Amor animal: adoção por outra espécie

Casos curiosos ocorreram no Passeio Público e no Zôo

Folha de Londrina | 4 de março de 2009

Assim como com os humanos, a vida entre os animais não é fácil. Problemas de relacionamento ou dificuldades de aceitação e adaptação complicam o desenvolvimento dos bichos. Quando isso acontece é preciso uma mudança de comportamento e até mesmo de família, que pode abrir o caminho para novas histórias de amor.

A adoção é uma das soluções para problemas de animais rejeitados por seus grupos de convivência ou que se perdem. Mas engana-se quem pensa que o processo conta com a participação dos humanos. Os bichinhos são adotados por outros, de espécies diferentes.

A iniciativa é comum nos zoológicos e parques. Em Curitiba, são quatro novas famílias inusitadas, como a ema que vive com um frango. "A adoção (entre animais) não é anormal. Assim como os humanos adotam cães e gatos, é comum a adoção de animais. E é mais comum entre os animais que vivem em grupos, como cachorros que adotam onças e tigres, que possuem hábitos solitários", explica a médica veterinária do departamento de Zoológico de Curitiba, Lucyenne Popp.

A ema foi encontrada ainda filhote no Zoológico de Curitiba. A equipe de veterinários optou por não colocá-la nos dois grupos que vivem no parque, para evitar que fosse rejeitada novamente. Como este animal aprende a se alimentar imitando os integrantes de seu grupo, em dezembro do ano passado, quando chegou no Passeio Público da cidade, a ema passou a viver com um pintinho. "Os animais acabam adquirindo comportamentos mais próximos e resgatam o comportamento da espécie. Fica mais fácil de se integrar no grupo depois", conta Lucyenne.
Em um mês de convivência, a ema passou de 385 gramas a 1,765 quilo. A previsão é que em alguns meses o animal volte ao seu grupo de origem, que vive no Zoológico. A medida não irá causar danos para a ema, que, de acordo com Lucyenne, vai esquecer facilmente os vínculos com o frango -característica comum entre a espécie.

Sem ser alimentado pela mãe, o filhote de arara-nobre foi recolhido pelos técnicos do Passeio Público para passar por um tratamento. A presença do novo vizinho causou reações na ararajuba que ocupava a gaiola ao lado. Em quatro dias o filhote ganhou uma nova mãe, que imediatamente passou a alimentá-lo, com um benefício que a alimentação por sonda não tem: como o alimento é regurgitado, a mãe passa para o filhote também anticorpos.

Outro animal que ganhou uma nova mãe foi o periquito-verde. Espécie muito comum na cidade, com frequência alguns filhotes caem de seus ninhos e se perdem da família. Entregue à administração do parque, o filhote também chamou a atenção da curica-violeta, que ficou nervosa e ganhou a companhia do animal para se acalmar.

A decisão de deixar dois animais de espécies diferentes só é tomada depois de uma avaliação cuidadosa sobre o comportamento dos animais, se há uma ligação e comunicação entre os bichos. De acordo com a veterinária, a integração entre os animais é imediata e os benefícios facilmente percebidos. "Eles são os melhores enfermeiros que a gente tem, tomam conta mesmo. E aumentam as chances de sobrevivência", afirma. Não são só as aves que adotam animais. Uma ligação muito forte une um macaco-prego a duas macacas-aranhas que vivem no Zoológico de Curitiba. O filhote também foi rejeitado por seu grupo, mas há quatro anos foi imediatamente recebido pelas novas companheiras. Diferente dos outros, os macacos não serão separados, pois o envolvimento emocional entre eles é muito mais forte.

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