Abandonados na Rodoferroviária

Dois carros, um Monza e um Gol, acumularam juntos, ao longo dos anos, R$ 16 mil em dívidas

Folha de Londrina | 7 de janeiro de 2009

No dia em que buscar seu veículo Monza no estacionamento da Rodoferroviária de Curitiba, o proprietário -ainda não localizado- precisará pagar aproximadamente R$ 14 mil, referente aos quase quatro anos em que o carro ficou abandonado no local. Se aparecer para pegar o carro, mesmo com o prejuízo, o motorista vai recuperar sua gravata e seu caderno, esquecidos sobre a tampa do porta-mala, e ainda levar para casa uma pequena muda de planta que nasceu no vão da porta.

Durante os 39 meses em que está no estacionamento, o veículo sofreu alguns danos, decorrentes do tempo e da ação de vândalos. A pintura está manchada e há muita poeira por todo o carro, em que estão inscrições como "lave-me por favor", "é roubado" ou "vende-se: R$ 50,00". Os pneus estão murchos, o retrovisor foi arrancado, assim como a tampa protetora do compartimento de combustível, e o farol esquerdo está quebrado. Pela película de proteção nos vidros, que está manchada, pode-se perceber que por dentro o carro está bem conservado. Sobre o banco do carona, um panfleto divulga casas de alto padrão. Não há sinais de arrombamento.

Desde o dia 27 de setembro de 2005, quando o carro foi abandonado no local, a Urbanização de Curitiba S/A (Urbs), responsável pela Rodoferroviária, tentou inúmeras vezes localizar o proprietário do Monza. Além dele, o dono de um Gol, que abandonou o veículo em uma vaga muito próxima ao primeiro carro, no dia 28 de abril de 2008 e que hoje deve cerca de R$ 2 mil, também foi procurado, mas sem sucesso.

Depois da busca pelos proprietários identificados no registro dos veículos e da verificação de multas -nenhum dos dois veículos possuem multas-, a Urbs encaminhou em outubro de 2006 e dezembro de 2007, ofícios ao Departamento de Trânsito do Paraná (Detran-PR) e à Polícia Civil, respectivamente, para a solução do problema e o início de um impasse entre as instituições.

O Detran-PR alega que não pode tomar nenhuma providência porque os carros não estão em via pública, mas no estacionamento privado da Rodoferroviária. Neste caso, de acordo com o Detran-PR, a responsabilidade da retirada dos veículos é da Urbs. A Polícia Civil afirma que sua atuação não é válida em situações de simples abandono, apenas quando há indícios de crimes como roubo, furto ou adulteração da placa. Para confirmação de que há ou não algum crime envolvendo os veículos, o caso foi encaminhado para investigação na Delegacia de Furtos e Roubos de Veículos.

Para a Urbs, a solução virá do Poder Judiciário, uma vez que os veículos são de propriedade particular. Uma ação que será entregue nos próximos dias solicita a remoção imediata dos veículos pelos donos, o pagamento da dívida do estacionamento -estimada em R$ 16 mil- ou ainda a decisão do juiz pelo que deve ser feito caso os proprietários não sejam localizados.

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