Do quintal, enfermeira retira a solução que 'Deus dá'

Unidade de saúde na Região Metropolitana de Curitiba recebe pacientes que buscam a cura em plantas medicinais

Folha de Londrina | 9 de outubro de 2008

Na cozinha utilizada como laboratório, Maria das Graças Rodrigues Rois, 58 anos, e Joany Siqueira da Silva, 48, produzem chás, vitaminas e até pomadas. A matéria-prima vem do quintal, onde diversas plantas - além de tornarem o terreno mais bonito e agradável - servem como remédios utilizados no posto de saúde onde a enfermeira e a auxiliar de enfermagem trabalham.
Por causa da iniciativa das duas, a Unidade de Saúde Tamboara recebe moradores de vários bairros de Almirante Tamandaré (Região Metropolitana de Curitiba). São casos de pessoas que passaram por tratamentos alopáticos e que encontraram a cura para seus problemas com as ''ervas naturais que Deus dá'', como diz a enfermeira Maria das Graças, ou Graça, como é conhecida.

Foi assim com a aposentada Iraci Olga dos Santos, 68. Ela chegou à unidade de saúde com uma úlcera na perna em estágio avançado. O problema começou há quatro anos e seu médico vascular já havia recomendado a amputação. O pé estava roxo, sem circulação, a perna estava endurecida. E contam os presentes que na primeira consulta o mau cheiro espantava até quem estava no corredor.

''Não sentia mais nem dor e o médico disse que já estava gerando uma trombose'', conta a paciente. Depois de dois meses de tratamento com Graça e Joany ela conheceu uma alternativa aos tratamentos convencionais: as plantas medicinais.

No tratamento de dona Olga, Graça e Joany utilizam a casca da Arueira e a planta Pau de Andrade. Todos os dias elas lavam o ferimento da paciente e fazem um curativo. E é assim com os demais pacientes, quando elas contam com as propriedades medicinais de várias outras plantas, como a Calêndula, Figatil, Pessegueiro, Flor da Amazônia e Flor do Ipê.

''O povão busca bastante a gente, fazemos muitas orientações. Às vezes não temos tempo de parar um pouquinho. A erva medicinal é mais barata e nasce da natureza'', afirma Graça. Além da melhora das doenças, as profissionais também percebem uma transformação imediata: a auto-estima. ''É a primeira coisa que percebemos no paciente'', conta a enfermeira.


'É preciso conhecer as plantas', alerta professor
Reconhecendo a importância do uso de plantas medicinais, o biólogo e professor das Faculdades Integradas Espíritas (FIES) Wanderlei do Amaral alerta para a necessidade de, antes de consumir as plantas, conhecer quais são seus reais efeitos. ''Acontece uma grande confusão. As pessoas pensam que se a plantinha natural faz bem, mal não vai fazer e usam tudo quanto é tipo de planta. Mas ela tem uma constituição química que em determinadas doses por ser tóxico'', explica.

Além da intoxicação, o professor afirma que o consumo da planta pode ter o efeito placebo, em que a propriedade medicinal não faz efeito algum para o problema apresentado. O consumo equivocado das plantas pode provocar uma reação fisiológica que afeta a pressão arterial, o fluxo sanguíneo ou o metabolismo de gordura. Amaral alerta ainda para a mistura de diferentes plantas. Levando em conta que cada uma possui uma constituição química, elas podem causar reações químicas desconhecidas.

As plantas medicinais, em relação aos medicamentos alopáticos, têm efeitos menos agressivos e são facilmente absorvidos pelo organismo. Os alopáticos agem mais rápido e possuem seus princípios ativos extraídos de plantas, mas também podem causar sequelas devido ao consumo. O professor não descarta ainda o uso combinado dos dois tipos de medicações com orientação de profissionais da área.

Orientação
Para evitar que as pessoas consumam as plantas medicinais de maneira errada, o herbário da FIES disponibiliza para a comunidade uma orientação gratuita. Os visitantes levam uma amostra da planta, que é identificada. Lá, são explicadas as suas funções e o modo de preparo correto. O objetivo é evitar o consumo inadequado de plantas medicinais, que são facilmente confundidas. Caso a planta levada para identificação seja nociva, a equipe da FIES distribui pequenas mudas da planta correta para o consumo. A identificação também pode ser feita com pesquisas, mas Amaral ressalta que são necessárias fontes idôneas.

Serviço:
O herbário das Faculdades Integradas Espírita fica na Rua Tobias de Macedo Jr., 333.
Informações pelo telefone (41) 3111-1716.


Interesses surgiram logo cedo
O consumo das plantas medicinais fez parte da infância do professor Wanderlei do Amaral e da auxiliar de enfermagem Joany Siqueira da Silva.

Quando criança, Amaral morava em Pirituba (Santa Catarina), cidade turística conhecida pelas suas águas quentes. Aproveitando a grande movimentação de pessoas idosas no local e que gostam de chá, o jovem empreendedor passou a comercializar os chás cultivados pelo pai.
Já Joany é filha de índio, que nunca estimulou seus filhos a consumirem medicamentos alopáticos e utilizava as plantas quando eles estavam doentes. Foi daí que começou seu interesse pelas plantas medicinais, área que trabalha desde 1984.

SAIBA MAIS
- Conheça os efeitos de algumas plantas:

BOLDO
Do Chile (nome científico: Ilex aquifolium): Cresce apenas em regiões com 3,5 mil metros de altitude, logo, não é nativo do Brasil. O Boldo do Chile é um produto importado e comercializado desidratado. Seu princípio ativo, a boldina, tem efeito digestivo e faz bem para o fígado.
BRASILEIRO (Vernonia condensata): Também conhecido como alumâ, é o único tipo de boldo que nasce em árvores, que possuem quatro ou cinco metros de altura. Tem defeito digestivo.
FALSO BOLDO (Plectranthus grandis): Apresenta folhas grandes, com aproximadamente 15 centímetros de cumprimento e a planta chega a três metros de altura. Se chama falso boldo porque se parece morfologicamente (''fisicamente'') com o boldo. Não possui propriedades medicinais conhecidas.
FIGATIL (Plectranthus barbatus): Possui folhas menores (aproximadamente oito centímetros) e apresenta o aroma característico do boldo. Esta planta não deve ser consumida durante o período de gestação, o que é muito perigoso, pois é muitas vezes confundida com o boldo e consumida para amenizar enjôos.

ARRUDA (Ruta graveolens): Apresenta efeito para amenizar cólicas menstruais, mas não deve ser consumido durante a gestação, pois pode causar até aborto.

CITONELA (Cymbopogan nardus): Utilizada para a produção de repelentes, possui substâncias hepatotóxicas (que intoxicam o fígado) e não produz efeito calmante, como o capim limão. Apresenta cheiro forte, semelhante ao de desinfetantes.

CAPIM LIMÃO (Cymbopogan citratus): Com efeito calmante e sedativo, tem o cheiro diferente ao da citonela e possui as folhas mais esverdeadas.
Fonte: Biólogo e professor Wanderlei do Amaral, das Faculdades Integradas Espíritas (FIES)

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