Mega-Sena paga segundo maior prêmio: R$ 75 mi

O maior prêmio regular saiu no mês passado: foram pagos R$ 92,5 milhões para sete apostas

Gazeta do Povo | 02 de outubro de 2010

O apostador que acertar os números da Mega-Sena no sorteio número 1.219 realizado nesta noite levará para casa R$ 75 milhões. Só para se ter uma ideia da quantia, se o prêmio tivesse um único acertador e ele resolvesse sair dando uma de Tio Patinhas, precisaria de um caminhão para transportar, em notas de R$ 100, a meia tonelada de dinheiro. Este prêmio é o segundo maior entre os sorteios regulares, sem contar a extração especial da Mega da Virada de 2009 (R$ 144,9 milhões).

A Mega-Sena está acumulada há sete concursos, desde o dia 8 de setembro. O alto valor do prêmio interfere diretamente no movimento das casas lotéricas que, nesta semana, está ainda maior devido à greve dos bancos. “É um aumento imenso, não temos nem como quantificar. Quando o prêmio chegou a R$ 92,5 milhões (primeiro maior prêmio regular), no começo de setembro, pensamos que iríamos arrecadar 30 mil apostas, mas chegamos a 50 mil”, afirma o proprietário de uma casa lotérica no centro de Curitiba Auxilio Suguimoto.

Suguimoto conta que em tempos de Mega-Sena acumulada, ele se depara com clientes otimistas, que chegam a apostar milhares de reais na expectativa de conquistar o grande prêmio. “In dependente de sexo, raça e religião, todo mundo se sente um pouco dono dos R$ 75 milhões”, diz. As dezenas preferidas para apostas são aquelas relacionadas à família: há datas de nascimento, placas de carro, números de residências e de telefone.

Investido na poupança, se o prêmio tiver apenas um acertador, terá uma renda mensal de aproximadamente R$ 450 mil. Se o valor fosse empregado na compra apenas de veículos, poderia render uma frota de 3 mil carros populares ou 15 mil motocicletas de 125 cilindradas.

Confiante de que pode conquistar os R$ 75 milhões, o mestre de obras João Francisco da Silva, de 68 anos, prefere não aparecer nas fotos por segurança, mas conta que o segredo é “ir na louca”, sem números definidos para os jogos. Foi desta maneira que ele já ganhou R$ 8 mil na Lotofácil, valor considerado por ele uma “mixaria” perto do que se aproxima. “A gente sempre tem esperança. Minha primeira compra com o prêmio será uma fazenda”, diz. A dona de casa Maria da Silva dos Santos, 65anos, tem a mesma estratégia. Ela escolhe os números quando se depara com o cartão de apostas. “É tanto dinheiro que não tem nem como pensar no que gastar”, diz. Já a aposentada Lindauir Menegatti, 56, aproveita a intuição para fazer a “fezinha”. “Estou muito confiante”, diz.

Serviço:
As apostas da Mega-Sena podem ser feitas até as 19 horas de hoje: o valor do cartão começa em R$ 2.

Lei da Filantropia causa confusão

Novos critérios para obter certificação de instituição beneficente confundem entidades. Norma está em vigor desde o fim de 2009

Gazeta do Povo | 29 de setembro de 2010

Em vigor desde novembro de 2009, a Lei da Filantropia ainda não atingiu os objetivos propostos há quase um ano, quando foi aprovada: profissionalizar as instituições beneficentes e reduzir os desvios de recursos. A norma mudou os procedimentos de re quisição e concessão da Certi ficação das Entidades Bene ficentes de Assistência Social (Cebas) e para isenção de recolhimento de contribuições para a seguridade social. Boa parte das instituições que precisam renovar a certificação afirma não saber como proceder após as mudanças na legislação. O prazo final para se adequar aos novos critérios é 20 de janeiro de 2011.

De acordo com Lei n.º 12.101, a competência para análises de requisições e prestação de contas deixou de ser responsabilidade do Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) e passou para os Ministérios de De senvolvimento Social e Com bate à Fome, Saúde e Educação, conforme a atuação de cada entidade beneficente. “Mas hoje só temos a letra da lei, pois as entidades não podem fazer nada até os ministérios se organizarem. Por enquanto está tudo como era antes”, afirma o presidente da Federação Para naense de Fundações e En tidades do Terceiro Setor (Para­ná Fundações), José Alcides Marton da Silva.

Ele conta que muitas organizações iniciaram o processo de renovação da certificação – realizado a cada três anos – antes da vigência da lei e não precisaram aderir aos novos procedimentos. Mas as demais não sabem exatamente qual determinação seguir e como a nova lei irá interferir na gestão. Outro fator que preocupa os gestores é a transição de governo, que poderá dificultar ainda mais o processo com a troca de equipe técnica dos ministérios.

Problema
Um dos principais impasses é o protocolo a ser adotado pelas organizações chamadas mistas, com atuação em mais de uma área, como por exemplo, educação e assistência social. “O primeiro grande desafio para as entidades é olhar dentro de si e definir suas áreas de atuação”, avalia a assessora jurídica da Associação Paulista de Fun dações, Nicole Hoede ma ker. De acordo com ela, este tipo de gestão é muito comum e uma das grandes dificuldades das instituições será acertar a contabilidade de receitas e despesas referente a cada uma das áreas de atuação, bem como ajustar o atendimento para as especificações previstas.

Nesses casos, a coordenadora de certificação de entidades de assistência social do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Edna Alegro, explica que a instituição deverá selecionar uma atividade predominante entre as demais. A partir de então são definidos o índice de atendimentos gratuitos e para qual ministério será enviada a documentação. Uma parceria entre os demais órgãos ficará responsável pela análise das informações competentes a cada área.

“As organizações estão ansiosas pelos procedimentos finais. Muitos projetos poderão sofrer cortes para que se cumpra a exigência da lei. É possível que o acesso aos usuários fique restrito”, prevê o secretário executivo da Associação Brasileira das Univer sidades Comunitárias (Abruc), José Carlos Aguilera, que considera a lei obsoleta na forma que determina a relação do governo com a sociedade civil organizada. De acordo com ele, o ideal é a realização de uma estratégia planejada para as ações em parceria com o poder público, o que potencializaria a atuação das duas partes.

O vice-diretor administrativo financeiro do Hospital Pequeno Príncipe, André Teixeira, também compartilha dessa preocupação. Ainda com dúvidas em relação aos procedimentos a serem tomados, ele afirma que uma revisão na remuneração repassada às entidades pode prejudicar o atendimento. “Com qualquer piora na remuneração ou tentativa de aumento de atendimento não dará para as instituições sobreviverem”, garante.

Debate
Organizações da sociedade civil e representantes dos ministérios estão promovendo debates para traduzir a aplicação da nova lei. Edna Alegro afirma que o contato com as instituições é uma prioridade do departamento. “Criamos uma estrutura específica para as certificações”, diz. O site do Minis tério do Desenvolvimento Social tem uma página específica para as entidades, com informações sobre procedimentos e o andamento dos processos. De acordo com Edna, mais de 700 pedidos de certificação estão em análise.

Mudanças necessárias
O maior rigor na documentação e na prestação de contas previsto na Lei da Filantropia aponta para a necessidade da profissionalização das organizações, uma vez que, se não se adequarem à norma, elas correm o risco de perder a certificação de entidade beneficente. “Todas terão que se estruturar, pois sem isso irão perder o certificado. As grandes organizações já têm profissionalização, buscam reconhecimento técnico, mas as menores, se não estiverem no caminho certo, podem não conseguir a certificação em tempo”, alerta Nicole Hoedemaker, assessora jurídica da Associação Paulista de Fundações.

Na Associação Paranaense de Cultura (APC), mantenedora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), a equipe profissional atenta ao andamento da lei reduziu o impacto das novas determinações. De acordo com o superintendente da APC, Marco Antônio Barbosa Cândido, a instituição já estava adequada aos procedimentos do ProUni (Programa Universidade para Todos), que estabelece a concessão de bolsas aos estudantes.

Este é o plano de ação determinado pelo Ministério da Educação para as entidades beneficentes. “Foi preciso apenas ordenar a prestação de contas, pois a PUCPR atua também na área da saúde e da assistência social. Acredito que a lei traz mais transparência no processo”, afirma. Cândido prevê, no entanto, dificuldades para as organizações que atuam na educação básica, que também irão seguir os mesmos critérios. A cada nove alunos pagantes, as instituições devem oferecer uma bolsa integral a estudantes de famílias com renda de até 1,5 salário mínimo per capita.


Mais rigor
Nova legislação pretende combater fraudes
Com a Certificação das Entidades Beneficentes de Assistência Social, a organização ganha imunidade na contribuição social em contrapartida pela gratuidade de parte de seus atendimentos, como oferta de bolsas a estudantes ou atendimentos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Em cada área, as instituições devem seguir critérios para a prestação de contas.

A expectativa é que o rigor no processo de certificação dificulte as irregularidades. “Apesar da necessidade de fiscalização do setor e do estabelecimento de critérios mais rígidos de concessão da certificação, a lei surpreendeu muitas organizações sérias, comprometidas com o bem-estar e desenvolvimento social, com o excesso de rigor e requisitos. A consequência disso é imensurável para muitas destas organizações, que, se não sucumbirem, enfrentarão sérias dificuldades para a manutenção da qualidade dos serviços prestados”, afirma Renata Favero Rampaso, advogada, especialista em Direito Público, colaboradora do Portal Brasileiro do Terceiro Setor.

Mesmo com a demora na aplicação efetiva da lei, as associações estão confiantes de que o rigor determinado trará benefícios ao Terceiro Setor, principalmente em relação aos recursos na área. “Vai separar o joio do trigo e vai facilitar a fiscalização, pois ninguém mais que as próprias instituições tem interesse de que os recursos sejam bem aplicados e que separem as organizações que usam a filantropia para se beneficiar economicamente”, analisa José Alcides Marton da Silva, da Paraná Fundações.


O que diz a Lei nº 12.101
Norma determina critérios para certificação de entidades beneficentes e procedimentos de isenção de contribuições para a seguridade social.

Saúde
- A entidade deve ofertar pelo menos 60% de serviços pelo SUS.
- Na impossibilidade do cumprimento do porcentual mínimo, em razão da falta de demanda, declarada pelo gestor local do SUS, ou não havendo contratação dos serviços de saúde da entidade, deverá ela comprovar a aplicação do porcentual da sua receita bruta em atendimento gratuito de saúde.

Educação
- A instituição deve oferecer bolsas de estudo nas seguintes proporções: no mínimo, uma bolsa de estudo integral para cada nove alunos pagantes da educação básica; bolsas parciais de 50%, quando necessário para o alcance do número mínimo exigido.

Assistência Social
- As entidades que prestam serviços com objetivo de habilitação e reabilitação de pessoa com deficiência e de promoção da sua integração à vida comunitária e entidades de longa permanência, ou casa-lar, poderão ser certificadas, desde que comprovem a oferta de, no mínimo, 60% de sua capacidade de atendimento ao sistema de assistência social.


Faculdade paga tem evasão igual a pública

Segundo o Censo do Inep, taxas de abandono em instituições gratuitas e particulares são similares. Fator econômico e falta de conhecimento sobre os cursos escolhidos são as principais causas

Gazeta do Povo | 26 de setembro de 2010

A taxa de abandono nas universidades públicas do Paraná é muito similar a registrada em instituições particulares, que, em tese, teriam potencial para apresentar índices bem mais altos, já que cobram mensalidades. Essa é a análise que pode ser feita a partir dos dados do Censo da Educação Superior de 2008, o último divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educa cionais Anísio Teixeira (Inep). Con forme o levantamento, o ín dice de evasão nas faculdades públicas do estado foi de 7,4%, enquanto nas privadas foi de 8,9%. Ao todo, em 2008, 27 mil dos 329 mil alunos do estado se afastaram do ensino superior.

A média geral do estado (8,3%) é pouco melhor do que a nacional e a menor da Região Sul. No Brasil, em cada grupo de dez estudantes, um abandona a universidade. Em 2008, quando 5 milhões de alunos estavam matriculados nos cursos de graduação, 532 mil deixaram a universidade, o que representa 10,5% do total. O Inep ainda não divulgou o estudo referente ao ano passado, mas dados do Sindicato das Entidades Man tene doras de Estabelecimentos do Ensino Superior no Estado de São Paulo (Semesp) apontam para um crescimento acentuado da evasão, que chegou a 19,1%.

Causas
Com ou sem mensalidade a ser paga no fim do mês, a questão socioeconômica é uma das principais causas que leva à evasão. Isso porque os estudantes arcam também com os gastos de transporte, alimentação e moradia. “Esta situação mostra a necessidade de políticas públicas e financiamentos estudantis no setor privado”, analisa a vice-presidente da Associação Brasileira das Mantenedoras do Ensino Superior (ABMES), Carmen Luiza da Silva.

Quando o problema não é financeiro, a falta de conhecimento sobre o curso escolhido se transforma em empecilho para a permanência na universidade. Em média, entre os desistentes, 20% são acadêmicos do primeiro e segundo anos. O interesse, geralmente, acaba assim que começam as disciplinas mais genéricas, ministradas no início da faculdade. O diretor-executivo do Semesp, Rodrigo Capelato, alerta ainda para a dificuldade de muitos alunos em acompanhar as disciplinas mais específicas. “O estudante que vem das classes mais baixas, muitas vezes, tem só a formação básica. Quando ele entra em cursos mais difíceis, não consegue acompanhar e acaba abandonando”, diz. Ele aponta essa situação como uma das responsáveis pela evolução de 19% para 21% da evasão no estado de São Paulo.

Motivação
“As universidades não estão preparadas para receber o perfil de aluno da geração Y”, critica Capelato. Ligados a todos os tipos de tecnologia, os alunos dessa geração entram na universidade e se deparam com um sistema que não acompanha seus interesses e ritmo de aprendizado. “Quando chegam na sala de aula, encontram aquele velho sistema, em que o professor está na lousa e o aluno é passivo. Isso desestimula o estudante, que é inquieto”, afirma.

A esses fatores, o especialista em educação superior José Dias Sobrinho adiciona a falta de perspectiva de empregos futuros em decorrência, principalmente, da baixa qualidade das instituições particulares. “Em muitos casos o aluno está sem motivação, cansado do trabalho, o que também reflete sua situação econômica. Enquanto isso, muitos cursos possuem baixa qualidade. As pequenas instituições recebem estudantes pelo método mais fácil, mas não necessariamente o mais interessante”, afirma.


Opção pelo trabalho
A preferência pelo trabalho em detrimento ao estudo é um fator determinante para a evasão universitária. Essa escolha, porém, impede que, posteriormente, o estudante ocupe uma posição confortável no mercado de trabalho. “Naquele momento, em que o jovem sofre um apelo de consumo, a renda é significativa, mas ao longo dos anos essa opção vai impossibilitar um ganho que estaria disponível a ele se concluísse o ensino superior”, alerta a presidente da comissão de processo seletivo da Unibrasil, Wanda Camargo. A professora ressalta ainda que a conscientização da família é fundamental para evitar o abandono dos estudos. “É preciso mostrar ao aluno que aquele sacrifício vale a pena, pois a evasão nas universidades é mortal para um país que pretende desenvolver-se.”

Algumas características culturais do brasileiro também contribuem para que a evasão aconteça no ensino superior. Na UTFPR, por exemplo, a chefe do Departamento de Educação, Sônia Ana Leszczynski, identificou uma nova situação. O uso do Enem como processo seletivo para ingresso na universidade possibilitou que estudantes de todo o Brasil se candidatassem às vagas na instituição, com boas chances de serem aprovados. Mas a distância entre a nova cidade e a família tornou-se mais um empecilho à permanência do estudante na universidade. “O Enem segue um modelo europeu e norte-americano de seleção, locais onde a partir dos 18 anos o estudante já sai de casa. Mas aqui não é assim. A cultura latino-americana é muito próxima e a questão familiar é muito arraigada. Muitas vezes o aluno não está preparado para viver em uma comunidade que não seja a familiar”, afirma.


Uma força para persistir
Para evitar que os estudantes deixem o ensino superior, as universidades realizam programas de acompanhamento e investimentos. A permanência dos alunos é uma das metas do Reuni, programa das universidades federais. Entre outras medidas, o programa prevê investimentos na estrutura das organizações e a oferta de bolsas aos universitários.

A qualidade da infraestrutura também está em pauta nas instituições particulares. “Precisamos modernizar o método de ensino, com melhores laboratórios e bibliotecas, viabilizando aulas mais atraentes”, ressalta a presidente da comissão de processo seletivo da Unibrasil, Wanda Camargo.

Quando a razão da desistência é o desinteresse pelo curso, o jovem é estimulado a refletir sobre sua motivação. “Muitas vezes a expectativa com o curso é baseada em mitos. A reflexão os leva a considerar a desistência”, afirma Ingrid Caroline de Oliveira Ausec, psicóloga do programa Profissão Certa, da Universidade Estadual de Londrina (UEL).

Para sanar o abandono por questão financeira, uma das soluções mais eficazes é a concessão de bolsas e o financiamento estudantil. Foi apenas com esse benefício que o funcionário público Rogério Michailev, 34, conseguiu continuar no curso de Educação Física na Universidade Positivo. Aproximadamente 70% do salário de Rogério era destinado ao pagamento da mensalidade, o que, depois de três meses, tornou-se inviável. O estudante conseguiu 50% de desconto nas parcelas, devendo pagar os 50% restantes após o término do curso. “Não penso mais em desistir. Eu já trabalhava como voluntário com crianças e quando concluir minha formação superior poderei contribuir muito mais.”