Chega de ‘medicanês’ para explicar o remédio

Propostas foram discutidas ontem em audiência pública promovida pela Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba

Folha de Londrina | 17 de março de 2009

A bula explica. "Drágeas: cada drágea contém 10 miligramas de butilbrometo de escopolamina, correspondentes a 6,89 miligramas de escopolamina. Indicações do medicamento: espasmos do trato gastrintestinal (contrações do estômago e do intestino), espasmos e discinesias das vias biliares (contrações e alterações nos movimentos dos canais que conduzem a bilis) e espasmos do trato geniturinário (contrações e alterações do movimento dos canais dos órgãos sexuais e urinários). Este medicamento é contra-indicado aos pacientes com idade avançada especialmente sensíveis aos efeitos secundários dos antimuscarínicos, como secura da boca e retenção urinária".


O uso indiscriminado e incorreto de remédios é um perigo aos consumidores. A falta de informação, emprego de termos técnicos nas bulas e o consumo sem orientações fazem dos medicamentos a primeira causa de intoxicação e a segunda causa de mortes no Brasil. Em 2006, de acordo com o Sistema Nacional de Informações Toxicológicas (Sinitox) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), os medicamentos foram responsáveis por 30,67% das intoxicações (34,582 casos) e por 106 mortes. Entre as intoxicações, 1,061 mil foram causadas por auto-medicação, 1,944 mil por erro na administração e 433 por abuso.

Responsáveis pelas informações aos consumidores sobre a composição dos medicamentos, contra-indicações, possíveis efeitos colaterais e orientações para a administração do medicamento, as bulas deixam a desejar no quesito objetividade e simplicidade. As principais reclamações dos consumidores dão conta, principalmente, do uso de termos técnicos e do tamanho das letras, em geral, pequenas.

Para o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Produtos Farmacêuticos do Estado do Paraná (Sindifarma-PR), Edenir Zandoná Júnior, o material geralmente é direcionado à comunidade médica, não aos consumidores. Para ele, a eficácia do documento junto aos pacientes depende da utilização de linguagem simples e do aumento das letras. Mesmo com as observações, Zandoná garante que o material utilizado no Brasil é superior às bulas dos países europeus. "Preenche todas as necessidades, mas precisa mudar. O modelo de perguntas e respostas, por exemplo, torna mais acessível ao consumidor, identifica os problemas e efeitos colaterais", afirma.

Estas e outras sugestões foram discutidas ontem em uma audiência pública promovida pela Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba (SMS), para a adequação das bulas de medicamentos, prevista pela Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa). Representantes da comunidade médica, órgãos públicos, universidades e associações profissionais propuseram melhorias à iniciativa.

As contribuições curitibanas ao projeto foram referentes à disponibilização das informações para o uso racional dos medicamentos pelos consumidores. Para os participantes, é importante a descrição de todas as reações ao medicamento na bula, não apenas os sintomas principais; a notificação dos casos de intoxicação os órgãos de vigilância sanitária municipal, estadual e nacional; criação de duas bulas, uma destinada aos médicos e outra aos consumidores; disponibilização das bulas pela internet e necessidade de adaptação às normas pelos laboratórios oficiais, que atentem ao Sistema Único de Saúde. "A bula precisa evitar a intoxicação. O consumidor tem que saber dos cuidados, reconhecer as reações adversas. O cidadão é o gestor do risco, como um consumidor ativo", analisa o coordenador do Centro de Saúde Ambiental da SMS, Sezifredo Paz.

As propostas serão enviadas até o dia 25 deste mês à Anvisa. Depois de organizada o documento com as novas instruções, os laboratórios terão que aderir ao novo modelo em 270 dias. Para os participantes da audiência pública na Capital, a norma deve ser acatada pelos laboratórios em 120 dias.

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