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Iniciativa leva esperança para 34 mil crianças paranaenses que enviaram cartinhas para o Papai Noel

Folha de Londrina | 16 de dezembro de 2008

Neste ano, a campanha "Papai Noel dos Correios" é a esperança de um presente de Natal para 34 mil crianças paranaenses. São cartinhas que, além do pedido de um brinquedo ou uma roupa, levam a esperança de serem atendidas.

Até agora apenas 8,3 mil cartas foram apadrinhadas. Os pedidos são variados -cestas básicas, empregos, brinquedos ou materiais escolares- e comovem os envolvidos na realização do projeto e as pessoas interessadas em realizar os sonhos das crianças. "É emocionante", define um dos coordenadores da campanha, Paulo Araújo. Há sete anos participando do projeto, ele destaca alguns dos pedidos que mais chamaram sua atenção. Ele se lembra das cartas em que as crianças pediam ao Papai Noel cestas básicas, a cura de alguma doença da mãe, que o pai parasse de beber ou que voltasse a morar com a mãe, uma cama, um cobertor.

A campanha recebe os pedidos de crianças, de até 12 anos de idade, nos postos dos Correios e os disponibiliza para a população adotá-los. As cartinhas podem ser escolhidas e retiradas nas "Casas do Papai Noel", espaço nas agências direcionado à campanha. Em Curitiba são sete postos dos Correios com a Casa do Papai Noel. No interior do Estado a escolha das cartas é realizada na agência central do município.

Em todo o Paraná, 300 pessoas trabalham na campanha, que é realizada há 20 anos. Apenas em Curitiba, são 50 funcionários dos Correios que atuam na coleta, leitura e separação das cartas e entrega dos presentes. A equipe também conta com voluntários. No ano passado, foram recebidas 73 mil cartas e 24 mil foram atendidas. As crianças que não têm seus pedidos atendidos recebem uma carta do Papai Noel.

Para que os presentes sejam entregues às crianças até o Natal, os organizadores da campanha pedem que os padrinhos deixem os presentes em qualquer agência dos Correios até o dia 19 de dezembro. Há ainda a possibilidade da entrega ser realizada pessoalmente pelos padrinhos.


‘Será o Natal mais feliz de nossas vidas’
A pequena Xayane Souza de Jesus, 8 anos, escreveu sua carta para o Papai Noel na escola, a pedido da sua professora da 2ª série do ensino fundamental. Em um papel de caderno escrito a lápis, ela pediu uma boneca e algum brinquedo para o irmão de 17 anos, que é portador de deficiência. "Se a gente ganhar, será o Natal mais feliz de nossas vidas", escreveu.

Moradora de uma pequena casa construída com ajuda dos vizinhos, na Cidade Industrial de Curitiba (CIC), Xayane vive com a mãe e outros dois irmãos. Antes, sua casa era de chão batido, sem condições de higiene e ainda estava prestes a desmoronar. O fato de um dos filhos ser portador de deficiência impede sua mãe, Regina Souza Paula, 36, de trabalhar. A família sobrevive dos recursos conseguidos com os bicos realizados pelo irmão de 15 anos.

Muito querida pelos vizinhos, a menina ganha alguns presentes, mas poucos são novos. Em sua rotina diária, ela se divide entre a escola e o projeto social que frequenta no contraturno, em que participa de atividades artísticas, culturais e esportivas. Mas sua brincadeira preferida é brincar de boneca.

Depois de escrever a carta e entregá-la para a professora, Xayane não sabia que ela chegaria ao outro lado da cidade, no bairro Barreirinha. Ela apenas tinha certeza de que seu pedido seria atendido.


‘O sonho dela era ganhar a boneca’
Quando Camila e Vitória chegaram para a entrega do presente, na manhã de ontem, Xayane estava sozinha em casa, esperando pela volta da mãe que levou o irmão à escola. A timidez inicial enquanto a menina ainda estava para o lado de dentro do portão foi rapidamente trocada pela alegria de receber o presente que pediu e esperava apenas para o Natal.

Com a ajuda da nova amiga Camila -que faz aniversário um dia após o seu-, a menina desembrulhou o papel estampado com Papai Noel e descobriu na caixa a boneca que batizou de Emanuela, nome rapidamente registrado no cartão de certidão de nascimento incluso na caixa do presente.

E como você se sente, Xayane? "Senti que fiquei muito feliz", responde, já abraçada ao brinquedo novo e pensando nas brincadeiras que irá fazer com ele. "A (boneca) Isabele ganhou uma irmã", conta sorrindo a menina que, quando crescer, pretende ser diretora de escola.

A chegada da mãe foi emocionada. Regina sabia que Xayane havia escrito a carta, mas não esperava pelo retorno e que, principalmente, deixasse a filha tão feliz. "Não posso realmente comprar. O sonho dela era ganhar a boneca", agradeceu a mãe.

Quando se despediram, um sentimento em comum tomou conta das quatro: a felicidade. Camila e Vitória foram embora felizes, principalmente pela "carinha de Xayane abrindo o presente", e a menina e sua mãe voltaram para casa contentes com a nova boneca.


Família escolhe seis pedidos de presentes
Toda a família de Camila Fernanda Morais Machado, 9 anos, aproveitou sua apresentação natalina do coral na agência dos Correios, no centro de Curitiba, para escolher cartinhas com pedidos de presente de Natal. Juntos, ela, sua mãe, seu pai e sua avó apadrinharam seis cartas.

Pela primeira vez em seis anos, os presentes que a família entrega no Natal foram escolhidos pela própria criança favorecida. Mas, para a mãe de Camila, a educadora social Vitória Régia Pinheiro de Morais, 36, a prática é muito importante para a sua formação como cidadã e para que a menina saiba que "existem outras realidades". Papai Noel também é uma figura presente na família de Camila. Sua chupeta e mamadeira foram entregues ao Bom Velhinho em troca de presentes. "Se a gente tem presentes no Natal é porque a gente batalha, mas muitos não têm", afirma Vitória.

O que estimula a família de Camila a continuar com a entrega dos presentes é o fato de ajudar as pessoas que precisam realmente. "Sinto vontade de fazer mais, de ajudar mais pessoas. Todo mundo podia fazer", conta a mãe de Camila, que também faz campanha para que outras pessoas entreguem presentes a crianças de baixa renda no Natal.

Além do pedido de Xayane, a família se sensibilizou com uma criança que aproveitou a oportunidade para solicitar ao Papai Noel um brinco para a irmã recém-nascida e outra que espera para ganhar material escolar.

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