O artista da argila

Folha de Londrina | 23 de setembro de 2009

Já se vão 10 anos. Na saudosa 7ª série do ensino fundamental, a aula de ensino religioso, que não falta em colégios de freiras, não era a mais esperada por aquela turma que tanto se gostava. Graves suspeitas de que a própria professora, uma freira baixinha e espevitada, também não esperava alegremente pela chegada da aula. Afinal, lá estava a "causa de sua desarmonia espiritual" que a fazia correr para a capela depois dos torturantes 40 minutos de aula. Para fazer da relação alunos-disciplina a mais agradável (ou menos desagradável) possível, algumas atividades eram mais dinâmicas. A infeliz idéia foi a produção de pequenas esculturas de argila. Terminada a atividade, uma oração para encerrar a aula e lá se vão os alunos correndo felizes.

Quando passava por perto do banheiro dos meninos, Ana é convidada por seu colega André para ver "uma coisa" dentro do banheiro. A cara de quem aprontou do menino não passava uma boa impressão, mas a curiosidade foi mais forte e a levou para o primeiro dos dois degraus em direção ao recinto. Antes de Ana pisar no degrau, a religiosa apareceu, furiosa. Véu e hábito dançavam com o vento formado pela rapidez dos passinhos curtos da irmã. Diferente de Ana (frustrada até hoje por não ter visto com os próprios olhos o que acontecia), a freira entrou no banheiro dos meninos, expulsando todos os que lá estavam para admirar a verdadeira obra de arte criada durante a aula: argila por todo o banheiro...

Esquecendo dos ensinamentos religiosos aprendidos há poucos minutos, o maior interesse de toda a turma era descobrir quem foi o artista! Nada e ninguém conseguiu tal façanha. Quinze dias sem recreio para os meninos (os únicos capazes de fazer uma coisa dessas pelo fácil acesso ao local) não foi suficiente para que o autor se apresentasse. Nem mesmo uma possível prova incontestável. Romildo, um estudante da turma, tinha as unhas e os bolsos do uniforme sujos pela matéria prima utilizada pelo artista. Mas este é um segredo muito bem guardado.

Mesmo depois de uma década o assunto é discutido nos encontros da turma. Romildo continua como o principal suspeito. Um fórum na internet já discutiu o sério caso, que causou tanta revolta aos meninos que não puderam jogar bola no recreio e ainda aguentavam as piadinhas das meninas na hora em que elas saíam para fazer seus lanches ao ar livre. Mas Romildo nega. Ele nega até hoje, quando não pode mais ser suspenso das aulas ou levar um belo puxão de orelha da freira. Poxa vida, Romildo. Não custa nada contar. Se bem que o suspense é o mais interessante de toda a obra.

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