Pescaria para todos os gostos e bolsos

Paraná oferece boa geografia para a prática da pesca amadora, um filão no mercado de turismo náutico do estado

Gazeta do Povo | 29 de julho de 2011

O ditado popular é implacável: “está estressado? vá pescar!”. Neste caso, as baías do litoral paranaense são o local indicado para quem procura relaxar e se divertir ao mesmo tempo. O Paraná é considerado um dos principais estados brasileiros na técnica da pesca amadora, esporte náutico que vem crescendo em todo o país.

A geografia do litoral paranaense, com as águas abrigadas na condição de baías, atrai pescadores de diferentes regiões do Brasil e até mesmo do exterior. Há também bons fornecedores de equipamentos. “O Paraná tem vocação para a pesca esportiva. Tanto que os principais estaleiros que produzem barcos no país estão sediados em Curitiba”, conta o empresário Pedro Davi.

Além da vara e da isca
Se é bom para o pescador, também é bom para o mercado local. A pesca amadora movimenta a economia dos municípios do litoral. Durante a realização dos campeonatos, desembarcam na baía pescadores munidos de equipamentos de tecnologia de ponta, acompanhantes que geralmente passam o final de semana e consomem serviços hoteleiros e gastronômicos. Também fazem parte da lista de consumo desse público o combustível para as embarcações e os serviços de trabalhadores locais e pescadores, que fornecem iscas.

Grandes eventos, como o Campeonato Sul Brasileiro de Pesca ao Robalo, realizado em Guaratuba, operam com a capacidade máxima de inscritos, movimentando ainda mais o litoral. “Na edição deste ano – realizada no dia 9 de julho – a renda gerada estimada foi de R$ 700 mil. Isso mostra a força da pesca amadora como geradora de recursos”, diz o pescador Roald Andretta, organizador do evento. Ele compara que, em relação à pesca comercial, a pescaria de lazer rende cerca de nove vezes mais em relação ao quilo do peixe, de acordo com estudo do Ibama. “Quando capturado para fins comerciais, o quilo do peixe rende cerca de R$ 5. Já na pesca esportiva, o quilo passa a valer R$ 46, com os valores agregados”, explica.

Os investimentos em tecnologia para as provas revelam também um novo perfil do pescador. Sai de cena o homem com a camiseta curta, com uma vara de pescar artesanal à beira do rio, esperando o peixe aparecer. A figura caricata dá lugar a pescadores e pescadoras de todas as idades, que participam de competições com alto nível técnico, utilizando computadores para monitorar os peixes e varas que chegam a custar R$ 2 mil. “O nível das provas brasileiras vem crescendo muito”, avalia o capitão e guia de pesca Marcos Baldo, que trabalha na Flórida (EUA) e veio ao país especialmente para a competição em Guaratuba.

Pesque e solte
Muitos campeonatos apostam na prática do pesque e solte. Os peixes são capturados, pesados e depois devolvidos à água. Para minimizar qualquer impacto na saúde dos animais, as embarcações dos competidores são equipadas com viveiros, onde eles ficam acomodados antes de voltarem ao mar. “Os impactos são baixíssimos”, garante o consultor do ministério da Pesca, Kelven Lopes. Quando estão novamente na água, os peixes demoram até 48 horas para pegar uma nova isca. “Ele passa por um estresse causado pelo desgaste da luta e fica esse período sem se alimentar”, explica Andretta.

Nestes campeonatos, a pontuação só é validada se o peixe for pesado vivo e voltar em condições normais para a água. Para o pescador Jum Tabata, que já participou de competições na Amazônia, em Foz do Iguaçu e em represas paulistas, a prática vai de acordo com o perfil do pescador moderno. “É uma conduta de respeito ao meio ambiente, que é muito importante”, diz.


Da água para a mesa
Peixes e frutos do mar também atraem para o litoral do estado milhares de visitantes em busca de pratos tradicionais preparados com estas iguarias. Por ano, ocorrem cerca de dez eventos gastronômicos com esse perfil.

Realizadas no inverno, quando a temperatura da água aumenta a oferta do pescado, as festas animam a região na baixa temporada e movimentam a economia. “As festas divulgam as cidades, prestigiam a comida típica da região e possibilitam que os pescadores das colônias tenham uma fonte de renda extra”, avalia o presidente da Fundação Municipal de Turismo de Paranaguá (Fumtur), Luiz Fernando Oliveira. Um exemplo é a Festa da Tainha, realizada em Paranaguá: em 18 dias,: 115 mil pessoas passaram pela cidade e mais de 36 toneladas de peixe foram comercializadas.

Festas e festivais também agitam a vida noturna dos municípios e o turismo. Só a observação do ritual dos pescadores torna-se uma atração para quem visita o litoral. Quem participa da puxada da rede, na praia, ainda leva peixe para casa.

* A repórter viajou à convite da Loba do Mar Eventos.


Sem estresse
O Ministério da Pesca determina algumas condições para a realização de pesca esportiva. Veja quais são elas:

- É proibido pescar durante o período de defeso, para a proteção da reprodução natural dos peixes.

- O pescador deve respeitar a cota de pesca. Para as águas continentais, o limite é de 10 quilos mais um exemplar. Em águas marinhas, a cota é de 15 quilos mais um exemplar.

- O praticante da pesca esportiva deve possuir a Licença da Pesca Amadora, documento que autoriza a atividade e deve ser apresentado mediante solicitação. A documentação é válida em todo o território nacional.

Mais informações no site do Ministério da Pesca www.mpa.gov.br

Conheça a riqueza da vida caiçara

Roteiro turístico leva o visitante a comunidades nativas e experiências culturais enriquecedoras

Gazeta do Povo | 29 de julho de 2011

Mar, areia e a curtição na beira da praia são apenas parte das atrações do litoral do Paraná. A região também guarda uma rica manifestação cultural. Ao chegar em uma localidade, é possível conhecer, além das belas paisagens, comunidades que têm muito a mostrar para os visitantes.

Tanto nas ilhas pouco visitadas quanto nas cidades mais movimentadas, como Paranaguá, Guaraque­çaba ou Pontal do Paraná, a cultura caiçara ainda passa despercebida entre as paisagens. No entanto, ignorar essa riqueza significa não saber da própria história do estado. “Conhecer a cultura caiçara é conhecer nossa raiz, as manifestações autênticas do povo do litoral, que muitas vezes não tem a oportunidade de se manifestar, de mostrar sua produção nem sua maneira de viver”, avalia o dramaturgo e ex-secretário municipal de Cultura de Antonina, Rafael Camargo.

O termo caiçara designa as comunidades tradicionais, fruto da miscigenação entre indígenas e colonizadores, que ainda vivem em contato íntimo com a natureza, dependentes da pesca e da agricultura. Apenas na baía de Guaraque­çaba são cerca de 50 comunidades, que têm entre as suas principais características algo raro nas sociedades modernas: um ritmo de vida simples e tranquilo. Esta cultura também se manifesta por meio do fandango, dança típica do litoral paranaense, nas apresentações dos violeiros e na culinária, baseada na utilização de banana e mandioca.

Surpresa
“Quando o turista vai para a praia já sabe o que vai encontrar. Mas quando ele se atenta em buscar coisas que só aquela localidade pode proporcionar, a viagem é muito mais rica, faz toda a diferença”, ressalta o produtor cultural Eduardo Schotten, que mo­­ra em Guaraque­çaba. O ro­­teiro cultural reserva experiências interessantes. O turista pode acompanhar os rituais de pesca, fazer passeios em embarcações típicas caiçaras, como a canoa de um pau só, ou ainda acompanhar a iluminada movimentação do plâncton nas águas.

Enquanto o visitante se intera da realidade local, a comunidade também sai fortalecida. “Isso gera cidadania, principalmente entre os jovens, que se interessam pelo nosso passado para mostrá-lo aos visitantes”, afirma o mobilizador local da Ilha das Peças, Renato Pereira de Siqueira. Ele conta que este tipo de turismo está crescendo entre os visitantes de outros estados, mas ainda é restrito a pesquisadores de áreas específicas, que pretendem conhecer mais a fundo as realidades tradicionais, como de curandeiros e pescadores, por exemplo. Porém, independente da procedência do visitante, o que ele encontra na comunidade caiçara chama a atenção. “A natureza desperta a emoção nas pessoas. Coisas que são comuns para nós se destacam para o turista. Algumas pessoas chegam a chorar quando veem os golfinhos”, conta.

A proximidade com a natureza foi o que mais chamou a atenção da bancária Vania Bellinie, durante um roteiro que fez pelas comunidades caiçaras. O modo de vida tradicional, mesmo que muito distante de sua realidade, fez com que ela refletisse sobre as possibilidades de existência. “Nos faz pensar que as pessoas ainda podem viver de forma muito simples.” Ela sugere que, para realmente conhecer a comunidade que está visitando, o segredo é se enquadrar no ritmo de vida das pessoas, participando da rotina local.

* A repórter viajou à convite da Gondwana Brasil Ecoturismo


Reflexo positivo
Atividade movimenta a economia

Localizadas em áreas de preservação ambiental, muitas das comunidades caiçaras paranaenses contam com poucas possibilidades de geração de renda e encontram no turismo uma nova fonte de desenvolvimento. Ainda tímida, a iniciativa tem apresentado resultados animadores e é incentivada pelo Ministério do Turismo.

Moradora da comunidade caiçara de Guaraguaçu, em Pontal do Paraná, desde que nasceu, a artesã Conceição Vieira Ramos Constant, 61 anos, comemora a realização de iniciativas para receber os turistas. Ela participa de um roteiro que apresenta a cultura local aos visitantes. A iniciativa envolve cerca de 25 famílias, que também produzem artesanato vendido em uma barraca na rodovia PR-407. “As pessoas se surpreendem quando veem que fazemos artesanato com as coisas daqui, como com o couro do peixe”, conta.

De acordo com Conceição, a organização da comunidade aproxima os caiçaras e evita “que a cultura morra”. “Não sabia que nossa cultura tinha tanto valor. Também pensei em ir embora, mas estava errada. Aqui tenho muito mais oportunidade”, diz.

A sócia-proprietária da agência Gondwana Brasil Ecoturismo, Daniela Meres, vê esse tipo de roteiro como uma grande fonte de geração de renda para as comunidades. Além disso, mostra para os turistas “outras formas de vida e visões de mundo”. “É uma riqueza para poder experimentar. É preciso abrir mão de um conforto, mas o aconchego é sempre presente em um lugar acolhedor e autêntico”.


Serviço:
- Roteiro Eco-Cultural pela comunidade do Guaraguaçu. Secretaria Municipal do Desenvol­vimento de Pontal do Paraná (41) 3975-3102.
- Roteiro pelas comunidades caiçaras Gondwana Brasil Ecoturismo 3566-6339.


Linguajar caiçara
Além de um ritmo de vida peculiar, a comunidade caiçara também possui um vocabulário específico. Algumas palavras utilizadas pelos moradores do litoral norte do estado foram apresentadas na edição do Caderno Litoral em junho de 2009. As informações são baseadas no livro Falares Caiçaras, do professor Paulo Fortes Filho, que afirma que os caiçaras apresentam “um falar calmo, cadenciado, acentuadamente cantado e carregado de ironia”. Confira algumas expressões:

Amassador: instrumento de cozinha para amassar o feijão.
Buruaca: cesto de couro para transportar espigas de milho.

Cambicho: pau comprido no qual se suspendem os ganchos para facilitar o transporte dos pesos em equilíbrio.

Canapuva: tipo de mangue. Com a casca de canapuva se tecem redes.

Cantarininha: lugar onde se deixa a vasilha para secar e onde são colocados os potes de moringas.

Canudo de fogo: tubo de taquara cheio de trapos empapados com querosene que serve de mecha, para caminhar ou pescar à noite. Tocheiro.

Cacho: âncora de pedra. Poita usada para segurar redes grandes.

Coruja: é o mesmo que pamonha, mas cozida nas cinzas do fogão.

Estendal: estendedouro. Lugar onde se estende alguma coisa. Varal onde são colocadas as redes de pesca.

Estronca: espécie de forquilha com que se levantam objetos pesados. Espeque, escora.

Fim-Fim: pássaro que não se pode caçar. É o mesmo que Fem-Fem. É a encarnação do Saci-Pererê.

Jacube: pirão de água fria. Complemento do peixe salgado.

Meia-colher: pessoa que faz tudo.

Mancebo: moço, rapaz, jovem. Cabide para segurar roupas.

Pano-velho: peixe desfiado, preparado com molho de tomate, pimenta, alho, cebola e ervas aromáticas.

Riscar: traçar, marcar, desenhar. É o projeto da feitura da canoa. O risco da canoa.

Sabão de caboclo: lama, barro que se forma com a chuva e é muito escorregadio.

Sino samão: é o mesmo que signo de Salomão. Uma estrela com cinco pontas.

Suiteira: é o mesmo que chicote.

Tapete: cobra. É o mesmo que jararacuçu.

Taramela/Tramelo: tranca. Peça de madeira que gira em volta de um prego e serve para fechar portas e janelas.

Tendal: local onde se colocam as roupas para secar. Lugar onde se colocam as bananas para amadurecer.

Lambe-lambe resiste nos menus da Ilha

Receita tradicional com marisco disputa espaço com pratos mais elaborados nos restaurantes do litoral

Gazeta do Povo | 29 de julho de 2011

A cada temporada, os mariscos ganham lugar de destaque na culinária da Ilha do Mel. Durante as marés secas, em especial nas luas Nova e Cheia, os pescadores artesanais buscam os frutos do mar em criadouros espalhados entre as comunidades pesqueiras, como na Praia de Fora, na Praia do Miguel e no mar da Ponta Oeste.

Apenas na ilha, a produção média do marisco em cada fase da lua é de 400 quilos. O cultivo já foi maior. O que é coletado abastece os restaurantes da própria ilha e de municípios do litoral, como Paranaguá. No estado, a estimativa de produção é de 10 toneladas por ano. “O marisco gruda na pedra e vai crescendo. O controle da produção é feito pelo nativo, que sabe que é preciso preservar, pois é sua forma de sustento e não é possível tirar à vontade”, afirma o vice-presidente da Associação dos Comerciantes das Encantadas, Marcos Gamper.

A queda na produção também se reflete na preferência do comensal que frequenta os restaurantes litorâneos. Os pratos à base de marisco deram lugar a outras iguarias. Exemplo disso é que poucos estabelecimentos oferecem um dos pratos mais tradicionais da Ilha do Mel, o Arroz Lambe-Lambe, produzido há várias gerações. A pousada de Gamper, em Encantadas, é uma das únicas que mantém a tradição. “Ela está se perdendo, mas ainda existem poucos locais que fazem as receitas. Isso acontece porque os restaurantes agregam outros tipos de refeições e acabam esquecendo as receitas nativas”, conta a chef de cozinha da Pousada Orquídeas, Michelly Silio Monteiro.

Cultivo
“O pescado está escasso nas baías do litoral paranaense e o mesmo vale para os moluscos e crustáceos extraídos dos mangues com a coleta de ostras, caranguejos e mariscos”, afirma o engenheiro agrônomo Marcos Campos de Oliveira, do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural – Emater, regional Paranaguá. De acordo com ele, esta situação é consequência de um processo produtivo extrativista, sem controle sanitário nem respeito aos períodos de reprodução.

Diante da queda no cultivo de mariscos e de outros frutos do mar, o Emater lançou no final de junho um programa que incentiva a produção comunitária. O objetivo é oferecer uma opção economicamente viável e ambientalmente sustentável aos produtores de comunidades tradicionais.

O programa consiste na instalação de unidades de produção com a supervisão de técnicos. As sementes são produzidas em laboratório e desenvolvidas em estruturas instaladas no mar, com controle da qualidade da água. Antes da comercialização, ainda é feito um processo de depuração. “O marisqueiro deixa de ser um extrativista e passa a ser um aquicultor, um agricultor do mar”, explica Oliveira. Onze comunidades irão receber o projeto nos municípios de Guaratuba, Guaraqueçaba, Paranaguá e Pontal do Paraná e os primeiros cultivos começam no ano que vem.


Lamba os dedos
Ao serem aquecidos, os mariscos se abrem fazendo, com que o arroz se acomode dentro das conchas. Para comer, é preciso abrir as conchas com as mãos e, inevitavelmente, lamber os dedos.Use uma panela de barro para preparar o prato.

Ingredientes
• 1,5 quilo de marisco fresco
• 300 gramas de arroz branco
• 1 litro de água fervente
• 1 tomate
• 1 cebola
• 4 dentes de alho
• Cheiro verde a gosto
• Óleo
• Ervas finas em pó a gosto
• Tempero completo
• Óleo de urucum

Modo de preparo
Aqueça o óleo na panela. A quantidade do óleo deve ser suficiente para cobrir o fundo da panela. Em seguida, adicione o alho e a cebola picados e deixe fritar. Acrescente o tomate picado e o tempero completo. Depois do tempero refogado, adicione os mariscos. Eles devem ser colocados antes do arroz para absorver o sabor do tempero. Aguarde os mariscos abrirem e coloque o arroz na panela. A chef explica que o arroz branco é mais indicado para a elaboração do prato, pois cozinha mais rápido. Acrescente o cheiro-verde, as ervas finas em pó e o óleo de urucum. Finalize com a água e deixe ferver até que o arroz fique no ponto. O prato combina com farofa feita com óleo de urucum e salada.

Tempero da chef
O tempero utilizado pela chef Michelly Silio Monteiro na receita do Arroz Lambe-Lambe é feito com sal, alho moído, ervas finas em pó, orégano, cominho, noz moscada, pimenta calabresa, páprica, tempero chimichurri, glutamato de sódio e sete colheres de óleo, para dar liga. Antes de usar, deixe a mistura descansar por um dia. O óleo de urucum é feito com semente de urucum batida com óleo de soja.

Paranaguá boa para morar e para visitar

Cidade entra nos planos do governo federal para desenvolver o turismo e atrair turistas durante o ano todo

Gazeta do Povo | 29 de julho de 2011

Paranaguá completa hoje 363 anos de história e, além de seu aniversário, comemora um novo impulso no turismo local. Elencada entre os 65 destinos indutores do turismo no Brasil – no Paraná, juntamente com Curitiba e Foz do Iguaçu, apenas três roteiros foram selecionados –, a cidade carrega a expectativa de destacar o litoral do estado nas rotas nacional e internacional.

Acordos recentes prometem reforçar o potencial da cidade, que possui posição de destaque na região. Aliados à característica histórica e aos atrativos naturais, novos investimentos serão destinados com enfoque no turismo náutico. “Estamos em um momento muito importante do turismo em Paranaguá”, comemora o presidente da Fundação Municipal de Turismo (Fumtur), Luiz Fernando Gaspari de Oliveira Lima.

Os investimentos começaram com a inclusão do município no Pro­grama de Aceleração do Cres­cimen­to (PAC) das Cidades Históricas, realizado pelo governo federal, e o tombamento da Rua da Praia como patrimônio histórico. No início do mês de julho, a cidade sediou a 15ª reunião do Grupo de Trabalho de Turismo Náutico, coordenado pelo Ministério do Turismo, que estabeleceu programas a serem executados. “Estamos em um alinhamento entre município, estado e governo federal para que Para­naguá seja configurada e vendida como um destino adequado. Isso faz parte do processo de regionalização do turismo com roteiros integrados e ampla oferta aos visitantes”, analisa o secretário de estado do Turismo, Faisal Saleh. O município aposta ainda na inauguração do Aquário Marinho, que está na fase final de construção e irá passar por uma licitação para escolha da empresa que vai assumir o manejo e a administração. O objetivo é fazer da cidade um destino permanente para os turistas e que as visitas não fiquem restritas aos períodos de festas.

Para receber bem seus visitantes, a cidade também deve passar por melhorias. Um dos principais desafios é adequar a infraestrutura municipal e reverter a característica de cidade portuária. “A cidade boa para o turista é aquela que é boa para o morador local. Ainda temos muito o que fazer”, ressalta a diretora financeira da Agência de Desenvolvimento do Turismo Sustentável do Litoral do Paraná (Adetur Litoral), Norma Santos de Freitas, integrante do Conselho Municipal de Turismo. Além de movimentar a economia da cidade, ela considera o turismo uma alternativa à situação social de todo o litoral paranaense.

Gestora do projeto Turismo no Litoral do Paraná - Emoções o Ano Inteiro, realizado pelo Sebrae, Patrícia Albanez afirma que ainda é preciso buscar a excelência no atendimento em diversos setores e, principalmente, investir nos serviços turísticos, com empresas receptivos e oferta de passeios. A cidade também deve ficar mais bonita, com revitalização dos espaços públicos e principalmente uma nova entrada de acesso.


Projeto quer atrair cruzeiros
A expectativa é que, já na temporada de verão 2012, entre três e cinco navios de passageiros atraquem em Paranaguá, trazendo cerca de 15 mil visitantes e US$ 3 milhões para a região. A previsão foi um dos resultados do GT de Turismo Náutico.

O Porto de Paranaguá irá passar por reformas para a construção de um terminal de passageiros. A obra não ficará pronta para a próxima temporada, mas o superintendente da Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa), Airton Vidal Maron, conta que existem três possibilidades para a cidade nos próximos meses. “Temos a opção da parada de navios em frente ao templo de Nossa Senhora do Rocio, em frente à Ilha da Cotinga ou no Rio Itiberê, em frente à Capitania dos Portos”, afirma. Apesar de muitas operadoras de cruzeiros já estarem com os roteiros de viagens definidos, o secretário de estado do Turismo, Faisal Saleh, afirma que é possível realizar escalas em Paranaguá.


Roteiros
Veja quais as opções de passeio que Paranaguá oferece:

Cultural – Fandango, Boi de Mamão e outras danças.
Natureza – Baía de Paranaguá e ilhas do Mel, da Cotinga e dos Valadares.
Histórico – Casario tombado pelo Patrimônio Histórico e museus
Gastronômico – Barreado e frutos do mar.
Religioso – Templo de Nossa Senhora do Rocio e igrejas históricas.
Náutico – Porto de Paranaguá e passeios de barco pela baía.

Festival de inverno revitaliza Antonina

Evento ajudou a recuperar autoestima da população e a economia da cidade, arrasada pelas chuvas de março

Gazeta do Povo | 29 de julho de 2011

Todo mês de julho é tempo de intensa atividade cultural em Antonina. Neste ano, a 21ª edição do Festival de Inverno da Universidade Federal do Paraná (UFPR) encheu ruas, praças e o tradicional casario da cidade com atividades musicais e artísticas entre os dias 9 e 16 de julho. O evento é um dos mais importantes do calendário acadêmico e municipal. Durante uma semana, a cidade recebeu cerca de 40 oficinas, apresentações culturais diárias em espaços públicos e atividades para as crianças.

Neste ano, a realização do evento teve um significado especial. A cidade ainda se recupera dos estragos causados pelas chuvas que atingiram o litoral no mês de março, o que atrasou a organização do festival. Mesmo com a situação delicada, o evento foi mantido em Antonina. “Tivemos uma organização tardia por conta das chuvas e a produção foi mais corrida. Porém, o município entrou em um consenso de que não deveríamos interromper o evento e, sim, minimizar ao máximo o impacto da tragédia na rotina da cidade, para que ela volte mais rápido ao normal”, disse o secretário municipal de Cultura, Marcelo Vieira Gomes. Para potencializar a economia da cidade, todas as barracas de gastronomia e artesanato que abasteceram o festival foram ocupadas por cooperativas locais.

Troca
Ao mesmo tempo em que representa uma oportunidade de vivência para os estudantes fora do campus da universidade, o Festival de Inverno é uma oportunidade de crescimento para a cidade. A população participa intensamente, em especial nas oficinas que servem como aprimoramento para a geração de renda. Nesta edição, entre os 585 participantes das atividades, 449 eram antoninenses. “Isto agrega valor à comunidade, como uma fonte de renda extra. É uma troca de saberes e também de cultura”, observa o secretário. “O festival proporciona oportunidade de crescimento para as pessoas. A universidade vai até elas de uma maneira democrática, sem vestibular nem processo seletivo”, afirma o vice-reitor da UFPR, Rogério Andrade Mulinari.

O que é aprendido durante o festival pode ser aplicado em outros eventos importantes de Antonina. Integrantes de todas as escolas de samba locais participaram de uma oficina de alegorias e adereços, ministrada pelo carnavalesco e figurinista André Marins, que trabalha em agremiações do Rio de Janeiro. Os participantes resgataram os enredos antigos e criaram novos figurinos.

Para a fisioterapeuta Celina de Camargo Machado, 33 anos, que desfila desde os três anos de idade e também ajuda na confecção de alegorias em sua escola, a oficina serviu para aperfeiçoar a preparação das fantasias. “Aprendi técnicas que simplificam o trabalho e que usam materiais mais simples. É muito bom ver outros aspectos de produção”, diz. O carnavalesco conta que se surpreendeu com a tradição da cidade. “Me deparei com pessoas que são capazes de trabalhar muito bem em um carnaval no Rio de Janeiro. Não vim ensinar nada a eles, mas facilitar o trabalho”, afirma.


Vida dedicada ao festival
O som do saxofone que ecoou pelas ruas de Antonina, durante do Festival de Inverno da UFPR, encantou aqueles que ouviram a apresentação do estudante do curso de produção sonora Cainã Alves (foto), 20 anos. O que poucos sabem é que a paixão do jovem antoninense pela música cresceu no mesmo ritmo em que ele, ano a ano, participava do evento.

Cainã praticamente nasceu com o festival. Com um ano de idade, a mãe dele o inscreveu nas atividades infantis da primeira edição. Juntos, também assistiam aos shows. As primeiras oficinas aconteceram na década de 90, quando ele ingressou na Filarmônica Antoninense, de onde nunca mais saiu.

A relação de Cainã com o festival não ficou restrita às oficinas na sua cidade natal. Aos 17 anos, o jovem passou no vestibular da UFPR em Curitiba e um dos primeiros contatos que fez na universidade foi com a organização do evento. Em 2011, o estudante completou quatro anos de trabalho, entre apresentações, oficinas e atividades internas. A formatura, programada para o fim do ano, não deve encerrar a participação de Cainã. “Pretendo apresentar uma proposta para ser ministrante de uma oficina”, conta. “O festival reúne cultura, diversão, troca de informações. Tudo isso representa um crescimento intelectual com especialistas. Para mim, ele foi determinante.”