Quando a rotina em sala vira doença

Professores são obrigados a deixar as atividades por causa da sobrecarga de trabalho

Mamãe também foi personagem da matéria escrita pela jornalista Marcela Mendes!! No dia dos professores, ela também é um grande exemplo.

Folha de Londrina | 15 de outubro de 2008

No Dia do Professor, enquanto muitos respiram aliviados o dia de descanso, outros não têm muito o que comemorar. A categoria, que envolve também os demais trabalhadores da educação, é uma das classes profissionais que mais sofre calada.

Enquanto o educador de sala de aula é acometido, principalmente, por distúrbios psicológicos, os servidores das escolas podem sofrer doenças osteomusculares por não terem as condições de trabalho ideais. "Não dá para esquecer da moça da cozinha e do refeitório que, muitas vezes, ficam em espaços pequenos, mal ventilados, quentes e carregam pesos sem nenhum equipamento proteção", afirma Edevalter Inácio Bueno, técnico em segurança do trabalho do Sindicato dos Trabalhadores da Educação do Paraná (APP-Sindicato).

Na opinião de Bueno, outro problema comum no ambiente escolar são os acidentes de trabalho por conta de pisos escorregadios, escadas sem proteção adequada, falta de estruturas que levam o funcionário a subir em carteiras para alcançar janelas e cortinas, entre outros. Esses funcionários também estão sujeitos aos Distúrbios Osteomusculares Relativos ao Trabalho (Dort), as doenças pelo esforço repetitivo.

Já o professor acaba sendo vítima de males não facilmente identificáveis, decorrentes da ocupação profissional. Para o médico do trabalho do Sistema Fiep (Federação das Indústrias do Estado do Paraná), Ricardo Villas Boas, o educador, muitas vezes, sofre de estresse e depressão por conta da sobrecarga, cobrança de família e dos superiores e, ainda, tem que lidar, em alguns casos, com os problemas sociais dos alunos, além dos de aprendizagem. Dos 56 mil professores do quadro do magistério do Governo do Estado, 1,2 mil estão atualmente afastados por motivos de saúde, sendo a maior parte por problemas de saúde relacionados a transtornos psicológicos/mentais, osteomusculares e de circulação.

Uma pesquisa realizada pelo Sindicato dos Professores do Estado do Paraná (Sinpropar), durante um simpósio de educação realizado em 2007, levantou que, de 200 professores entrevistados, 52% alegaram sofrer com estresse. Em segundo lugar houve empate entre dores nas costas e pernas, afetando 38%. Outros educadores afirmaram ter adquirido problemas respiratórios. O presidente do Sinpropar, Sérgio Gonçalves Lima, apontou a rotina cansativa do professor, o acúmulo de atividades, como preparar aulas e corrigir provas, e a indisciplina dos alunos como fatores que ocasionam o estresse.

Edevalter Inácio Bueno comenta que essa é uma das classes que mais sofre de Síndrome de Burnout, uma doença psicológica caracterizada pelo esgotamento emocional. "Ela está um pouco acima da depressão e pode caminhar para uma síndrome do pânico", explica. O distúrbio torna o profissional mais agressivo, irritado, desinteressado, desmotivado, frustrado, depressivo e angustiado.

Professores também merecem uma atenção especial com relação às doenças de voz. Villas Boas, que coordena um programa de conservação da voz na Fiep, explica que o uso inadequado ou abuso da voz pode acarretar desde laringites agudas ou crônicas, nódulos e até câncer nas cordas vocais. "São vários fatores que podem afetar um dos principais ‘instrumentos’ de um profissional da voz, como o professor. Falar alto, não saber falar, tensão, estresse, ansiedade, alimentação e hidratação inadequada, falta de aquecimento, até a postura e a roupa influenciam", explica. O médico conclui o raciocínio com uma frase contundente: "nunca podemos dizer que o trabalho desses profissionais é o vilão, mas ele é sim um trampolim para alguns problemas."

Manifesto
O Instituto Educa Brasil fará, hoje, um manifesto pelo resgate da autoridade e do respeito pelos profissionais da classe. O documento será o resultado de trabalho a ser realizado no auditório do Conselho Regional de Contabilidade, localizado na Rua XV de Novembro, 2987, a partir das 19 horas. O evento terá a presença de educadores paranaenses, como Joe Garcia, Lúcia Sermann, Geraldo Peçanha e Egídio Romanelli, entre outros. A entrada é franca.


Doente sim, mas pelo trabalho
Karyn Gabardo, 42 anos, dá aula de Artes em três escolas de Curitiba. Ela passa mais de 40 horas/semanais com alunos de nove a 18 anos e conta que já passou por momentos marcantes por ensinar uma disciplina ''emocional''. Outra alegria da profissão é estar sempre aprendendo coisas novas. Gosta de trabalhar em escolas diferentes por viver em cada uma realidades e experiências diversas. Rebate com bom humor a crítica que frequentemente recebe por trabalhar em três escolas: ''Louca eu seria se trabalhasse em uma só''. Durante a semana, Karyn, que se considera uma professora boazinha, mas firme, chega a ficar até a madrugada corrigindo lições e preparando aulas, mas sempre deixa o final de semana livre. ''Eu viajo, saio para dançar, vou ao cinema e fico com a família. Sempre falo que prefiro me apertar um pouco nas contas do que me matar de trabalhar. Afinal, nós vivemos para trabalhar, ou trabalhamos para viver?'', brinca.

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