Abandono é falta de Atitude

A família, a sociedade e o Estado podem – e devem – tomar decisões que mudam a condição de idosos fragilizados e determinar o limite do risco social e do bem-estar

Gazeta do Povo | 24 de fevereiro de 2011

Anna Paula Franco e Carolina Gabardo Belo

A interferência de vizinhos na rotina de um senhor de 87 anos pode ter sido a diferença entre a vida e a morte do homem. Morador do Jardim Botânico, em Curitiba, o idoso, que vive sozinho na casa de madeira mal cuidada, encravada entre boas residências do bairro, era sempre observado pela vizinhança por causa do hábito de recolher entulhos no quintal. Até que há uma semana, perturbado pelo silêncio e aparente sumiço do senhor, que já durava alguns dias, o empresário Manuel Reis chamou a polícia. “Temi que ele estivesse morto.”

Dentro da casa, os policiais encontraram o idoso, deitado na cama, num quarto escuro. Lixo, sujeira, bagunça e sinais de roedores e baratas denunciavam a incapacidade dele de cuidar da própria saúde. Há três dias ele não comia, por isso não saía mais no quintal. Praticamente cego, a limpeza da casa e a higiene pessoal também haviam sido negligenciadas há muito tempo.

A família, que raramente visitava o idoso, foi informada da situação pelo vizinho. Quase uma semana depois do flagrante de abandono, nada havia sido feito. Os parentes só apareceram depois de receberem um telefonema da polícia. A atitude extrema foi a última alternativa para mudar a situação. “Há dois anos procuro a prefeitura e a Secretaria de Saúde para, pelo menos, limpar o terreno. Sem a presença da família, ele não tem condições de se cuidar”, conta a advogada Marlei Seibel, esposa de Reis.

Os filhos do idoso – quatro no total, dois deles residentes em Curitiba – tentam agora decidir que providências tomar em relação ao pai. Um deles, um porteiro de 62 anos, menciona que o gênio difícil do pai, severo e de temperamento arredio, sempre foi um impedimento para o relacionamento familiar. “Ele sempre foi muito autoritário e independente. Nos tocava de casa”, conta.

Surpreendido pela condição precária de sobrevivência do sogro, o genro diz que os filhos temiam as palavras duras e a resistência do pai aos cuidados. “Não sabia que a situação estava assim. Agora temos que tomar providências urgentes”, diz. Depois do Boletim de Ocorrência e da formalização da denúncia no Ministério Público (MP), a família foi obrigada a assumir os cuidados, ainda que precários. “Não há justificativa que tire dos filhos a responsabilidade pelo cuidado com os pais. Nem mesmo a péssima qualidade do relacionamento paterno”, explica a promotora de Justiça Rosana Beraldi Bevervanço, coordenadora do Centro de Apoio das Promotorias de Defesa do Idoso e do Portador de Deficiência Física. O abandono é crime, de acordo com o Estatuto do Idoso. A pena mínima é de dois meses a um ano de prisão, além de multa, nos casos sem agravantes.

Final feliz
A reação diante de uma situação de risco e de maus-tratos também mudou a vida da idosa Maria Eugênia Braz, de 110 anos. Mãe de uma cliente da promotora de eventos Lurdes Tangerino, de 54 anos, a “Vózinha”, como é chamada pelos familiares, foi resgatada da casa de uma das filhas, onde era maltratada e não recebia os devidos cuidados.

Lurdes foi buscar a idosa em Campinas, no interior de São Paulo, depois de promover o reencontro entre ela e outra filha, Apare­cida Maria, de 80 anos, que estava afastada da idosa havia dez anos. Dois anos antes, Eugênia havia sofrido um acidente vascular cerebral (AVC) e sofria as sequelas de uma queda que lesionou sua coluna. “Doeu muito ver aquela situação. Senti que tinha que trazer a Vózinha para minha casa”, lembra Lurdes. Os sete filhos de Maria Eugênia concordaram prontamente com a proposta de Lurdes, que voltou para Curitiba com a nova integrante da família.

Diferente do que acontece em muitas famílias compostas por idosos que precisam de cuidados especiais, Maria Eugênia é o centro das atenções na casa de Lurdes. A rotina e a casa da família foram adaptadas para receber a nova moradora. Lurdes deixou os negócios sob responsabilidade da filha e contratou uma empregada. Maria Eugênia tem um quarto só para ela e a refeição segue uma dieta especial produzida pessoalmente pela dona da casa.

Quando chegou à casa de Lurdes, há dois anos, Maria Eugênia estava lúcida e divertiu a nova família com diversas histórias de sua vida, que começou na região rural de Barretos (SP) em 1900.

Há dois meses Maria Eugênia teve um novo AVC, que prejudicou sua fala. Desde o começo do ano ela é acompanhada pelo programa de Atendimento Domiciliar em Saúde (ADS). O geriatra Clóvis Cechinel conta que o estado de saúde dela é grave. Recém-recuperada de uma pneumonia e de uma desidratação, ela também sofre com a pressão alta. Porém, os cuidados que recebe fazem toda a diferença no seu quadro clínico. “Carinho é fundamental”, garante. “Tenho verdadeiro amor pela Vózinha. Ela é como se fosse minha mãe”, conta Lurdes.


Registro de acolhida e abandono
Tanto o abandono como o acolhimento de idosos em situação de risco requerem formalização. Os registros protegem os beneficiados e as famílias acolhedoras e também ajudam as vítimas de violência na responsabilização dos envolvidos.

Apesar de não ser realizado com frequência, o acolhimento de idosos por pessoas que não fazem parte da família precisa ser registrado em cartório ou no Ministério Público, mesmo que o idoso manifeste seu desejo de mudar de casa. A formalização é semelhante ao reconhecimento de união estável e consiste em uma declaração que atesta o acolhimento pela nova família.

Quando a pessoa acolhida perde a lucidez e torna-se incapaz, o encaminhamento exige a interdição judicial, em que um juiz designa o curador responsável por cuidar do idoso e de seus bens, que também precisa prestar contas do atendimento.

A responsabilidade inicial pelo bem-estar do idoso é da família consanguínea. “É dever dos filhos prestar cuidados diretos, viabilizar um cuidador para atenção material e de saúde ou ainda providenciar internamento para garantir o envelhecimento digno dos pais. Se não há como proporcionar isso, seja por recusa do próprio idoso ou falta de condições, é preciso formalizar essa situação no Ministério Público. Daí serão tomadas as medidas necessárias para garantir a segurança e bem-estar desse idoso, como ocorre nas denúncias de maus-tratos ou risco social”, explica a promotora Terezinha Resende Carula. (APF e CGB)

Serviço:
Disque-Idoso: 0800 410 001. Ministério Público do Paraná: Avenida Marechal Floriano Peixoto, 1.251, Curitiba. Contato: (41) 3250-4793.

Anvisa propõe a proibição de inibidores de apetite

Audiência pública discute hoje o cancelamento do registro da sibutramina e dos anorexígenos anfetamínicos, que deixariam de ser produzidos e vendidos no Brasil

Gazeta do Povo | 23 de fevereiro de 2011

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) realiza hoje uma audiência pública para discutir o cancelamento do registro de medicamentos inibidores de apetite, como a sibutramina e os anorexígenos anfetamínicos (anfepramona, femproporex e mazindol). O órgão propõe que esses produtos deixem de ser comercializados e fabricados no país. Enquanto a Anvisa diz que os riscos do uso desses medicamentos são maiores que os benefícios, os profissionais defendem que o paciente tenha liberdade de escolha.

As quatro substâncias atuam no sistema nervoso central para inibir o apetite. Caso os registros sejam cancelados, os pacientes ficarão sem nenhum medicamento equivalente. Apenas o orlistate será liberado, princípio ativo do Xenical, que tem uma ação diferente: interfere na absorção de gorduras a partir do bloqueio de uma enzima do pâncreas.

Entre as quatro substâncias, a anfepramona foi a mais consumida no Brasil em 2009: 3 toneladas, segundo informações repassadas por 38,5 mil estabelecimentos farmacêuticos ao Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados (SNGPC), que representam 62% da rede de farmácias naquele ano. Em seguida apareceu a sibutramina, com 1,8 tonelada. Nas farmácias paranaenses, a sibutramina ocupa o primeiro lugar entre esses medicamentos, com a dose diária de 4,5 miligramas a cada mil habitantes. O índice é maior do que a média nacional, de 2,78 miligramas por mil habitantes/dia. O levantamento não apresenta as quantidades consumidas por estado.

Riscos e mercado negro
Segundo estudos da Anvisa, os anfetamínicos oferecem riscos aos pulmões e ao sistema nervoso central. Já a sibutramina afetaria o sistema cardiovascular. “Mesmo se prescritos dentro das doses recomendadas, a avaliação apontou baixa eficácia a longo prazo e com muitos eventos adversos graves. No binômio benefício e risco, os riscos são superiores”, garante a chefe do Núcleo de Investigação em Vigilância Sanitária da Anvisa, Maria Eugênia Cury. Ela defende a realização de um plano de manejo da obesidade, com atenção ao problema e seus possíveis desdobramentos.

Os defensores do uso desses medicamentos consideram a proibição uma medida radical e pedem mais fiscalização das prescrições e do consumo. Hoje, as receitas contendo estes produtos ficam retidas nas farmácias e a venda é informada à Anvisa, o que já ajudou a reduzir a comercialização. Um dos receios é que, com a proibição, aumente a recorrência de problemas causados pela obesidade.

Outra preocupação é com o possível fortalecimento do mercado negro desses produtos. “No mercado clandestino os pacientes não terão o controle médico nem farmacêutico. Aí sim perderemos o controle”, analisa a presidente nacional da Associação Nacional de Farmacêuticos Magistrais (Anfarmag), Maria do Carmo Garcez. “Qualquer produto tem riscos e benefícios. Os efeitos colaterais dos inibidores de apetite já são conhecidos e eles são prescritos de acordo com a avaliação médica. O grande risco é o paciente ficar sem nenhum medicamento.”

Ela lembra o caso dos pacientes com obesidade mórbida, que poderão sofrer sem esses medicamentos. Nos casos em que a cirurgia bariátrica não é indicada e a dieta não surte os efeitos necessários, a solução é o inibidor de apetite. Além disso, há uma série de consequências da obesidade, que podem levar à diabete e à hipertensão, além de aumentar os riscos de problemas cardiovasculares e de índices de colesterol elevados.


Substâncias são prescritas por médicos de outras áreas
Não são apenas profissionais da nutrologia ou da endocrinologia que receitam inibidores de apetite. Segundo informações repassadas por estabelecimentos farmacêuticos ao Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados (SNGPC), da Anvisa, entre os profissionais que receitaram sibutramina, anfepramona, femproporex e mazindol no ano passado estão especialistas em medicina de tráfego, ginecologistas, dermatologistas e pediatras.

Pela lei, qualquer médico pode receitar medicamentos. Segundo a Anvisa, no entanto, a prescrição indiscriminada é uma realidade. “Uma possibilidade seria determinar que apenas alguma classe médica pode receitar essa medicação”, sugere a endocrinologista Mônica Biase Wright Kastrup, da câmara técnica de controle de medicamentos do Conselho Regional de Medicina do Paraná.

A analista fiscal Fernanda Sabino de Melo, 29 anos, consome inibidores de apetite há oito anos, seguindo as orientações de um endocrinologista. Ela pesava 57 quilos e se “achava gorda”. Os efeitos colaterais a fizeram interromper o consumo algumas vezes e ela chegou a pesar 20 quilos a mais. “É preciso se comprometer com o tratamento. O medicamento tem o efeito de fazer a pessoa ‘murchar’, com isso ela se ilude e se satisfaz, parando de tomar o remédio, e volta a se alimentar.”

Fer­nanda incorpora ao tratamento a sibutramina, comprada de forma clandestina. Com a possibilidade da proibição, ela diz que continuará a recorrer ao mercado clandestino. “Paro de tomar o medicamento receitado, mas continuo comprando a sibutramina.”

O primeiro secretário do Conselho Federal de Medicina, Desiré Callegari, defende campanhas entre os profissionais. “O prescritor deve agir de forma ética e abolir o uso indiscriminado.”

Sacis antecipam a folia

Bloco pré-carnavalesco leva música e colorido para o Largo da Ordem. Desfiles acabam no próximo domingo

Gazeta do Povo | 21 de fevereiro de 2011

Após a folia em trajes de banho, os tradicionais colombinas e pierrôs e os super-heróis que desfilaram ontem, o bloco de pré-carnaval curitibano Garibaldis e Sacis prepara para o próximo domingo uma de suas atrações mais esperadas: a festa do invertido, em que homens irão desfilar pelo Centro histórico de Curitiba vestidos de mulher e vice-versa. A apresentação vai encerrar as festividades que se repetem no Largo da Ordem há 12 anos, durante as quatro semanas que antecedem o carnaval.

O lema do bloco é “Só se assanha sem sair”, uma referência à folia que termina um fim de semana antes da festa do Rei Momo.

A animação dos foliões nos últimos fins de semana serviu de termômetro para o que pode acontecer no próximo domingo. Centenas de pessoas foram ao Largo, seguindo o corso ao som das batucadas. O tema infantil e super-heróis levou para o calçadão diversas fantasias inusitadas, que chamaram a atenção de quem passava pela cidade desde a Praça 19 de Dezembro, de onde partiu o bloco, rumo ao centro histórico. Entre eles estava o folião Macunaíma Bebê, criação do homônimo Macunaíma da Silva, que segue o bloco há quatro anos e fez uma homenagem ao herói brasileiro. “Esse é um dos carnavais mais divertidos que tem, no sentido de unir as pessoas na alegria”, diz. Para o estudante Mário Sérgio de Andrade, a passagem do bloco traz mais cultura para Curitiba. “O bloco resgata o que é ser brasileiro, une todo o povo. Todo mundo para pra ver e, no mínimo, bate o pé”, diz.

O repertório é composto por músicas do próprio grupo, canções consagradas e marchinhas compostas para o primeiro concurso de marchinhas do pré-carnaval de Curitiba, que terá sua fi­­nal também no próximo do­­mingo. Cinco músicas foram selecionadas entre 25 inscritas e apresentadas durante todas as passagens do bloco neste ano. As marchinhas falam sobre o cotidiano da cidade e temas atuais, como Cavalo Babão, (a Fonte da Me­­mória do Largo da Ordem), a reforma ortográfica na Língua Portu­guesa e também a eleição da presidente Dilma Rousseff.

Além do sucesso deste ano, os integrantes do bloco também comemoram as conquistas desta edição. Ao todo, 20 pessoas são responsáveis pela organização e está é primeira vez que deixaram de fazer investimentos do próprio bolso. Com a contribuição de bares do Largo da Ordem e festas realizadas pelo grupo, eles conseguiram realizar a festa.

Sobram vagas, faltam docentes

Déficit de professores compromete a qualidade do ensino técnico. Governo autoriza contratações temporárias para suprir demanda emergencial

Gazeta do Povo | 18 de fevereiro de 2011

Andréa Morais, Vanessa Prateano e Carolina Gabardo Belo

Em tempos de mercado de trabalho carente de mão de obra especializada, a falta de professores nas escolas técnicas (tanto superiores quanto de ensino médio) acende a luz amarela sobre a capacidade do Paraná de formar profissionais. Na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), onde as aulas começam em dez dias, 10% do quadro de docentes continua em aberto: faltam 110 do total de 1.594 professores. Já o Instituto Federal do Paraná (IFPR) não contratou ainda 237 dos 630 profissionais que serão necessários neste ano. A diferença é que a nomeação no IFPR pode ser feita até o meio do ano, já que a maioria dos cursos só começa em agosto.

Para resolver o problema, que não é exclusivo do Paraná, o governo federal editou uma medida provisória nesta semana, autorizando as universidades e institutos federais a contratar emergencialmente 3,5 mil professores substitutos e assim garantir o início das aulas. Os docentes selecionados ficarão dois anos em sala de aula, até que concursos voltem a ser autorizados. Todos os processos de contratação via concurso para esse ano foram suspensos como parte das medidas lançadas pela União para cortar R$ 50 bilhões no orçamento.

O caminho encontrado pelo governo Dilma desagrada ao Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes). Segundo a presidente da Andes, Marina Barbosa Pinto, a falta de professores nas universidades e institutos é enorme. “Isso é resultado de 10, 12 anos em que a universidade deixou de ser alimentada com recursos públicos. No governo Lula, isso começou a mudar, com a expansão da rede. O problema é que esse crescimento se iniciou e se assenta numa estrutura deficitária. Novas escolas foram abertas, mais alunos entraram no sistema, mas, em função disso, aumentou exponencialmente a carência de mão de obra. Até foram feitos concursos e contratações, mas não em volume suficiente para atender à demanda criada”, explica.

Ela sustenta que as contratações emergenciais podem resolver o problema imediato, já que há muitos professores – inclusive com mestrado e doutorado – esperando uma oportunidade para ingressar na rede federal. A qualidade no ensino, porém, pode ficar comprometida, pois o envolvimento dos temporários com a universidade costuma ser menor, com prejuízos para os estudantes.

O professor João Negrão, tesoureiro-geral da Associação dos Professores da Universidade Federal do Paraná (que representa também os docentes dos institutos), é da opinião de que a expansão da rede de institutos federais ocorreu de forma muito rápida e até desmedida. Ele tem dúvidas se o Paraná terá condições de preencher o grande volume de vagas abertas com profissionais realmente qualificados, ainda mais na condição de temporários. “O salário de professor já não é mais tão atraente, em comparação com que o mercado vem praticando. Para piorar, a vaga temporária não atrai profissionais de outros estados que poderiam se estabelecer no Paraná, porque ninguém muda toda a sua vida sem garantia de futuro.” O efeito deste processo, defende Negrão, será a queda na qualidade da mão de obra qualificada. “Se não surgirem candidatos com o grau de capacitação exigido, a tendência é que esse processo seja revisto e que se contratem profissionais com menor nível de capacitação. Quem perde com isso é o aluno e quem precisará contratar esses futuros profissionais”, resume.

Estratégias
A presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH) no Paraná, Sônia Gurgel, diz que uma das estratégias para atrair mais professores para as escolas técnicas passa por um maior reconhecimento da profissão e do papel do ensino técnico no país. Ela afirma que a contratação temporária é um paliativo para corrigir o déficit, mas pode ser arriscado. “Se não for garantida a estabilidade, poucos profissionais vão largar o mercado de trabalho, que remunera bem nessa área, por algo incerto. Talvez os mais inexperientes, recém-formados, mas, para garantir que os estudantes saiam bem capacitados, é preciso investir em professores com experiência.”


UTFPR oferece contrato provisório a concursados
A Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) pode ser a primeira instituição do estado a aderir à medida provisória (MP) que autoriza a contratação de professores temporários. A MP foi editada pelo governo a fim de suprir a demanda por docentes provocada pela expansão das unidades de ensino federais e evitar problemas no início do ano letivo em todo o país.

A previsão é que 3,5 mil professores temporários sejam contratados em 59 universidades e 38 institutos federais brasileiros. Segundo as regras da MP, o número de temporários pode chegar ao máximo em 20% do total de efetivos em cada instituição.

Como não recebeu autorização do Ministério da Educação (MEC) para contratar 110 professores aprovados em concurso no ano passado, a UTFPR está propondo aos docentes que aguardam o chamamento a possibilidade de serem contratados como temporários. Caso os classificados não aceitem, a universidade fará um processo seletivo simplificado. As aulas começam no próximo dia 28. “A contratação pela medida provisória é paliativa, apenas enquanto não ocorrer a liberação de efetivação dos professores”, diz a diretora de gestão de pessoas da UTFPR, Adelaide Strapasson.

IFPR
O Instituto Federal do Paraná (IFPR) está com 237 vagas de professores dos cursos técnicos e tecnólogos em aberto. O ano letivo na instituição começou no dia 14 de fevereiro com 393 docentes. Mas, de acordo com o reitor Luiz Gonzaga Alves de Araújo, a falta de professores afeta apenas os cursos de expansão, cujo início das aulas ocorrerá apenas no segundo semestre. Araújo afirma que, de imediato, não será necessário recorrer à contratação de temporários.

Ao contrário da UTFPR, ele diz que o MEC já autorizou a contratação de 47 professores aprovados em concurso que suprirão a necessidade imediatada instituição. “Com certeza sairá o provimento e depois teremos outras duas fases de contratações para o segundo semestre. Já temos o código das vagas e só falta a publicação no Diário Oficial, que deve sair hoje”, afirma.

As demais entidades federais do estado não apresentam problemas com a falta de professores neste início de ano letivo.

Custear dano ambiental ajuda a minimizar impacto

A valoração dos recursos naturais permite definir estratégias para recompensar a natureza. Poucas iniciativas têm se preocupado em fazer esse cálculo complexo

Gazeta do Povo | 16 de fevereiro de 2011

O uso dos recursos naturais tem um preço que poucas empresas encaram como um custo. Isso porque não é uma tarefa simples de calcular em reais, dólares ou ienes todos os efeitos negativos do corte de uma árvore, da poluição de um rio ou da emissão de gás carbônico. Uma das iniciativas mais ousadas para internalizar nos balanços contábeis o custo ambiental foi lançada pela corporação norte-americana Dow Chemical, que fechou uma parceria com a organização não governamental (ONG) The Nature Conservancy para calcular os impactos ambientais de cada decisão de negócio.

Definir quanto valem os recursos naturais e os serviços oferecidos pela natureza é um processo complexo, porém fundamental para a sustentabilidade do planeta. A prática é chamada valoração ambiental e apresenta um balanço entre o valor do recurso natural em si e o serviço que ele presta à comunidade. Com isso, estudiosos tentam corrigir uma distorção que pesa contra a conservação: é mais fácil saber o valor de um recurso quando ele é transformado em mercadoria (uma árvore serrada, por exemplo) do que quando em estado natural (um bosque que mantém uma determinada biodiversidade).

“Muitas vezes o balanço pode ficar negativo. Por isso é preciso estimar qual o valor que a sociedade atribui aos serviços naturais, mas que não são transacionados no mercado financeiro. Com a valoração é possível saber o tamanho da perda, quais as falhas e corrigir os valores negativos”, explica o diretor executivo da ONG Conservação Estratégica, Marcos Amend, que aplica a economia como ferramenta para a conservação da natureza.

Um ponto favorável dessa estimativa é a possibilidade de revisar processos produtivos que agridem o meio ambiente com o objetivo de minimizar os impactos. O levantamento dessas informações permite a criação de políticas públicas e estratégias de compensação das perdas. Na definição do professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Carlos Eduardo Young essa é a “compatibilização entre benefícios e custos”. “Quan­do se coloca no papel o resultado, é possível demonstrar que o custo da degradação é muito pior do que o lucro gerado pela atividade econômica”, diz o especialista.

Iniciativas isoladas
Iniciativas como a da Dow Chemical, que pretende colocar seu inventário de impactos ambientais lado a lado com números de faturamento e lucros, ainda são ações isoladas e que demandam investimentos pesados para o desenvolvimento de metodologias de cálculo – a Dow está investindo US$ 10 milhões (cerca de R$ 16,7 milhões) no projeto, em um período de cinco anos. Mas elas tendem a aumentar, pois governos e órgãos reguladores já estão encontrando formas de fazer com que os impactos ambientais entrem na conta das empresas. Um exemplo é o mecanismo que impõe a compra de créditos de carbono nos países desenvolvidos para companhias que aumentarem suas emissões.

“O melhor caminho para a sustentabilidade é embutir nos processos da empresa este pensamento de internalizar os custos ambientais”, diz a engenheira florestal e pesquisadora da Univer­sidade Federal do Paraná (UFPR) Ana Paula Dallas Corte. Com processos mais sustentáveis, as organizações planejam o uso consciente dos recursos, a geração e o reaproveitamento de resíduos. O investimento nessas tecnologias apresenta alto custo que é compensado quando os procedimentos tornam a empresa sustentável. “Caro é o preço da degradação. O preço para evitar e compensar é um preço justo”, complementa Ana Paula.


Uso de água de rio será cobrado no PR
O Paraná deve começar a cobrar o uso das águas que correm pelos rios do estado no próximo ano, conforme a previsão do Instituto de Águas do Paraná (Ipaguas). A medida faz parte da Lei Federal 9.433 – conhecida como Lei das Águas – e da Lei Estadual 12.726. O projeto foi aprovado pela Assembleia Legislativa do Paraná em setembro de 2009 e, desde então, o instituto faz estudos para a execução da cobrança.

Os primeiros a pagar pelo uso da água serão grandes empresas e indústrias de Curitiba e região metropolitana, entre eles a Sanepar, que usam a água da região do Alto Iguaçu. Na sequência, a cobrança passará a ser feita pelas águas dos rios Tibagi e Jordão. “Este não é mais um tabu, como era há anos. Com isso vamos incentivar o uso racional da água”, avalia o diretor de gestão de bacias hidrográficas do Ipaguas, Enéas Souza Machado. Os agricultores serão isentos de pagamento.

A determinação dos valores cobrados será baseada na quantidade de água retirada dos rios, o total consumido e os resíduos descartados no rio. Os recursos arrecadados serão usados na manutenção e conservação das áreas por um comitê responsável pelo plano de gestão das bacias.

No Brasil, a cobrança pelo uso das águas acontece desde 2003 em 19 bacias hidrográficas. Empresas e indústrias de dez estados, como São Paulo, Minas Gerais, Alagoas e Bahia, pagam de acordo o quanto consomem de água das bacias dos rios São Francisco, Paraíba do Sul e Doce, por exemplo.

O “estresse hídrico” é um dos principais fatores que determina a cobrança pelo uso da água. Em geral, a iniciativa acontece em regiões com escassez de água e áreas de grande consumo, como as regiões metropolitanas de grandes cidades. “Tendo que pagar pelo recurso, as pessoas passam a usar de forma consciente, tentando usar menos água para o mesmo processo”, explica o gerente de cobrança pelo uso de recursos hídricos da Agência Nacional de Águas (ANA), Patrick Thadeu Thomas.

No ano passado o total arrecadado com a cobrança pelo uso da água de rios no país chegou a R$ 105,8 milhões. De acordo com Thomas, a medida é efetiva para o consumo consciente. “Temos visto uma redução significativa do consumo. Isso faz as pessoas refletirem sobre a água”, diz.

Volta às aulas sem 2 mil docentes

No segundo dia letivo da rede estadual de ensino, quadro de professores temporários teve defasagem de 20%

Gazeta do Povo | 10 de fevereiro de 2011

Nos dois primeiros dias do ano letivo na rede estadual de ensino, 2.073 professores continuavam fora das salas de aula. Isso significa que cerca de 20% dos docentes temporários classificados pelo Processo Seletivo Simplificado (PSS) ainda não tinham comparecido às escolas paranaenses. Os números fazem parte do balanço referente aos dois primeiros dias de aula apresentado ontem pela Secretaria de Estado da Educação (Seed), que restringe as ausências a situações pontuais.

De acordo com a Seed, as 2.136 escolas estaduais do Paraná estavam funcionando ontem “com 97% do quadro de professores completo”. Ao todo, o quadro docente estadual é composto por 69.103 professores, sendo 59.603 efetivos e 9,5 mil temporários, contratados a partir do PSS. A secretaria explica que a ausência de professores estaria relacionada a classificados pelo PSS que desistiram de suas vagas, o que traz a necessidade de serem chamados novos selecionados.

O relatório indica também que 12 instituições ainda não começaram as aulas. Nove estão em reforma; uma está impedida pela Justiça de receber os alunos por problemas estruturais, em Cascavel; outra foi prejudicada pelas chuvas, em Paranaguá; e uma de Guaraqueçaba que procura soluções para o transporte dos professores, que precisam se deslocar de barco a uma ilha da região. “A situação está tranquila e há muito tempo não tínhamos tantos professores em sala de aula”, avalia a superintendente de educação da Seed, Meroujy Cavet. Ela estima que hoje a solução do problema deva estar próxima a 100%.

Entretanto, para a presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Educação do Paraná (APP-Sindicato), Marlei Fernandes Carvalho, os dados apresentados pela Seed não mostram com exatidão o problema. Com base em relatos de escolas e informações passadas por núcleos sindicais, a situação seria pior. Ela calcula que a defasagem de professores varie entre 75% e 80%. “Esperamos que, de fato, até o final da semana esse impasse esteja concluído. Ainda hoje estavam distribuindo aulas aos professores [do PSS]”, afirma.

Jogo de cintura
Mesmo com a afirmação da Seed de que a situação estaria sob controle, algumas escolas ouvidas pela Gazeta do Povo ainda enfrentavam ontem problemas com a falta de professores temporários. Poucos profissionais se apresentaram desde o primeiro dia de aula, prejudicando o andamento das atividades. Uma escola da região central de Curitiba estava com dezvagas em aberto, já que nenhum profissional temporário tinha assumido as aulas. “Estou apavorado. Não posso sobrecarregar meus professores, eles estão colaborando [dando mais aulas], mas não ganham para isso”, desabafa o diretor, que pediu para não ser identificado.

O problema também continua no Colégio Estadual Aníbal Khury Neto, na capital. Mesmo com a apresentação de 10 professores, a situação permanece complicada com a falta de 15 docentes. A alternativa encontrada foi a realização de palestras ministradas por diretores, coordenadores e pedagogos sobre orientação e apresentação do plano de trabalho.

Situação melhor
Nas escolas do interior do estado ouvidas pela reportagem, os diretores se mostraram mais confiantes. A ocupação das aulas pelos professores teve aumento significativo ontem. O diretor do Colégio Estadual Dr. Willie Davids, Paulo César Chaves, em Londrina, acredita que na segunda-feira o problema deixará de existir. “A distribuição de aulas está sendo muito rápida. Entregamos muitas aulas na segunda e terça-feira”, conta. Nos últimos dois dias o índice de aulas em aberto passou de 40% para 10% na instituição. Ainda faltam quatro professores. “Com o panorama que temos, amanhã [hoje] apenas uma turma ficará sem apenas uma aula”, prevê Chaves.

Panorama semelhante foi o apresentado pelo diretor do Colégio Tomaz Edson de Andrade Vieira, em Maringá. Do primeiro para o segundo dia de aula seis dos oito professores que faltavam se apresentaram. O diretor Reginaldo Peixoto destaca, no entanto, que todas as aulas perdidas serão devidamente repostas aos sábados ou nos períodos de contraturno. “Os alunos não ficarão no prejuízo. Já estamos combinando isso com todos os professores que se apresentam”, garante.


Concursados serão chamados
Três mil professores classificados no concurso público realizado em 2007 serão chamados em março deste ano. De acordo com a superintendente da Secretaria de Estado da Educação, Meroujy Cavet, processos burocráticos, como a apresentação de títulos e realização de exames médicos, impediram que a convocação de concursados fosse feita antes do início do ano letivo. Esse panorama levou à realização do Processo Seletivo Simplificado (PSS) neste ano para contratar 9,5 mil professores temporários. “Esperamos que em 2012 tenhamos um número muito reduzido de PSS”, afirma.

Preocupação ambiental muitas vezes é só marketing

Cada vez mais, empresas se esforçam para consolidar a imagem de instituições ecologicamente corretas. Porém nem sempre o que se anuncia é verdade

Gazeta do Povo | 9 de fevereiro de 2011

Talvez você não conheça o significado da expressão “greenwashing”, mas com certeza já foi o público-alvo dessa prática. Para se certificar disso basta tentar elencar pelo menos cinco empresas que realizam projetos focados na sustentabilidade e refletir sobre como essa informação chegou a você. É muito provável que as campanhas de marketing sejam sua fonte de informação.

A expressão greenwashing vem do inglês e significa “branqueamento ecológico”. Na prática, é a tentativa das empresas em passar à comunidade a imagem de uma organização preocupada com a sustentabilidade, o meio ambiente e a sociedade. Mesmo não sendo uma demanda obrigatória, o desenvolvimento de ações na área tem deixado de ser um diferencial e está crescendo no Brasil. As campanhas de comunicação passaram a ser a principal forma de divulgar os projetos aos seus clientes.

“O problema é que 90% do que as empresas falam não passam de marketing”, alerta a consultora Julianna Antunes, da Agência de Sustentabilidade, organização que trabalha o tema com foco na área corporativa. Ela explica que isso acontece porque a sustentabilidade é encarada pelas empresas apenas como uma iniciativa isolada, sem fazer parte de toda a cadeia produtiva e do planejamento estratégico das organizações. Na avaliação da consultora, a abordagem do tema é ainda uma espécie de “cala a boca” para a sociedade, em que as empresas realizam projetos pontuais na área para tentar cumprir com seu papel, porém seguem agredindo o meio ambiente em seu dia a dia.

Mais do que um simples projeto, a sustentabilidade passa pela gestão das empresas, escolha de fornecedores, realização de processos internos, concepção de produtos, relacionamento com o público e outros aspectos, tentando ao máximo minimizar os impactos no tripé economia, sociedade e meio am­­biente. “A empresa precisa se antecipar a essas questões, e a resposta daquilo que se faz com pro-atividade para minimizar os impactos gera uma série de lucros. Além disso, interfere na reputação perante a sociedade e no mercado financeiro, o que favorece a longevidade do negócio”, completa Julianna.

Como exemplo, ela cita a mudança de postura na conquista de novos mercados. Ao invés de incentivar o consumo irresponsável das classes A e B – que já têm acesso aos bens e aos produtos, que podem ser descartados com mais facilidade –, é válido focar os negócios para a classe média emergente, que está ávida pelo consumo.

Efeito borboleta
A perspectiva de que os benefícios em investir na área se estendem a todos os envolvidos no processo ainda não é comum aos empresários. “A sustentabilidade é um processo que precisa ser executado no todo, mas que também traz benefício para todos”, afirma a pesquisadora do centro de excelência em varejo da Fundação Getulio Vargas (FGV) Roberta Cardoso. De acordo com ela, a necessidade em modificar todos os processos da empresa é outro fator que dificulta a disseminação da prática. “A proposta é rever toda a forma de gestão da organização, é um desafio muito sério e muito grande”, diz.

Algumas empresas já realizam projetos bem-sucedidos na área. Na rede de supermercados Walmart, a prioridade é o relacionamento com os fornecedores, o tratamento de resíduos e o uso de energia renovável. Para minimizar os impactos, a rede também investiu na criação de produtos próprios, produzidos em parceria com empresas com referência no varejo, como achocolatado, amaciante, curativo, esponja para banho, óleo vegetal e outros. Em uma parceria com a FGV, a empresa lançou um curso on-line gratuito sobre sustentabilidade. A proposta é disseminar o conceito e esclarecer sobre o assunto. Outros dois módulos estão em preparação e ainda devem ser lançados no primeiro semestre deste ano.

No banco HSBC, a sustentabilidade também conta com a colaboração dos funcionários em todas as hierarquias da organização. Eles passam por uma capacitação e são convidados a disseminar o assunto entre os colegas. A superintendente-executiva, Linko Ishibashi, vestiu a camisa da iniciativa. Depois de participar de um treinamento no fim do ano passado, ela criou com sua equipe um time de defensores do meio ambiente que atuam no dia a dia do banco, desde tarefas simples, como apagar as luzes ao deixar o escritório, como a redução na impressão de relatórios e boletos. Além da colaboração com a empresa, Linko percebeu o envolvimento dos funcionários com a causa. “Sentimos orgulho de fazer parte de uma empresa que realmente se preocupa com a sustentabilidade. Além de ficar mais atenta à minha postura dentro e fora do trabalho, também percebo o maior envolvimento dos funcionários com a empresa”, conta.


Blog coloca à prova limites das empresas
Uma das maneiras de verificar a real preocupação das empresas com o meio ambiente é a análise e o cruzamento de informações presentes nos relatórios financeiros e de sustentabilidade. Nesses documentos é possível verificar se todas as iniciativas divulgadas pelo marketing sustentável realmente aconteceram. Enquanto os relatórios de sustentabilidade apresentam o que foi feito na área, a análise financeira pode comprovar se houve ou não investimento nas ações, mostrando se tudo foi colocado em prática.

A curiosidade a respeito da atuação das empresas nesta área levou o comerciante de aviamento Roberto Leite, que mora em São Paulo, a se aprofundar no assunto e entrar em contato direto com as organizações. Sua experiência resultou na criação de um blog chamado Testando os Limites da Sustentabilidade. No espaço, ele publica suas impressões em relação à análise dos documentos e como as empresas reagem para sanar as dúvidas que surgem. A disponibilidade das organizações em manter contato com Leite também serve como parâmetro. “Muitas empresas não estão preparadas para responder sobre sustentabilidade. Já ouvi questionamentos como ‘por que você quer saber isso?’. Outras enviam respostas evasivas e até prepotentes, um desrespeito com a sociedade”, conta.

A escolha das empresas para leitura dos relatórios é feita aleatoriamente, com base no que Leite vê nas campanhas de marketing sobre o assunto. Desde o primeiro post, em setembro de 2010, o blogueiro já entrou em contato com 20 organizações, entre elas empresas grandes e de renome nacional. “Com exceção de algumas empresas, os relatórios apresentam mais frases de impacto vazias ao invés de dados realmente concretos. Por isso resolvi perguntar.” O primeiro passo para testar os limites de sustentabilidade das empresas é feito via Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC). Quando Leite não é atendido, passa para assessorias de imprensa chegando ao contato direto com diretores e presidentes das corporações.

O chato
Entre os amigos e conhecidos, o blogueiro é o único a investir nesse tipo de análise e por causa disso chega a ser chamado de chato. Porém, exercendo seu papel de consumidor, ele procura saber se a empresa escolhida é consciente na criação de produtos e serviços. Para isso, ele dá algumas dicas aos outros consumidores interessados. “Não acredite em fotos bonitas de pessoas bem nutridas, abraçando árvores, consumidores sorridentes e as tradicionais fotos de funcionários felizes formando as equipes de alta performance. Ao ver uma propaganda com o tema de sustentabilidade tenha sempre uma frase em mente: Nossa, que trabalho legal! Agora prove”, orienta.


Na prática
As empresas tornam-se sustentáveis quando evitam novas formas de poluição e o uso desnecessário de recursos naturais. Conheça algu­mas ações desejáveis:

Das empresas
- Utilizar materiais recicláveis.
- Investir na eficiência energética, usando fontes renováveis.
- Prever a reciclagem de produtos.
- Utilizar planos inteligentes para rotas de distribuição com percursos menores e rápidos, gerando menos emissão de carbono e consumo de combustível.
- Ter relacionamento coerente com seus públicos – consumidores, colaboradores e fornecedores.
- Investir na sensibilização dos colaboradores para a questão da sustentabilidade no ambiente de trabalho e também fora dele.

Dos funcionáriários
- Evitar imprimir documentos sem necessidade.
- Desligar equipamentos ou luzes quando não estiver no ambiente de trabalho.
- Fazer a seleção do lixo por meio de lixeiras de coleta seletiva.
- Evitar trajetos desnecessários com o uso de carro. Sempre que possível, oferecer ou pegar carona com seus colegas.

Do consumidor
- Estar atento à procedência dos produtos e seus componentes, como substâncias químicas, locais de produção etc.
- Ter olhar crítico às campanhas de marketing realizadas.
- Verificar os relatórios financeiros e de sustentabilidade das empresas.

Falta de professores atrapalha início das aulas

Diretores de escolas estaduais tiveram de contornar situação. Mesmo assim, alunos voltaram para casa mais cedo. Secretaria não dimensionou problema

Gazeta do Povo | 9 de fevereiro de 2011

O início do ano letivo nas escolas da rede estadual de ensino do Paraná foi marcado ontem pelo improviso de equipes pedagógicas para evitar que os estudantes ficassem sem aula. Mesmo assim, houve casos em que os alunos tiveram de voltar para casa mais cedo por falta de professores. Com a conturbada contratação de docentes pelo Processo de Seleção Simplificado (PSS), muitos educadores temporários não compareceram às escolas, já que tiveram de se apresentar aos Núcleos Regionais de Educação (NRE) para a distribuição de aulas.

Acostumados com os problemas que se repetem ano a ano nas primeiras semanas de aula e atentos ao impasse na vigência do PSS, a estratégia dos diretores evitou o caos esperado na recepção dos alunos. A Gazeta do Povo procurou 17 escolas estaduais e constatou que em oito houve ausência significativa no quadro de professores, afetando cerca de 8 mil alunos. A Secretaria de Estado da Educação (Seed), no entanto, não divulgou um balanço oficial das ausências nem um panorama sobre o primeiro dia de aula no Paraná. A justificativa apresentada pela assessoria de imprensa foi a de que não houve tempo hábil para consolidar as informações enviadas pelos núcleos regionais do estado.

“A intenção foi de que se começasse o ano letivo com todos os professores em sala de aula. Alguns lugares tiveram problemas, mas na maioria transcorreu normalmente. Por causa das liminares [que chegaram a suspender o PSS], ficamos impedidos de fazer a alocação dos professores”, explicou o diretor-geral da Seed, Jorge Wekerlin.

Em uma escola da Região Sul de Curitiba, diretores e coordenadores foram para salas de aula para ocupar os lugares vagos. O desfalque de docentes representa 15% do quadro composto por 70 professores. A maior demanda é para os cursos técnicos, que contam com 80% da equipe de professores vinda do PSS. Até ontem, apenas um havia se apresentado.

Já no Colégio Aníbal Khury Neto, no Uberaba, de um total de 75 professores, 25 faltaram. Para evitar que os alunos fossem dispensados, professores atuaram fora de seu horário de trabalho como voluntários. Situação diferente da ocorrida no Colégio Elias Abrahão, no Cristo Rei. Diante da ausência de oito profissionais, uma decisão conjunta entre a diretoria e o colegiado de professores optou pela dispensa dos alunos após o recreio.

Interior
O mesmo problema foi verificado em municípios do interior, como Maringá, Foz do Iguaçu e Londrina. Em Maringá, no Noroeste do estado, o Colégio Estadual Tomaz Edson de Andrade Vieira teve oito professores a menos no primeiro dia letivo. Duas turmas, uma da 1.ª série e outra da 6.ª, não tiveram um professor sequer. Alunos de outras séries também foram prejudicados. A turma de Igor Manso, 14 anos, aluno da 8.ª série, foi dispensada quase uma hora antes do previsto porque um professor faltou. “Acho uma falta de respeito”, reclama o garoto.

Em Foz do Iguaçu, pelo menos 30% dos 1,3 mil professores das 29 escolas estaduais do município não compareceram aos colégios ontem, segundo estimativa da APP-Sindicato. No período da tarde de ontem, todas as 16 turmas do Colégio Paulo Freire foram liberadas uma aula mais cedo.

Já em Cascavel, no Oeste, duas escolas ficaram sem aulas por causa de problemas estruturais. A Justiça determinou que as aulas no Colégio Estadual Costa e Silva, por exemplo, só poderão ser retomadas quando as instalações forem adequadas, já que toda a estrutura está comprometida. Em caso de descumprimento, a Seed deverá pagar multa diária de R$ 10 mil.

Colaboraram Fernanda Trisotto, Luiz Carlos da Cruz, Denise Paro Erika Pelegrino, Amanda de Santa e Thiago Ramari.

TJ derruba liminares e autoriza contratação de professores

Docentes aprovados na seleção do PSS poderão trabalhar normalmente hoje. Justiça ainda julgará mérito de ações

Gazeta do Povo | 8 de fevereiro de 2011

Adriana Czelisniak e Carolina Gabardo Belo

Os cerca de 9,5 mil professores contratados por meio do Processo de Seleção Simplificado (PSS), da Secretaria de Estado de Educação (Seed), estão autorizados a trabalhar nas escolas estaduais do Paraná a partir de hoje, dia da volta às aulas. As liminares que suspendiam a seleção foram derrubadas no fim da tarde de ontem pelo desembargador Rogério Ribas, do Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR), pouco mais de 12 horas antes do início do ano letivo e depois de um tumultuado processo de seleção.

O impasse, no entanto, ainda não está resolvido. Mesmo com a queda das liminares, a Justiça ainda julgará o mérito das ações, com a avaliação de três desembargadores, procedimento que não tem data para acontecer. Isto significa que, mesmo após o início das aulas com os professores do PSS integrando o quadro escolar, ainda existe a possibilidade da suspensão de suas atividades.

O problema começou quando professores reaprovados no PSS entraram com recursos, alegando terem sido prejudicados no processo e preteridos por profissionais com menos experiência e qualificação. A Seed afirma que os candidatos não selecionados cometeram erros na inscrição e, conforme prevê o regulamento, foram sumariamente desclassificados. Diante disso, o Sindicato dos Trabalha­dores da Educação do Paraná (APP-Sindicato) entrou na Justiça, contestando a validade da classificação. Os argumentos da APP foram aceitos na última quarta-feira pelo desembargador Abraham Lincoln Calixto, mas a Seed conseguiu reverter ontem a decisão até então desfavorável.

De acordo com Jorge Wekerlin, diretor geral da Seed, a notícia da derrubada das liminares já era esperada pela secretaria e trouxe a tranquilidade que faltava para o início da aulas. “Foi constatado que havia razão nas nossas contra-argumentações e agora vamos prosseguir com o ano letivo. Estamos tranquilizando professores e famílias, pois as aulas iniciam normalmente e precisamos da dedicação total e do comprometimento dos professores”, afirma.

Ele lembrou também que pela primeira vez nos últimos anos os alunos vão para o primeiro dia do ano na escola com os professores do PSS em sala de aula. “Iniciar o ano com o professor é um direito dos alunos e vamos trabalhar para que no ano que vem não ocorra nenhum equívoco que atrapalhe isso. Para nós, neste momento, o caso está encerrado. Os professores do PSS podem voltar ao trabalho com tranquilidade.”

Recurso
Apesar do clima de comemoração na Seed, a advogada da APP-Sindicato Gisele Soares lembra que o processo ainda precisará ser julgado e que o sindicato continuará batalhando para que a classificação seja revista. “O caso não está encerrado. O sindicato também vai recorrer dessa decisão e vai continuar acompanhando o julgamento do mandado, que ainda vai entrar na pauta de julgamento do TJ-PR. Essa decisão de hoje é o entendimento de um desembargador, no tribunal o mandado é julgado por um grupo de desembargadores. A APP entende que houve erros no sistema de inscrição e que mesmo que professores PSS assumam aulas, temos de continuar defendendo uma classificação justa” afirma.

Na decisão, o desembargador Rogério Ribas considerou urgente a necessidade da contratação dos professores, “sob pena de comprometimento dos estudos das escolas públicas.” Uma das maiores reclamações dos 1,8 mil professores que haviam entrado com recurso contra a Seed no mês passado e que foi considerada na liminar concedida à APP dizia respeito ao processo de inscrição. Em seu despacho, o desembargador afirmou que “estava previsto no edital que eventuais erros no preenchimento eram de responsabilidade do candidato”. A decisão teria sido embasada em documentos entregues pela Seed que comprovariam que “não houve falha no sistema, mas sim dos candidatos, que preencheram equivocadamente os dados”, diz o documento.


Seria o caos sem os temporários, diz diretor
Em algumas escolas, os professores contratados pelo regime PSS representam mais de 50% do quadro de docentes. A ausência destes profissionais, que estava determinada até a tarde de ontem, inviabilizaria o atendimento aos alunos. Nos últimos dias, a indefinição sobre a validade do processo deixou diretores, professores e pais de estudantes preocupados, e desgastou a preparação das escolas para a volta às aulas.

Na tarde de ontem, enquanto a Justiça ainda não havia cedido aos apelos da Secretaria de Estado da Educação (Seed), alguns diretores traçavam estratégias para a realização das aulas com o desfalque no quadro de professores.

Sem querer ser identificado, o diretor de uma escola com mais de mil alunos e 70 professores conta que pelo menos 30 docentes são oriundos do PSS e que 60% dos estudantes seriam prejudicados caso os professores não pudessem comandar as aulas. “O caos iria imperar. Quando faltam professores precisamos bolar atividades para manter os alunos, pois não podemos dispensá-los. É uma solução que está fora do nosso alcance. Nos esforçamos para planejar, ter um ano tranquilo e, por questões burocráticas, passamos por situações como esta”, reclama.

Outra preocupação dos diretores é referente ao entrosamento dos professores do PSS, pois, com a indefinição na validade do processo seletivo, muitos deixaram de participar das atividades de preparação ao ano letivo e chegarão hoje à sala de aula sem saber os procedimentos da escola e perspectivas para o ano. “É na semana pedagógica que se discutem as diretrizes curriculares, o projeto da escola, ainda mais com governo novo. Se o professor não participa, ele não terá voz e precisará ficar correndo atrás. Em alguns casos, ele não conhece nem mesmo a escola”, avalia a diretora de outra instituição, que também não quer divulgar o nome.

Preocupação
Preocupado com o ano letivo de seus filhos, o economista João Ildefonso de Miranda, 47 anos, está apreensivo com o início do ano letivo. Até a noite de ontem, ele não sabia se os filhos Camila Luisa de Miranda, 12 anos, e Carlos Viní­cius de Miranda, 16 anos, teriam professores na sala de aula. “Fiquei revoltado com essa história toda. Já fui presidente de associação de pais e mestres e podemos perceber que essa questão se arrasta há longa data e que os maiores prejudicados são nossos filhos”, diz.

João conta que entende a preocupação da APP-Sindicato em querer que professores bem-qualificados assumam, mas discorda da decisão anterior, que impedia professores selecionados de dar aulas. “Se o processo tiver de ser revisto, até que sejam feitas novas contratações, que esses mesmos professores fiquem dando aula para os alunos, para que eles não sejam prejudicados, e que o acordo seja feito o mais depressa possível. Hoje eles estão na sala de aula e estou mais tranquilo, mas até quando?”, questiona.


Cronologia
Problemas envolvendo professores temporários já vêm desde novembro:

9 nov – Professores fazem manifestação alertando que 2,9 mil profissionais contratados pelo PSS no final de setembro não haviam recebido o último salário. O governo promete fazer os pagamentos por meio de uma folha suplementar até o dia 17 daquele mês.

13 dez – O novo governo promete nomear 2,4 mil professores concursados em 2007 e pagar progressões salariais referentes a este ano e os salários atrasados de professores temporários.

27 dez – São abertas inscrições para o Processo de Seleção Simplificado (PSS). Os candidados puderam se inscrever até 12 de janeiro para vagas de professores em todas as disciplinas, além de pedagogos, auxiliares administrativos e de serviços gerais.

17 jan – Os resultados do PSS são divulgados. Professores se queixam de falhas no processo e exigem que a Seed divulgue a pontuação de cada candidato. Secretaria alega falha dos docentes no preenchimento das inscrições.

27 jan – A APP-Sindicato entra com ações na Justiça para obrigar a Seed a rever a classificação do PSS.

28 jan – Professores fazem manifestação contra o resultado do processo seletivo.

2 fev – Decisão do Tribunal de Justiça (TJ) determina que a Seed deve rever o PSS.

4 fev – O TJ determina a suspensão do concurso.

7 fev – A Seed entra com recurso.
O TJ aceita o pedido e derruba as liminares.

Cuidado com os olhos depende do uso de óculos certos

Escolha de lentes adequadas aumenta a proteção da visão contra doenças agravadas pela exposição ao sol, como a catarata

Gazeta do Povo | 6 de fevereiro de 2011

Para se proteger nos dias de calor, não basta abusar do protetor solar, consumir muita água e usar roupas leves. Nos momentos de exposição ao sol, também é preciso ter cuidado com os olhos. Assim como ocorre com a pele, o acúmulo de radiação solar pode ocasionar danos à visão – irreversíveis em muitos casos. A escolha dos óculos de sol adequados é fundamental para a proteção efetiva dos olhos.

Muito além de uma questão estética, as lentes só são eficazes se compostas por filtros que impeçam a chegada de radiação ultravioleta (UV-A e UV-B) à retina. Apesar da oferta tentadora, esse tipo de proteção não é encontrada nos diversos modelos da moda disponíveis a preços baixos em camelôs e outros comércios. “Usar esse tipo de óculos é pior do que não usar nenhum”, alerta a oftalmologista do Hospital de Olhos do Paraná e especialista em catarata, Manuela Benites Gomes.

Os riscos de lesões graves são iminentes porque em muitos casos as lentes dos óculos são de plástico e não possuem o mecanismo que barra a passagem da radiação. “As lentes de plástico não são planas e atrapalham a visão”, afirma o especialista em retina e presidente da Associação Paranaense de Oftalmologia, Ezequiel Portella.

A exposição dos olhos ao sol pode ocasionar a catarata, além de aumentar uma lesão já existente. Os médicos também alertam para a formação de pterígio, uma espécie de pele sobre a retina; e para a degeneração irreversível da mácula, região do olho responsável pela visão central e que recebe os raios de luz. “Fora a questão do câncer de olho, que ocorre da mesma maneira que na pele”, complementa Manuela.

A grande diferença dos óculos adequados em relação aos demais é o preço. Enquanto nos camelôs o valor médio é R$ 20,00, os produtos que garantem a proteção dificilmente custam menos que R$ 100,00. Os especialistas orientam os consumidores a localizarem o selo que indica a presença de lentes com filtro de proteção.

O conforto visual foi o principal benefício percebido pela servidora federal Josiane Malhadas, 42 anos, assim que adquiriu óculos adequados. Ela sempre sofreu com fotofobia. Apenas aos 25 anos Josiane soube que a proteção correta se dá com o uso de lentes com filtros. “Não sabia que não estava me protegendo”, conta. Desde então, os óculos se tornaram acessórios indispensáveis, usados diariamente, até mesmo nos dias nublados.

Dicas
Para escolher os óculos certos, fique atento à área dos olhos que ficará protegida pelas lentes. São recomendados aqueles que cobrem, além dos olhos, as pálpebras e que barram a luz lateral. E para quem usa óculos de grau, a indicação é optar por armações que acomodam lentes escuras sobrepostas às de grau.

Eles querem a chave do carro

Mesmo sem idade adequada para dirigir, adolescentes insistem em usar os veículos dos pais. 21% dos curitibanos com 14 anos já dirigiram carro

Gazeta do Povo | 30 de janeiro de 2011

Pais são colocados à prova em inúmeros lares brasileiros por um mesmo motivo há anos: filhos adolescentes que já sabem dirigir insistem em sair com o carro da família para ir à escola, shoppings, festas. Vencidos pelo cansaço ou adeptos à cultura de que os filhos devem aprender a dirigir desde cedo, há pais que acabam cedendo à pressão e liberam a chave do veículo. Forma-se, assim, uma combinação (adolescente + direção) que tem tudo para gerar complicações. No ano passado, 63 jovens com menos de 18 anos foram apreendidos e encaminhados à Delegacia do Adolescente por estarem dirigindo pelas ruas de Curitiba. Em metade dos casos, os adolescentes foram responsáveis por acidentes, segundo o Batalhão da Polícia de Trânsito (BPTran).

Entretanto, esses números não demonstram a dimensão do problema. Pelo menos 21% dos adolescentes curitibanos com 14 anos que frequentam a 8.ª série do ensino fundamental já dirigiram um veículo motorizado. O dado faz parte da Pesquisa Nacional de Saúde Escolar, conduzida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE ) em 2009. O índice em Curitiba é maior que a média nacional de 18,5% e a estimativa dos especialistas é que nas idades que compreendem o ensino médio (15 a 17 anos) o número seja ainda maior.

Permitir que adolescentes dirijam veículos contraria a legislação. O Código de Trânsito Brasileiro estabelece que o processo de habilitação só pode ser iniciado aos 18 anos de idade do futuro condutor, com participação obrigatória em um curso de formação. A determinação não coloca em dúvida a capacidade e a habilidade dos adolescentes de manobrar o veículo, mas a maturidade em lidar com a dinâmica do trânsito. “Qualquer chimpanzé consegue dirigir um carro. O problema não é mexer com a máquina, mas tomar as decisões. Dirigir é uma coisa, conduzir é outra completamente diferente”, exemplifica o especialista em trânsito Celso Alves Mariano.

De acordo com estudiosos e profissionais da área, os adolescentes até podem apresentar melhor desempenho de visão ou reflexo, mas eles ainda não dominam as negociações básicas do trânsito nas ruas, como relacionamento com outros motoristas e pedestres e o cumprimento da legislação. A necessidade de ser admirado pelo grupo que faz parte e a vontade de se envolver em situações desafiadoras, comuns na adolescência, também representam um risco para o desempenho dos jovens no trânsito.

Cúmplices
Quando são os pais que autorizam os filhos a assumir a direção, são deixados para trás a legislação que proíbe a prática, a preocupação com os riscos que o trânsito oferece, assim como a autoridade paterna em garantir aos jovens a prática da cidadania. Na avaliação de Mariano, essa situação reflete a falta de prioridade dada ao trânsito pela sociedade. “A educação começa em casa e a responsabilidade dos pais ou responsáveis é impedir que os adolescentes tenham acesso ao carro.”

O sociólogo e especialista em educação para o trânsito Eduardo Biavati considera que os pais são, nesses casos, “os cúmplices da violência em uma permissão negociada pelas famílias”, quando familiares mais velhos mantêm a tradição de ensinar os jovens a dirigir. “Já vi muitos pais desesperados porque seus filhos se envolveram em acidentes graves, mas foram eles mesmos que entregaram a chave do carro”, critica.

E como resistir à pressão? Os especialistas acreditam na reflexão conjunta, com pais e filhos, sobre a importância e a gravidade que o trânsito representa. Entram nesse debate o questionamento sobre a direção por adolescentes, quais os eventuais problemas que podem acontecer e se todos – jovens e famílias – estão preparados para as graves consequências. “Os pais estão preparados para saber que seu filho se machucou ou foi o causador de um grave acidente?”, provoca Mariano.

Neste momento, o papel dos pais é impor limites ao jovem, conforme afirma a psicóloga especialista em trânsito Adriane Picchetto Machado. “Esta é a maior dificuldade, muitos pais não sabem dizer não e impor limite aos filhos”, diz. “É como se dizer não fosse contraindicado na formação, mas isto organiza a vida em sociedade e o trânsito é de todos."


Crianças no volante, algo comum no interior
Carolina Gabardo Belo e Dirceu Portugal

Se na cidade grande adolescentes já saem com o carro dos pais pelas ruas, no interior essa prática é ainda mais recorrente. Márcio Cardoso Ferraz começou a dirigir motocicleta aos 12 anos na propriedade rural onde morava, em Araruna, no Noroeste do Paraná. Aos 13 anos, para ajudar o pai na roça, começou a dirigir o trator da família. A fascinação pela direção levou Ferraz, hoje com 32 anos, a optar pela profissão de caminhoneiro. “Comecei a dirigir cedo por paixão pelo volante e não por necessidade”, conta. Ele lembra que enquanto o funcionário não liberasse o volante, não descia do trator. “Era um piolho da máquina, infernizava a vida do funcionário até liberar a direção”, diz.

Com dois filhos de 14 e 9 anos e uma menina de 6 anos, Ferraz conta que já começou a incentivar os filhos a pegar o volante. “Quando vamos para o sítio, a menina senta no meu colo e vai guiando o carro, ela dirige bem. Como tive a oportunidade de aprender a dirigir cedo, não vou barrar meus filhos”, argumenta Ferraz. Entretanto, apesar de incentivar as crianças a dirigir, ele garante que não vai liberar o carro antes de os filhos tirarem a carteira de motorista. “Se der algum problema, serei o responsável. Dirigir é só no sítio, onde não há perigo de atropelar ninguém”, diz.

Marcelo (nome fictício) tinha 14 anos, morava em uma propriedade rural, próxima a Campo Mourão, quando seu pai o incentivou a dirigir. O estímulo, segundo ele, era para que quando os pais precisassem de ajuda, ele soubesse dirigir. Na primeira tentativa, enquanto a família dormia, o rapaz bateu no paiol do sítio. “Ele [o pai] ficou muito bravo e disse que me ensinaria a dirigir. Ele me levou na Estrada Boiadeira. Foi lá que eu aprendi”, conta.

Hoje, com 43 anos, Marcelo já ensinou o filho de 13 anos a dirigir. “Ensinei por instinto. Ele só anda nas ruas do bairro ou no sítio dos avós. Algumas vezes foi no mercado. Sempre alerto para não abusar da velocidade”, comenta. Marcelo acredita que ensinar o filho a dirigir sem ter idade para tirar a carteira também trouxe problemas a família. “Mesmo pedindo para não sair com o carro, nos finais de semana, sou obrigado a esconder a chave.”

Do portão para dentro
Em Curitiba, a professora Simone Negrello costuma dialogar com seu filho Felipe Augusto Negrello, 16 anos, sobre a responsabilidade e os riscos que envolvem o ato de dirigir. O adolescente aprendeu a conduzir aos 13, mas isso não significa que ele saia pelas ruas conduzindo o carro da família, atividade que faz apenas no pátio de casa, “do portão pra dentro”. Ela conta que em casa todos são adeptos ao pensamento de que toda ação acarreta uma reação. “E às vezes a reação não é tão boa. Eu brinco com meu filho que não tenho dinheiro para bancar o que vem depois e muitas vezes acontecem coisas que o dinheiro não paga”, afirma.

Para reforçar o argumento, Simone recorre ao passado da família, que teve casos de adolescentes motoristas. O tio do garoto foi detido algumas vezes por dirigir indevidamente e coube ao avô contornar a situação embaraçosa. “Estes jovens são muito da geração do ‘não dá nada’, eles estão demorando muito para amadurecer”, avalia a professora.

Mesmo com a vontade de poder dirigir e contando os anos para começar com o processo de habilitação, Felipe sabe que terá de esperar até os 18 anos e concorda com a determinação da mãe. Para ele, ter acesso ao carro garantiria comodidade e rapidez para ir à escola ou à casa de amigos, mas o risco de ser pego em uma infração ou até mesmo se envolver em acidentes faz com que ele prefira aguardar a idade correta. “É por isso que eu não insisto em sair com o carro”, conta o jovem.


Fique atento!
Na hora de convencer os pais a permitir a saída com o veículo, os adolescentes usam diversas estratégias:

- Distância – “É só uma voltinha. Vou aqui do lado, na padaria. Já volto.”
- Maioridade – “Daqui a uns meses/dias eu completo 18 anos. Não faz diferença.”
- Exemplo – O fato de os pais não respeitarem leis de trânsito pode desencadear comentários, como “Já que o pai não segue a lei, eu também posso dirigir sem ter idade para isso”.
- Amigos – “Meu amigo já dirige e não teve problema.”


O que diz a lei
O Código Brasileiro de Trânsito proíbe a condução de veículos por menores de 18 anos. Saiba o que fazer para não fugir do que a legislação determina:

- Para participar do processo de habilitação o candidato a condutor deve ter 18 anos ou mais.
- Dirigir sem ter carteira de habilitação ou permissão para dirigir é considerado infração gravíssima, passível de multa e apreensão do veículo.
- Os adolescentes flagrados na direção, assim como seus pais ou responsáveis, estão sujeitos ao cumprimento de medidas socioeducativas.


Jovens flagrados dirigindo são encaminhados para palestras
Embora seja considerada uma medida socioeducativa inovadora no Paraná, o ciclo de palestras sobre trânsito a adolescentes flagrados na direção teve apenas uma turma desde agosto do ano passado, quando foi lançada. Na época, 15 jovens e seus responsáveis participaram do encontro promovido por uma parceria entre a Vara do Adolescente Infrator e o Departamento de Trânsito do Paraná (Detran). Os dois órgãos afirmam que uma nova turma deve ser convocada para assistir a palestras pré-agendadas para o mês de fevereiro. A expectativa é de que outros 15 adolescentes participem da atividade.

Demora
O período eleitoral e o número insuficiente de jovens para montar uma nova turma foram os fatores apontados para a demora entre um ciclo de palestras e outro. De acordo com a técnica judiciária da Vara do Adolescente Infrator, Rosemary Oliva, mesmo passados alguns meses do delito, a demora não compromete a aplicação da medida. Os adolescentes podem cumprir a determinação do juiz até os 21 anos de idade e, dependendo da gravidade do ato infracional, como o envolvimento em acidentes com vítimas, a medida pode ser mais severa.

Luto faz parte da superação

Sobreviventes de desastres tendem a manifestar sintomas de trauma psicológico diante da perda de familiares e de referências de vida

Gazeta do Povo | 23 de janeiro de 2011

Bruna Maestri Walter e Carolina Gabardo Belo

Passado o período de atendimento emergencial às vítimas da tragédia na região serrana do Rio de Janeiro, outro drama se revela em meio aos escombros das cidades afetadas: o trauma psicológico que se manifesta nos sobreviventes. Quando se perde tudo, inclusive os familiares, também se vão as referências de vida, a própria identidade. Sem vontade para recomeçar, a vida muitas vezes fica presa ao passado sombrio.

Antes de começar uma nova vida, a dona de casa Verônica Dutra de Paiva Pfister, 29 anos, quer terminar a sua história. Ela perdeu a casa e os quatro filhos e diz que só lutou para sobreviver porque tinha esperança em encontrar uma das crianças vivas. Aguentou firme ao ser arrastada pela água por uma distância de dois quilômetros e agarrou-se a um bambuzal quando pôde alcançá-lo. Sobreviveu, mas mal sabia ela que, em terra, o esforço teria de ser maior.

Verônica viu a mãe chorando desesperadamente e ouviu: “Ainda bem que sobrou tu”. A partir do momento em que soube da morte de todos os filhos, a obsessão de Verônica passou a ser encontrar os corpos e dar um enterro digno a eles. Tanto que ela chega a fugir da casa da cunhada, onde está vivendo, para ir até a delegacia em busca de informações. “Não sei como recomeçar a vida não”, diz. “Estou aguentando porque quero achar todos os corpos. Depois eu não sei como vou aguentar.”

Não há estudos que apontem por quanto tempo as vítimas de grandes tragédias apresentam esse tipo de reação, dizem especialistas ouvidos pela reportagem. Dados internacionais mostram que 40% da população que passa por tragédias acaba desenvolvendo sequelas. No tsunami que atingiu o Oceano Índico, em 2004, por exemplo, 39% das vítimas seguiram com os sintomas por pelo menos um ano.

“Só a partir do momento em que começar a elaborar o luto de suas perdas e ter contato com a realidade é que a vítima consegue perceber que tem um futuro”, afirma o psicólogo especialista em transtorno de estresse pós-traumático em desastres Othon Vieira Neto. Ele, que está no Rio de Janeiro e atuou no amparo psicológico às vítimas das chuvas em Santa Catarina em 2008, afirma que o atendimento psicológico é a principal forma de barrar a evolução do problema. “Nosso papel não é evitar a dor, mas evitar que ela se transforme em doença e fazer com que as pessoas percebam que o sofrimento é suportável, que elas são capazes de sobreviver a isso”, explica.

A aceitação da realidade oscila entre as vítimas. Se não tratado adequadamente, esse quadro pode evoluir para doenças graves causadas pelo estresse da tragédia, como depressão, síndrome do pânico e ataques de medo. A principal patologia é o transtorno de estresse pós-traumático, em que a lembrança do fato torna-se constante e a vítima é acometida por um medo incontrolável de que tudo aconteça novamente.

Verônica confessa que seu marido tem medo de que ela queira se matar. A dona de casa diz que está encontrando forças com parentes e amigos e a vontade de dar um enterro digno aos filhos faz com que ela se segure firme. “Depois que encontrar os corpos vou saber o que fazer da minha vida”, diz.

A busca pelos filhos
Os corpos do filho Hiago, 11 anos, e do sobrinho José Vitor, 9 anos, que também estava na casa dela no momento da tragédia, foram localizados nos primeiros dias após o temporal. O corpo da filha Caroline, 6 anos, levou uma semana para ser encontrado e foi reconhecido através do brinco que a menina usava, presente de Natal da mãe. “Eu vi a foto do corpo para o reconhecimento e ele estava cheio de lagarta”, conta Verônica, sem choro, num rosto sem expressão.

Agora, falta encontrar o corpo de Hiasmim, que faria 10 anos no último dia 13 e “só queria um alicate de unha, dois esmaltes e um tênis” de presente. A mãe também está em busca do caçula, Cauã, 1 ano, que ainda mamava no peito e ela segurou nos braços enquanto pôde. Os dois foram jogados pela correnteza e a criança bateu em uma viga. “Vi que ele já tinha morrido no meu colo.”

“Nossa vida era muito perfeita e feliz. Tudo na nossa casa era novo. Tudo o que os filhos queriam a gente dava”, lembra Verônica. Hoje, ela e o marido, que tinha ido trabalhar e ficou sem ter como voltar para a casa na noite da tragédia, contam com o apoio um do outro e de familiares. “Para nós só sobraram tristeza e dívida.”

Com acompanhamento adequado, no entanto, especialistas garantem que toda essa situação pode se reverter em uma perspectiva de futuro. “É trágico, mas tem como superar”, diz o psicólogo Luiz Monteiro, coordenador pedagógico nacional de Psicologia da Universidade Estácio de Sá.