumante.


Cuidado com o sal
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o consumo diário de sal de uma pessoa normal deve ser de seis gramas. Para quem sofre de hipertensão arterial, a ingestão diária de sal não deve passar de quatro gramas. Porém, um estudo da Universidade de Campinas (Unicamp) aponta que os homens brasileiros consomem 17 gramas de sal por dia, e as mulheres, 13.

Presente em boa parte dos alimentos industrializados por ser um excelente conservante, o sal age no organismo humano atraindo líquido para dentro da circulação sanguínea; dessa forma aumenta o volume de líquidos no sistema circulatório, aumentando consequentemente a pressão arterial e causando o endurecimento das paredes das artérias.

Xô, estresse
As tensões de um dia corrido fazem com que o nosso corpo produza o hormônio Adrenalina, que faz com que as nossas artérias fiquem contraídas com a finalidade de levar mais sangue para o coração, que por sua vez vai possobilitar a chegada de mais oxigênio até o cérebro, deixando tudo pronto para uma reação brusca, uma explosão. É como se fosse uma herança ancestral da luta pela sobrevivência.

Praticar exercícios físicos e relaxar são as melhores alternativas para fugir do estresse, fator de risco para a hipertensão arterial. Fonte: Antônio Nechar Junior


Eu passei pelo MAPA
Em qualquer bate-papo em que a saúde entra na conversa é comum ouvir alguém se gabando: ''Minha pressão é 12 por 8''. ''Tudo bem, mas em que hora do dia?'', poderia replicar um outro mais entendido no assunto. O fato é que a nossa pressão arterial varia no decorrer das 24 horas do dia. Por isso, o Monitoramento Ambulatorial da Pressão Arterial (MAPA) é um bom instrumento para auxiliar os médicos no diagnóstico da doença.

Trata-se de um aparelho digital, que é instalado no paciente sem impedir as suas atividades normais do cotidiano, e que afere, no período de 24 horas, em torno de 80 a 100 vezes a pressão arterial, registrando todas as alterações.

De acordo com o cardiologista Evander Botura, o exame é importante para checar um fenômeno interessante que acontece no corpo humano. Ele explica que de manhã, por volta das 6 horas, ocorre uma descarga de hormônios do tipo ''catecolaminas'' no organismo, os quais promovem a aceleração do batimento cardíaco e a elevação da pressão arterial. ''A isso damos o nome de 'fenômeno do alvorecer'. É nesse horário que ocorre a maior parte dos derrames, infartos e também sangramentos nasais'', relata.

Ainda segundo Botura, à noite o normal é que a pressão diminua entre 15% e 20%. ''Essa diminuição é mau sinal, pois esse sujeito, além de hipertenso, não tem o mecanismo normal de relaxamento noturno de seus vasos sanguíneos, dessa forma fica mais propenso a complicações, principalmente cardíacas e renais''.

Contudo, apesar da importância do MAPA, o cardiologista ressalta que a aferição da pressão arterial continua sendo o melhor instrumento para o diagnóstico. ''É um exame simples e barato, que todo médico, independentemente da especialidade em que atue, devia fazer em seus pacientes. O mapeamento não precisa ser feito em todos, só em casos específicos, como naqueles que sofrem da 'síndrome do jaleco branco', ou seja, que ficam com a pressão alterada somente quando o médico vai aferi-la''.

Este repórter teve a oportunidade de passar pelo MAPA. Incomoda um pouco ficar com uma ''caixinha'' na cintura e com um manguito no braço, o qual deve ser estendido a cada vez que o aparelho começa a inflar, mas nada que chegue a atrapalhar a rotina de um jornalista. Pude comprovar a variação da pressão no decorrer do dia. A minha ficou entre 16 por 10 e 11 por 5.

Ao final do exame, o diagnóstico do médico: ''Está tudo certo com seu exame. A pressão aumentou de manhã e diminuiu à noite. Porém, você tem alguns picos durante o dia, provavelmente causados por estresse e tensão. Precisa relaxar mais.''

Espaços para compartilhar esperanças

Grupos de autoajuda significam motivação para aqueles que sofrem com algum tipo de distúrbio

Folha de Londrina | 31 de março de 2009

Torneira pingando, porta rangendo, gavetas abertas, toque do telefone e trânsito movimentado. Incômodos mínimos decorridos de situações comuns que se agravam e podem causar um ataque de nervos a muitas pessoas. Coisa de louco? Não. O descontrole emocional é muito mais comum do que se imagina e as pessoas chamadas neuróticas passam apenas por um momento de insatisfação.

O termo neurótico causa estranhamento e promove o preconceito. Por isso, a autoaceitação da doença é demorada e são poucos os que se submetem ao tratamento. "Feliz é aquele que enxerga. Eu digo que nós, que participamos do neuróticos anônimos, somos uma elite privilegiada de doentes emocionais que buscaram e encontraram um caminho para a recuperação", afirma Neide (os nomes utilizados nesta matéria são fictícios), 65 anos, frequentadora da irmandade Neuróticos Anônimos (N/A) há 15 anos.

No grupo, as pessoas com problemas emocionais têm a oportunidade de compartilhar suas experiências e escutar depoimentos de quem passa por situações semelhantes. Assim como as demais irmandades de anônimos, a recuperação vem da ajuda mútua, por meio da terapia do espelho, em que os participantes falam, escutam e refletem. São relatos de pessoas que não conseguem conter seus impulsos emocionais, sentem-se muito nervosas e, por isso, infelizes.

Não são apenas os neuróticos que têm um grupo para dividir os problemas e buscar apoio. Viciados em álcool, consumidores e devedores compulsivos, entre outros distúrbios, também contam com grupos de autoajuda (leia mais nesta página). São formas de controlar os distúrbios compartilhando impressões, dificuldades e também as conquistas.

Todo dia
No grupo do N/A, o período de recuperação dura 24 horas, que se repete diariamente. O objetivo é manter o equilíbrio emocional durante esse tempo, vivendo um dia após o outro. Para isso, os participantes usam o lema "Só por hoje evitarei o descontrole emocional". Como consequência, os chamados neuróticos em recuperação administram seus problemas e dificuldades sem grandes sofrimentos.

A neurose é consequência de um desconforto, dor ou insatisfação. O principal motivador desse quadro é o desamor, em que a grande maioria das pessoas apresenta o quadro da perda de um amor. "Os causadores são a falta de amor e a falta de amor-próprio, quando a pessoa não se conhece, não se valoriza e não vê o que tem de bom", analisa Neide.

Nas reuniões, os participantes têm acesso à literatura que apresenta os 12 Passos e as 12 Tradições, que pregam uma convivência harmoniosa e feliz. O tratamento é constante e conquistado a cada dia, com o conhecimento de que somos humanos, passíveis de erros e falhas. Os encontros não contam com orientações profissionais e todos compartilham seus problemas sem diferenciação.

A oportunidade de ser ouvido sem sofrer preconceitos deixou o técnico em estatística aposentado, Pedro Paulo, 56 anos, à vontade para participar das reuniões do N/A. Depois de 17 anos no alcóolicos anônimos, ele está há um ano compartilhando seus problemas emocionais e não perde nenhuma das reuniões realizadas duas vezes por semana. "Saio de lá calmo, consigo esvaziar meus pensamentos e me acalmo. Quando estou numa boa, recarrego a bateria", conta.

Depois de passar por uma depressão que lhe rendeu, aos 30 anos de idade, a aposentadoria no emprego, o integrante da irmandade se orgulha de agora ser respeitado pela sua família e pela comunidade em que mora. "É um crescimento espiritual, moral e material", diz, quando compara a relação com sua família antes e depois de participar do grupo, que define como o céu e o inferno.

Para Pedro Paulo, cada dia deve ser vivido de cada vez, com calma, e tudo em seu momento certo. "Só por hoje. Ontem nós conseguimos, amanhã não sabemos e a batalha é hoje. Com serenidade, primeiro as primeiras coisas".

Compulsão sexual
A Capital também conta com uma irmandade de anônimos que sofrem de compulsão sexual. Manuel, 35, um dos integrantes do grupo, explica que o problema começa quando "extrapola o equilíbrio, o que causa um desconforto. As pessoas perdem a vida, a identidade. A gente passa a ser um escravo da situação, não existe aquela cumplicidade da relação conjulgal".

Irmandade recente, os compulsivos sexuais anônimos não são recomendados apenas a pessoas em tratamento. Para Manuel, é uma oportunidade de ter contato com novas experiências e de auto-conhecimento. "Quem participa conhece uma realidade maior da vida. Aprende a direcionar a energia para o relacionamento, para a coragem, a humildade e a generosidade", afirma.


Desenvolvimento da doença emocional
A irmandade Neuróticos Anônimos trabalha com o desenvolvimento das doenças emocionais como uma curva, que começa com problemas menores, passa por um estágio chamado "fundo do poço" e finaliza com a recuperação. Esses estágios são apresenta Curitiba - A irmandade Neuróticos Anônimos trabalha com o desenvolvimento das doenças emocionais como uma curva, que começa com problemas menores, passa por um estágio chamado ''fundo do poço'' e finaliza com a recuperação. Esses estágios são apresentados na publicação ''Os Doze Passos e as Doze Tradições - Neuróticos Anônimos''.

A doença emocional começa quando as dificuldades deixam a pessoa triste. Os problemas aumentam, acarretam discussões familiares e trazem preocupações, infelicidade, irritabilidade e sentimento de culpa. O quadro se agrava com a perda de interesse e negligência. O meio encontrado para a fuga desta situação é a utilização de medicamentos.

É comum o uso de ''curas geográficas'', com a mudança de casa, emprego ou cidade. Ainda assim permanece o sentimento de fracasso e inferioridade, o que possibilita o uso de drogas, receitadas ou não. O próximo passo são pensamentos suicidas, solidão e severa preocupação com os problemas. Surge o medo de viver e de morrer, um medo que leva à depressão e ao pânico.

A recuperação começa quando todos os recursos de cura estão esgotados, depois do ''fundo de poço emocional''. A aceitação da doença e de ajuda leva ao entendimento de que a doença emocional é curável. A partir desse reconhecimento, nasce o otimismo, a tensão diminui e são tomadas novas atitudes. A pessoa passa a encarar a vida ''numa boa'', o auto-respeito volta a seus sentimentos, assim como a coragem, a fé em um poder superior e o prazer de viver.


Matérias produzidas sobre o assunto, pela jornalista Marian Trigueiros:

"O melhor de tudo é não ser julgada"
Diante dos apelos das vitrines do comércio, Ana, 33 anos, não conseguia mais controlar sua vontade de gastar. "Tudo me chamava muita atenção e, para completar, sempre gostei de perfumes, roupas e maquiagem. Acabou se tornando uma compulsão, mas que para mim era somente um prazer, um momento de euforia."

Antes de conhecer o Devedores Anônimos, Ana diz que tirava de um lugar para cobrir outro. "Fazia empréstimos, gastava todo o cartão de crédito e limite da conta. Minha dívida chegou a mais de R$ 5 mil, para uma pessoa que recebe um salário de R$ 700" revela.

Até conhecer o grupo, foram anos tomando remédios, tratamento com psicólogos. "O DA me proporcionou a identificação com outras pessoas. No grupo, não me condenam ou me chamam de caloteira. Sei que não posso sair de lá, mas hoje tenho dimensão do grande passo que já dei. Sempre que posso, ajudo a divulgar a doença, que nos faz sofrer muito", diz ela, que frequenta as reuniões há 11 meses.

História parecida e não menos dolorosa é a de Maria Rita, que chegou a acumular mais de R$ 15 mil em dívidas. "Sempre fui controlada, mas nos últimos anos desenvolvi a compulsão. Foram cinco anos só comprando, tanto que cheguei a ter 980 pares de sapato e mais de 40 cartões entre bancos e lojas. Ninguém percebe quando isso (vício) começa, apenas quando já está no buraco", alerta ela, que hoje anda apenas com o cartão do plano de saúde e de ônibus.

Depois de um ano e meio participando do DA, finalmente conseguiu equilibrar as finanças. "Sei que em um ano não terei mais nenhuma dívida, me procure novamente para confirmar. Agora, só compro o que preciso. No Natal, não gastei uma agulha, você sabe o que é isso?", brinca. "O apoio do grupo foi fundamental nesse processo, pois posso compartilhar minhas dificuldades."


AA é considerado uma irmandade
Em Londrina, o Alcoólicos Anônimos (AA) -que nasceu nos EUA, em 1935- oferece reuniões semanais desde 1988. É considerado uma irmandade, em que homens e mulheres compartilham suas experiências e principalmente esperanças com o objetivo de resolver o problema em comum. Segundo um dos coordenadores (uma norma do grupo não permite que os participantes sejam identificados), que deixou de beber há 25 anos, para a pessoa participar é necessário seguir os 12 passos da filosofia do AA.

"O primeiro é reconhecer o alcoolismo como doença e admitir sua impotência diante dela. Não somos terapeutas profissionais, porém, o trabalho de ajuda mútua e compartilhamento das experiências de recuperação fazem do grupo uma ferramenta no alcance da sobriedade. Contudo, cada caso deve ser avaliado separadamente; há aqueles que ainda podem necessitar de intervenção médica", revela.

Seguindo o mesmo princípio e filosofia do AA, o grupo de Devedores Anônimos (DA) também preza a ajuda de uns aos outros na recuperação do endividamento compulsivo. Também conhecida como oneomania, é o distúrbio no controle simples no trato com o dinheiro. Além da troca de informações, por meio das reuniões, quem sofre do mal tem a possibilidade de receber orientação e educação com planejamento financeiro.

"Antes de conhecerem o DA, os devedores se consideravam pessoas irresponsáveis ou moralmente fracas. Nas reuniões lidamos com todos os tipos de gastos e endividamentos: objetos, jogos, prostituição", lembra um dos integrantes do grupo, W. Jorge. Além das reuniões semanais, o DA realiza uma espécie de reunião fechada, com um trabalho individual, chamado Alívio de Pressão.

A Secretaria Municipal de Saúde oferece a Terapia Comunitária (TC). Presente em 12 unidade básicas de saúde, é um grupo de autoajuda que trata as pessoas em suas fragilidades. "O lema é ‘botar para fora’ e, para isso, falamos dos mais variados assuntos, como desemprego, insônia, alcoolismo. Temas que os afligem em seu dia a dia. Ninguém vai dar lição de moral, mas compartilhar as experiências de cada um e suas histórias de superação. Com isso, o resultado é, principalmente, a diminuição de doenças psicossomáticas", explica Maria da Graça .

Fé em duas rodas

Comunidade presta homenagem a Nossa Senhora do Carmo com procissão de motocicletas e faz alerta para a responsabilidade dos motociclistas no trânsito

Folha de Londrina |

Entre velas e faixas, as honras a Nossa Senhora do Carmo agradecem à santa pela proteção e pelas graças consedidas. No santuário que leva o mesmo nome da protetora, no bairro Boqueirão, as homenagens não se resumem apenas a orações. A paixão do pároco Luiz Alberto Kleina por motos resultou em uma procissão de motociclistas para a santa que, mesmo não tendo relação nenhuma com motocicletas, já conquistou novos devotos e pode ser considerada uma padroeira informal dos motociclistas.

''Tive a inspiração de levar a devoção e a espiritualidade em uma procissão de motociclistas'', conta o padre. No ano passado ele reuniu três mil pessoas para a primeira Procimotos. A atividade mobilizou toda a comunidade local e diversos grupos de motociclistas de Curitiba. Entre eles estava o policial civil Almir Alberti. Integrante do grupo Paladinos Moto Clube, Alberti participou da primeira Procimotos a convite de um amigo e se encantou com a movimentação das motocicletas em homenagem a Nossa Senhora do Carmo. ''Só estando no meio para ter a sensação. É muito gostoso''.

Neste ano, a festividade continua e pretende contar com a participação de cinco mil pessoas. Foram convidados para a segunda Procimotos aproximadamente 500 grupos de motociclistas de Curitiba e Região Metropolitana, o que possibilita a diversidade de estilo dos participantes. ''Cada um tem seu jeito curioso e especial de ser. E tem cada figura'', afirma o coordenador da procissão e também motociclista Marco Aurélio Lipinski. Devoto de Nossa Senhora do Carmo, Lipinski acredita que a mobilização é muito importante. ''A junção de motocicletas e religião dá certo. O que falta para a população é o temor a Deus, pois não temos mais tanto respeito ao próximo e a fé nos ensina isso'', diz.

Além das homenagens a Nossa Senhora do Carmo, a segunda Procimotos pretende sensibilizar os motociclistas para sua participação no trânsito. Com uma frota de 93.221 motocicletas e 19.091 motonetas em Curitiba, os organizadores do evento consideram fundamental o papel do motociclista na segurança do trânsito. Por isso, o encontro deste ano também terá um cunho educativo, com a distribuição de panfletos sobre responsabilidade, segurança e a importância do cumprimento das leis. ''Ao dirigir uma moto é necessário o respeito com as outras pessoas, isso é fundamental. O motociclista deve colaborar com a segurança no trânsito'', afirma Padre Luiz.

Os participantes da Procimotos irão realizar um percuso de 32 quilômetros do Santuário até a Paróquia Santa Ana, no bairro Abranches. Na volta dos motociclistas acontece ainda um show da Banda Blindagem. ''A participação da banda combina com o estilo dos participantes da procissão'', explica o padre. Os fiéis da comunidade também irão participar entre os dias 11 e 13 de julho de diversas missas e almoços festivos, além de uma corrida e uma caminhada pelo bairro.

A festa de Nossa Senhora do Carmo comemora a primeira aparição da santa, que aconteceu no dia 16 de julho 1251, a um integrante da ordem carmelita que estava no Convento de Cambridge, Inglaterra. Na aparição, Nossa Senhora estava rodeada por anjos e entregou a Simão Stock um escapulário, que representa sua proteção.

Curitibanos enfrentam frio até quinta-feira

Folha de Londrina | 22 de abril de 2009

De volta a Curitiba, o frio pegou de surpresa muita gente que estava nas ruas da cidade no feriado de ontem. A mínima registrada pelo Instituto Meteorológico Simepar foi de 14 graus centígrados e chegou a 21, mas o vento aumentou a sensação de frio na cidade.

As baixas temperaturas e os dias nublados, porém, continuam na Capital até a tarde de quinta-feira, quando uma massa de ar frio se desloca do Paraná e o sol volta a aparecer. A temperatura fica mais estável e amena, com poucas chances de chuva durante o final de semana. Enquanto Curitiba, Litoral e os Campos Gerais sofrem com o frio, o Interior do Estado segue com calor nos próximos dias. O meteorologista do Simepar,

Samuel Braum, explica que a constante mudança de clima é a principal característica do outono. Essa situação deve continuar até o inverno, quando há a predominância de temperaturas mais baixas.

Mesmo acostumados com a chegada repentina do frio, aqueles que trabalham nas ruas de Curitiba também foram pegos desprevenidos. O cobrador de ônibus Eliseu Moreira, 25 anos, percebeu que o dia de ontem não iria esquentar quando saiu de casa cedo, às 5 horas da manhã. Mesmo agasalhado, ele reclama da temperatura que faz dentro da estação-tubo onde trabalha. "Quando é frio, é muito frio, e quando está calor, é calor demais. Quando trabalhava (como cobrador) no ônibus não era tão castigado com o tempo", afirma.

O gari Altemir Silva, 41, que limpa as ruas da cidade durante oito horas diárias, prefere os dias mais frios para trabalhar, mesmo quando não espera por eles. "O calor desgasta bastante, deixa a gente cansado e tem ‘cara’ que chega a passar mal", explica, alegando que nos dias frios é mais fácil de se proteger com relação ao sol forte.

Acostumado com o frio de Videira, em Santa Caratina, onde morava antes de vir para Curitiba, o catador de materiais recicláveis José Batista dos Santos, 74, também não gosta da chuva enquanto está nas ruas, trabalhando. Nos demais dias, ele afirma que não liga se faz chuva ou faz sol.

Já aqueles que não conhecem o clima curitibano são pegos de surpresa quando realizam passeios turísticos pela Capital. A analista Juliana Lins, 21, veio de São Paulo e mesmo com a temperatura "parecida" com a cidade onde mora, sentiu frio em Curitiba. "Não vim preparada, mas quando cheguei aqui no sábado estava gostoso", lembra.

A dona de casa Margarida Evangelista Santos, 61, que veio de Vila Velha, no Espiríto Santo, trouxe na mala luvas e até mesmo um gorro, mas antes de enfrentar o frio de ontem se deparou com dias de sol. "Eu me espantei com o calor quando cheguei", conta.

Alta gastronomia no Mercado Municipal

Curso tenta desfazer a ideia de que chefes de cozinha só elaboram pratos difíceis

Folha de Londrina | 7 de abril de 2009

Ser chefe de cozinha parece um dom de poucos. No Mercado Municipal de Curitiba, qualquer pessoa interessada na área pode aprimorar seus dons culinários com a ajuda de renomados chefes de cozinha. Todos os sábados, um cardápio especial é preparado em uma aula-show, em que os chefes ensinam como elaborar pratos da alta culinária de maneira simples e acessível aos participantes.

A iniciativa, que começou no final de março, pretende aproximar os interessados em culinária da prática da alta gastronomia e estimular que ela seja aplicada em casa. ''O objetivo é desmistificar a figura do chefe que só faz comida difícil, que não pode ser feita em casa'', explica o coordenador do projeto, Vinícius França. ''Os participantes interagem mais na cozinha, têm descontração. É diferente de um programa de TV, pois as pessoas vão degustar e fazer em casa'' complementa a chefe Sônia Carlindo, que atua na gastronomia há 25 anos e é integrante da Federação Italiana de Cozinha (FIC).

Sônia garante que, ao contrário do que muitos pensam, qualquer pessoa pode se tornar um chefe de cozinha. ''Qualquer um pode ser um mestre cuca, desde que tenha bom senso, muito amor e muita paixão. Não é todo mundo que aguenta uma temperatura que chega a 60 graus na cozinha e ficar de 12 a 14 horas em pé'', conta a chefe, que veio de São Paulo para ministrar a aula de preparação do prato ''Papardelle com rag— de mignon orgânico''.

Regina Baldassari, 48, é prova de que a alta gastronomia é acessível a todos. Enfermeira durante 14 anos, largou a profissão da área da saúde para se dedicar a uma prática pela qual é apaixonada há muito tempo. Estudante de gastronomia e doceira, com emprego garantido em um restaurante, a futura chefe participou, no último sábado, da aula de Sônia. ''Para quem é leigo, é fácil de entender. Dá para aprender coisas novas e levar para onde está'', afirma, garantindo que pretende participar de todas as aulas.

O estudante de culinária Vilmar de Carli, 29, também aproveitou a oportunidade de aprimorar seus conhecimentos. Para ele, o projeto ''(A aula) Nos coloca em contato com uma culinária diferente, pois, dificilmente, temos a possibilidade de participar de alguma coisa'', afirma. Ele foi acompanhado pela amiga Ruth Fernandes, 32, que é mosaicista. ''Aprendi coisas bem interessantes para fazer um jantar mais elaborado. Mas, achei que a divulgação foi pouca'', diz.

Os ingredientes usados nas aulas são comercializados no recém-inaugurado Mercado Municipal de Orgânicos de Curitiba e cedidos pelos empresários do espaço. Os chefes são convidados por parceiros da Secretaria Municipal de Abastecimento: a revista Capital Gourmet e a escola Centro Europeu. A iniciativa também conta com colaboradores da área de equipamentos para cozinha.

O projeto caiu no gosto dos participantes. Algumas das próximas aulas já estão lotadas e com fila de espera. São perto de 30 vagas por aula. O coordenador do programa orienta os interessados a fazer as inscrições com antecedência. Para participar, os futuros cozinheiros precisam, apenas, fazer a inscrição e não é exigida experiência anterior na área.

Serviço:
As inscrições para as aulas de alta gastronomia no Mercado Municipal de Orgânicos são gratuitas e podem ser feitas pelo telefone (41) 3022-1049. Os encontros são realizados aos sábados, a partir das 11 horas, no Espaço Maurício Burmester.

Mentes brilhantes

Jovens paranaenses desenvolvem projetos científicos e contribuem para o desenvolvimento social

Folha de Londrina | 6 de abril de 2009

Pesquisas, leituras e grupo de estudos. Conhecimento a respeito de normas científicas, leis, entrevistas, funcionamento de mecanismos e produção de artigos. Esta é uma rotina comum a pesquisadores, mestres e doutores, empenhados em descobertas e análises profundas sobre diversos temas. Em geral adultos, estes pesquisadores ganharam a companhia de jovens também interessados pelo mundo científico.

Eles têm 15, 16 anos, mas se comportam como gente grande quando o assunto é o conhecimento. O passeio experimental pela escola em uma cadeira de rodas mostrou aos estudantes Gabriel Tadeu Sanson, 15, e Bruno Abdala Cândido Lopes, 16, as dificuldades enfrentadas pelos cadeirantes nas ruas. Depois de algumas pesquisas, a possível solução que os adolescentes encontraram para os desafios à acessibilidade foi a criação de um dispositivo de baixo custo. Ele permite a subida das cadeiras no meio-fio, uma das principais queixas ouvidas pelos jovens nas entrevistas.

Durante a realização do trabalho, a dupla conversou com fisioterapeutas e cadeirantes e também conheceu as leis de acessibilidade. Estudantes do curso de Engenharia da Universidade Positivo (UP) deram dicas de como inserir um dispositivo nas cadeiras de rodas disponibilizadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), para que pacientes de baixa renda tenham acesso à tecnologia.

O projeto deu certo e agradou muitos cadeirantes. Além do trabalho, a oportunidade de conversar com os cadeirantes e os novos conhecimentos sobre leis de acessibilidade deram aos jovens Bruno e Gabriel uma experiência que será levada para a vida. ''Eu não parava para pensar nas dificuldades que os cadeirantes enfrentam'', lembra Bruno. ''O que valeu do projeto foi ajudar as pessoas. Mexeu bastante comigo'', fala, com orgulho e brilho nos olhos, o estudante Gabriel.

Para chegar a resultados tão expressivos, a preparação não é fácil. Os estudantes se empenham - e muito - em pesquisas, leituras e conversas com especialistas na área. Esta maratona de conhecimento também foi vivida pelos colegas Rhayssam Poubel Arraes e Susan Amaral, ambos de 15 anos.

Embasado em literaturas utilizadas no ensino superior, Rhayssam buscou respostas a uma dúvida que teve aos 13 anos. ''Tive a preocupação com o tipo de jovem que está sendo criado. Porque existe uma grande preocupação com o corpo perfeito, um erotismo cada vez mais cedo. Como o jovem está filtrando tudo isso?''

Foi assim que surgiu o projeto ''Mídia televisiva: mãe dos sete pecados''. A argumentação de Rhayssam é de que a televisão, presente na maioria dos lares brasileiros, exerce uma grande influência na formação de crianças e adolescentes, o que deveria ser amenizado com a participação dos pais. ''É uma ação conjunta, nos lares, com os pais orientando os filhos a filtrarem as informações e despertando o senso crítico'', explica.

''Você sabe o que acontece com um psicopata quando é preso?'', perguntou a um professor a futura psiquiatra Susan. A partir desta dúvida, a adolescente iniciou uma pesquisa sobre um assunto polêmico: o tratamento a psicopatas e maneiras de evitar que a doença se manifeste.

O projeto ''Interface entre Lei e Psiquiatria: é possível tratar a mente de psicopatas?'' mostra que predisposições genéticas ou eventos ocorridos durante o desenvolvimento podem causar o comportamento de um psicopata. Porém, segundo ela, esta doença pode ser evitada com a identificação de seus sintomas durante a infância. ''Existe cura e prevenção para a doença. A visão do psicopata é errada, a maioria das pessoas não tem ideia da definição de um psicopata'', defende Susan.


Acelerador de partículas foi tema de estudo em Toledo
Aluno de uma escola pública no município de Toledo (Oeste), Leandro Volanick, 16 anos, estudou as experiências realizadas na Europa com aceleradores de partículas, o que poderia causar o chamado buraco negro. ''Se a experiência desse errado iria criar o buraco negro, que é como uma estrela que explode e atrai tudo para si. Mas não houve problema nisso'', explica o jovem, que fez o estudo com outros dois colegas de classe.

Mesmo sem contar com projetos de estímulo à pesquisa científica, os estudantes utilizaram os laboratórios de física e foram orientados por professores da disciplina. ''Eles mostravam o caminho e a gente ia atrás'', lembra Leandro, que pesquisou o assunto desde quando entrou no ensino médio.

O exemplo destes adolescentes mostra que qualquer jovem interessado em realizar pesquisas pode chegar muito longe. Com a participação em projetos escolares ou não, a iniciativa pode contagiar professores e alunos. Foi o que aconteceu em Toledo. Depois do êxito em seu projeto, Leandro e seus colegas foram convidados a organizar uma feira de ciências na escola.

Todos os jovens entrevistados participaram da edição 2009 da Feira Brasileira de Ciências e Engenharia da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Febrace), realizada março, na USP. O evento reuniu estudantes do ensino fundamental e médio de todo o Brasil para apresentarem seus projetos na área de Engenharia e Ciências Exatas, da Terra, Biológicas, de Saúde, Agrárias, Sociais e Humanas.


'O Brasil precisa de pesquisadores'
A psicóloga e psicanalista Shirlei Rialto Sesarino garante: todos podemos nos tornar cientistas. Ela explica que, de acordo com os estudos psicanalíticos, a predisposição à elaboração de pesquisas e estudos nas mais diversas áreas descarta uma interferência genética.

''Todos têm potencial, somos aparelhados para fazer qualquer coisa'', afirma. Ela ressalta que a formação durante a infância estimula ainda mais a curiosidade e o interesse por respostas. Isso acontece quando a pessoa está segura de seu espaço, principalmente junto à família.
Shirlei acredita que o envolvimento de jovens em projetos científicos não é prejudicial, desde que o adolescente não se sinta violado. ''Não podemos generalizar, mas para alguns este envolvimento também pode ser uma fuga de outra situação que está difícil de tratar'', complementa.

O professor Celso Hartmann, coordenador da Mostra de Soluções para uma Vida Melhor, das Escolas Positivo, acompanhou o desenvolvimento dos projetos de Gabriel, Bruno, Susan e Rhayssam. Um dos argumentos que mais utiliza em sala de aula para envolver os alunos é um cenário nacional. ''O Brasil precisa de pesquisadores e pessoas com novas idéias. Temos muitos problemas e poucas pessoas interessadas em como resolvê-los'', afirma.

Para o professor, um retorno positivo da participação dos alunos em projetos científicos é uma mudança de postura, que às vezes vale muito mais do que uma nota 10 no boletim. ''Eles percebem que podem ter sucesso, serem úteis para a sociedade. Fico apaixonado. Se 10% dos nossos alunos se envolverem, o mundo vai ficar melhor.''

Haste é solução para alongamento ósseo

Paraná é um dos primeiros estados a desenvolver a nova tecnologia. Procedimento é alternativa ao pino

Folha de Londrina | 2 de abril de 2009

O Paraná é um dos primeiros estados brasileiros a desenvolver uma nova tecnologia que atende pacientes com problemas ósseos decorrentes de traumas, encurtamentos congênitos ou estéticos. A Haste Intramedular Expansível, também conhecida por ISKD, promove o alongamento ósseo com a realização de procedimentos pouco invasivos e de rápido período de recuperação, mas é indicada apenas para casos específicos.

A ISKD é uma alternativa ao tratamento convencional de alongamento ósseo. Os demais procedimentos utilizam pinos dispostos para fora da perna do paciente, que causam grandes cicatrizes e dores. Criada pela empresa italiana Orthofix, com sede nos Estados Unidos, a tecnologia chegou ao Brasil há mais de um ano e segue todas as determinações da Agência Nacional de Saúde (Anvisa). "As cicatrizes são menores, a reabilitação é mais fácil e não há complicações", garante o ortopedista Richard Luzzi, do Grupo do Trauma Ortopédico do Hospital Universitário Cajuru (HUC).

A colocação da haste ocorre por um pequeno orifício de aproximadamente 1,5 centímetro. O equipamento é acomodado por dentro do osso e movimentos realizados pelos pacientes -monitorados por meio de leitura de um campo magnético presente no aparelho- ativam o alongamento da haste. O crescimento de cada dispositivo varia entre 50 e 80 milímetros e demora entre 60 e 80 dias. Caso o alongamento necessário seja maior que 8 centímetros, são realizados ciclos de alongamento.

O limite para o alongamento é definido proporcionalmente ao tamanho do tronco e membros do paciente. Os ossos mais comuns para a realização do procedimento são a tíbia e o fêmur.
Luzzi afirma que a recuperação é rápida, em alguns casos os pacientes voltam a caminhar ainda no período pós-operatório. Porém, diferente do que acontece no tratamento convencional, o alongamento da haste é irreversível. "Uma vez alongada, a haste não retrai", explica. Por isso, a escolha dos pacientes que passam pelo procedimento é muito minuciosa e as indicações muito específicas. Entre os grupos que não devem participar da cirurgia de ISKD são crianças, diabéticos e fumantes.


Cautela e rigor são fundamentais
''Os procedimentos são realizados apenas em casos muito específicos, que se adequam às condições do procedimento. A indicação é muito precisa'', ressalta o ortopedista Richard Luzzi, do Hospital Cajuru. O tratamento exige uma equipe multidisciplinar especializada e comprometimento do paciente, que passa por uma série de avaliações psicológicas.

O valor do procedimento ainda é muito caro. Cada haste custa em torno de R$ 35 mil, o que faz com que muitos planos de saúde não cubram o tratamento. Luzzi afirma, porém, que existe uma intensa divulgação sobre a tecnologia -principalmente na internet a interessados em recuperação estética-, sem a preocupação com a seleção dos pacientes. ''A cirurgia não pode ser realizada de qualquer maneira, tem que ter controle'', critica.

Desde a implantação no País, cinco locais realizaram a nova técnica. Pelo Sistema Único de Saúde (SUS) foram apenas duas cirurgias de colocação da haste. O Hospital Cajuru é o segundo local com maior número de realização de cirurgias, até agora foram seis pacientes que utilizaram a ISKD, entre eles a adolescente Fernanda Ronkoski, 14 anos, atendida pelo SUS.

Um acidente de carro aos 4 anos de idade causou em Fernanda uma lesão na cartilagem que promove o crescimento ósseo da perna esquerda. Durante dez anos, a garota passou por diversos tratamentos, entre eles, uma cirurgia para a colocação do pino externo e outra para desentortar a perna.

A solução de seu problema veio apenas há um ano, quando se submeteu à cirurgia de colocação da haste. Ela conta que a técnica causa menos dor em relação às que se submeteu anteriormente. ''Agora estou 100% e muito feliz. Antes doía, mas nessa (cirurgia) doeu um pouco, mas era uma dor que dá para aguentar tranquila'', afirma animada.

Entre os novos planos da adolescente, está o de voltar imediatamente à escola. A recuperação de sua perna acaba com um outro problema que sofreu durante a infância, o preconceito. ''Ela tinha muita dificuldade em fazer amizade. Todo dia que chegava na escola, ela me esperava chorando no portão'', lembra a mãe, Rosilene, falando das brincadeiras que Fernanda era alvo na escola.