Pirâmide de alimentos dá lugar a prato

Modelo do “my plate” orienta que refeição seja composta por um prato com metade de vegetais, ¼ de grãos, ¼ de proteínas e ainda uma porção de laticínios

Gazeta do Povo | 03 de julho de 2011

A classificação dos alimentos para a manutenção de uma dieta saudável ganhou um novo formato. A pirâmide, que hierarquiza o consumo dos alimentos de acordo com sua composição, deu lugar a um prato. A nova configuração foi apresentada pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) no início do mês.

Conhecido como “my plate”, o novo modelo não é novidade no Brasil e já é recomendado pelos profissionais do país há anos. Ele orienta que uma refeição deve ser composta principalmente por frutas e legumes, além de porções de grãos e proteínas. A proporção sugerida é metade do prato com os vegetais, ¼ de grãos, ¼ de proteínas e ainda uma porção de laticínios.

O modelo do prato é considerado mais eficaz para orientar a população sobre como balancear as refeições. Além disso, é possível utilizar a mesma proporção tanto para o café da manhã quanto para o almoço ou o jantar. “Este modelo é mais simples de orientar como se deve montar um prato. Já a pirâmide soa como algo mais científico, difícil de visualizar e de entender”, avalia a professora do Departamento de Nutrição da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Regina Maria Ferreira Lang. Ela também considera a pirâmide como um modelo eficaz, mas que não dá o entendimento exato do que é uma porção de cada alimento. “A pirâmide classifica o que se deve consumir em um dia, já o prato é adaptado para cada refeição”, explica.

A reunião de variados tipos de alimentos na mesma refeição é um dos principais benefícios que o modelo de prato traz para a manutenção de uma dieta saudável, na avaliação do presidente da Sociedade Paranaense de Gastroenterologia e Nutrição, Julio César Pisani.

“Quanto mais variada é a refeição e mais elementos tiver, melhor a nutrição”, afirma. Ele ressalta que é importante oferecer ao organismo tudo o que ele necessita e que a quantidade de alimentos consumidos é um dos principais fatores para uma dieta saudável. De acordo com Pisani, é essencial incorporar estas medidas ao dia a dia. “Viver bem implica a aprender a comer e comer o suficiente para ter uma vida normal.”

Diferenças
Na pirâmide tradicional, a base é composta pelos alimentos mais recomendados, como os carboidratos e os vegetais, espécie de combustível e fontes de vitaminas para o corpo. No nível intermediário estão os ovos, o leite e demais leguminosas, enquanto o topo da pirâmide concentra o açúcar e a gordura, que devem ser evitados. “Ela serve como um guia para escolhas saudáveis, pautadas na adequação da proporção entre os grupos de alimentos. Porém é preciso muita explicação para entender, por exemplo, que no topo está o pior, o que deve ser consumido com moderação. Geralmente as pirâmides colocam o melhor no topo”, pontua a nutricionista Mariana Del Bosco, integrante da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso).

Estudo vincula uso de drogas a homicídios

Pesquisa mostra que consumo de entorpecentes vem aumentando e vincula assassinatos ao tráfico. Para pesquisador, legalização poderia amenizar o problema

Gazeta do Povo | 25 de junho de 2011

O consumo de drogas ilícitas no Brasil cresceu 172% entre os anos 2000 e 2007. A conclusão é do economista e pesquisador do Ins­tituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Daniel Cerqueira, que acompanhou a evolução da violência no país com o objetivo de identificar os fatores que causaram crimes violentos desde os anos 80. Segundo o pesquisador, esse aumento no consumo afetou diretamente os índices de violência no país e fez com que o mercado de drogas ilícitas se tornasse o principal elemento causador de assassinatos na última década.

Para medir o consumo de entorpecentes, Cerqueira analisou o número de brasileiros que morreram por envenenamento por drogas e a partir destes dados estimou o aumento dos consumidores no país. “A forma como as pessoas morrem expressa muito sobre a maneira como elas vivem. O crescimento das mortes significa que o consumo também deve ter crescido”, explica.

O consumo de drogas em alta movimentou o mercado do tráfico, que é caracterizado pela grande rentabilidade. Por se tratar de uma atividade ilícita, a violência é a única maneira de garantir que o mercado funcione e que os traficantes se mantenham à frente dele. De acordo com Cerqueira, outros casos de violência ligados ao consumo de drogas, como eventuais atos de usuários sob efeito dos entorpecentes e os crimes praticados para sustentar o vício, representam apenas 5% do total de homicídios.

A definição de um índice sobre o consumo de drogas no Brasil é vista com desconfiança por alguns especialistas. O estudo de Cerqueira é o primeiro a quantificar a incidência em todo o país, mas estudiosos da área acreditam que não é possível levantar tais informações com os dados disponíveis. “Não temos dados suficientes que nos permitam dizer se o consumo aumentou ou diminuiu. Trabalhos com contabilidade indireta e cálculos são muito arriscados”, pondera o sociólogo Michel Misse, coordenador do Núcleo de Estudos da Cidadania, do Conflito e da Violência Urbana da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Evolução
Ao acompanhar o contexto dos homicídios no país entre 1980 e 2007, o estudo de Cerqueira mostra que a violência no Brasil passou por variados ciclos. Durante três décadas, diferentes fatores, como a desigualdade social, a ausência de políticas públicas na área de segurança e o mercado de drogas ilícitas fizeram com que o índice de homicídios dobrasse. A taxa de assassinatos entre 100 mil habitantes, que era de 13 em meados da década de 1980, passou para 28 em 2003. Em números absolutos, foram mais de 1 milhão de homicídios.

Nos anos 1980, a desigualdade social acarretou uma forte onda de violência pelo país, que não foi suficientemente contida pelo sistema de segurança pública. O mercado de drogas e o consequente aumento do número de armas de fogo em circulação aparecem no final da década, com grande impacto no número de homicídios no Brasil.

A ineficiência dos sistemas de segurança pública desencadeou o aumento do mercado de segurança privada e a procura por armas de fogo nos anos 1990, considerada a década armamentista. Neste período, o mercado de drogas não representou grande influência sobre os homicídios, mas passou a se destacar nos anos 2000. “A partir de então as condições socioeconômicas melhoram, a desigualdade diminui, as polícias aumentam seus efetivos. Todos estes são fatores que interferem para diminuir os crimes violentos no país. O único determinante que vai contra os demais é a prevalência das drogas”, observa Cerqueira.

Impunidade e “gatonet”
A evolução histórica mostra que o tráfico de drogas não é o único responsável pela violência no Brasil, que decorre de diversos fatores. O ex-secretário nacional de Segurança Pública José Vicente Silva Filho discorda que o tráfico seja o principal elemento e aponta a impunidade como fator determinante para a violência no país. “O índice de esclarecimento de homicídios no Bra­sil é de 8%, de acordo com o último levantamento do Conselho Nacional de Justiça. Significa apenas que o autor foi identificado, mas não preso”, diz. “Na prática, isso mostra que o crime compensa, pois a possibilidade de o criminoso ser alcançado, punido e preso é muito baixa.”

A cientista social Sílvia Ramos, coordenadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes, no Rio de Janeiro, também acredita que o tráfico de drogas ocupa papel secundário na motivação de violência. Em especial na capital fluminense, a questão pelo controle de território tornou-se um forte motivador de homicídios. Ela afirma que essa tendência se acentuou nos anos 2000, com a crise gerada pela entrada das drogas sintéticas e pela grande repressão ao mercado ilícito. Um exemplo é o surgimento do “gatonet”, linhas clandestinas de tevê por assinatura, que passaram a ser controladas por milícias nas comunidades do Rio. “Houve uma diversificação dos negócios baseada no controle de território”, diz Sílvia. “Quem controlava as bocas de fumo agora controla inúmeros outros negócios com venda de gás, sinal de tevê por assinatura, transporte coletivo e outros, que também são rentáveis.”


Legalizar pode ser saída, dizem especialistas
A polêmica proposta de legalização das drogas é apontada como uma alternativa para reduzir os homicídios causados pelo tráfico. O argumento se sustenta na ineficiência das políticas de combate aos entorpecentes. Além disso, a violência e a corrupção deixariam de ser os instrumentos para a manutenção desse mercado. “Não tenho dúvidas de que em relação à violência sistêmica a legalização vai reduzir a violência. Com isso, não haveria mais necessidade de corrupção”, defende o pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Daniel Cerqueira. Na avaliação de especialistas, as políticas de prevenção e combate ao tráfico de entorpecentes são ineficazes, pois não conseguem impactar o problema.

Uma possível legalização das drogas, no entanto, não descartaria a necessidade de mecanismos de controle e tornaria imprescindível o investimento em estruturas de atendimento aos usuários e à prevenção ao uso, elementos que influenciam os índices de violência no Brasil. “Não podemos achar que iríamos liberar as drogas e pronto. O ambiente de liberação evita criminalizar o ato, mas a droga não será comprada em qualquer esquina”, diz o ex-secretário nacional de Segurança Pública José Vicente Silva Filho.

Para que a medida tenha sucesso, a antropóloga Ilana Strozenberg ressalta que é preciso o envolvimento de diferentes setores públicos. “A descriminalização, certamente, é um passo importante, mas que deve ser pensado com cuidado, articulado com políticas públicas diferentes das existentes”, afirma


Siri ganha versões na mesa caiçara

Carne do crustáceo é usada no preparo de receitas que vão além da tradicional casquinha frita

Gazeta do Povo | 24 de junho de 2011

A casquinha de siri não é o único modo de preparo do crustáceo. Ele é ingrediente de destaque nas refeições de quem vive na praia. Os cardápios dos restaurantes do litoral oferecem pratos variados preparados a partir da iguaria: bolinho, ensopado, pastel, panqueca, quibe ou até mesmo hamburguer.

Com grande produção e culinária diversificada, Antonina já é considerada a capital do siri. De acordo com estimativas da Secretaria Municipal de Agricultura e Meio Ambiente e da Colônia de Pescadores, cerca de 400 pescadores dependem da cata do crustáceo. A atividade movimenta a economia do município e o número de famílias envolvidas neste mercado tende a aumentar, com a profissionalização na culinária na comunidade.

A cozinheira Jaci Dias Pereira, 60 anos, é uma das principais responsáveis pela popularização do siri na gastronomia local. Ela é a presidente da Associação dos Moradores do Portinho, Graciosa de Cima e Graciosa de Baixo – conhecida como Siri do Portinho – e também acompanha o marido na cata do crustáceo há quatro décadas. Para Jaci, o siri é o sustento da casa e o que financia a criação dos filhos. Ela conta que há alguns anos o ingrediente era pouco consumido na cidade e destinado quase que inteiramente para mercados de Santos e São Paulo, por intermediadores. “Depois que participei de um curso sobre cooperativismo, percebi o valor que o nosso produto tem”, conta. Foi então que começou a mobilização para aumentar o consumo local, fazendo com que todos os restaurantes da cidade também investissem no prato e passassem a oferecer preparações variadas no cardápio.

A criação de uma associação de moradores foi uma das ações para fomentar a produção e utilização do siri na gastronomia de Antonina. Além de oficinas de artesanato e informática para geração de renda da comunidade, na sede da entidade, inaugurada em dezembro de 2008, funciona uma cozinha-escola e um restaurante. O estabelecimento abre nos fins de semana, com cardápio à base de siri e outros frutos do mar. As receitas são das próprias cozinheiras e demais mulheres da comunidade, que há décadas preparam os pratos com a carne do siri capturado em família.


Fresco
Disponível durante todo o ano, o siri vai direto da baía de Antonina para a mesa. Os pescadores demoram três horas para chegar aos pesqueiros e saem da cidade com a maré ainda baixa. Quando voltam, retiram a carne e já colocam à venda e para a produção dos pratos.

O ideal é retirar a carne do siri após o cozimento, em que ele é colocado vivo na panela com água fervente. Isso garante que a carne fique firme e não esfarele. No caso da carne congelada, ela deve descongelar dentro da geladeira. Outra dica da cozinheira Jaci é utilizar temperos frescos, cortados na hora da preparação do prato.

Ingredientes
1,5 quilo de carne de siri
2 ½ xícaras de arroz
4 tomates
½ cebola picada
Alho
Sal
Coentro e alfavaca frescos
1 xícara de sopa de coloral ou molho de tomate

Modo de preparo
Em uma panela com pouco óleo coloque 500 gramas da carne do siri para aquecer. Em seguida, acrescente a cebola picada, uma pitada de alho, o coentro e a alfavaca picados em pedaços pequenos e deixe esquentar por poucos minutos. Depois junte o coloral ou o molho de tomate. A cozinheira Jaci orienta que devem ser utilizadas poucas quantidades destes dois ingredientes para evitar que eles tirem o gosto do siri. Por último, adicione o arroz. Deixe refogar no modo tradicional de preparo do arroz, acrescentando água. Depois do cozimento, o arroz fica amarelado por conta do coloral ou do molho de tomate.

Molho
Em outra panela, prepare o molho do risoto com os mesmos ingredientes utilizados com o arroz. O molho deve ter a consistência mais cremosa do que o risoto. Para servir, cubra a porção do risoto com o molho de siri e salpique cheiro verde fresco. Jaci sugere bolinhos de siri e salada mista como acompanhamentos do prato.


Serviço
A Associação de Moradores Siri do Portinho serve os pratos feitos com siri durante os finais de semana. Rua Escoteiro Milton Oribe, 395 - Portinho de Baixo, Antonina. Fone 41-3432-4851


Capitania atua além do alto-mar

Órgão criado no império organiza o tráfego marítimo e preza pela vida do homem em portos e costas

Gazeta do Povo | 24 de junho de 2011

Criada pelo imperador Dom Pedro II em 1845, a Capitania dos Portos, presente nas então províncias marítimas brasileiras, tem atribuições específicas de “polícia naval, conservação do porto, inspeção e administração dos faróis, balizamento, matrícula da gente do mar e do tráfego do porto e das costas”, entre outras tarefas descritas no decreto da época. No Paraná desde 1853, a organização militar ligada à Marinha Brasileira pode ser considerada uma espécie de polícia “rodoviária” e departamento de trânsito – um ‘Detran’ – dos mares.

Assim como ocorre nas rodovias, a Capitania dos Portos tem a missão de defender a vida humana no ambiente marinho, além de organizar o tráfego aquaviário. Sem outra instituição afim no estado – como uma Delegacia Marítima ou uma Estação Naval, por exemplo – o órgão acumula funções. Ao mesmo tempo em que controla o movimento de embarcações nas águas, a capitania é responsável pela ação de socorro e resgates, pela emissão de documentos de habilitações e ainda pela oferta de cursos de ensino profissional marítimo. O combate à poluição do mar também faz parte das suas atribuições. “Nossa capitania é autossuficiente e tem estrutura para dar cabo dos obstáculos que surgem”, avalia o Capitão dos Portos do Paraná e Capitão-de-Mar-e-Guerra, o comandante José Henri­que Corbage Rabello.

Mesmo com tantas tarefas simultâneas, o comandante comemora o índice de “zero erro” no despacho de navegações que chegam e saem do Porto de Paranaguá, nos últimos seis meses. A unidade paranaense também se destaca como a que oferece maior número de cursos profissionalizantes em todo o Brasil. No próximo dia 11 de julho, a Capitania do Paraná irá receber pela primeira vez o comandante da Marinha do Brasil. A presença do alto comando da corporação é considerada como o reconhecimento pelo trabalho realizado pela unidade do Paraná.

Outros horizontes
As atividades relativas à segurança portuária se dividem com as ações realizadas com a população local. “Precisamos trazer a comunidade para conhecer as coisas do mar”, afirma o comandante. Em datas festivas, a população conhece de perto o trabalho desenvolvido pelo órgão.

Os visitantes, em especial alunos de escolas da região, participam de gincanas e palestras educativas e ainda visitam as embarcações e os acampamentos. As atividades cívico-militares acontecem principalmente em duas datas especiais: no dia 11 de junho, Dia da Batalha Naval do Riachuelo, Data Magna da Marinha do Brasil; e no dia 13 de dezembro, Dia do Marinheiro.

O atendimento para liberações de documentos navais e habilitações para condução de embarcações acontece diariamente, no período da manhã. Para receber o público, a capitania oferece um espaço construído especialmente a este serviço. Além disso, todos os procedimentos estão em fase de informatização, para dar mais agilidade aos processos.


Cisnes brancos em ação
Dentro da principal missão de cuidar da vida humana no mar, os militares da Capitania dos Portos são constantemente chamados para realizar atendimentos pelo litoral paranaense. As situações mais comuns são resgates de pessoas em embarcações que ficam à deriva, muitas vezes vindas de outros estados como Santa Catarina, São Paulo e Rio de Janeiro.

Há emergências que chamam a atenção dos militares. A mais recente foi o atendimento a uma dona de casa que mora em Guaraqueçaba e foi resgatada em trabalho de parto em alto mar. O caso aconteceu em maio deste ano, quando a mulher fazia o trajeto entre Guaraqueçaba e Paranaguá em um barco de carreira. No meio do caminho, a gestante iniciou o trabalho de parto e a capitania foi acionada. O atendimento terminou com o encaminhamento da mãe ao Hospital Regional em Paranaguá.

Fora das águas, a última grande ocasião em que os militares se mobilizaram foi durante a operação Águas de Março. Membros da capitania prestaram atendimento aos municípios do litoral paranaenses afetados pelas fortes chuvas que caíram no início de março. O órgão promoveu o acesso de bombeiros, equipes de resgates e donativos às regiões atingidas.


Energia que vem do subterrâneo

Encravada na Serra do Mar, usina hidrelétrica em Antonina produz energia em uma construção incomum, aberta aos visitantes

Gazeta do Povo | 24 de junho de 2011

A Usina Hidrelétrica Pedro Viriato Parigot de Souza, em Antonina, é um passeio inusitado para quem está acostumado com roteiros convencionais no litoral paranaense. Diferente de qualquer outra atração da região, a usina da Copel é pouco visitada e está instalada em cavernas criadas nos subterrâneos da Serra do Mar.

Além da localização, a estrutura e o funcionamento da usina são uma atração à parte. Criada na década de 70, ela utiliza a água do Rio Capivari, que fica represada na região de Curitiba (a 830 metros acima do nível do mar) e chega a Antonina por um túnel escavado no meio da serra.

A peculiaridade do roteiro começa no caminho que leva a todo o maquinário da usina. É preciso seguir de carro por um túnel com 1,1 km de extensão e desnível de 105 metros, que possui iluminação discreta. No percurso, grandes pedaços de rocha ficam aparentes, além dos cabos de alta tensão que, devidamente isolados, conduzem a energia até a subestação localizada do lado de fora. A sensação claustrofóbica despertada no túnel acaba assim que se chega à usina. Com iluminação branca, o ambiente não parece estar debaixo da terra.

No interior das cavernas, o visitante acompanha todo o trajeto que a água faz para ser usada na geração de energia. É possível sentir a passagem da água pela tubulação ao tocar nos grandes tubos, que, mesmo com vários metros de diâmetro, estremecem constantemente.

A imagem mais característica da usina pode ser vista da sala de comando: os quatro geradores que rodam a 514 rotações por minuto (RPM). “A energia do gerador passa para os transformadores, que elevam sua potência. Depois disso, na subestação a céu aberto, outros transformadores reduzem a tensão para o consumo residencial ou industrial”, explica o assistente técnico de operações Luiz Carlos Zeni.

O tour pela usina não é válido apenas para estudantes do ensino regular e alunos dos cursos de engenharia. É uma oportunidade para o cidadão comum conhecer todo o processo de geração de energia. “A pessoa, na sua casa, olha para este benefício na lâmpada ou na televisão, por exemplo, e sabe como chegou até ali. É possível conhecer toda a cadeia de produção, ver quantos profissionais e quanta tecnologia é envolvida”, explica a supervisora administrativa da usina, Elaine Broska Martins.


260 megawatts - Produção abastece o litoral
Assim como as demais unidades geradoras da Copel, a usina de Antonina faz uma homenagem a ex-governadores paranaenses. Pedro Viriato Parigot de Souza governou o estado entre 1971 e 1973 e também foi presidente da Copel na década de 60.

Com quatro geradores ligados ao Sistema Interligado Nacional, a usina tem capacidade de produzir 260 megawatts (MW), que corresponde a 8% da capacidade total da Copel. Com esta potência, a unidade é responsável por abastecer todos os municípios do litoral do estado e parte de Curitiba.

Outro diferencial da unidade é o desnível entre a represa (localizada na região de Curitiba) e a usina (em Antonina), que chega a 750 metros. No caminho entre Curitiba e o litoral, a água percorre 22 km de túneis pelo meio da Serra do Mar e a forte pressão com que ela chega ao maquinário possibilita que a energia seja gerada com pouco volume de água.

A construção da usina demorou 10 anos. Oito apenas para as escavações nas rochas e dois para a instalação propriamente dita. De acordo com a Copel, os 630 mil m3 de rochas extraídas transformadas em brita poderiam pavimentar uma estrada de 400 quilômetros de extensão. Já as 900 mil sacas de cimento gastas na concretagem seriam suficientes para construir 30 edifícios de 50 andares.

Serviço
O acesso à Usina Governador Parigot de Souza é feito pela PR-340. As visitas podem ser feitas somente às terças-feiras e precisam ser agendadas pelos telefones 41-3432-1120, ramais 6729 ou 6782.


Histórias guardadas sob as águas

Pelo menos 50 embarcações afundadas no litoral do Paraná marcam o estado como ponto importante na história naval brasileira

Gazeta do Povo | 24 de junho de 2011

O movimento das marés guarda sob as águas do litoral paranaense inúmeras histórias de navios que afundaram na região. Pelo menos 50 embarcações naufragaram no estado em aproximadamente quatro séculos, de acordo com levantamentos de historiadores.

A presença dos navios afundados no litoral mostra que o Paraná teve participação importante na história da navegação brasileira. Embarcações que seguiam com ouro e prata passavam pelo estado para reabastecer com mantimentos e também comprar mão de obra no mercado de escravos. A Baía de Paranaguá é a que concentra mais navios sob as águas, localizados próximo a entrada do Rio Itiberê (acesso à cidade pelo mar), na região das ilhas do Mel, das Peças e Superagui.

Apesar da pouca visibilidade, os naufrágios representam uma possibilidade de incremento do turismo e valorização da cultura local. Junto com a história de um navio surge também o imaginário popular. “As lendas transformam a praia comum em um lugar com histórias”, explica o diretor de turismo de Guaratuba, Mario José Natalino. Há alguns anos, a história da única embarcação que afundou na cidade, o Vapor São Paulo, caiu no esquecimento entre os moradores. O município investe agora na retomada de seu passado por meio de oficinas nas escolas. “Significa um resgate da cidade, em que os moradores conhecem sua própria história”, analisa.

Caçadores de tesouros
Incentivados pelas lendas que envolvem os naufrágios, muitos aventureiros buscam tesouros sob as águas. Os itens mais procurados são moedas de ouro, além de objetos de prata e cobre. A busca é encarada com seriedade pelos caçadores de tesouros, que investem dinheiro alto nas expedições. “A tradição oral é muito forte e as lendas atraem as pessoas. Se existe uma história, alguém vai procurá-la”, conta o tesoureiro do Instituto Histórico Geográfico de Paranaguá, José Maria Faria de Freitas.

Em muitos casos, os objetos encontrados nas embarcações ficam restritos a colecionadores particulares como forma de recompensa pelo apoio ao investimento, e sequer são catalogados. Nem mesmo os salvados, objetos que chegam à praia com o movimento do mar, são notificados. Por isso, os museus do estado guardam pouquíssimos objetos em seus acervos.

Em Paranaguá, por exemplo, restaram apenas alguns canhões do chamado “navio pirata”, história de naufrágio mais conhecida da cidade. Pesquisas apontam que alguns objetos estão em cidades longe do litoral paranaense, como a Lapa. Da embarcação de Guaratuba, um dos últimos registros é de uma empresa de Joinville que teria ficado com as peças, mas nada foi localizado.

As condições em que as peças são retiradas do fundo do mar dificultam o trabalho de conservação. Em geral, os objetos são conservados de maneira incorreta, o que danifica permanentemente sua estrutura. “Assim a história se dissipa, como um navio perdido na neblina. Este é um patrimônio coletivo e que o estado pode reverter como atração turística”, avalia a arqueóloga do Museu Paranaense, Claudia Inês Parellada, que tenta remontar o quebra-cabeças da história naval do estado com as poucas peças que restaram dos naufrágios paranaenses.


Lendas dão vida aos naufrágios
As histórias dos naufrágios alimentam o imaginário popular. Os dias de maré baixa na praia de Caieiras, em Guaratuba, revelam partes do Vapor São Paulo. Em novembro de 1868, sob o comando do oficial Jacinto Ribeiro do Amaral, marido da compositora e pianista Chiquinha Gonzaga, a embarcação voltava da Guerra do Paraguai com cerca de 600 passageiros, entre eles soldados feridos e médicos.

Em meio ao nevoeiro, o vapor encalhou ao se aproximar da costa e tombou. Um soldado morreu e os demais tripulantes se abrigaram nas grutas e nas casas dos moradores do povoado por três dias, aguardando o resgate. Muitos suspeitam que Chiquinha Gonzaga estava a bordo do navio. O principal argumento é de que a compositora era obrigada a acompanhar o marido em suas viagens. Mas nada comprovou sua presença entre os passageiros.

Já em Paranaguá, os piratas são os protagonistas do naufrágio mais famoso da cidade. Entre os séculos 16 e 18, a abundância de ouro e prata nas colônias da América Latina despertou o interesse de piratas, que saqueavam as embarcações que seguiam em direção à Europa.

Em 1718, o navio francês Le François, carregado de prata retirada do Chile, seguia rumo à França quando foi atacado por piratas a bordo da sumaca Louise, próximo à costa brasileira. Conhecedora da Baía de Pa­ranaguá, a embarcação francesa tentou se proteger em águas paranaenses, mas foi seguida pelos piratas.

Ciente do risco que se aproximava, a população parnanguara pediu proteção a Nossa Senhora do Rosário e foi atendida. Quando o navio pirata se aproximava da cidade, uma forte tempestade se formou, fazendo com que a embarcação afundasse próximo à Ilha da Cotinga. Muitos piratas se salvaram e se estabeleceram na cidade, formando famílias que existem até hoje. Análises dos documentos recuperados na embarcação apontam os sobrenomes Fedalto e Du Bois como de alguns dos piratas do Louise.


Embarcações
Cerca de 50 navios estão afundados no litoral paranaense. Veja as histórias mais conhecida

Cormorant: O cruzador da Marinha Britânica perseguia navios negreiros no litoral paranaense. Em junho de 1850, envolveu-se em uma batalha em frente à Ilha do Mel e foi atingido. O Cormorant não chegou a afundar, mas os brigues Donna Ana e Sereia foram incendiados. O Donna Ana se encontra na direção da Praia do Miguel, na ilha.

Dasland: O navio saía do Porto de Paranaguá em 1970 e se chocou em outra embarcação durante a madrugada. Para não atrapalhar o fluxo de navios que de dirigiam ao porto, o Daslan seguiu para um banco de areia, onde, em dez horas, encalhou e tombou.

Argentino: Assim como o Vapor São Paulo e o Daslan, o Argentino afundou depois de se chocar com um banco de areia. A embarcação está em mar aberto, próximo ao Farol das Conchas, na Ilha do Mel.

Mataripe: Navio carregado de munição bateu nas pedras e acabou em frente à Praia Deserta, na Ilha de Superagui.


Entre e fique à vontade

Famílias de Paranaguá abrem as portas de suas residências e recebem turistas como hóspedes

Gazeta do Povo | 24 de junho de 2011

Turistas que, mesmo longe de casa, procuram por um ambiente acolhedor para se hospedar encontram, em Paranaguá, a oportunidade de conhecer um novo tipo de acomodação. Incentivados pela Fundação Municipal de Turismo (Fumtur) e pelo Moto Clube Robalos Rebeldes, alguns moradores da cidade estão abrindo as portas de suas casas para hospedar visitantes.

Realizado desde o ano passado, o programa Hospedagem Familiar foi criado para atender à alta demanda por hotelaria durante o Paranaguamotos – Encontro Nacional de Motociclistas, que ocorre no mês de agosto. Nas últimas edições do evento, os cerca de 1,2 mil leitos disponíveis na cidade não foram suficientes para acomodar todos os participantes, que chegaram a dormir em barracas montadas nas praças.

Inédito no litoral paranaense, o programa é baseado em experiências que já acontecem na Europa. Ao invés de apenas se instalar em um hotel, o turista é recebido pelo anfitrião, que cuida pessoalmente de todas as suas necessidades, durante a estada na cidade. Os valores das diárias são equivalentes a hospedagens convencionais, em estabelecimentos de categoria semelhante. “A diferença é que não se presta somente o serviço, mas oferece-se um ambiente que é familiar e que favorece a troca de cultura”, destaca a coordenadora do programa, Dayanny Pires de Oliveira. O turista escolhe a residência onde deseja se hospedar pelo site da fundação e paga 50% do valor da diária para efetuar a reserva.

Vagas
As famílias interessadas em receber turistas passam por uma seleção, que avalia a localização e a estrutura das residências. Os moradores também recebem orientações sobre como receber bem os hóspedes e indicar os pontos turísticos da cidade. Assim como os hotéis, as residências são classificadas nas categorias econômica, turística e superior.

Na primeira edição, o programa teve 20 casas inscritas, mas apenas duas ficaram disponíveis devido à estrutura que oferecem. Para este ano, a expectativa é contar com novas famílias anfitriãs. A mobilização dos interessados já começou.

A hospedagem familiar funciona o ano inteiro, com possibilidade de acomodar visitantes durante as festas da Tainha e das Nações, que ocorrem nos próximos meses. O programa foi premiado pelo Ministério do Turismo como uma das melhores práticas entre os 65 municípios indutores do desenvolvimento turístico, que tem foco em investimentos nos padrões de qualidade na recepção de viajantes. Os primeiros resultados também animaram os integrantes da Fumtur, que já têm planos futuros para o programa. “Pensamos na hospedagem familiar como uma opção para a Copa do Mundo de 2014”, revela Dayanny.

Serviço:
Mais informações sobre o programa Hospedagem Familiar estão disponíveis no site www.fumtur.com.br


Casa de família com café, internet e academia
A participação da empresária Cassia Lisboa Pereira, 46 anos, no programa de hospedagem familiar aconteceu de uma forma inesperada. Dona de uma loja, ela não tinha ideia de como receber turistas em casa. A oportunidade surgiu a partir da mobilização da Fundação Municipal de Turismo (Fumtur) com os moradores de Paranaguá.

De olho na fonte de renda extra, a empresária fez pequenos reparos na estrutura, além de comprar móveis e roupas de cama, investimento que chegou a R$ 1,2 mil. Com a casa adaptada, ela recebeu dez pessoas durante o encontro nacional de motociclistas, que ocuparam quatro dos cinco quartos da residência. “Acolher as pessoas na sua família é um compromisso muito sério. Temos que atender a todos sem colocar funcionários para prestar o serviço, senão descaracteriza o programa. Por isso foi bem puxado”, conta. Classificada na categoria superior, a casa de Cassia dispõe de TV a cabo, internet sem fio e café da manhã completo. Ela, o marido e o filho adolescente deram conta de todo o trabalho.

Os lucros obtidos com a hospedagem ainda não cobriram os investimentos, mas a empresária garante que fez novos amigos com a experiência. “Ficamos em um clima família. Foi muito divertido.” O grupo mantém contato frequente e alguns turistas já fizeram reservas na casa de Cassia para a festa deste ano.

Para o hóspede Divo Vidal, que mora em Palmeira (PR), o diferencial da hospedagem familiar é se sentir em casa. “Tudo é muito confortável”, afirma. Ele esteve em Paranaguá no ano passado e pretende utilizar mais as hospedarias familiares.

Prevendo mais movimento, a empresária prepara novas melhorias na casa. Já montou uma academia de ginástica e ainda pretende atender à principal reivindicação dos apaixonados por motocicletas: construir uma cobertura para abrigar os veículos.


Tainha reina na festa e na mesa caiçara

Festa da tainha em Paranaguá ganha versão nacional e dá início à temporada do pescado

Gazeta do Povo | 27 de maio de 2011

Neste ano, a Festa da Tainha de Paranaguá – de 25 de junho a 10 de julho – ganha sua primeira versão nacional. Além dos pescadores do litoral do estado, dezesseis municípios de São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul foram convidados a participar do evento, que reúne quatro festividades: 26.ª Festa da Tainha, 34.ª Festa do Pescador, 3.ª Festa Regional da Tainha e 1.ª Festa Nacional da Tainha. A proposta é que todos “vendam seu peixe” e movimentem a região na época mais fria do ano, quando a captura da tainha em águas paranaenses é maior.

Antes mesmo de portar o título de evento nacional, a festa parnanguara registrava números grandiosos. No ano passado foram comercializadas 25 toneladas de tainha assada – prato típico da região – e 12 toneladas do peixe fresco. A expectativa para este ano é aumentar o volume em até 5 mil quilos. “Esta é a grande oportunidade de comercialização do peixe por todas as colônias do nosso litoral. Além disso, com a transformação da festa em um evento nacional, tentamos fazer com que o Sul do país também seja lembrado pela produção da tainha”, afirma o presidente da Fundação de Turismo de Paranaguá (Fumtur), Luiz Fernando Gaspari de Oliveira Lima.

Paraná
Pelo menos dez colônias de pescadores da Baía de Paranaguá participam do evento. Também estarão na cidade os outros cinco municípios paranaenses produtores de tainha: Guaraqueçaba, Antonina, Guaratuba, Pontal do Paraná e Matinhos. Sem cultura pesqueira, Morretes estará presente com seus produtos de artesanato.


Filé crocante
Outra possibilidade de preparo da tainha é o filé grelhado, prato preparado rapidamente. O chef Luiz Carlos Palmeira da Silva, do restaurante Bar do Victor, também aponta outra vantagem da receita: ela descarta apenas os espinhos, o couro e a gordura.

Ingredientes
Tainha cortada em filés
Manteira para untar a frigideira
Trigo
Tempero suave (limão e sal)

Modo de preparo
Deixe os filés da tainha marinados em um tempero suave por aproximadamente 10 minutos. Enquanto isso, aqueça a frigideira ou a chapa e unte com margarina.

Antes de colocar os filés no fogo, passe-os no trigo e tire o excesso, para evitar que o peixe grude na frigideira. Acomode os filés na frigideira quente e deixe dourar por aproximadamente 10 minutos. Não é preciso virar o peixe várias vezes, apenas dourar um lado e depois o outro. Uma dica do chef para se certificar de que a tainha já pode ser virada é observar os lados do filé, que cria uma camada dourada. Depois de dourado, o filé está pronto para ser servido. Acompa­nhado de farofa com frutos do mar, salada verde e arroz com brócolis.


Medicamentos à moda antiga

Em Antonina, farmácia centenária mantém a memória da cidade em objetos e mobiliário históricos

Gazeta do Povo | 27 de maio de 2011

Pendurado na parede, um pequeno anúncio no jornal de Antonina, datado de 12 de novembro de 1911, revela muito mais do que um estabelecimento com “completo sortimento de drogas, productos chimicos e pharmaceuticos ou preparados nacionaes e estrangeiros”. Publicado há 100 anos, o anúncio prova que a Farmácia Internacional está entre as mais antigas em funcionamento no estado.

Centenária, a pharmacia tornou-se uma espécie de museu, que mantém as portas abertas para a população. O local guarda cerca de 3 mil objetos, como frascos, equipamentos e medicamentos antigos, além de mobiliário original, da década de 1930. Tudo que fica exposto aos visitantes é mantido pelo farmacêutico André Luiz Picanço Carraro, 58 anos, que há seis entrou com o pedido de tombamento pelo patrimônio histórico estadual e federal. “Esta farmácia não pertence mais somente à minha família. Faz parte de Antonina e é um ponto turístico da cidade. Seria muito egoísmo da minha parte fechar as portas e cobrar ingresso aos visitantes”, afirma.

Carraro herdou o estabelecimento de seu pai, que foi oficial de farmácia e adquiriu o prédio em 1940. Ele conta que, naquela época, um consultório médico funcionava no piso superior do imóvel e, no mesmo lugar, o paciente era consultado, passava por exames simples e comprava seus medicamentos manipulados.

Receitas da vovó
Desde 1976 à frente do negócio, o farmacêutico alia a história com métodos modernos de atendimento. De frente para a balança de ponteiros, uma balança digital se encarrega de aferir a pressão arterial, o peso e a altura do cliente. “Manter a farmácia como um museu é importante para que os jovens de hoje conheçam, ao vivo e em cores, como era a realidade ontem”, diz.

Entre tantas mudanças de gerações, o que Carraro mais sente falta é da produção dos medicamentos manipulados, que deixaram de ser feitos na Farmácia Internacional após determinações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Quando ainda era recém-formado, o farmacêutico chegou a produzir mais de 170 medicamentos diferentes, como xarope de guaco ou limão bravo e água vegeto mineral canforada. Ele ressalta que se tratava de produtos dificilmente encontrados nas grandes redes de drogarias e que eram muito eficientes.

Mesmo com a chegada da tecnologia, Carraro ainda faz questão de manter duas tradições dos tempos passados. Como muitas cidades do interior, o estabelecimento é fechado durante o horário de almoço e, além de uma caixa com medicamentos, o cliente leva para casa uma palavra amiga. “Consigo aliar o profissionalismo farmacêutico com a ajuda à comunidade. Ás vezes um conselho é suficiente para melhorar o astral do paciente”, garante.


Cercadas de natureza por todos os lados

A navegação por águas paranaenses revela dezenas de paisagens naturais das ilhas que saem do roteiro comum

Gazeta do Povo | 27 de maio de 2011

Uma breve navegação pelas baías de Paranaguá e Guaratuba pode revelar novos roteiros, além das conhecidas ilhas do Mel e de Superagui. Ao todo, 70 destinos estão disponíveis para o visitante que deseja conhecer, por completo, o Litoral paranaense, de acordo com o Sistema Integrado de Administração Patri­monial, que reúne cadastros dos imóveis administrados pela Secretaria do Patrimônio da União (SPU).

Há diferentes opções: almoçar de frente para o Porto de Paranaguá, na comunidade pesqueira de Amparo, passear nas áreas de criação de mariscos na Ilha do Teixeira ou conhecer as mais de 10 ilhas de Guaratuba. O visitante ainda pode mergulhar próximo às ilhas dos Currais e de Itacolomi ou apreciar o pôr do sol na Ilha das Peças.

A maioria delas é constituída por formações rochosas, onde não é possível desembarcar mas que, contempladas a distância, oferecem belas paisagens e a observação da vida marinha, como o movimento de botos e golfinhos. As mais procuradas são as ilhas Rasa e do Pinheiro e Pinheirinho, onde é possível ver, do mar, a revoada dos papagaios chauá. Outras são habitadas por comunidades de pescadores. Além das ilhas, as comunidades de Amparo, Piaçague­ra e Eufrasina, na baía de Paranaguá, também são roteiros para os visitantes. Mesmo localizadas no continente, o acesso é feito apenas pelo mar.

Nas ilhas, a programação consiste em apreciar o mar e as paisagens, sem pressa nem horários marcados. “A intenção aqui é não fazer muita coisa. No máximo, uma pescaria no trapiche vendo a paisagem linda que temos do mar e do Porto de Paranaguá”, afirma o presidente da Associação de Moradores do Amparo, Ismail do Rosário.

O dia a dia pouco movimentado foi a principal diferença que Rosângela Lopes Carvalheiro, 33, percebeu em sua rotina desde que, há seis meses, deixou o município de Piraquara, na região Metropolitana de Curitiba, para morar na comunidade. “Aqui o sossego é o que tem de melhor”, conta.

Infraestrutura
Pouco desbravadas, as ilhas e as comunidades de pescadores possuem estruturas simples para receber os visitantes. A Ilha das Peças e a comunidade de Amparo, por exemplo, contam com duas pousadas cada, enquanto a Ilha da Cotinga serve como destino para um breve passeio, pois não possui restaurantes nem serviços de hospedagem.

Os turistas devem tomar alguns cuidados para não prejudicar as áreas visitadas. Em passeios de barco, é recomendado não emitir sinais sonoros para forçar as aves a levantarem voo nas ilhas que servem como berçários. Também não é permitido retirar do lugar ovos dos pássaros e muito menos levá-los para casa. O visitante deve levar consigo água e medicamentos para casos de emergência, além de voltar para o continente todo o lixo produzido.

As mais de 10 ilhas de Guaratuba rendem apenas trajetos de barco, pois o acesso às comunidades pesqueiras que vivem em algumas delas não conta com trapiches para o desembarque. O município, no entanto, pretende melhorar a estrutura para o roteiro marítimo. Uma proposta foi enviada ao Ministério do Planejamento para viabilizar a construção de uma base náutica onde funcionava o antigo mercado municipal. A estrutura ainda não tem previsão para ficar pronta, mas deve concentrar os roteiros para pesca esportiva e passeios de barco pela região.


Como chegar
Os barcos saem de Paranaguá e Guaratuba. Nem todos os destinos têm linhas regulares

Associação Barcopar: O roteiro é definido pelo turista. Os valores variam de acordo com o destino. www.barcopar.com.br ou (41) 3425-6173.

ATM Excursões Marítimas: O barqueiro pode ser contratado por diária. www.barcodepasseio.com – 9194-0098 ou 9821-4629.

Cormorano Ecoturismo: Faz passeios principalmente pela parte norte da baía de Paranaguá. www.cormorano.com.br ou 8403-8056.

Cooperguará Ecotur: Os pacotes são flexíveis e definidos pelos turistas. www.visiteguaraque caba.com.br ou 8497-4281.

Barco Pirata em Guaratuba: Faz o roteiro pela praia e pela baía de Guaratuba. O valor é R$ 15 por pessoa e R$ 10 para crianças até 10 anos. www.barcopirata. tur.br – 9604-7045 ou 9146-0891.

Calango Expedições: Realiza passeios que passam pelas ilhas da baía de Paranaguá. Os preços são de acordo com o roteiro. Informações www.calangoexpe dicoes.com.br, fone 41 3462-2600.

Godwana Ecoturismo: Oferece roteiros para a Ilha das Peças. www.gondwa nabrasil.com.br, fone 3566-6339.

Serra Verde Express / Expedição Lagamar: Realiza um tour até a Ilha do Mel, com saída de Morretes. O passeio passa pelas ilhas da Cotinga e das Cobras. O roteiro inclui o trajeto de trem entre Curitiba e o litoral. A partir de R$ 398 (adulto). www.bwto peradora.com.br ou 3888-3488.


Na Serra, liberdade sobre pedais

A bordo de bicicletas, ciclistas descobrem paisagens únicas, na estrada que liga Curitiba ao litoral

Gazeta do Povo | 27 de maio de 2011

Tirar uma foto em pleno Viaduto dos Padres, na BR-277, que liga Curitiba ao litoral do estado, é uma oportunidade rara. É praticamente impossível estacionar o veículo em algum trecho da rodovia e apenas apreciar a paisagem. Porém, quem se aventura a fazer o trajeto de bicicleta garante que conhece uma Serra do Mar completamente diferente daquela que vemos por trás do para-brisa.

As belas paisagens, e o relaxamento que o passeio oferece, são os principais motivos que levam pessoas de diferentes idades, profissões e classes sociais a experimentar a aventura em duas rodas. “É uma sensação que o carro não dá”, garante Gestenn Berger, de 50 anos, proprietário da empresa Bikesul, que organiza passeios de bicicleta a diversas localidades. As distâncias chegam a quase 100 quilômetros, mas isso não desanima os aventureiros na hora de pegar a estrada.

Durante o percurso, é possível parar para tomar banho de cachoeira e tirar fotos em paisagens que poucos conhecem. “O grande diferencial da bicicleta ser um meio de transporte silencioso, em que você curte toda a beleza visual e sonora. É possível ouvir os pássaros, os rios”, descreve o ciclista Heron Matoso, 55 anos, que, além dos passeios ao litoral, entre eles a descida pela Estrada da Graciosa sob a luz da lua cheia, realiza com o grupo NaturezArLivre viagens a cidades distantes da capital paranaense.

Seguir rotas diferentes dos parques ou das ciclovias e partir para os percursos fora das cidades é, para Berger, uma evolução natural. “Chega uma hora em que a pessoa quer saber o que tem além do muro”, diz. Foi assim que o coordenador de marketing Jairo Roberto da Silva, 37 anos, começou a se aventurar fora dos limites da capital. Três anos depois da primeira pedalada em uma rodovia, ele dedica pelo menos um final de semana do mês para o percurso de bicicleta, muitos deles pela Serra do Mar. “Fazer o passeio não é tão difícil quanto as pessoas imaginam. Além disso, faz bem para a saúde e você interage com outras pessoas.”

A “10 por hora”
Os passeios de bicicleta pela Serra do Mar são momentos de lazer e descontração aos participantes. Por isso, não se caracterizam como uma competição ou um treinamento esportivo, em que a pessoa deve atingir determinada meta. “Tem de ser natural”, define Jairo Roberto da Silva. Desta forma, os grupos deslocam-se em uma velocidade média, que varia entre 10 a 30 quilômetros por hora, e evitam a participação de pessoas que fazem manobras arriscadas e desnecessárias. Independente da rota escolhida, a orientação dos organizadores dos passeios é que o participante tenha o mínimo de condicionamento físico para realizar a atividade e que cada um respeite seus próprios limites, parando quando tiver pedalado o suficiente.


Precauções
As pedaladas na Serra do Mar exigem cuidados especiais para que o percurso seja cumprido em segurança

- Ande sempre pelo acostamento e evite aproximar-se dos carros e caminhões.

- Permaneça atento.

- Não faça manobras arriscadas, elas podem causar acidentes.

- Evite sair sozinho para pedalar.

- Utilize todos os equipamentos de segurança recomendados.

- Leve ferramentas para como chaves de roda, canivete, câmaras e remendo para os pneus, para casos de emergências.

- Verifique a previsão do tempo antes de seguir viagem.

- Utilize protetor solar e repelente de insetos.

- Faça refeições leves antes e durante a pedalada, como frutas e barras de cereais.

- Beba bastante água durante o percurso.

- Vista roupas leves, confortáveis e que sequem com facilidade.

- Não exceda seus limites, o passeio deve ser prazeroso.


Morte por doenças do coração cai na capital

Média anual de óbitos por enfarte diminuiu 3,9% e por doenças cerebrovasculares, 0,8%. Motivos da redução serão conhecidos em 2012

Gazeta do Povo | 27 de maio de 2011

O índice de pessoas que morrem por causa de duas das principais doenças cardiovasculares caiu em Curitiba, em 10 anos. Entre 1998 e 2008, a média anual de mortes por enfarte agudo do miocárdio caiu 3,9% (2,3 mil mortes a menos), enquanto o total de óbitos decorrentes de doenças cerebrovasculares – como os AVCs, acidentes vasculares cerebrais – reduziu 0,8% (número não quantificado pelo fato de a doença não apresentar característica única).

Os números fazem parte de uma pesquisa desenvolvida na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), que analisou os registros do DataSus, o banco de dados do Ministério da Saúde. O estudo mostra que a redução de óbitos em Curitiba, nos 10 anos analisados, seguiu um ritmo mais acelerado do que no período anterior ao estudo. No entanto, os reais motivos que favoreceram a queda só serão conhecidos após a conclusão da segunda fase do projeto, com previsão de acabar no final de 2012.

Com base em experiências de outros países, a fisioterapeuta e doutoranda em Ciências da Saúde Cristina Baena, integrante da equipe responsável pelo levantamento, acredita que o acesso ao atendimento médico e a nova medicação oferecida foram determinantes para a redução do índice. “Em Curitiba, a atenção está mais organizada para atendimento ao enfarte”, diz. Isso também pode explicar as razões pela redução inferior de mortes causadas por doenças cerebrovasculares.

Cristina ainda aponta que o número de óbitos por enfarte na capital paranaense se aproxima a índices alcançados por países desenvolvidos. Já em relação às mortes decorrentes de doenças cerebrovasculares, a cidade se equipara a países em desenvolvimento. “O estudo serve para a estratégia de prevenção às duas causas de morte”, afirma.

Os resultados da pesquisa serão apresentados durante o Congresso Paranaense de Cardiologia, que ocorre hoje e amanhã em Curitiba. O cardiologista e presidente do congresso, José Rocha Faria, afirma que a eficácia no atendimento depende também do conhecimento dos sintomas do enfarte. “Dor no peito já é alerta”, ressalta. De acordo com ele, que também coordenou a pesquisa, os primeiros 30 minutos são determinantes para minimizar as sequelas, uma vez que a falta de irrigação do sangue não afeta várias células do corpo.

Vida saudável
Além do atendimento médico rápido, outro fator considerado importante para reduzir os óbitos causados por doenças do coração é a manutenção de hábitos saudáveis, como alimentação saudável e prática de exercícios físicos regulares. Porém, a crescente obesidade entre a população faz com que os estudiosos acreditem que este fator tenha menor representação na queda dos índices.

Assim como a prevenção, os fatores de risco também são comuns às duas doenças, mas possuem influências diferentes para cada uma delas. O estresse, por exemplo, corresponde a um risco significativo para a ocorrência de enfartes. “O tabagismo representa 33% do risco de morte por enfarte, já no AVC ele responde por 19%”, exemplifica Cristina.


“Minha vida deu um giro”
As primeiras dores no peito não foram suficientes para chamar a atenção do personal trainer Fabricio Machado, 39 anos. Com uma vida movimentada e cheia de compromissos profissionais, ele acreditou que os sintomas, que apareceram há sete anos, eram decorrentes da ansiedade. “Eu já trabalhava na área da Educação Física, praticava exercícios físicos e me alimentava muito bem. Mas estava em um ritmo muito acelerado”, lembra.

A associação entre colesterol alto e estresse fez com que Machado tivesse um enfarte aos 32 anos de idade. “Eu senti a dor algumas vezes, mas ela logo passava. No dia em que eu tive o enfarte ela não passou.” Depois da confirmação da doença, Machado decidiu mudar a rotina.

“Minha vida deu um giro. Antes trabalhava em academias onde as pessoas eram preocupadas com a estética, agora dedico a minha profissão à saúde e à qualidade de vida.” Além do acompanhamento médico, Machado investiu em uma academia direcionada a pessoas que precisam praticar atividades físicas em prol da saúde e diminuiu seu ritmo de vida.


“O homem não é mais violento do que a mulher”

Rejane Aparecida Alves, fisioterapeuta e sanitarista

Gazeta do Povo | 21 de maio de 2011

Apesar dos índices que envolvem os homens em casos de violência – tanto na condição de vítimas como de agressores –, a afirmação de que eles são mais violentos que as mulheres não é correta, principalmente quando se leva em consideração o contexto em que os casos acontecem. Foi a essa conclusão que chegou a fisioterapeuta e sanitarista Rejane Aparecida Alves durante a produção da tese de mestrado As múltiplas e complexas faces da saúde do homem – um estudo da violência em Ribeirão das Neves (MG), pela Universidade Federal de Minas Gerais. Ela ressalta que a violência é consequência das relações humanas, sem relação com o sexo. “Reduzir a violência ao gênero é muito pouco”, critica.

Qual foi o objetivo da pesquisa?
A proposta inicial era fazer um estudo sobre a saúde do homem e a relação com a violência, isto porque a violência é o maior agravo para a saúde do homem. Porém eu e minha orientadora percebemos que alguns estudos eram fundamentados apenas em estatísticas e nos estereótipos culturais de masculinidade, o que dá o entendimento de que o homem é mais violento que a mulher. De fato, as estatísticas são altas, a taxa de homicídios envolvendo homens é 12 vezes maior que as mulheres, de acordo com dados de 2007 do Ministério da Saúde. Mas discordamos que o homem é mais violento do que a mulher.

O que o estudo revelou?
A violência não é uma questão de gênero, mas causada por um contexto. Eu pergunto “Qual é o conceito de violência?” É um conceito muito amplo, que depende de múltiplas e complexas causas. Para conhecer realmente os dados sobre o assunto, não podemos nos basear apenas no resultado final das estatísticas, mas no contexto, além do consenso de que o homem é mais violento que a mulher.

Ambos os gêneros são vulneráveis à violência, tanto na condição de vítimas como de agressores. O que define o papel de cada um são as relações de poder. A mulher também exerce violência, que é determinada pelo papel social que ela exerce. Se ela tem um papel mais forte no domicílio, por exemplo, a questão da violência acontece no ambiente familiar, em que as vítimas em potencial são as crianças. Mesmo que saibamos do processo de mudança no papel da sociedade, o modelo cultural patriarcal ainda é muito forte nesta questão.

Então violência exercida pelas mulheres é diferente da cometida por homens?
A maior habilidade do homem é a força. É óbvio que ele é biologicamente mais forte. Em contrapartida a mulher tem mais habilidade na violência verbal. É uma prática de violência mais simbólica, o que não significa que ela não pratique e que faça isso contra alguém que tenha força menor que a dela ou contra seus pares. Mas isso também não exime a mulher da violência física.

Como a pesquisa foi feita?
Fiz um estudo qualitativo, com grupos focais na cidade de Ribeirão das Neves, em Minas Gerais, que registra altos índices de violência. Promovi 30 grupos de discussões, com pessoas dos dois sexos e com a faixa etária entre 10 e mais de 60 anos, para realmente identificar as diversas faces da violência. Toda a análise foi fundamentada na teoria de Hannah Arendt, pesquisadora que afirma a violência é consequência das relações humanas, independente do sexo.

Quais as situações encontradas nos grupos focais?
Constatamos que muitos dos homicídios praticados por homens são mandados por mulheres. Pode ser que eles tenham realizado, mas foram pagos por uma mulher. Também verificamos que a mulher se envolve mais na violência simbólica, principalmente como autora. Em muitos casos em que o homem cometeu o ato de violência contra a mulher, foi antes vítima da violência simbólica.

O que é preciso, então, para as análises dos dados sobre violência entre gêneros?
Temos que relativizar. Não desconsidero que os homens se envolvem intimamente com a violência, mas não são só eles. Não se pode dizer que a violência é coisa de homem, não é, mas dada pela condição humana. Cada um possui um perfil diferente, acarretado pela posição de dominação. A violência tem faces que não se traduzem em números, mas no contexto social e para saber quais são eles é preciso ir até as comunidades, perguntar para as pessoas.


Onde mora a história

Imóveis que contam a origem do povo paranaense recebem obras de revitalização

Gazeta do Povo | 29 de abril de 2011

Porta de entrada para a colonização do estado, o litoral guarda em seus edifícios parte da história do Paraná. Além de Paranaguá, os municípios de Antonina, Morretes e Guaratuba possuem construções reconhecidas como patrimônio histórico e que acompanharam o desenvolvimento paranaense desde seus primeiros habitantes.

As quatro cidades acomodam cerca de 670 imóveis tombados pelo patrimônio estadual e federal. São construções importantes que ficarão preservadas, sem a possibilidade de demolição e com restaurações que apenas mantenham os aspectos originais. Além destes, outros imóveis ainda aguardam a conclusão de estudos para a concessão do título.

Em Guaratuba, são duas construções nessa categroria: a Igreja Matriz Nossa Senhora de Bom Sucesso, patrimônio estadual e federal, construída na metade do século 18, e o Casarão do Porto, em estilo colonial e reconhecido pelo estado. Morretes, com quatro imóveis tombados pelo patrimônio estadual, também vive um período de reformas. Duas grandes obras estão em andamento: a da Casa Rocha Pombo e a da Igreja de São Benedito. Possivelmente erguida em 1820, a primeira construção possui dois acessos para a residência, uma direcionada para a rua e a outra para o rio, e representa os tempos em que o Nhundiaquara era amplamente utilizado. A igreja foi construída em 1760 por escravos, como relatam os historiadores, e era utilizada pela irmandade de São Benedito, que reunia escravos e homens livres.

Todo o centro histórico de Antonina, com aproximadamente 250 imóveis, está em processo de concessão do título de patrimônio histórico pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), enquanto algumas construções já foram contempladas em nível estadual. O mesmo ocorreu com Paranaguá. A cidade concentra em torno de 400 imóveis históricos. O setor mais completo é o chamado centro pioneiro, composto por edificações com estilo luso-brasileiro neoclássicas, além de igrejas do período barroco.

O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) das Cidades Históricas, lançado em 2009, impulsionou as obras no litoral paranaense. Paranaguá foi a primeira cidade do estado a ingressar no programa e em breve irá iniciar uma série de ações no setor histórico. “Serão realizados desde programas sobre educação patrimonial, a investimentos e o plano de acessibilidade e mobilidade urbana”, acrescenta o arquiteto Luiz Marcelo Bertoli de Mattos.


Restaurar garante o futuro
Ao mesmo tempo em que preserva a história do Paraná, a manutenção dos imóveis também representa uma forma de construção da cidadania, conforme afirma o superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) no Paraná, José La Pastina Filho. “Este é um meio de conhecer suas origens e valorizar a ação dos antepassados”, diz.

Para o historiador e diretor da Secretaria da Cultura de Morretes, Eric Hunzicker, esta também é uma garantia de futuro. “Os imóveis de época são espelhos de como a sociedade era no tempo em que foram construídos. Sem isso, não temos passado e, sem passado, o futuro não existe”, argumenta.

No entanto, para que os imóveis sejam valorizados, é necessária também a sensibilização da comunidade. “A gente só protege aquilo que gosta”, ressalta a coordenadora do patrimônio cultural da Secretaria de Estado da Cultura (Seec), Rosina Pachen. “Não adianta o imóvel ser apenas protegido por lei. É preciso que a comunidade tenha respeito e valorize. Assim ajudará a preservar”, complementa.


Descontos para atrair turistas o ano todo

Programa oferece preços especiais em vários setores do comércio para estimular a presença de visitantes durante a baixa temporada

Gazeta do Povo | 29 de abril de 2011

O programa de descontos Passaporte Litoral, que oferece preços diferenciados em produtos e serviços disponíveis no litoral paranaense durante a baixa temporada, é a grande aposta dos empresários para estimular os turistas a visitarem a região em todos os meses de 2011. A expectativa é grande, principalmente após as fortes chuvas que caíram no início de março e causaram redução significativa no movimento do comércio local.

O Passaporte Litoral foi lançado em outubro de 2010 com o objetivo de movimentar a orla paranaense durante todo o ano. Válida para o período entre março e novembro, a iniciativa vigorou apenas em novembro de 2010, tempo que não foi suficiente para apresentar a proposta aos consumidores.

A previsão é de que nos próximos meses cerca de R$ 6 milhões sejam oferecidos aos turistas em descontos de cerca de 10% em cada serviço. Por enquanto, 58 estabelecimentos – como pousadas e restaurantes – aderiram ao programa e preparam novidades para os turistas.

Para os comerciantes, a previsão de retorno é positiva. O presidente da Agência de Desen­volvimento do Turismo Sustentável do Litoral do Paraná (Adetur Litoral), Carlos Cesar de Paula Gnata, estima que o passaporte movimentará cerca de R$ 50 milhões. “Lembrando que os descontos são aplicados sobre os valores de baixa temporada”, ressalta. Junto com a Adetur, participam do projeto o Sebrae/PR e a concessionária Ecovia.

Receita certa
A empresária Fátima Aguiar, proprietária do Restaurante Burguesia, no balneário Pontal do Sul, em Pontal do Paraná, garante que o programa é uma receita que traz bons resultados. Ela conta que todo o projeto começou a partir de uma parceria que firmou com a Ecovia há alguns anos, quando seu restaurante era divulgado na revista da concessionária. “Tive um retorno muito bom. O movimento aumentou em 10% na baixa temporada”, lembra.

Em seguida, ela sugeriu à Adetur para estender a parceria a todo o litoral. “O litoral vive do turismo e assim conseguimos alavancar o movimento na baixa temporada. O turista pode vir. Ele irá usufruir de uma gama de atrativos.”

O sócio-proprietário do Restaurante La Bodeguita, em Matinhos, Sidney Agassi, também está confiante com o movimento gerado pelos consumidores do Passaporte Litoral. Ele afirma que, além dos descontos, o diferencial da proposta é a integração do ramo empresarial para promover uma ação conjunta de incentivo ao turismo. “Temos que nos unir.” Além disso, Agassi espera os clientes com novidades no cardápio, que contará em breve com pratos japoneses. “O passaporte é uma ótima ideia, vai atrair muita gente para o litoral”, acredita.

Ilha do Mel
A Ilha do Mel, um dos destinos preferidos dos turistas no Paraná, conta com o maior número de adesões ao programa. Entre as 58 empresas, 21 disponibilizam descontos na baixa temporada da ilha.

Oferecendo descontos de 10% nas diárias, o proprietário da Pousada e Restaurante Orquídeas, Marcos Gamper, espera aumento de pelo menos 30% nas hospedagens. “Estamos confiantes de que teremos muito movimento”, conta. Para isso, já prepara melhorias nas instalações da pousada e traz novos pratos para o restaurante. A principal novidade no cardápio será o barreado. “Aqui na ilha, só tem o meu barreado”, diz.

Até novembro, estão programadas diversas campanhas de divulgação do Passaporte Litoral para que a promoção seja usada durante toda a baixa temporada. Para isso, a Adetur busca novas parcerias para fazer o anúncio da proposta. Empresários, o governo do estado e o Ministério do Turismo estão na mira da associação.


Entenda como funciona o Passaporte Litoral:

- 60 mil passaportes foram impressos para serem distribuídos aos turistas. Eles estão disponíveis nos postos de Serviço de Atendimento ao Usuário (SAU) da concessionária Ecovia, localizados na BR-277.

- O turista pode usar cada promoção uma única vez em 58 estabelecimentos comerciais dos sete municípios do litoral, como bares, restaurantes, hotéis, pousadas, agências de viagens, postos de combustíveis e outros. O desconto oferecido para cada serviço é de cerca de 10%.

- Após a concessão do desconto, o passaporte será carimbado pelo estabelecimento, o que inviabiliza a utilização da mesma promoção.

- O regulamento e a lista de estabelecimentos participantes do Passaporte Litoral estão disponíveis no site da Agência de Desenvolvimento do Turismo Sustentável do Litoral do Paraná (www.adeturlitoral.com.br).

Páscoa traz “refresco” para o comércio

Após a enchente de março, o movimento do feriado enche de esperanças os comerciantes do litoral. Mas os turistas precisam continuar descendo a serra para que o comércio se recupere

Gazeta do Povo | 29 de abril de 2011

O movimento no feriadão de Páscoa e de Tiran­dentes, na semana passada, trouxe um novo ânimo ao comércio do litoral paranaense, após as chuvas que castigaram a região. Nos quatro dias de folga, o movimento foi, em média, 40% superior ao registrado no carnaval e motivo de comemoração entre os comerciantes.

Números das organizações de empresários mostram que hotéis e pousadas atingiram a marca de 90% na ocupação. Os estabelecimentos comerciais e restaurantes também ficaram lotados – situação bem diferente da encontrada nos últimos dias. Na Ilha do Mel, o índice de hospedagem chegou a 98% e muitos restaurantes esgotaram seus mantimentos.

“O feriado superou as expectativas, o movimento foi bom em todos os municípios”, afirma o presidente da Agência de Desenvolvimento do Turismo Sustentável do Litoral do Paraná (Adetur), Carlos Cesar de Paula Gnata. Para ele, a visita dos turistas serviu para dar um novo estímulo aos comerciantes da região. “O resultado nos animou. Mostrou que o comerciante está preparado e consegue recuperar o movimento perdido”, diz.

No entanto, mesmo comemorados pelo setor empresarial, os bons resultados ainda não foram suficientes para eliminar os prejuízos acumulados desde março deste ano. A queda no movimento após as chuvas chegou a 95% em comparação ao mesmo período do ano passado. “Conseguimos ‘tapar parte do buraco’”, diz o presidente da unidade no litoral da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes – seção Paraná (Abrasel-PR), Manuel Alapont.

Fôlego
Para que o litoral siga em recuperação é preciso manter o fôlego dos últimos dias durante todo o ano, inclusive na baixa temporada. Desta forma, o empresariado local aposta em eventos e festas culturais que acontecem nos próximos meses, além de programas de descontos como o Passaporte Litoral (leia mais sobre ele na próxima página) para atrair os turistas.

Empolgado com a campanha de sensibilização dos turistas após as chuvas, o comércio pretende copiar o mesmo modelo de divulgação para o calendário de festas que ganhou âmbito regional. Já estão em andamento ações para as comemorações religiosas, como a de São Pedro, São João e do Divino. Em agosto, o Festival de Turismo do Litoral será o destaque da programação. O evento permitirá a capacitação ao empresário local e também será uma oportunidade de divulgar os destinos do litoral paranaense e seus produtos aos turistas.


Região sai fortalecida da tragédia
Em meio a tantos prejuízos causados pelas chuvas, um ponto positivo se destacou diante do cenário de destruição. Os municípios do litoral fortaleceram a rede de mobilização e cooperação para juntos impulsionarem o turismo durante todo o ano. Desde a segunda quinzena de março, pelo menos quatro encontros reuniram comerciantes, moradores, entidades de classe e representantes dos governos municipais e estaduais para discutir estratégias conjuntas de ação.

Além de solicitarem o repasse acelerado de recursos para os municípios afetados pelas chuvas, os representantes municipais estabeleceram uma campanha de regionalização do turismo no litoral, em que artesãos e comerciantes das cidades participam juntos das festas que irão acontecer no decorrer do ano. “Outra proposta é transformar as áreas atingidas em parques, para que fique a imagem do que aconteceu e ninguém se esqueça, mas continue investindo no litoral”, afirma o prefeito de Paranaguá, José Baka Filho, que também preside a Associação dos Municípios do Litoral (Amlipa). A proposta ainda está em andamento.

Para os comerciantes, a mobilização dos municípios dá novo ânimo para projetos a curto e longo prazo. “Dentro da tragédia, passamos a nos unir mais, estamos todos lutando pela mesma causa”, diz a proprietária do restaurante Terra Nossa, em Morretes, Maristela Stopinski Robassa. Além de eventos que irão acontecer ainda em 2011, o empresariado do litoral também já se prepara para a Copa do Mundo de 2014, quando o Paraná irá sediar partidas entre as seleções e vai receber turistas de todo o mundo.

Travessias cheias de história

O vaivém de balsas e ferrys na Baía de Guaratuba completa 51 anos

Gazeta do Povo | 29 de abril de 2011

Fazer a travessia da Baía de Guaratuba a bordo de uma balsa ou de um ferryboat faz parte da rotina de muitas pessoas que visitam ou moram no litoral paranaense. Em 2011, o vaivém das embarcações entre Caiobá e Guaratuba completa 51 anos e resiste às discussões sobre a construção de uma ponte de acesso entre as duas localidades.

Com média de 3 mil embarques diários e cerca de 4 milhões de passageiros ao ano – considerando os feriados, quando o movimento chega a dobrar –, o Paraná é o estado que registra o maior número de passageiros em comparação às outras localidades onde a empresa F. Andreis, responsável pelo serviço, atua.

Ao todo, cinco embarcações – três ferryboats e duas balsas – fazem o trajeto de 1,2 quilômetro diariamente. Cada viagem dura em média sete minutos, sem contar o período de embarque e desembarque dos veículos. O tempo é curto, mas suficiente para que não faltem histórias de marinheiros e mestres.

O carnaval é a época mais movimentada: em média, 8 mil pessoas passam pela baía. É neste feriado e nas festas de fim de ano que a animação dos passageiros chega a situações extremas: pessoas pulam da embarcação para se refrescar na água ou aproveitam a travessia para pescar. Nenhuma destas práticas é recomendada, pois oferecem riscos à segurança dos passageiros.

Também estão nos registros das travessias os incidentes com carros que caem durante as manobras de embarque, além de veículos que não são engrenados corretamente e acabam pendurados nas balsas em movimento.

Manutenção
Até 1991, o poder público era o único responsável pela travessia. Foi quando a F. Andreis começou a trabalhar no local, assumindo as balsas enquanto o governo do estado fazia a travessia com os ferryboats. Com a licitação de 1996, a empresa ficou responsável por todas as embarcações que fazem o trajeto. O contrato teve duração de dez anos. Em 2009, uma nova concorrência foi aberta e a F. Andreis assumiu a concessão até 2019.

O início do sistema de travessias pela baía em 1960 trouxe para Guaratuba uma nova oportunidade de emprego para a população local. Anos depois, com a chegada da F. Andreis à cidade, vieram muitos trabalhadores de outros municípios, ao mesmo tempo em que a empresa incentivou a capacitação dos residentes interessados. Para trabalhar no sistema é preciso carteira de habilitação expedida pela Marinha Brasileira. O profissional começa como marinheiro de máquinas e pode chegar a mestre, responsável pela navegação.


Trabalho passa de pai para filho
O trabalho nas embarcações que fazem a rota entre Caiobá e Guaratuba é considerado uma paixão por muitos mestres e marinheiros. Na profissão há 38 anos, o mestre Messias Rodrigues Cordeiro, de 59 anos, garante que não teve nenhum dia de trabalho em terra. Todos foram sobre as águas. “Parece que nasci para fazer isso. Está no sangue”, diz.

Cordeiro é um dos trabalhadores que vieram para o litoral do estado especialmente para a manutenção da travessia e é um dos funcionários mais antigos da F. Andreis. Trouxe também a família para viver e trabalhar no lugar: o cunhado e três filhos são marinheiros, e outra filha atua na área administrativa. “Quem entra no serviço de água não sai mais”, afirma o mestre.


Qual é a diferença?
Conheça as diferenças dos tipos de embarcações usadas na travessia na Baía de Guaratuba:

Ferryboat: Possui estrutura de propulsão própria, em que os motores ficam na embarcação. Caso ocorra algum defeito no ferryboat, todo o equipamento fica impossibilitado de funcionar. No litoral, há três ferrys, cada um com capacidade para acomodar cerca de 40 veículos.

Balsa: É composta também por rebocadores, responsáveis pela movimentação da estrutura. As balsas são consideradas mais operacionais, uma vez que em situações de problemas no motor, o rebocador é facilmente substituído, o que não prejudica o funcionamento. Dois conjuntos de balsas e rebocadores realizam a travessia na baía de Guaratuba. Cada um deles comporta aproximadamente 75 veículos.

Há dois anos, Tiago Rodrigues Cordeiro, 23, um dos filhos de Messias, entrou na navegação. Ainda marinheiro auxiliar, o jovem conta que não esperava ingressar na profissão, mas começou a se envolver vendo em casa a dedicação dos familiares. Agora, ele pretende chegar ao cargo de capitão máximo, inspirado na experiência do pai. “Os marinheiros aqui admiram muito meu pai. Se eu conseguir chegar à metade do que ele é, já está bom”, afirma.

Carli Filho pode voltar a dirigir se quiser

Ex-deputado acusado pela morte de duas pessoas em um acidente já tem o direito de recuperar a habilitação. Mas isso está certo?

Gazeta do Povo | 04 de abril de 2011

Após cumprir o período de suspensão da carteira de habilitação, o ex-deputado estadual Luiz Fernando Ribas Carli Filho poderia voltar a dirigir se quisesse. Para isso, bastaria entrar com um pedido no Departamento de Trânsito do Paraná (Detran-PR) e fazer um curso de reciclagem, conforme determina o Código de Trânsito Brasileiro (CTB). Segundo o Detran-PR, não existe mais nada que impeça Carli Filho de dirigir.

Carli Filho se envolveu em um acidente de trânsito na madrugada do dia 7 de maio de 2009, que culminou com as mortes de Gilmar Rafael Souza Yared, de 26 anos, e Carlos Murilo de Almeida, 20 anos. O ex-deputado estaria em alta velocidade e embriagado. Ele responde a um processo na Justiça por duplo homicídio com dolo eventual, quando o acusado assume o risco de matar. Em janeiro passado, a Justiça decidiu que Carli Filho irá a júri popular pelo crime ao qual é acusado.

Diante disso, fica a pergunta: como alguém suspeito de causar um acidente tão grave pode voltar a guiar um carro antes da decisão final da Justiça? Segundo especialistas, o processo administrativo caminha em separado da ação judicial e um não interfere no andamento do outro. O fato de um motorista responder por um crime de trânsito na Justiça não interfere nos procedimentos do Detran para a devolução da habilitação após o período de suspensão.

Apesar da gravidade do acidente de Carli Filho, a suspensão da carteira dele não foi determinada pela colisão, mas pelas 30 multas aplicadas ao longo de seis anos e que geraram um acúmulo de 130 pontos na habilitação. “O Detran não pode ser acusado de negligência. Ele cumpriu sua parte”, afirma o presidente da Comissão de Trânsito da seção Paraná da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-PR), Marcelo Araújo.

Ele explica que, após a vigência da punição, apenas o Judiciário pode determinar a suspensão imediata da habilitação como uma medida cautelar prevista no artigo 294 do Código de Trânsito. Isso, no caso do ex-deputado, não ocorreu. Caso estivesse com a carteira regularizada e com condições físicas adequadas para dirigir no dia seguinte ao acidente, o ex-deputado poderia ter feito isso sem qualquer impedimento.

Legislação
Não existem alternativas à suspensão da carteira além do período determinado pela lei. Ao final da punição, o motorista tem direito de reaver sua habilitação. Mas se cometer uma nova infração grave ou gravíssima no período de 24 meses recebe a penalidade em dobro e pode ainda ter a carteira de motorista cassada.

“É a lei de trânsito. Paralela­mente a isso, o acusado é julgado pelo Código Penal e quando o processo é concluído ele pode ser considerado culpado e aí sim ter a carteira de motorista cassada”, afirma o professor doutor do Departa­mento de Geotécnica e Transportes da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Uni­versidade Estadual de Campinas (Unicamp), Diogenes Costa, que prefere não opinar sobre a eficácia ou não da lei.

Para Araújo, da OAB, o procedimento determinado pelo Código de Trânsito não significa que a legislação é leve e não pune os acusados de crimes de trânsito. Pelo contrário, é uma oportunidade de “evitar uma decisão precipitada”. “Esta legislação respeita o estado de direito, que é uma conquista em relação ao código anterior editado na época do regime militar”, analisa. Ele define a medida como um “grande direito de defesa até a decisão final” pelo Judiciário.

Na avaliação do jurista Luiz Flávio Gomes, a suspensão da habilitação pelo período de um ano é uma pena dura. Mas, para ele, a sensação de impunidade em episódios como o de Carli Filho é decorrente mais da demora em julgar e penalizar os culpados pelos crimes de trânsito do que da possibilidade do acusado voltar a dirigir normalmente. “O processo administrativo tem prazo para acabar, mas o criminal tem a possibilidade de recursos, o que demora. Além disso, a Justiça tem uma taxa de congestionamento de 71%. A cada 100 processos, 71 não são julgados e ficam para o próximo ano”, critica.


Autuação só na hora da infração
Depoimentos de testemunhas ou confissões de acusados não são subsídios suficientes para que uma autuação de trânsito seja efetivada. O presidente da Comissão de Trânsito da seção Paraná da Ordem dos Advogados do Brasil, Marcelo Araújo, explica que em casos de acidentes, este procedimento não pode ser retroativo, ou seja, precisa acontecer durante o atendimento à ocorrência pelo próprio agente de trânsito. “Muitas vezes pessoas machucadas não são autuadas porque são levadas para o atendimento médico antes da chegada da polícia”, diz.

De acordo com Araújo, o policial não pode opinar sobre os casos que atende e os boletins de ocorrência também não são determinantes para comprovar a culpa de algum acusado. Eles fazem parte das provas e trazem elementos de como ficou a situação do acidente e o que aparentemente aconteceu de acordo com os relatos dos envolvidos.

Futuro se traduz em mobilidade

Mudanças previstas pelo Ippuc têm foco no aprimoramento do sistema viário e do transporte público

Gazeta do Povo | 29 de março de 2011

Enquanto registra um crescimento populacional de 0,96% e aumento na frota de veículos na casa de 5%, Curitiba se consagra como uma das cidades brasileiras com o maior número de carros. A situação é percebida pelos 432 quilômetros quadrados da cidade e também faz parte dos planos de curto, médio e longo prazo do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), órgão ligado à prefeitura.

Ao invés de grandes mudanças na estrutura de Curitiba, os cidadãos podem esperar para os próximos anos ações que seguem a mesma linha aplicada na capital até o momento. O foco principal do Ippuc diz respeito ao aprimoramento do sistema viário e do transporte público. “Precisamos trabalhar a mobilidade como um todo, com a integração modal. Temos que fazer com que a cidade não pare e mantê-la num patamar de tráfego aceitável como o que temos hoje”, afirma o presidente do órgão, Cléver Almeida. Segundo ele, apesar da grande frota de veículos, a capital consegue manter melhor índice de fluidez do trânsito se comparada a outros municípios com menos veículos.

A definição de Curitiba como uma das sedes da Copa do Mundo em 2014 e a possibilidade de conseguir recursos com o governo federal anteciparam a realização dos projetos e podem concretizar o mais ousado: o metrô. O projeto básico do novo modal está pronto e foi apresentado ao governo federal. Com isso, o Ippuc acredita ter condições de receber parte da verba para a execução do projeto, que totaliza R$ 2,2 bilhões, por meio da segunda edição do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). A resposta do governo será dada em junho.

Uma das primeiras obras que será utilizada para os curitibanos neste ano é a aposta do Ippuc para desafogar o trânsito. O anel viário consiste na definição de ruas presentes em oito bairros (Rebouças, Alto da XV, Alto da Glória, Centro Cívico, Bom Retiro, Mercês, Batel e Água Verde) como vias de ligação entre diferentes áreas sem a necessidade de se passar pelo Centro. Além de vias alargadas e nova pavimentação, o anel terá um sistema de semáforos programado para a manutenção do fluxo.

Vias de ligação entre o Centro de Curitiba e o Aeroporto Afonso Pena, as avenidas Marechal Floriano Peixoto e Comendador Franco passarão por revitalização. Está prevista a continuação da Linha Verde, em direção à região norte da cidade. A Avenida Cân­dido de Abreu também terá novidades, com a criação de um calçadão entre as praças Dezenove de Dezembro e a Nossa Senhora de Salete. “Com as melhorias teremos uma vida útil bastante expressiva, principalmente nos corredores de transporte. É preciso considerar que o planejamento precisa de constante modificação e ajustes”, avalia Almeida.

Em relação às críticas de que o Ippuc teria estagnado no tempo e de que não investe em um novo modelo de planejamento, o presidente afirma que não identifica uma situação alarmante. “Não acredito que o planejamento não está dando conta das demandas que estamos tendo, tanto na mobilidade quanto nas diversas áreas. Muito pelo contrário, vejo um nível de atendimento bastante bom”, rebate.

Projetos para o bem comum

O que sonham os arquitetos: Universitários formulam diretrizes e apontam para a revitalização do Centro, a integração metropolitana e sistemas de metrô

Gazeta do Povo | 29 de março de 2011

O olhar que vem da academia propõe a reflexão e a análise antes de qualquer intervenção urbana em Curitiba. Estudantes de Arquitetura da Universidade Positivo sugerem elementos que vão além de cálculos precisos ou estruturas sustentáveis: abrangem desde a educação pública de qualidade à tolerância pacífica com a diversidade, passando também por programas culturais e de manejo de resíduos sólidos, entre outros.

Reunidos durante dois dias, no final de fevereiro, estudantes de Arquitetura da Universidade chegaram à conclusão de que, para a Curitiba ideal, 12 “visões” deveriam ser seguidas (veja mais no slideshow). “São diretrizes fundamentais que devem ser perseguidas pelo poder público apoiado pela sociedade organizada para a construção coletiva e participativa da cidade dos nossos sonhos”, explica o coordenador do curso, Orlando Ribeiro, vice-presidente da Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura no Paraná (Asbea-PR).

Com base em um projeto anterior desenvolvido por alunos, Ribeiro apresenta estas diretrizes na prática, que incluem propostas de revitalização do Centro da cidade, integração metropolitana e sistemas de metrô.

No Centro de Curitiba, o projeto prevê o aprimoramento do uso dos edifícios ao longo dos quarteirões, a criação de uma galeria comercial subterrânea na Rua XV de Novembro integrada ao sistema de metrô e ainda a revitalização da Praça Santos Andrade. Esta última ideia propõe transformar o prédio antigo dos Correios em uma estação de metrô, construir no subsolo da praça um grande estacionamento de veículos e incorporar ao local o trecho da Rua Conselheiro Laurindo em frente ao Teatro Guaíra.

Para a integração metropolitana, a proposta é implantar um bonde elétrico sobre a linha férrea existente, integrado aos demais sistemas de transporte da cidade e ligado aos municípios da região metropolitana. A integração também se daria por um novo terminal intermodal metropolitano, com sede na Rodoferroviária, que faria a ligação direta com o Aeroporto Afonso Pena, em São José dos Pinhais.

O metrô é um modal muito defendido por Ribeiro, pois, ao mesmo tempo que aproveita a área subterrânea, permite que o tráfego de veículos seja otimizado, segundo arquiteto. A proposta do grupo é a implementação de um sistema trinário (composto por uma via expressa e duas rápidas), além da criação de pistas subterrâneas para a circulação de automóveis. O modelo possibilita ainda a construção de edifícios multifuncionais em ruas como a Travessa da Lapa, no centro da cidade.

Outra necessidade, segundo o professor, são iniciativas voltadas aos pedestres. “É preciso fazer a cidade voltar a ser pensada, planejada, detalhada e idealizada para o usuário que está à pé, de forma mais contemplativa, mais acessível”, afirma. Ele define as propostas como uma forte crítica ao modelo de gestão territorial urbana, “que fomenta a utilização e massificação do uso do transporte particular porque não oferece um transporte público com a qualidade necessária para que a população o utilize”.

Rua das Flores descoberta

O que sonham os arquitetos: Mestre em patrimônio histórico, Giceli de Oliveira idealiza a retirada de elementos que descaracterizam a tradicional Rua XV de Novembro

Gazeta do Povo | 29 de março de 2011

A movimentada e comunicativa Rua XV de Novembro, no Centro de Curitiba, mantém entre seus sons, anúncios e propagandas diversas referências que contam parte da história da capital. No meio de tanta informação, os detalhes de construções históricas, de vitrais e de painéis passam despercebidos para as milhares de pessoas que caminham diariamente por um dos calçadões mais importantes do país.

É este cenário da Rua das Flores que inspira a arquiteta Giceli Portela Cunico de Oliveira a propor a “Curitiba dos sonhos”. A reportagem da Gazeta do Povo convidou a profissional a apresentar uma proposta de intervenção para a cidade, algo que seria ideal. Mestre em patrimônio histórico, ela observa que a Rua XV está “desfigurada” e propõe uma espécie de volta ao passado. “A poluição visual impede que as pessoas saibam o que acontece ali. Essa rua é uma fonte de informação cultural, de resgate histórico que deve ser levado adiante”, diz.

A arquiteta não pensa em criar novas intervenções. Pelo contrário: defende a retirada de elementos que hoje descaracterizam o calçadão. O objetivo é que os curitibanos conheçam melhor as referências culturais que o espaço revela, como o painel do artista curitibano Poty Lazzarotto direcionado para a Avenida Marechal Floriano Peixoto, o Bondinho em frente ao Palácio Avenida e a escadaria e os vitrais do prédio onde está instalada a loja Marisa.

Só que o conhecimento destes elementos parece estar restrito a arquitetos e pessoas interessadas na história da cidade, observa Giceli. “É papel da arquitetura informar todo mundo. A proposta do projeto é voltar este entendimento para todos, não apenas para os intelectuais, mas para qualquer curitibano, às crianças, e aos palhaços que ficam por ali”, diz.

A arquiteta imagina a Rua XV sem os anúncios comerciais presentes nas fachadas das lojas, para dar destaque às construções históricas. Ela manteria os bancos e as floreiras, tombados pelo patrimônio histórico, mas propõe várias alterações. Trocaria o piso de petit pavê – que perdeu sua formação original com desenhos paranistas – por chapas de pedra lisa, que facilitariam a circulação dos pedestres. O chafariz no trecho entre a rua Dr. Murici e a Avenida Marechal Floriano Peixoto deixaria de existir para facilitar o deslocamento pela via.

Giceli também retiraria as luminárias espalhas pelo calçadão, instaladas na década de 1990. De acordo com a arquiteta, o modelo dos equipamentos atuais não fez parte da história da cidade. “Trabalhei em muitas pesquisas e sei que em Curitiba não teve este modelo de luminária. Elas fazem referência a um desenho que não existiu na cidade e fazer isso é contar uma falsa história para as pessoas”, critica. A arquiteta criou outra solução para a iluminação da rua: focos de luz presentes no piso direcionados aos casarões e que eliminariam obstáculos para os pedestres.

Para Giceli, o projeto apresentado permite que a Rua XV tenha ao mesmo tempo características comercial e histórica, sem que uma interfira na outra. “Durante o dia a rua pode ser de um jeito, com atividade intensa, mas durante a noite, com as portas fechadas, ela pode ser uma rua linda e que hoje não é.”


Um cuidado especial
Em diversos projetos de restauração em Curitiba está a assinatura da arquiteta Giceli de Oliveira. Ela já trabalhou na revitalização da Casa Vilanova Artigas, edifício tombado pelo patrimônio histórico estadual e que hoje é sede do escritório dela, além do Colégio Estadual Xavier da Silva e da Sociedade Beneficente Operários. Fora da cidade, realizou projetos no Museu Nacional de Belas Artes (RJ), Museu Casa de Benjamin Constant (RJ) e Museu do Diamante (MG). Atualmente, está envolvida no trabalho de restauro da Catedral de Curitiba e faz questão de lembrar de sua equipe. Para a proposta desta página, contou com o apoio da arquiteta Analu Cadore e dos universitários Martin Goic e Luiz Gustavo Singeski.