Segurança capacitada na porta de casa

Cursos garantem qualidade na atividade dos porteiros, mas os moradores também devem fazem sua parte

Folha de Londrina | 2 de setembro de 2008

Eles são os responsáveis pelas boas-vindas aos visitantes que chegam aos condomínios. E simpatia não é o único requisito para os porteiros. Eles também cuidam da segurança dos locais onde trabalham e têm um papel fundamental nessa função.

‘’O porteiro é a pessoa responsável por fazer a triagem daquilo que pode ou não entrar no condomínio. Ele tem uma importância relevante e é preciso que tenha um treinamento muito bom. O recrutamento desta mão-de-obra também precisa ser muito bem feito’’, afirma o especialista em segurança Jorge Fernandes. Diversas organizações ministram o curso de formação de porteiro em Curitiba. Entre elas, o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), que em pleno sábado de manhã tem a sala de aula cheia de gente interessada em aprender como cuidar bem da entrada de um condomínio.

‘’Vim participar para o aperfeiçoamento da profissão’’, diz Samuel dos Santos, que trabalha na área há quatro anos.

No curso, os profissionais aprendem sobre apresentação pessoal, qualidade no atendimento, relacionamento com os moradores e visitantes, recepção, vigilância, equipamentos eletrônicos e segurança. A principal orientação que o instrutor do curso dá é em relação à triagem que o porteiro faz na entrada. ‘’Ele não deve permitir que ninguém entre sem uma investigação prévia. O porteiro precisa fazer perguntas, ver se realmente o serviço foi solicitado, cadastrar nome, telefone, a empresa onde o fornecedor trabalha’’, explica Marlon Renê Guerreiro, que ministra curso de formação de porteiro há dez anos.

Fernandes afirma que a principal falha na segurança cometida pelos porteiros é a rotina. De acordo com ele, os profissionais aprendem quais são os procedimentos corretos para a segurança, mas no dia-a-dia acham que nada pode acontecer. Um exemplo são os fornecedores, que se tornam conhecidos dos porteiros e moradores e têm acesso livre ao interior do condomínio. ‘’Esse é um erro gravíssimo, é o principal erro cometido. O ideal é que o morador recepcione o fornecedor na portaria ou faça agendamento prévio nas suas manutenções nos apartamentos, indique a empresa e se possível os funcionários que vão comparecer, para que o porteiro saiba quem vai fazer a manutenção’’, explica o especialista.

Porteiro há oito anos, João Lima participou de um curso por iniciativa própria. O interesse inicial era trabalhar na área de hotelaria, mas devido à formalidade exigida, escolheu trabalhar na portaria de condomínios. Há quatro anos encontrou em um prédio no bairro Portão um ambiente de trabalho mais descontraído. Ele acredita que a preocupação com a segurança varia de acordo o perfil do condomínio. ‘’Em outros lugares que trabalhei a segurança era paranóica. Aqui não tem problema, o único caso que tive conhecimento foi interno, entre os próprios moradores. Também nunca tivemos problemas com os prestadores de serviço, que são conhecidos e de confiança’’, conta.

Mesmo com a proximidade com os forncedores, o outro porteiro do condomínio, Gilberto Filadelfo, afirma que só entram no local os visitantes autorizados pelos moradores. ‘’Senão, não passa da portaria’’, diz.

No condomínio em que trabalham, a estrutura física facilita o contato imediato entre porteiro e visitantes, que Fernandes considera longe do ideal. ‘’O porteiro não deve ter contato próximo com as pessoas e o visitante não pode ter acesso imediato ao condomínio. O porteiro precisa ficar em um local sem contato visual com os visitantes, com uma película e de preferência um vidro blindado. O ideal é que a conversa seja feita por um porteiro eletrônico’’, diz. Nos casos onde não há este tipo de estrutura, o especialista orienta que o porteiro mantenha distância dos visitantes no contato inicial.


Procura vem depois de problemas
Há dez anos atuando em cursos de formação para porteiros, o instrutor Marlon Renê Guerreiro já percebeu que a procura por capacitação da segurança é feita apenas depois de algum problema.

Recentemente, Guerreiro ministrou um curso no condomínio que se envolveu em um caso que foi destaque em Curitiba, em que um ladrão entrou no condomínio sem ser percebido pela portaria e assaltou diversos apartamentos. ‘’Eles ainda não tinham passado por capacitação. Infelizmente as pessoas só se sensibilizam depois de um momento de crise’’, avisa.

Guerreiro ainda faz um alerta. ‘’As quadrilhas escolhem os condomínios que irão assaltar depois de estudar a facilidade de acesso, o comportamento da portaria e dos moradores.’’

Mesmo assim, segundo o delegado da Delegacia de Furtos e Roubos, Luis Carlos de Oliveira, há muito tempo a delegacia não tem registros de assaltos como esse. ‘’Teve um há muito tempo, mas em Curitiba são muito poucos os casos de roubos em condomínios inteiros’’, afirmou.


‘Pessoal prefere comodidade’
Mesmo sendo fundamentais, os porteiros não são os únicos responsáveis pela segurança do condomínio. Os moradores também devem participar do processo, mas, para João Lima, são os que mais prejudicam a segurança.

‘’Muitas vezes o morador relaxa. Por exemplo, ele sai da garagem e não espera o portão fechar. A mesma coisa com os fornecedores. O pessoal prefere comodidade. É o morador que autoriza o prestador de serviço a subir. Nunca ninguém desceu para buscar alguma coisa’’, conta. O mesmo acontece onde Santos trabalha. ‘’Às vezes o morador não deixa a gente fazer a identificação dos visitantes. É complicado e neste caso passamos para o síndico’’, diz.

O programador Rafael Carlos da Silva, 23, mora no edifício onde seu João trabalha e confessa que poderia contribuir mais com a segurança de seu condomínio. ‘’Ainda deixo os entregadores subirem até meu apartamento, mas vou melhorar. Vou começar a descer até a portaria para pegar as pizzas que eu peço’’, promete.

Para evitar este tipo de problema, Fernandes sugere a realização de um breve curso com os moradores. ‘’O morador tem uma participação importantíssima. Se não se adaptar, se não participar do processo, não vai funcionar. Se ele levar em consideração só o seu conforto, vai colocar em risco todos os outros apartamentos para invasões e ladrões. Mas realmente quando é implementada uma segurança séria, tiramos um pouco do conforto, da facilidade de entrar e sair’’, explica.

Marlon Guerreiro, que também ministra cursos de sensibilização para moradores, conta que eles só se sentem responsáveis pela segurança quando conhecem os reais riscos. ‘’Depois que eles percebem que podem minimizar os riscos, a aceitação é favorável’’, conta.


COMO GARANTIR A SEGURANÇA
DE SEU CONDOMÍNIO

- Fazer o contato inicial com os visitantes por meio de um porteiro eletrônico (os interfones)
- Não permitir o acesso dos fornecedores ao interior do prédio
- Os moradores devem ir até a portaria para receber suas encomendas

SELEÇÃO DO PORTEIRO
Antes de contratar um profissional, o condomínio deve exigir os seguintes documentos do candidato à vaga:
- Atestado de antecedentes criminais
- Currículo - Carta de recomendação - Certificado de participação em cursos de formação de porteiro
Fonte: Jorge Fernandes, consultor

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