Relíquias em sambaquis


Estruturas de cascas de moluscos revelam como eram a vida e a rotina dos índios paranaenses, há 10 mil anos

Gazeta do Povo | 26 de agosto de 2011

Comunidades que habitaram o litoral paranaense há cerca de 10 mil anos, deixaram parte de suas histórias guardadas em pelo menos 340 sambaquis, sítios arqueológicos formados por cascas de moluscos, que estão espalhados por todos os municípios da região. Mais do que um simples amontoado de conchas, tais estruturas ajudam a contar como foi a evolução do estado por meio da moradia, da alimentação e dos rituais religiosos de nossos antecessores.

As grandes montanhas – algumas passam dos 30 metros de altura – localizadas próximas aos rios e às baías logo chamaram a atenção dos europeus no período de colonização, durante o século 16. A curiosidade estendeu-se até meados do século 20, quando foram realizados os primeiros estudos de especialistas. As dúvidas eram referentes à formação natural dos sambaquis ou se eles foram criados pelas próprias comunidades, que utilizaram os restos dos alimentos que vinham das águas. “A criação pode não ter sido intencional, mas facilitou muito a vida dos habitantes. A elevação do sambaqui era estratégica para a visualização do inimigo, possibilitava a ventilação e afastava os insetos”, afirma a técnica do setor de arqueologia do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) no Paraná, Alessandra Spitz.

Os estudos revelaram comunidades complexas e numerosas, devido ao número de sepultamentos nos sambaquis (com grande potencial de preservação devido ao cálcio das conchas). “A população tinha consciência ambiental, pois sabia que a quantidade de alimento do local supria determinado número de pessoas. Quando ocorria a escassez de recursos, os habitantes iam para outro lugar”, explica Alessandra. A oscilação no nível do mar que, com o passar dos anos, recua e avança pela costa, também contribuiu com a movimentação das comunidades pelo litoral. Este fator leva os estudiosos a acreditarem que os sambaquis mais antigos estejam submersos.

Protegidos
A legislação federal impedindo que os sambaquis sejam devastados, só entrou em vigor em 1961, mas não evitou que muitos sítios desaparecessem. Durante a colonização do estado, as estruturas foram utilizadas na construção das cidades históricas como Paranaguá e Morretes, em que as conchas eram queimadas para a produção de cal e argamassa. A poucos metros do sambaqui de Guaraguaçu, em Pontal do Paraná, ainda há a estrutura do forno de caieiras, que abasteceu a produção de cal das edificações parnanguaras. Séculos depois da construção das cidades, as rodovias estaduais do litoral também foram pavimentadas com sambaquis.

Apesar da legislação vigente, a falta de fiscalização e o tamanho do território do litoral paranaense, onde os sambaquis estão localizados, dificultam a integridade dos sítios. Visitantes sobem nas estruturas ou levam parte do material para casa. A construção de obras em locais onde estão os sambaquis contribui para a devastação. Muitas estrutras não são sequer notificadas.

Para evitar novas perdas, o Iphan investe na educação patrimonial junto às comunidades e conta com o apoio de pessoas que informam os achados. Os municípios e pesquisadores também reforçam fundamental a realização de visitas apenas com acompanhamento especializado e, para evitar mais depredação, dificilmente divulgam a localização dos sambaquis.

Outro fator que também prejudica a manutenção dos sítios é a falta de estudos na área. O último levantamento estadual indica sambaquis “com boas condições em 1949”, sem atualização. “É uma vergonha”, avalia a arqueóloga do Museu Paranaense, Cláudia Inês Parellada, que está à frente de um novo levantamento. Porém, ao mesmo tempo em que o grande território impede maior fiscalização das ações contra os sítios históricos, a arqueóloga acredita que muitos sambaquis ainda serão descobertos. Ela prevê, confiante, que nos próximos 20 anos serão 500 sítios paranaenses cadastrados, mas que só serão mantidos com a colaboração da comunidade na sua preservação.


Estruturas revelam estilo de vida
As pesquisas nas estruturas dos sambaquis revelam inúmeros objetos e rituais das comunidades. Restos mortais, alimentos, adornos, esculturas com formas de animais típicos da costa litorânea e outras peças entre as conchas, fazem parte da história deixada pelas populações.

Os rituais de sepultamentos são alguns dos mais estudados. A posição dos corpos e os adereços próximos a eles indicam o sexo do habitante que foi enterrado. Os homens eram sepultados de lado, com sua rede e seu machado juntos ao corpo. Mulheres e crianças eram envolvidas em mantos de penas trançadas.

“Temos muito o que aprender com a relação entre a natureza e as populações, que exploravam os recursos, sem destruí-los. A organização social dos grupos também mostra poucos registros de violência, além do respeito às mulheres e às crianças”, pontua a arqueóloga Cláudia Inês Parellada.

Para o arqueólogo da Universidade Federal do Paraná, Igor Chmyz, a relação com a natureza também é um dos principais pontos de destaque das populações que habitavam os sambaquis. “As comunidades são uma riquíssima mostra de como o ser humano reagiu ao ambiente em que vivia e como tinha tecnologia, organização para isso”. Ele caracteriza os sítios como uma espécie de bibliotecas. “São repositórios de dados e os sambaquis são os únicos exemplares da história”, define.


Serviço
A prefeitura de Pontal do Paraná realiza roteiros para o sambaqui de Guaraguaçu. As visitas podem ser agendadas pelo telefone (41) 3975-3102.

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Doce encontro litorâneo


Matéria-prima do doce de cachaça reúne ícones da produção agrícola do litoral

Gazeta do Povo | 26 de agosto de 2011

Duas iguarias típicas do litoral paranaense encontraram-se na gastronomia. A cachaça, tradicional de Morretes, e a banana, que tem Guaratuba como a sua maior produtora, combinam muito bem na produção de doces.

Em Pontal do Paraná, a receita de doce de banana com cachaça surgiu na casa da turismóloga Francisca Kaminski, que possui diversas bananeiras no seu terreno no Guaraguaçu. Produtora de licores, Francisca descartava as bananas depois que a bebida ficava pronta. “Como eu não gostava de jogar as frutas no lixo, meu marido deu a ideia de fazer o doce. Deu certo”, conta. Para aproveitar todos os ingredientes, a turismóloga também produz licores, com a cachaça utilizada na preparação do doce.

A matéria-prima da receita de Francisca é abundante no litoral paranaense e coloca a região como referência na produção nos mercados interno e externo. Morretes, polo produtor de cachaça, destila cerca de 15 mil litros da bebida ao ano, em 16 alambiques. Cada empreendimento tem sua própria plantação de cana que, ao todo, chega a 110 hectares no município.

A produção artesanal confere o sabor que fez da cachaça paranaense referência no produto, que ficou conhecido como “a Morretiana”. Depois de colhida, a cana é moída, passa pelo processo de fermentação e é destilada em equipamentos de cobre. O envelhecimento é o ponto especial. “A cachaça é envelhecida em tonéis de madeira, o que faz com que fique com a coloração marrom. Este processo demora cerca de um ou dois anos, período em que as substâncias químicas da cachaça evaporam e o sabor é apurado”, explica a extensionista do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), Ruth Ferreira Biuldes.

De Guaratuba sai 40% da produção de frutas do Paraná, principalmente de banana. Mesmo com outros municípios que investem em bananais, a alta tecnologia aplicada na cidade a deixa como uma das maiores do Brasil na produção, que chega a 40 toneladas por ano. “O clima quente e úmido é propício para a banana. Aqui ela é produzida o ano inteiro”, explica o gerente da Emater em Paranaguá, Sebastião Belletini. Do litoral, a banana paranaense segue para Curitiba, São Paulo e até mesmo para a Argentina.


Versátil
A combinação da banana com a cachaça compõe diversos pratos. O doce é utilizado em pães, doces, sorvetes, iogurtes e até em recheio de bolos. Não é preciso preocupar-se com o teor alcoólico do prato. Durante o aquecimento da cachaça no fogo, o álcool evapora, deixando no doce apenas o gosto da cachaça envelhecida em barris.

Ingredientes
• 1 quilo de banana
• 1 de açúcar
• ½ litro de cachaça

Modo de fazer
Deixe as bananas picadas de molho na cachaça durante três dias. A dica de Francisca Kaminski é utilizar na receita a cachaça de Morretes e não substituir o produto por uísque ou outras bebidas semelhantes, pois a troca interfere no sabor do doce. Depois da imersão, coe as bananas e as amasse bem com um garfo, inclusive os pedaços de frutas que ficam escurecidos. Em uma panela, prepare uma calda com o açúcar e adicione as bananas amassadas quando a calda caramelada estiver em ponto de fio. Misture em fogo alto por aproximada­mente 10 minutos sem parar de mexer. Enquanto isso, o álcool irá evaporar e doce tomará sua consistência final.

Licor
Para aproveitar a cachaça em que a banana ficou de molho, Francisca dá a receita de um licor que tem preparação semelhante ao do doce: Misture a cachaça com o gosto da fruta a uma calda de açúcar caramelado em ponto de fio. Não leve a cachaça ao fogo. Mexa bem, guarde a mistura em uma garrafa e deixe descansar por 30 dias.

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Itupava fecha para manutenção


Chuvas de março deixaram árvores caídas e piso escorregadio no trajeto original do caminho histórico

Gazeta do Povo | 26 de agosto de 2011

Primeira rota que ligou o litoral ao planalto paranaense no século 17, o Caminho do Itupava passa por uma revitalização completa. As obras, que devem ser concluídas em aproximadamente 40 dias, atendem a uma antiga necessidade de manutenção, que foi agravada pelas chuvas do mês de março.

Num ano, cerca de 20 mil pessoas percorrem o caminho. Por ora, ele está interditado porque não oferece segurança aos visitantes. No percurso de 22 km, estão mais de 220 árvores caídas, folhas acumuladas na passagem, o que deixa as pedras úmidas e mais escorregadias. Além do risco constante de quedas, a condição aumenta o tempo de caminhada no trajeto para mais do que as seis horas normalmente estimadas.

Outra razão da interdição do Itupava é o risco de depredação do patrimônio natural. Os obstáculos pelo caminho forçam os visitantes a procurarem rotas alternativas, que descaracterizam o trajeto original e a mata nativa. “O solo fica exposto e a força da água das chuvas cria focos de erosão e assoreamento. Isso prejudica também os córregos, a qualidade dos rios”, alerta o gerente do Parque Estadual do Marumbi Lothário Horst Stoltz Júnior, coordenador das unidades de conservação do litoral pelo Instituto Ambiental do Paraná (IAP). Pelo menos cinco rios representativos estão próximos à rota.

De acordo com o Stoltz, a última manutenção no Itupava foi realizada há um ano. Durante este período, os funcionários do parque ficaram encarregados de realizar obras pontuais, que não atendem a todo o trajeto nem situações mais críticas.

A demora na contratação de uma empresa que assumisse o trabalho de recuperação também atrasou a reabertura do Itupava. A vencedora foi escolhida por licitação pública. Por R$ 45 mil reais, a empresa deverá retirar a matéria orgânica do caminho (folhas, galhos e árvores), fechar as passagens alternativas que foram criadas para desvios nas áreas afetadas por árvores que caíram, retirar lixo, recuperar pontes e limpar as calhas de drenagem que diminuem a velocidade da água. As obras começaram na segunda quinzena de agosto. “Assim garantimos segurança e melhor atendimento aos nossos visitantes”, afirma o diretor de biodiversidade e áreas protegidas do IAP, Guilherme de Camargo Vasconcellos.


Dicas de segurança para os visitantes do Itupava
O Caminho do Itupava ainda não foi reaberto, mas algumas dicas são importantes para os visitantes que desejam se aventurar pelo trajeto depois que ele estiver disponível

- Antes de começar o trajeto, realize o cadastro no início do Caminho. O cadastro é disponível para quem inicia a rota na Borda do Campo, em Quatro Barras, ou em Morretes. Além de servir como registro estatístico, o cadastro é uma ferramenta de segurança e controle dos visitantes.

- Caminhe em dias com boa visibilidade, sem nuvens e com sol.

- Evite caminhar sozinho.

- Utilize mochilas para acomodar seus pertences.

- Use roupas leves.

- Leve repelente, protetor solar e capa de chuva.

- Não esqueça a água e alimentos leves, como frutas e barras de cereais.

- Se possível, use bastões de apoio, que ajudam a manter o equilíbrio durante o trajeto. Não corte a vegetação para improvisar bastões ou cajados.

- O sinal dos aparelhos celulares é disponível apenas no Santuário Nossa Senhora do Cadeado, à beira da ferrovia, e em alguns trechos isolados. O indicado é desligar o aparelho para poupar bateria e ligá-lo apenas onde o sinal está disponível. “A bateria carregada pode fazer a diferença em caso de acidentes”, alerta o Gerente do Parque Estadual Pico do Marumbi, Lothário Horst Stoltz Júnior.

- Caminhe sempre pelo calçamento, evitando a abertura de caminhos alternativos laterais, pois isso provoca assoreamentos desnecessários e impactos à vegetação nativa.

- Leve lanternas, pilhas e baterias. Elas podem ser úteis caso a caminhada dure mais que o esperado.

- Não abandone seu lixo pelo caminho.

- Em caso de acidentes, garanta a segurança da pessoa acidentada e procure um ponto onde com sinal para telefonia celular.

Telefones úteis:
- Parque Marumbi: (41) 3462-3598
- Parque Serra da Baitaca (trailer da entrada do caminho em Quatro Barras): (41) 3554-1531
- Bombeiros 193.
Fonte: Lothário Horst Stoltz Júnior

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Terra de bubalinos


Mais rústica do que a de bovinos, criação de búfalos se adapta ao clima da serra

Gazeta do Povo | 26 de agosto de 2011

Cerca de 50 fazendas, localizadas principalmente em Morretes, Antonina e Guaraqueçaba, investem na criação de búfalos para produção de leite, carne e venda de bezerros. De acordo com o Censo Agropecuário de 2006, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), último levantamento regional disponível, o litoral do Paraná tem 3,5 mil animais.

O número já foi maior. A partir de meados da década de 1990, os rebanhos começaram a ser transferidos para outras regiões do estado. A legislação ambiental de preservação da Mata Atlântica, que restringe a produção agropecuária no litoral, é apontada pelos criadores como a principal responsável pelo declínio da atividade.

As primeiras propriedades bubalinas se instalaram na região há 30 anos, atraídas principalmente pelo preço da terra, as condições de solo e de clima. Com essas vantagens, o engenheiro agrônomo Ugo Rodacki decidiu iniciar a criação de búfalos. Hoje ele investe na produção de queijo e na criação de bezerros. “No Paraná, o criador não tem o rebanho de búfalos como sua principal atividade”, analisa. Mesmo sem histórico de criação no estado, as características do animal compensam a atividade.

Diferente dos bovinos, os búfalos se adaptam com mais facilidade a regiões com solos considerados pobres, tanto em nutrientes quanto no relevo, como os terrenos acidentados. “Esse animal tem a capacidade de produção muito alta. Mesmo em pastagens com condições mais pobres, os búfalos apresentam desempenho muito superior aos bovinos”, garante o médico veterinário José Lino Martinez, pesquisador do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar). O órgão possui em Morretes uma estação experimental onde são realizados estudos de alimentação e reprodução dos animais.

A taxa de natalidade em uma fazenda de gado é de aproximadamente 60%. Entre as vacas búfalas, o índice é superior a 85%. Outra qualidade apontada é a baixa ocorrência de problemas de saúde e de carrapatos, além da alta tolerância a vermes intestinais.

No mercado
O litoral é responsável pela produção média de três mil quilos de queijo de búfalo por mês, de acordo com a Associação Paranaense de Criadores de Búfalos (Abupar). Na produção de carne, o búfalo é abatido em frigoríficos da região metropolitana de Curitiba, mas sem oferta regular, a carne se mistura com a bovina e não é identificada. Esta situação impossibilita uma estimativa do volume de carne diponibilizada para o mercado consumidor. A diferença entre as duas está na cor: quando crua, a de búfalo tem o tom de vermelho mais escuro que a de boi, e a gordura é mais branca, enquanto a bovina é mais amarelada. Depois de preparada, dificilmente é possível diferenciá-la. A carne de búfalo também possui menos colesterol do que a de boi.

Rico em cálcio e com alto rendimento – o dobro em relação ao bovino –, a destinação principal do leite bubalino é a produção da mussarela. “Não compensa vender o leite para consumo, pois ele possui mais teor de cálcio e tem rentabilidade maior para a produção de queijo, além do sabor inigualável”, afirma o produtor Rodacki. Assim como a carne, a industrialização do laticínio sofre com a pouca produção. Tanto que grande parte do produto consumido no estado vem de outras regiões do país.


Manejo
Mitos e informações equivocadas sobre a criação de búfalos impedem que mais produtores invistam nos bubalinos

- Os animais não furam a cerca. Apenas quando estão com pouco alimento os búfalos tentam sair da área de criação. “Eles são menos conformados que os bois para a fome”, explica o veterinário José Lino Martinez.

- Búfalos são dóceis desde que o manejo seja regular. Quando estão desacostumados com a presença dos criadores, ficam mais agressivos.

- Não é preciso grande quantidade de água nos criadouros. Áreas de sombra são suficientes. A exposição excessiva ao sol causa queimaduras na pele dos búfalos.

- O manejo de bubalinos não precisa ser tão refinado. Os resultados são eficientes mesmo quando submetidos a condições simples.

- Além de ambientes quentes e úmidos, os búfalos também podem ser submetidos a baixas temperaturas.
Fonte: Iapar



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Complexo Matarazzo é área de conservação


Conjunto centenário de barracões do primeiro porto particular do país está no centro de uma disputa familiar

Gazeta do Povo | 26 de agosto de 2011

Por mais de 50 anos, Antonina passou por um promissor período econômico. A cidade presenciou, na década de 1910, a instalação do primeiro porto particular do país, que por mais de cinco décadas alavancou seu desenvolvimento. O Complexo Matarazzo, como eram conhecidas as Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo, mantinha em funcionamento moinhos de trigo, sal, açúcar e erva mate, tornando-se a principal empregadora do município.

Apesar da gloriosa história, restaram apenas edifícios danificados pelo tempo, que aguardam restaurações. A ocupação do conjunto Matarazzo é alvo de uma briga entre herdeiros do fundador das indústrias, que veio à tona com a divulgação do tombamento de partes do complexo pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em julho deste ano. A sócia majoritária da empresa Miniterras Agropastoril Ltda, Eneida Matarazzo, proprietária do complexo, se diz contrária ao tombamento, uma vez que pretende dar continuidade ao funcionamento do local, inativo desde 1970 e desde então conduzido por arrendatários. De acordo com ela, o tombamento vai impedir a reabertura dos barracões. “Estou surpresa com a quantidade de grandes empresas que querem o Porto Matarazzo. Elas oferecem valores altos pelas instalações, afirmam que irão aprofundar o calado do porto e ainda utilizá-lo de diversas formas, como para construir navios, contêineres e outros”, afirma. O filho de Eneida se diz proprietário do local e é a favor da integração do complexo à área tombada. A reportagem não conseguiu localizar o empresário para falar sobre o assunto.

A solução do caso está em andamento na Justiça, mas de acordo com o arquiteto Moisés J. Stival Soares, do Iphan no Paraná, o tombamento não representa o fim das atividades do complexo. “As áreas de menor importância histórica, que são aquelas que estão mais próximas à Baía de Antonina, podem ser substituídas por novas edificações. Para preservar o prédio é preciso dar uso para ele”, diz.

Histórica
Antonina já está legalmente tombada, mas o parecer definitivo do Iphan ainda não tem data para ser divulgado. O caráter histórico da cidade foi significante para seu tombamento. Antes mesmo de Minas Gerais, o município se destacou com o primeiro ciclo do ouro brasileiro no século 17. Além disso, sua arquite­tura apresenta edifícios com características luso-brasileira (referente ao Brasil Colônia), eclética (dos tempos do império) e art-deco (manifestação modernista do início do século 20).

Para garantir que as características histórias sejam conservadas, além dos prédios tombados, uma área de entorno também é protegida. O objetivo é evitar a descaracterização de Antonina. “Não é preciso copiar o estilo colonial ou eclético em todos os edifícios, mas garantir que eles se harmonizem com o conjunto”, explica o arquiteto. Desta forma, alguns procedimentos mudam para os moradores, entre eles a necessidade de apresentar previamente ao Iphan os projetos de restauração, orçamentos e propostas de alteração no uso das edificações.

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Discalculia não é preguiça


O distúrbio, que afeta entre 3% e 6% da população, é associado à dificuldade de aprendizagem do cálculo e dos significados dos números

Gazeta do Povo | 24 de agosto de 2011

A dificuldade em desenvolver cálculos ou entender os significados dos números pode representar algo que vai além da falta de habilidade com a matemática. Em aproximadamente 3% a 6% da população este quadro caracteriza a discalculia, distúrbio que afeta o aprendizado e o desenvolvimento de informações relacionadas à matemática.

Problemas para comparar quantidades, má utilização dos números ou dificuldades na leitura dos símbolos matemáticos são algumas das características da discalculia. Até mesmo a solução do clássico problema “João tem cinco balas e ganhou mais três. Com quantas balas ficou?” torna-se extremamente difícil no aprendizado da soma. “A discalculia é associada às dificuldades específicas no processo da aprendizagem do cálculo, que se observam entre indivíduos de inteligência normal”, explica a presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia, Quézia Bombonatto.

O distúrbio ocorre pela ausência de neurônios ou falta de junção entre eles na área terciária do córtex cerebral, que engloba os lobos parietal, temporal e occipital, responsáveis pelo processamento do raciocínio matemático e pela noção de tempo e espaço. Apesar do baixo desempenho em matemática, os discalcúlicos podem apresentar excelentes resultados em diferentes áreas.

Os primeiros sinais da discalculia podem aparecer antes mesmo da entrada na escola, mas é na sala de aula que a situação se complica, quando surgem as dificuldades e, muitas vezes, o preconceito contra o discalcúlico. “O quadro não é explícito e acaba confundido o discalcúlico com um aluno preguiçoso. Dessa forma, tentam forçar a situação, que se torna mais agressiva para a criança. A demora no diagnóstico também acontece porque muitos acham que a dificuldade vai passar naturalmente com o amadurecimento do estudante”, avalia o psicólogo e mestre em educação, Leandro Kruszielski.

Apesar dos indícios, o diagnóstico nem sempre é simples e depende de teste com especialistas. Para o neuropsicólogo Egídio Romanelli, além de prejudicar o tratamento, a falta do diagnóstico pode causar no estudante um “bloqueio para encontrar saídas à discalculia e seguir com uma vida normal.” “Na maior parte dos casos dizem que a criança é burra e não investigam a situação”, afirma.

Na pele
O estudante Antônio (nome fictício), de 15 anos, ainda se recorda do preconceito que sofria na escola pelo seu desempenho em matemática. Desde os 6 anos de idade, quando cursava as séries iniciais do ensino fundamental, sua dificuldade em efetuar cálculos de soma e subtração fez com que ele tivesse poucos amigos. “Me sentia excluído da sala por ser o único que não aprendia muito e passava vergonha porque não sabia responder os exercícios”, lembra.

A partir da quarta série, ele passou a frequentar o Centro de Neuropediatria do Hospital de Clínicas (HC) da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e desde então conta com um acompanhamento especializado.

No tratamento, Antônio realiza as tarefas da escola com a orientação da psicopedagoga Raquel Pinto de Oliveira, que trabalha os exercícios de acordo com as potencialidades do adolescente. “Usa­mos o lado da inteligência que é preservado”, explica a psicopedagoga, que nestes casos defende a repetição dos exercícios para a fixação do conteúdo. “Muitos professores não gostam de repetições, mas já está demonstrado que o alto desempenho em matemática faz muito o uso do recurso da memória”, diz.

Em muitos casos, o uso de calculadoras e computadores torna-se um aliado no desempenho do estudante. Para Antônio, que está na oitava série, o tratamento foi primordial para sua autoestima e o desempenho na escola. “Agora me sinto bem melhor do que antes, facilitou bastante.”

Os pais vão à escola


Agendas lotadas de compromissos não são mais desculpa para que os pais deixem de passar o tempo com os filhos

Gazeta do Povo | 24 de agosto de 2011

Algumas escolas abriram as suas portas para receber as famílias dos estudantes e, além de aproximar os familiares, promovem a interação entre a comunidade escolar. Atualmente muitas oferecem atividades que reúnem a família e aprimoram o processo educacional.

“Somos parceiros. Os pais são os educadores, de onde vem toda a estrutura e a filosofia de vida. A escola ajuda a construir o caráter, a educação e a formação do cidadão”, avalia a diretora do Colégio Internacional, Claudia Lebiedziejewski. Com atividades em período integral, o colégio permite que os pais almocem com os filhos e também acompanhem algumas atividades extracurriculares. Além disso, os familiares são convidados a assistirem às apresentações dos alunos. “O estudante fica mais seguro e mais incentivado”, observa Cláudia. A interação se estende ainda a grupos de voluntariado, nos quais os pais organizam atividades e palestras para os alunos.

A aproximação da escola com a família é vista com bons olhos por especialistas, uma vez que também acarreta em bons momentos entre pais e filhos. “A infância e a adolescência são etapas da vida que deixam muita saudade. Esta é uma chance de fazer algo junto e que será lembrado”, afirma a pediatra e especialista em adolescentes do Hospital de Clínicas (HC) da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Beatriz Bagatin. De acordo com ela, tais possibilidades fazem da escola um ambiente mais completo, que “não está interessado apenas no aprendizado de seus alunos, mas também no lazer, nas relações humanas e nas habilidades individuais.” Quando o estudante percebe que a escola se interessa pelo seu desenvolvimento, a consequência imediata é a melhora no desempenho.

As possibilidades não ficam restritas apenas à observação dos filhos. Os pais também são convidados a se envolver atividades esportivas, como as oferecidas pelo Colégio Marista. Toda a comunidade pode treinar na academia de ginástica da instituição, que tem na programação aulas de pilates, vôlei e basquete, mas os pais recebem descontos especiais nas mensalidades.

Alternativas
A presença permanente na instituição, no entanto, não é a única possibilidade de demonstrar interesse pelo desempenho do filho. Muitas escolas ainda não oferecem atividades abertas aos pais. Nesses casos, a alternativa é se aproximar da vida escolar dos estudantes mesmo que em casa, demonstrando interesse, como sugere a professora do curso de Pedagogia da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Adriane Knoblauch. “Quanto mais os pais vivenciam o dia a dia escolar dos filhos, melhor é o aprendizado. Para isso também vale saber o que está acontecendo, participar de eventos pontuais”, diz. “O raciocínio do jovem é ‘se meu pai não tem interesse pelo que eu estou fazendo, significa que isso não é importante’. Logo, se o pai não olha o caderno do filho, não pergunta nada, passa a mensagem de que ele não se preocupa”, complementa.


Família reunida e feliz
Os pais dos estudantes Luan, 17 anos, Luigi, 14, e Lorenzo, 9, já são conhecidos por alunos e funcionários do Colégio Marista. Eles frequentam a cantina da escola quase todos os dias para almoçar com os garotos. Essa foi a única maneira encontrada pela fotógrafa Daniela Franco Rossi, 40, de conciliar os horários com a rotina de trabalho e estudos, pois a agenda profissional dos pais e as atividades extracurriculares dos filhos tornaram impossível o encontro de toda a família em casa durante o dia.

Os almoços em família se repetem há três anos e, na avaliação de Daniela, são “absolutamente benéficos” para a relação. Ela conta que, ao mesmo tempo em que se aproxima dos filhos, conhece os colegas de classe e mantém contato direto com a direção da escola. “Os amigos nos conhecem, todos se sentem muito seguros. Além disso, sabemos com quem nossos filhos estão.” Prova disso é que, junto com a família, diversos amigos dos estudantes se reúnem para almoçar com Daniela e seus filhos.

Para o otorrinolaringologista João Luiz Garcia de Faria, 47, que não abre mão de almoçar com sua filha Luiza, 9, pelo menos uma vez por semana no Colégio Internacional, o maior benefício de poder interagir com a instituição é conhecer um pouco mais do ambiente da menina ao invés de conviver com ela apenas durante a noite e nos fins de semana. “É diferente, pois vejo como ela se relaciona com as amigas, a comunicação entre elas. Faço isso desde quando a Luiza era pequena e acompanho sua evolução, seus valores e princípios em cada fase da vida”, conta. Ele, inclusive, conseguiu perceber que a cada seis meses as rotinas de brincadeiras mudam, algo que só foi possível porque acompanha a sua rotina de perto.

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