Solidariedade e ressocialização direto da horta

Internos da Colônia Penal Agrícola cultivam alimentos que abastecem a mesa do Pequeno Cotolengo

Folha de Londrina | 24 de dezembro de 2008

Diariamente, das 9 às 14 horas, 30 internos da Colônia Penal Agrícola, em Piraquara (Região Metropolitana de Curitiba), dedicam-se ao cultivo de uma grande variedade de legumes e verduras. A plantação, que tem cenoura, alface, brócolis, repolho e outros, assim como a mão-de-obra dos internos, fazem parte de uma rede de solidariedade. Tudo o que é produzido na colônia é encaminhado à organização Pequeno Cotolengo, que cuida de portadores de necessidades especiais.

A ação faz parte do projeto ''Horta Solidária'', uma parceria entre o Pequeno Cotolengo, a Secretaria de Estado da Justiça e empresas do ramo. Enquanto cumprem pena, os internos da colônia participam de cursos de profissionalização na área de agricultura e cultivo de alimentos. A atividade contribui para que o Pequeno Cotolengo resolva uma de suas principais dificuldades, a alimentação.

Em média, são servidas pela organização 800 refeições diárias. Ela também conta com doações de empresários da Central de Abastecimento de Curitiba (Ceasa), mas que não atendem totalmente à demanda. Aproximadamente 200 funcionários e voluntários alimentam-se no local, juntamente com crianças, adolescentes e adultos portadores de deficiência física ou mental que residem no Pequeno Cotolengo. Eles são órfãos e foram encaminhados à instituição por órgãos públicos.

As mudas, sementes e equipamentos para a produção são provenientes de doações de empresas parceiras do projeto. ''Tem dado resultado. Tivemos algumas dificuldades no começo, mas consegui sensibilizar os empresários'', afirma o coordenador de Desenvolvimento do Cotolengo, Orley Boçon.

Na cozinha, os alimentos são acompanhados por uma nutricionista, que aponta os principais benefícios na alimentação equilibrada dos moradores. ''O principal aspecto é que os alimentos são frescos e cultivados sem agrotóxicos. São ricos em vitaminas, minerais e ferro'', explica a especialista Ana Paula Leitoles Remer, que escolhe a variedade junto com um técnico agrícola, de acordo com o período apropriado para o plantio. Os alimentos são cultivados sem agrotóxicos, devido à localização da colônia na Área de Preservação Ambiental (APA) do Iraí.


Desde 2006, presos fazem manutenção da unidade
A iniciativa surgiu a partir dos bons resultados conseguidos com outra parceria entre o Pequeno Cotolengo e os internos da colônia. Desde 2006, dez homens que cumprem pena em regime de semiliberdade participam da manutenção dos prédios da instituição, que possui 120 mil metros de área total e 10 mil metros de área construída. Eles realizam vários tipos de trabalho.

Assim como a instituição, os internos também são beneficiados pelo projeto. O contato com atividades profissionais e com realidades diferentes ajuda no processo de ressocialização. O entrosamento com os moradores do Pequeno Cotolengo também favorece esse processo, em que alguns deles participam de atividades na própria horta. ''É muito importante para a ressocialização. Abre horizontes, eles fazem cursos, saem com formação profissional, colocam em prática o que aprenderam e têm contato com a sociedade enquanto se preparam para o retorno'', afirma o diretor da colônia, Lauro Valeixo.

''O comportamento deles aqui é exemplar. Não temos receio ou discriminação, pelo contrário, nunca tivemos nenhum problema com nenhum deles'', complementa coordenador de Desenvolvimento do Cotolengo, Orley Boçon. A cada três dias de trabalho é reduzido um dia da pena e os internos ainda ganham um benefício.

Há quatro meses interno na colônia e há três meses e meio em atividade na horta, um agricultor do interior do Estado afirma que o trabalho ajuda no cumprimento da pena, principalmente quando favorece uma organização. ''Fico contente em ajudar uma entidade que precisa de ajuda'', afirma.

Novo projeto
A parceria entre o Pequeno Cotolengo e a Colônia Penal Agrícola promete ainda mais. No último dia 19, foi lançado o projeto ''Pesca Solidária'', em que dois tanques localizados na colônia vão criar peixes, que também serão entregues à instituição. Os internos já participam de cursos de psicultura para realizarem as atividades.

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