Relíquias em sambaquis


Estruturas de cascas de moluscos revelam como eram a vida e a rotina dos índios paranaenses, há 10 mil anos

Gazeta do Povo | 26 de agosto de 2011

Comunidades que habitaram o litoral paranaense há cerca de 10 mil anos, deixaram parte de suas histórias guardadas em pelo menos 340 sambaquis, sítios arqueológicos formados por cascas de moluscos, que estão espalhados por todos os municípios da região. Mais do que um simples amontoado de conchas, tais estruturas ajudam a contar como foi a evolução do estado por meio da moradia, da alimentação e dos rituais religiosos de nossos antecessores.

As grandes montanhas – algumas passam dos 30 metros de altura – localizadas próximas aos rios e às baías logo chamaram a atenção dos europeus no período de colonização, durante o século 16. A curiosidade estendeu-se até meados do século 20, quando foram realizados os primeiros estudos de especialistas. As dúvidas eram referentes à formação natural dos sambaquis ou se eles foram criados pelas próprias comunidades, que utilizaram os restos dos alimentos que vinham das águas. “A criação pode não ter sido intencional, mas facilitou muito a vida dos habitantes. A elevação do sambaqui era estratégica para a visualização do inimigo, possibilitava a ventilação e afastava os insetos”, afirma a técnica do setor de arqueologia do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) no Paraná, Alessandra Spitz.

Os estudos revelaram comunidades complexas e numerosas, devido ao número de sepultamentos nos sambaquis (com grande potencial de preservação devido ao cálcio das conchas). “A população tinha consciência ambiental, pois sabia que a quantidade de alimento do local supria determinado número de pessoas. Quando ocorria a escassez de recursos, os habitantes iam para outro lugar”, explica Alessandra. A oscilação no nível do mar que, com o passar dos anos, recua e avança pela costa, também contribuiu com a movimentação das comunidades pelo litoral. Este fator leva os estudiosos a acreditarem que os sambaquis mais antigos estejam submersos.

Protegidos
A legislação federal impedindo que os sambaquis sejam devastados, só entrou em vigor em 1961, mas não evitou que muitos sítios desaparecessem. Durante a colonização do estado, as estruturas foram utilizadas na construção das cidades históricas como Paranaguá e Morretes, em que as conchas eram queimadas para a produção de cal e argamassa. A poucos metros do sambaqui de Guaraguaçu, em Pontal do Paraná, ainda há a estrutura do forno de caieiras, que abasteceu a produção de cal das edificações parnanguaras. Séculos depois da construção das cidades, as rodovias estaduais do litoral também foram pavimentadas com sambaquis.

Apesar da legislação vigente, a falta de fiscalização e o tamanho do território do litoral paranaense, onde os sambaquis estão localizados, dificultam a integridade dos sítios. Visitantes sobem nas estruturas ou levam parte do material para casa. A construção de obras em locais onde estão os sambaquis contribui para a devastação. Muitas estrutras não são sequer notificadas.

Para evitar novas perdas, o Iphan investe na educação patrimonial junto às comunidades e conta com o apoio de pessoas que informam os achados. Os municípios e pesquisadores também reforçam fundamental a realização de visitas apenas com acompanhamento especializado e, para evitar mais depredação, dificilmente divulgam a localização dos sambaquis.

Outro fator que também prejudica a manutenção dos sítios é a falta de estudos na área. O último levantamento estadual indica sambaquis “com boas condições em 1949”, sem atualização. “É uma vergonha”, avalia a arqueóloga do Museu Paranaense, Cláudia Inês Parellada, que está à frente de um novo levantamento. Porém, ao mesmo tempo em que o grande território impede maior fiscalização das ações contra os sítios históricos, a arqueóloga acredita que muitos sambaquis ainda serão descobertos. Ela prevê, confiante, que nos próximos 20 anos serão 500 sítios paranaenses cadastrados, mas que só serão mantidos com a colaboração da comunidade na sua preservação.


Estruturas revelam estilo de vida
As pesquisas nas estruturas dos sambaquis revelam inúmeros objetos e rituais das comunidades. Restos mortais, alimentos, adornos, esculturas com formas de animais típicos da costa litorânea e outras peças entre as conchas, fazem parte da história deixada pelas populações.

Os rituais de sepultamentos são alguns dos mais estudados. A posição dos corpos e os adereços próximos a eles indicam o sexo do habitante que foi enterrado. Os homens eram sepultados de lado, com sua rede e seu machado juntos ao corpo. Mulheres e crianças eram envolvidas em mantos de penas trançadas.

“Temos muito o que aprender com a relação entre a natureza e as populações, que exploravam os recursos, sem destruí-los. A organização social dos grupos também mostra poucos registros de violência, além do respeito às mulheres e às crianças”, pontua a arqueóloga Cláudia Inês Parellada.

Para o arqueólogo da Universidade Federal do Paraná, Igor Chmyz, a relação com a natureza também é um dos principais pontos de destaque das populações que habitavam os sambaquis. “As comunidades são uma riquíssima mostra de como o ser humano reagiu ao ambiente em que vivia e como tinha tecnologia, organização para isso”. Ele caracteriza os sítios como uma espécie de bibliotecas. “São repositórios de dados e os sambaquis são os únicos exemplares da história”, define.


Serviço
A prefeitura de Pontal do Paraná realiza roteiros para o sambaqui de Guaraguaçu. As visitas podem ser agendadas pelo telefone (41) 3975-3102.

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Doce encontro litorâneo


Matéria-prima do doce de cachaça reúne ícones da produção agrícola do litoral

Gazeta do Povo | 26 de agosto de 2011

Duas iguarias típicas do litoral paranaense encontraram-se na gastronomia. A cachaça, tradicional de Morretes, e a banana, que tem Guaratuba como a sua maior produtora, combinam muito bem na produção de doces.

Em Pontal do Paraná, a receita de doce de banana com cachaça surgiu na casa da turismóloga Francisca Kaminski, que possui diversas bananeiras no seu terreno no Guaraguaçu. Produtora de licores, Francisca descartava as bananas depois que a bebida ficava pronta. “Como eu não gostava de jogar as frutas no lixo, meu marido deu a ideia de fazer o doce. Deu certo”, conta. Para aproveitar todos os ingredientes, a turismóloga também produz licores, com a cachaça utilizada na preparação do doce.

A matéria-prima da receita de Francisca é abundante no litoral paranaense e coloca a região como referência na produção nos mercados interno e externo. Morretes, polo produtor de cachaça, destila cerca de 15 mil litros da bebida ao ano, em 16 alambiques. Cada empreendimento tem sua própria plantação de cana que, ao todo, chega a 110 hectares no município.

A produção artesanal confere o sabor que fez da cachaça paranaense referência no produto, que ficou conhecido como “a Morretiana”. Depois de colhida, a cana é moída, passa pelo processo de fermentação e é destilada em equipamentos de cobre. O envelhecimento é o ponto especial. “A cachaça é envelhecida em tonéis de madeira, o que faz com que fique com a coloração marrom. Este processo demora cerca de um ou dois anos, período em que as substâncias químicas da cachaça evaporam e o sabor é apurado”, explica a extensionista do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), Ruth Ferreira Biuldes.

De Guaratuba sai 40% da produção de frutas do Paraná, principalmente de banana. Mesmo com outros municípios que investem em bananais, a alta tecnologia aplicada na cidade a deixa como uma das maiores do Brasil na produção, que chega a 40 toneladas por ano. “O clima quente e úmido é propício para a banana. Aqui ela é produzida o ano inteiro”, explica o gerente da Emater em Paranaguá, Sebastião Belletini. Do litoral, a banana paranaense segue para Curitiba, São Paulo e até mesmo para a Argentina.


Versátil
A combinação da banana com a cachaça compõe diversos pratos. O doce é utilizado em pães, doces, sorvetes, iogurtes e até em recheio de bolos. Não é preciso preocupar-se com o teor alcoólico do prato. Durante o aquecimento da cachaça no fogo, o álcool evapora, deixando no doce apenas o gosto da cachaça envelhecida em barris.

Ingredientes
• 1 quilo de banana
• 1 de açúcar
• ½ litro de cachaça

Modo de fazer
Deixe as bananas picadas de molho na cachaça durante três dias. A dica de Francisca Kaminski é utilizar na receita a cachaça de Morretes e não substituir o produto por uísque ou outras bebidas semelhantes, pois a troca interfere no sabor do doce. Depois da imersão, coe as bananas e as amasse bem com um garfo, inclusive os pedaços de frutas que ficam escurecidos. Em uma panela, prepare uma calda com o açúcar e adicione as bananas amassadas quando a calda caramelada estiver em ponto de fio. Misture em fogo alto por aproximada­mente 10 minutos sem parar de mexer. Enquanto isso, o álcool irá evaporar e doce tomará sua consistência final.

Licor
Para aproveitar a cachaça em que a banana ficou de molho, Francisca dá a receita de um licor que tem preparação semelhante ao do doce: Misture a cachaça com o gosto da fruta a uma calda de açúcar caramelado em ponto de fio. Não leve a cachaça ao fogo. Mexa bem, guarde a mistura em uma garrafa e deixe descansar por 30 dias.

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Itupava fecha para manutenção


Chuvas de março deixaram árvores caídas e piso escorregadio no trajeto original do caminho histórico

Gazeta do Povo | 26 de agosto de 2011

Primeira rota que ligou o litoral ao planalto paranaense no século 17, o Caminho do Itupava passa por uma revitalização completa. As obras, que devem ser concluídas em aproximadamente 40 dias, atendem a uma antiga necessidade de manutenção, que foi agravada pelas chuvas do mês de março.

Num ano, cerca de 20 mil pessoas percorrem o caminho. Por ora, ele está interditado porque não oferece segurança aos visitantes. No percurso de 22 km, estão mais de 220 árvores caídas, folhas acumuladas na passagem, o que deixa as pedras úmidas e mais escorregadias. Além do risco constante de quedas, a condição aumenta o tempo de caminhada no trajeto para mais do que as seis horas normalmente estimadas.

Outra razão da interdição do Itupava é o risco de depredação do patrimônio natural. Os obstáculos pelo caminho forçam os visitantes a procurarem rotas alternativas, que descaracterizam o trajeto original e a mata nativa. “O solo fica exposto e a força da água das chuvas cria focos de erosão e assoreamento. Isso prejudica também os córregos, a qualidade dos rios”, alerta o gerente do Parque Estadual do Marumbi Lothário Horst Stoltz Júnior, coordenador das unidades de conservação do litoral pelo Instituto Ambiental do Paraná (IAP). Pelo menos cinco rios representativos estão próximos à rota.

De acordo com o Stoltz, a última manutenção no Itupava foi realizada há um ano. Durante este período, os funcionários do parque ficaram encarregados de realizar obras pontuais, que não atendem a todo o trajeto nem situações mais críticas.

A demora na contratação de uma empresa que assumisse o trabalho de recuperação também atrasou a reabertura do Itupava. A vencedora foi escolhida por licitação pública. Por R$ 45 mil reais, a empresa deverá retirar a matéria orgânica do caminho (folhas, galhos e árvores), fechar as passagens alternativas que foram criadas para desvios nas áreas afetadas por árvores que caíram, retirar lixo, recuperar pontes e limpar as calhas de drenagem que diminuem a velocidade da água. As obras começaram na segunda quinzena de agosto. “Assim garantimos segurança e melhor atendimento aos nossos visitantes”, afirma o diretor de biodiversidade e áreas protegidas do IAP, Guilherme de Camargo Vasconcellos.


Dicas de segurança para os visitantes do Itupava
O Caminho do Itupava ainda não foi reaberto, mas algumas dicas são importantes para os visitantes que desejam se aventurar pelo trajeto depois que ele estiver disponível

- Antes de começar o trajeto, realize o cadastro no início do Caminho. O cadastro é disponível para quem inicia a rota na Borda do Campo, em Quatro Barras, ou em Morretes. Além de servir como registro estatístico, o cadastro é uma ferramenta de segurança e controle dos visitantes.

- Caminhe em dias com boa visibilidade, sem nuvens e com sol.

- Evite caminhar sozinho.

- Utilize mochilas para acomodar seus pertences.

- Use roupas leves.

- Leve repelente, protetor solar e capa de chuva.

- Não esqueça a água e alimentos leves, como frutas e barras de cereais.

- Se possível, use bastões de apoio, que ajudam a manter o equilíbrio durante o trajeto. Não corte a vegetação para improvisar bastões ou cajados.

- O sinal dos aparelhos celulares é disponível apenas no Santuário Nossa Senhora do Cadeado, à beira da ferrovia, e em alguns trechos isolados. O indicado é desligar o aparelho para poupar bateria e ligá-lo apenas onde o sinal está disponível. “A bateria carregada pode fazer a diferença em caso de acidentes”, alerta o Gerente do Parque Estadual Pico do Marumbi, Lothário Horst Stoltz Júnior.

- Caminhe sempre pelo calçamento, evitando a abertura de caminhos alternativos laterais, pois isso provoca assoreamentos desnecessários e impactos à vegetação nativa.

- Leve lanternas, pilhas e baterias. Elas podem ser úteis caso a caminhada dure mais que o esperado.

- Não abandone seu lixo pelo caminho.

- Em caso de acidentes, garanta a segurança da pessoa acidentada e procure um ponto onde com sinal para telefonia celular.

Telefones úteis:
- Parque Marumbi: (41) 3462-3598
- Parque Serra da Baitaca (trailer da entrada do caminho em Quatro Barras): (41) 3554-1531
- Bombeiros 193.
Fonte: Lothário Horst Stoltz Júnior

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Terra de bubalinos


Mais rústica do que a de bovinos, criação de búfalos se adapta ao clima da serra

Gazeta do Povo | 26 de agosto de 2011

Cerca de 50 fazendas, localizadas principalmente em Morretes, Antonina e Guaraqueçaba, investem na criação de búfalos para produção de leite, carne e venda de bezerros. De acordo com o Censo Agropecuário de 2006, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), último levantamento regional disponível, o litoral do Paraná tem 3,5 mil animais.

O número já foi maior. A partir de meados da década de 1990, os rebanhos começaram a ser transferidos para outras regiões do estado. A legislação ambiental de preservação da Mata Atlântica, que restringe a produção agropecuária no litoral, é apontada pelos criadores como a principal responsável pelo declínio da atividade.

As primeiras propriedades bubalinas se instalaram na região há 30 anos, atraídas principalmente pelo preço da terra, as condições de solo e de clima. Com essas vantagens, o engenheiro agrônomo Ugo Rodacki decidiu iniciar a criação de búfalos. Hoje ele investe na produção de queijo e na criação de bezerros. “No Paraná, o criador não tem o rebanho de búfalos como sua principal atividade”, analisa. Mesmo sem histórico de criação no estado, as características do animal compensam a atividade.

Diferente dos bovinos, os búfalos se adaptam com mais facilidade a regiões com solos considerados pobres, tanto em nutrientes quanto no relevo, como os terrenos acidentados. “Esse animal tem a capacidade de produção muito alta. Mesmo em pastagens com condições mais pobres, os búfalos apresentam desempenho muito superior aos bovinos”, garante o médico veterinário José Lino Martinez, pesquisador do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar). O órgão possui em Morretes uma estação experimental onde são realizados estudos de alimentação e reprodução dos animais.

A taxa de natalidade em uma fazenda de gado é de aproximadamente 60%. Entre as vacas búfalas, o índice é superior a 85%. Outra qualidade apontada é a baixa ocorrência de problemas de saúde e de carrapatos, além da alta tolerância a vermes intestinais.

No mercado
O litoral é responsável pela produção média de três mil quilos de queijo de búfalo por mês, de acordo com a Associação Paranaense de Criadores de Búfalos (Abupar). Na produção de carne, o búfalo é abatido em frigoríficos da região metropolitana de Curitiba, mas sem oferta regular, a carne se mistura com a bovina e não é identificada. Esta situação impossibilita uma estimativa do volume de carne diponibilizada para o mercado consumidor. A diferença entre as duas está na cor: quando crua, a de búfalo tem o tom de vermelho mais escuro que a de boi, e a gordura é mais branca, enquanto a bovina é mais amarelada. Depois de preparada, dificilmente é possível diferenciá-la. A carne de búfalo também possui menos colesterol do que a de boi.

Rico em cálcio e com alto rendimento – o dobro em relação ao bovino –, a destinação principal do leite bubalino é a produção da mussarela. “Não compensa vender o leite para consumo, pois ele possui mais teor de cálcio e tem rentabilidade maior para a produção de queijo, além do sabor inigualável”, afirma o produtor Rodacki. Assim como a carne, a industrialização do laticínio sofre com a pouca produção. Tanto que grande parte do produto consumido no estado vem de outras regiões do país.


Manejo
Mitos e informações equivocadas sobre a criação de búfalos impedem que mais produtores invistam nos bubalinos

- Os animais não furam a cerca. Apenas quando estão com pouco alimento os búfalos tentam sair da área de criação. “Eles são menos conformados que os bois para a fome”, explica o veterinário José Lino Martinez.

- Búfalos são dóceis desde que o manejo seja regular. Quando estão desacostumados com a presença dos criadores, ficam mais agressivos.

- Não é preciso grande quantidade de água nos criadouros. Áreas de sombra são suficientes. A exposição excessiva ao sol causa queimaduras na pele dos búfalos.

- O manejo de bubalinos não precisa ser tão refinado. Os resultados são eficientes mesmo quando submetidos a condições simples.

- Além de ambientes quentes e úmidos, os búfalos também podem ser submetidos a baixas temperaturas.
Fonte: Iapar



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Complexo Matarazzo é área de conservação


Conjunto centenário de barracões do primeiro porto particular do país está no centro de uma disputa familiar

Gazeta do Povo | 26 de agosto de 2011

Por mais de 50 anos, Antonina passou por um promissor período econômico. A cidade presenciou, na década de 1910, a instalação do primeiro porto particular do país, que por mais de cinco décadas alavancou seu desenvolvimento. O Complexo Matarazzo, como eram conhecidas as Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo, mantinha em funcionamento moinhos de trigo, sal, açúcar e erva mate, tornando-se a principal empregadora do município.

Apesar da gloriosa história, restaram apenas edifícios danificados pelo tempo, que aguardam restaurações. A ocupação do conjunto Matarazzo é alvo de uma briga entre herdeiros do fundador das indústrias, que veio à tona com a divulgação do tombamento de partes do complexo pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em julho deste ano. A sócia majoritária da empresa Miniterras Agropastoril Ltda, Eneida Matarazzo, proprietária do complexo, se diz contrária ao tombamento, uma vez que pretende dar continuidade ao funcionamento do local, inativo desde 1970 e desde então conduzido por arrendatários. De acordo com ela, o tombamento vai impedir a reabertura dos barracões. “Estou surpresa com a quantidade de grandes empresas que querem o Porto Matarazzo. Elas oferecem valores altos pelas instalações, afirmam que irão aprofundar o calado do porto e ainda utilizá-lo de diversas formas, como para construir navios, contêineres e outros”, afirma. O filho de Eneida se diz proprietário do local e é a favor da integração do complexo à área tombada. A reportagem não conseguiu localizar o empresário para falar sobre o assunto.

A solução do caso está em andamento na Justiça, mas de acordo com o arquiteto Moisés J. Stival Soares, do Iphan no Paraná, o tombamento não representa o fim das atividades do complexo. “As áreas de menor importância histórica, que são aquelas que estão mais próximas à Baía de Antonina, podem ser substituídas por novas edificações. Para preservar o prédio é preciso dar uso para ele”, diz.

Histórica
Antonina já está legalmente tombada, mas o parecer definitivo do Iphan ainda não tem data para ser divulgado. O caráter histórico da cidade foi significante para seu tombamento. Antes mesmo de Minas Gerais, o município se destacou com o primeiro ciclo do ouro brasileiro no século 17. Além disso, sua arquite­tura apresenta edifícios com características luso-brasileira (referente ao Brasil Colônia), eclética (dos tempos do império) e art-deco (manifestação modernista do início do século 20).

Para garantir que as características histórias sejam conservadas, além dos prédios tombados, uma área de entorno também é protegida. O objetivo é evitar a descaracterização de Antonina. “Não é preciso copiar o estilo colonial ou eclético em todos os edifícios, mas garantir que eles se harmonizem com o conjunto”, explica o arquiteto. Desta forma, alguns procedimentos mudam para os moradores, entre eles a necessidade de apresentar previamente ao Iphan os projetos de restauração, orçamentos e propostas de alteração no uso das edificações.

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Discalculia não é preguiça


O distúrbio, que afeta entre 3% e 6% da população, é associado à dificuldade de aprendizagem do cálculo e dos significados dos números

Gazeta do Povo | 24 de agosto de 2011

A dificuldade em desenvolver cálculos ou entender os significados dos números pode representar algo que vai além da falta de habilidade com a matemática. Em aproximadamente 3% a 6% da população este quadro caracteriza a discalculia, distúrbio que afeta o aprendizado e o desenvolvimento de informações relacionadas à matemática.

Problemas para comparar quantidades, má utilização dos números ou dificuldades na leitura dos símbolos matemáticos são algumas das características da discalculia. Até mesmo a solução do clássico problema “João tem cinco balas e ganhou mais três. Com quantas balas ficou?” torna-se extremamente difícil no aprendizado da soma. “A discalculia é associada às dificuldades específicas no processo da aprendizagem do cálculo, que se observam entre indivíduos de inteligência normal”, explica a presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia, Quézia Bombonatto.

O distúrbio ocorre pela ausência de neurônios ou falta de junção entre eles na área terciária do córtex cerebral, que engloba os lobos parietal, temporal e occipital, responsáveis pelo processamento do raciocínio matemático e pela noção de tempo e espaço. Apesar do baixo desempenho em matemática, os discalcúlicos podem apresentar excelentes resultados em diferentes áreas.

Os primeiros sinais da discalculia podem aparecer antes mesmo da entrada na escola, mas é na sala de aula que a situação se complica, quando surgem as dificuldades e, muitas vezes, o preconceito contra o discalcúlico. “O quadro não é explícito e acaba confundido o discalcúlico com um aluno preguiçoso. Dessa forma, tentam forçar a situação, que se torna mais agressiva para a criança. A demora no diagnóstico também acontece porque muitos acham que a dificuldade vai passar naturalmente com o amadurecimento do estudante”, avalia o psicólogo e mestre em educação, Leandro Kruszielski.

Apesar dos indícios, o diagnóstico nem sempre é simples e depende de teste com especialistas. Para o neuropsicólogo Egídio Romanelli, além de prejudicar o tratamento, a falta do diagnóstico pode causar no estudante um “bloqueio para encontrar saídas à discalculia e seguir com uma vida normal.” “Na maior parte dos casos dizem que a criança é burra e não investigam a situação”, afirma.

Na pele
O estudante Antônio (nome fictício), de 15 anos, ainda se recorda do preconceito que sofria na escola pelo seu desempenho em matemática. Desde os 6 anos de idade, quando cursava as séries iniciais do ensino fundamental, sua dificuldade em efetuar cálculos de soma e subtração fez com que ele tivesse poucos amigos. “Me sentia excluído da sala por ser o único que não aprendia muito e passava vergonha porque não sabia responder os exercícios”, lembra.

A partir da quarta série, ele passou a frequentar o Centro de Neuropediatria do Hospital de Clínicas (HC) da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e desde então conta com um acompanhamento especializado.

No tratamento, Antônio realiza as tarefas da escola com a orientação da psicopedagoga Raquel Pinto de Oliveira, que trabalha os exercícios de acordo com as potencialidades do adolescente. “Usa­mos o lado da inteligência que é preservado”, explica a psicopedagoga, que nestes casos defende a repetição dos exercícios para a fixação do conteúdo. “Muitos professores não gostam de repetições, mas já está demonstrado que o alto desempenho em matemática faz muito o uso do recurso da memória”, diz.

Em muitos casos, o uso de calculadoras e computadores torna-se um aliado no desempenho do estudante. Para Antônio, que está na oitava série, o tratamento foi primordial para sua autoestima e o desempenho na escola. “Agora me sinto bem melhor do que antes, facilitou bastante.”

Os pais vão à escola


Agendas lotadas de compromissos não são mais desculpa para que os pais deixem de passar o tempo com os filhos

Gazeta do Povo | 24 de agosto de 2011

Algumas escolas abriram as suas portas para receber as famílias dos estudantes e, além de aproximar os familiares, promovem a interação entre a comunidade escolar. Atualmente muitas oferecem atividades que reúnem a família e aprimoram o processo educacional.

“Somos parceiros. Os pais são os educadores, de onde vem toda a estrutura e a filosofia de vida. A escola ajuda a construir o caráter, a educação e a formação do cidadão”, avalia a diretora do Colégio Internacional, Claudia Lebiedziejewski. Com atividades em período integral, o colégio permite que os pais almocem com os filhos e também acompanhem algumas atividades extracurriculares. Além disso, os familiares são convidados a assistirem às apresentações dos alunos. “O estudante fica mais seguro e mais incentivado”, observa Cláudia. A interação se estende ainda a grupos de voluntariado, nos quais os pais organizam atividades e palestras para os alunos.

A aproximação da escola com a família é vista com bons olhos por especialistas, uma vez que também acarreta em bons momentos entre pais e filhos. “A infância e a adolescência são etapas da vida que deixam muita saudade. Esta é uma chance de fazer algo junto e que será lembrado”, afirma a pediatra e especialista em adolescentes do Hospital de Clínicas (HC) da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Beatriz Bagatin. De acordo com ela, tais possibilidades fazem da escola um ambiente mais completo, que “não está interessado apenas no aprendizado de seus alunos, mas também no lazer, nas relações humanas e nas habilidades individuais.” Quando o estudante percebe que a escola se interessa pelo seu desenvolvimento, a consequência imediata é a melhora no desempenho.

As possibilidades não ficam restritas apenas à observação dos filhos. Os pais também são convidados a se envolver atividades esportivas, como as oferecidas pelo Colégio Marista. Toda a comunidade pode treinar na academia de ginástica da instituição, que tem na programação aulas de pilates, vôlei e basquete, mas os pais recebem descontos especiais nas mensalidades.

Alternativas
A presença permanente na instituição, no entanto, não é a única possibilidade de demonstrar interesse pelo desempenho do filho. Muitas escolas ainda não oferecem atividades abertas aos pais. Nesses casos, a alternativa é se aproximar da vida escolar dos estudantes mesmo que em casa, demonstrando interesse, como sugere a professora do curso de Pedagogia da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Adriane Knoblauch. “Quanto mais os pais vivenciam o dia a dia escolar dos filhos, melhor é o aprendizado. Para isso também vale saber o que está acontecendo, participar de eventos pontuais”, diz. “O raciocínio do jovem é ‘se meu pai não tem interesse pelo que eu estou fazendo, significa que isso não é importante’. Logo, se o pai não olha o caderno do filho, não pergunta nada, passa a mensagem de que ele não se preocupa”, complementa.


Família reunida e feliz
Os pais dos estudantes Luan, 17 anos, Luigi, 14, e Lorenzo, 9, já são conhecidos por alunos e funcionários do Colégio Marista. Eles frequentam a cantina da escola quase todos os dias para almoçar com os garotos. Essa foi a única maneira encontrada pela fotógrafa Daniela Franco Rossi, 40, de conciliar os horários com a rotina de trabalho e estudos, pois a agenda profissional dos pais e as atividades extracurriculares dos filhos tornaram impossível o encontro de toda a família em casa durante o dia.

Os almoços em família se repetem há três anos e, na avaliação de Daniela, são “absolutamente benéficos” para a relação. Ela conta que, ao mesmo tempo em que se aproxima dos filhos, conhece os colegas de classe e mantém contato direto com a direção da escola. “Os amigos nos conhecem, todos se sentem muito seguros. Além disso, sabemos com quem nossos filhos estão.” Prova disso é que, junto com a família, diversos amigos dos estudantes se reúnem para almoçar com Daniela e seus filhos.

Para o otorrinolaringologista João Luiz Garcia de Faria, 47, que não abre mão de almoçar com sua filha Luiza, 9, pelo menos uma vez por semana no Colégio Internacional, o maior benefício de poder interagir com a instituição é conhecer um pouco mais do ambiente da menina ao invés de conviver com ela apenas durante a noite e nos fins de semana. “É diferente, pois vejo como ela se relaciona com as amigas, a comunicação entre elas. Faço isso desde quando a Luiza era pequena e acompanho sua evolução, seus valores e princípios em cada fase da vida”, conta. Ele, inclusive, conseguiu perceber que a cada seis meses as rotinas de brincadeiras mudam, algo que só foi possível porque acompanha a sua rotina de perto.

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Pescaria para todos os gostos e bolsos

Paraná oferece boa geografia para a prática da pesca amadora, um filão no mercado de turismo náutico do estado

Gazeta do Povo | 29 de julho de 2011

O ditado popular é implacável: “está estressado? vá pescar!”. Neste caso, as baías do litoral paranaense são o local indicado para quem procura relaxar e se divertir ao mesmo tempo. O Paraná é considerado um dos principais estados brasileiros na técnica da pesca amadora, esporte náutico que vem crescendo em todo o país.

A geografia do litoral paranaense, com as águas abrigadas na condição de baías, atrai pescadores de diferentes regiões do Brasil e até mesmo do exterior. Há também bons fornecedores de equipamentos. “O Paraná tem vocação para a pesca esportiva. Tanto que os principais estaleiros que produzem barcos no país estão sediados em Curitiba”, conta o empresário Pedro Davi.

Além da vara e da isca
Se é bom para o pescador, também é bom para o mercado local. A pesca amadora movimenta a economia dos municípios do litoral. Durante a realização dos campeonatos, desembarcam na baía pescadores munidos de equipamentos de tecnologia de ponta, acompanhantes que geralmente passam o final de semana e consomem serviços hoteleiros e gastronômicos. Também fazem parte da lista de consumo desse público o combustível para as embarcações e os serviços de trabalhadores locais e pescadores, que fornecem iscas.

Grandes eventos, como o Campeonato Sul Brasileiro de Pesca ao Robalo, realizado em Guaratuba, operam com a capacidade máxima de inscritos, movimentando ainda mais o litoral. “Na edição deste ano – realizada no dia 9 de julho – a renda gerada estimada foi de R$ 700 mil. Isso mostra a força da pesca amadora como geradora de recursos”, diz o pescador Roald Andretta, organizador do evento. Ele compara que, em relação à pesca comercial, a pescaria de lazer rende cerca de nove vezes mais em relação ao quilo do peixe, de acordo com estudo do Ibama. “Quando capturado para fins comerciais, o quilo do peixe rende cerca de R$ 5. Já na pesca esportiva, o quilo passa a valer R$ 46, com os valores agregados”, explica.

Os investimentos em tecnologia para as provas revelam também um novo perfil do pescador. Sai de cena o homem com a camiseta curta, com uma vara de pescar artesanal à beira do rio, esperando o peixe aparecer. A figura caricata dá lugar a pescadores e pescadoras de todas as idades, que participam de competições com alto nível técnico, utilizando computadores para monitorar os peixes e varas que chegam a custar R$ 2 mil. “O nível das provas brasileiras vem crescendo muito”, avalia o capitão e guia de pesca Marcos Baldo, que trabalha na Flórida (EUA) e veio ao país especialmente para a competição em Guaratuba.

Pesque e solte
Muitos campeonatos apostam na prática do pesque e solte. Os peixes são capturados, pesados e depois devolvidos à água. Para minimizar qualquer impacto na saúde dos animais, as embarcações dos competidores são equipadas com viveiros, onde eles ficam acomodados antes de voltarem ao mar. “Os impactos são baixíssimos”, garante o consultor do ministério da Pesca, Kelven Lopes. Quando estão novamente na água, os peixes demoram até 48 horas para pegar uma nova isca. “Ele passa por um estresse causado pelo desgaste da luta e fica esse período sem se alimentar”, explica Andretta.

Nestes campeonatos, a pontuação só é validada se o peixe for pesado vivo e voltar em condições normais para a água. Para o pescador Jum Tabata, que já participou de competições na Amazônia, em Foz do Iguaçu e em represas paulistas, a prática vai de acordo com o perfil do pescador moderno. “É uma conduta de respeito ao meio ambiente, que é muito importante”, diz.


Da água para a mesa
Peixes e frutos do mar também atraem para o litoral do estado milhares de visitantes em busca de pratos tradicionais preparados com estas iguarias. Por ano, ocorrem cerca de dez eventos gastronômicos com esse perfil.

Realizadas no inverno, quando a temperatura da água aumenta a oferta do pescado, as festas animam a região na baixa temporada e movimentam a economia. “As festas divulgam as cidades, prestigiam a comida típica da região e possibilitam que os pescadores das colônias tenham uma fonte de renda extra”, avalia o presidente da Fundação Municipal de Turismo de Paranaguá (Fumtur), Luiz Fernando Oliveira. Um exemplo é a Festa da Tainha, realizada em Paranaguá: em 18 dias,: 115 mil pessoas passaram pela cidade e mais de 36 toneladas de peixe foram comercializadas.

Festas e festivais também agitam a vida noturna dos municípios e o turismo. Só a observação do ritual dos pescadores torna-se uma atração para quem visita o litoral. Quem participa da puxada da rede, na praia, ainda leva peixe para casa.

* A repórter viajou à convite da Loba do Mar Eventos.


Sem estresse
O Ministério da Pesca determina algumas condições para a realização de pesca esportiva. Veja quais são elas:

- É proibido pescar durante o período de defeso, para a proteção da reprodução natural dos peixes.

- O pescador deve respeitar a cota de pesca. Para as águas continentais, o limite é de 10 quilos mais um exemplar. Em águas marinhas, a cota é de 15 quilos mais um exemplar.

- O praticante da pesca esportiva deve possuir a Licença da Pesca Amadora, documento que autoriza a atividade e deve ser apresentado mediante solicitação. A documentação é válida em todo o território nacional.

Mais informações no site do Ministério da Pesca www.mpa.gov.br

Conheça a riqueza da vida caiçara

Roteiro turístico leva o visitante a comunidades nativas e experiências culturais enriquecedoras

Gazeta do Povo | 29 de julho de 2011

Mar, areia e a curtição na beira da praia são apenas parte das atrações do litoral do Paraná. A região também guarda uma rica manifestação cultural. Ao chegar em uma localidade, é possível conhecer, além das belas paisagens, comunidades que têm muito a mostrar para os visitantes.

Tanto nas ilhas pouco visitadas quanto nas cidades mais movimentadas, como Paranaguá, Guaraque­çaba ou Pontal do Paraná, a cultura caiçara ainda passa despercebida entre as paisagens. No entanto, ignorar essa riqueza significa não saber da própria história do estado. “Conhecer a cultura caiçara é conhecer nossa raiz, as manifestações autênticas do povo do litoral, que muitas vezes não tem a oportunidade de se manifestar, de mostrar sua produção nem sua maneira de viver”, avalia o dramaturgo e ex-secretário municipal de Cultura de Antonina, Rafael Camargo.

O termo caiçara designa as comunidades tradicionais, fruto da miscigenação entre indígenas e colonizadores, que ainda vivem em contato íntimo com a natureza, dependentes da pesca e da agricultura. Apenas na baía de Guaraque­çaba são cerca de 50 comunidades, que têm entre as suas principais características algo raro nas sociedades modernas: um ritmo de vida simples e tranquilo. Esta cultura também se manifesta por meio do fandango, dança típica do litoral paranaense, nas apresentações dos violeiros e na culinária, baseada na utilização de banana e mandioca.

Surpresa
“Quando o turista vai para a praia já sabe o que vai encontrar. Mas quando ele se atenta em buscar coisas que só aquela localidade pode proporcionar, a viagem é muito mais rica, faz toda a diferença”, ressalta o produtor cultural Eduardo Schotten, que mo­­ra em Guaraque­çaba. O ro­­teiro cultural reserva experiências interessantes. O turista pode acompanhar os rituais de pesca, fazer passeios em embarcações típicas caiçaras, como a canoa de um pau só, ou ainda acompanhar a iluminada movimentação do plâncton nas águas.

Enquanto o visitante se intera da realidade local, a comunidade também sai fortalecida. “Isso gera cidadania, principalmente entre os jovens, que se interessam pelo nosso passado para mostrá-lo aos visitantes”, afirma o mobilizador local da Ilha das Peças, Renato Pereira de Siqueira. Ele conta que este tipo de turismo está crescendo entre os visitantes de outros estados, mas ainda é restrito a pesquisadores de áreas específicas, que pretendem conhecer mais a fundo as realidades tradicionais, como de curandeiros e pescadores, por exemplo. Porém, independente da procedência do visitante, o que ele encontra na comunidade caiçara chama a atenção. “A natureza desperta a emoção nas pessoas. Coisas que são comuns para nós se destacam para o turista. Algumas pessoas chegam a chorar quando veem os golfinhos”, conta.

A proximidade com a natureza foi o que mais chamou a atenção da bancária Vania Bellinie, durante um roteiro que fez pelas comunidades caiçaras. O modo de vida tradicional, mesmo que muito distante de sua realidade, fez com que ela refletisse sobre as possibilidades de existência. “Nos faz pensar que as pessoas ainda podem viver de forma muito simples.” Ela sugere que, para realmente conhecer a comunidade que está visitando, o segredo é se enquadrar no ritmo de vida das pessoas, participando da rotina local.

* A repórter viajou à convite da Gondwana Brasil Ecoturismo


Reflexo positivo
Atividade movimenta a economia

Localizadas em áreas de preservação ambiental, muitas das comunidades caiçaras paranaenses contam com poucas possibilidades de geração de renda e encontram no turismo uma nova fonte de desenvolvimento. Ainda tímida, a iniciativa tem apresentado resultados animadores e é incentivada pelo Ministério do Turismo.

Moradora da comunidade caiçara de Guaraguaçu, em Pontal do Paraná, desde que nasceu, a artesã Conceição Vieira Ramos Constant, 61 anos, comemora a realização de iniciativas para receber os turistas. Ela participa de um roteiro que apresenta a cultura local aos visitantes. A iniciativa envolve cerca de 25 famílias, que também produzem artesanato vendido em uma barraca na rodovia PR-407. “As pessoas se surpreendem quando veem que fazemos artesanato com as coisas daqui, como com o couro do peixe”, conta.

De acordo com Conceição, a organização da comunidade aproxima os caiçaras e evita “que a cultura morra”. “Não sabia que nossa cultura tinha tanto valor. Também pensei em ir embora, mas estava errada. Aqui tenho muito mais oportunidade”, diz.

A sócia-proprietária da agência Gondwana Brasil Ecoturismo, Daniela Meres, vê esse tipo de roteiro como uma grande fonte de geração de renda para as comunidades. Além disso, mostra para os turistas “outras formas de vida e visões de mundo”. “É uma riqueza para poder experimentar. É preciso abrir mão de um conforto, mas o aconchego é sempre presente em um lugar acolhedor e autêntico”.


Serviço:
- Roteiro Eco-Cultural pela comunidade do Guaraguaçu. Secretaria Municipal do Desenvol­vimento de Pontal do Paraná (41) 3975-3102.
- Roteiro pelas comunidades caiçaras Gondwana Brasil Ecoturismo 3566-6339.


Linguajar caiçara
Além de um ritmo de vida peculiar, a comunidade caiçara também possui um vocabulário específico. Algumas palavras utilizadas pelos moradores do litoral norte do estado foram apresentadas na edição do Caderno Litoral em junho de 2009. As informações são baseadas no livro Falares Caiçaras, do professor Paulo Fortes Filho, que afirma que os caiçaras apresentam “um falar calmo, cadenciado, acentuadamente cantado e carregado de ironia”. Confira algumas expressões:

Amassador: instrumento de cozinha para amassar o feijão.
Buruaca: cesto de couro para transportar espigas de milho.

Cambicho: pau comprido no qual se suspendem os ganchos para facilitar o transporte dos pesos em equilíbrio.

Canapuva: tipo de mangue. Com a casca de canapuva se tecem redes.

Cantarininha: lugar onde se deixa a vasilha para secar e onde são colocados os potes de moringas.

Canudo de fogo: tubo de taquara cheio de trapos empapados com querosene que serve de mecha, para caminhar ou pescar à noite. Tocheiro.

Cacho: âncora de pedra. Poita usada para segurar redes grandes.

Coruja: é o mesmo que pamonha, mas cozida nas cinzas do fogão.

Estendal: estendedouro. Lugar onde se estende alguma coisa. Varal onde são colocadas as redes de pesca.

Estronca: espécie de forquilha com que se levantam objetos pesados. Espeque, escora.

Fim-Fim: pássaro que não se pode caçar. É o mesmo que Fem-Fem. É a encarnação do Saci-Pererê.

Jacube: pirão de água fria. Complemento do peixe salgado.

Meia-colher: pessoa que faz tudo.

Mancebo: moço, rapaz, jovem. Cabide para segurar roupas.

Pano-velho: peixe desfiado, preparado com molho de tomate, pimenta, alho, cebola e ervas aromáticas.

Riscar: traçar, marcar, desenhar. É o projeto da feitura da canoa. O risco da canoa.

Sabão de caboclo: lama, barro que se forma com a chuva e é muito escorregadio.

Sino samão: é o mesmo que signo de Salomão. Uma estrela com cinco pontas.

Suiteira: é o mesmo que chicote.

Tapete: cobra. É o mesmo que jararacuçu.

Taramela/Tramelo: tranca. Peça de madeira que gira em volta de um prego e serve para fechar portas e janelas.

Tendal: local onde se colocam as roupas para secar. Lugar onde se colocam as bananas para amadurecer.

Lambe-lambe resiste nos menus da Ilha

Receita tradicional com marisco disputa espaço com pratos mais elaborados nos restaurantes do litoral

Gazeta do Povo | 29 de julho de 2011

A cada temporada, os mariscos ganham lugar de destaque na culinária da Ilha do Mel. Durante as marés secas, em especial nas luas Nova e Cheia, os pescadores artesanais buscam os frutos do mar em criadouros espalhados entre as comunidades pesqueiras, como na Praia de Fora, na Praia do Miguel e no mar da Ponta Oeste.

Apenas na ilha, a produção média do marisco em cada fase da lua é de 400 quilos. O cultivo já foi maior. O que é coletado abastece os restaurantes da própria ilha e de municípios do litoral, como Paranaguá. No estado, a estimativa de produção é de 10 toneladas por ano. “O marisco gruda na pedra e vai crescendo. O controle da produção é feito pelo nativo, que sabe que é preciso preservar, pois é sua forma de sustento e não é possível tirar à vontade”, afirma o vice-presidente da Associação dos Comerciantes das Encantadas, Marcos Gamper.

A queda na produção também se reflete na preferência do comensal que frequenta os restaurantes litorâneos. Os pratos à base de marisco deram lugar a outras iguarias. Exemplo disso é que poucos estabelecimentos oferecem um dos pratos mais tradicionais da Ilha do Mel, o Arroz Lambe-Lambe, produzido há várias gerações. A pousada de Gamper, em Encantadas, é uma das únicas que mantém a tradição. “Ela está se perdendo, mas ainda existem poucos locais que fazem as receitas. Isso acontece porque os restaurantes agregam outros tipos de refeições e acabam esquecendo as receitas nativas”, conta a chef de cozinha da Pousada Orquídeas, Michelly Silio Monteiro.

Cultivo
“O pescado está escasso nas baías do litoral paranaense e o mesmo vale para os moluscos e crustáceos extraídos dos mangues com a coleta de ostras, caranguejos e mariscos”, afirma o engenheiro agrônomo Marcos Campos de Oliveira, do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural – Emater, regional Paranaguá. De acordo com ele, esta situação é consequência de um processo produtivo extrativista, sem controle sanitário nem respeito aos períodos de reprodução.

Diante da queda no cultivo de mariscos e de outros frutos do mar, o Emater lançou no final de junho um programa que incentiva a produção comunitária. O objetivo é oferecer uma opção economicamente viável e ambientalmente sustentável aos produtores de comunidades tradicionais.

O programa consiste na instalação de unidades de produção com a supervisão de técnicos. As sementes são produzidas em laboratório e desenvolvidas em estruturas instaladas no mar, com controle da qualidade da água. Antes da comercialização, ainda é feito um processo de depuração. “O marisqueiro deixa de ser um extrativista e passa a ser um aquicultor, um agricultor do mar”, explica Oliveira. Onze comunidades irão receber o projeto nos municípios de Guaratuba, Guaraqueçaba, Paranaguá e Pontal do Paraná e os primeiros cultivos começam no ano que vem.


Lamba os dedos
Ao serem aquecidos, os mariscos se abrem fazendo, com que o arroz se acomode dentro das conchas. Para comer, é preciso abrir as conchas com as mãos e, inevitavelmente, lamber os dedos.Use uma panela de barro para preparar o prato.

Ingredientes
• 1,5 quilo de marisco fresco
• 300 gramas de arroz branco
• 1 litro de água fervente
• 1 tomate
• 1 cebola
• 4 dentes de alho
• Cheiro verde a gosto
• Óleo
• Ervas finas em pó a gosto
• Tempero completo
• Óleo de urucum

Modo de preparo
Aqueça o óleo na panela. A quantidade do óleo deve ser suficiente para cobrir o fundo da panela. Em seguida, adicione o alho e a cebola picados e deixe fritar. Acrescente o tomate picado e o tempero completo. Depois do tempero refogado, adicione os mariscos. Eles devem ser colocados antes do arroz para absorver o sabor do tempero. Aguarde os mariscos abrirem e coloque o arroz na panela. A chef explica que o arroz branco é mais indicado para a elaboração do prato, pois cozinha mais rápido. Acrescente o cheiro-verde, as ervas finas em pó e o óleo de urucum. Finalize com a água e deixe ferver até que o arroz fique no ponto. O prato combina com farofa feita com óleo de urucum e salada.

Tempero da chef
O tempero utilizado pela chef Michelly Silio Monteiro na receita do Arroz Lambe-Lambe é feito com sal, alho moído, ervas finas em pó, orégano, cominho, noz moscada, pimenta calabresa, páprica, tempero chimichurri, glutamato de sódio e sete colheres de óleo, para dar liga. Antes de usar, deixe a mistura descansar por um dia. O óleo de urucum é feito com semente de urucum batida com óleo de soja.

Paranaguá boa para morar e para visitar

Cidade entra nos planos do governo federal para desenvolver o turismo e atrair turistas durante o ano todo

Gazeta do Povo | 29 de julho de 2011

Paranaguá completa hoje 363 anos de história e, além de seu aniversário, comemora um novo impulso no turismo local. Elencada entre os 65 destinos indutores do turismo no Brasil – no Paraná, juntamente com Curitiba e Foz do Iguaçu, apenas três roteiros foram selecionados –, a cidade carrega a expectativa de destacar o litoral do estado nas rotas nacional e internacional.

Acordos recentes prometem reforçar o potencial da cidade, que possui posição de destaque na região. Aliados à característica histórica e aos atrativos naturais, novos investimentos serão destinados com enfoque no turismo náutico. “Estamos em um momento muito importante do turismo em Paranaguá”, comemora o presidente da Fundação Municipal de Turismo (Fumtur), Luiz Fernando Gaspari de Oliveira Lima.

Os investimentos começaram com a inclusão do município no Pro­grama de Aceleração do Cres­cimen­to (PAC) das Cidades Históricas, realizado pelo governo federal, e o tombamento da Rua da Praia como patrimônio histórico. No início do mês de julho, a cidade sediou a 15ª reunião do Grupo de Trabalho de Turismo Náutico, coordenado pelo Ministério do Turismo, que estabeleceu programas a serem executados. “Estamos em um alinhamento entre município, estado e governo federal para que Para­naguá seja configurada e vendida como um destino adequado. Isso faz parte do processo de regionalização do turismo com roteiros integrados e ampla oferta aos visitantes”, analisa o secretário de estado do Turismo, Faisal Saleh. O município aposta ainda na inauguração do Aquário Marinho, que está na fase final de construção e irá passar por uma licitação para escolha da empresa que vai assumir o manejo e a administração. O objetivo é fazer da cidade um destino permanente para os turistas e que as visitas não fiquem restritas aos períodos de festas.

Para receber bem seus visitantes, a cidade também deve passar por melhorias. Um dos principais desafios é adequar a infraestrutura municipal e reverter a característica de cidade portuária. “A cidade boa para o turista é aquela que é boa para o morador local. Ainda temos muito o que fazer”, ressalta a diretora financeira da Agência de Desenvolvimento do Turismo Sustentável do Litoral do Paraná (Adetur Litoral), Norma Santos de Freitas, integrante do Conselho Municipal de Turismo. Além de movimentar a economia da cidade, ela considera o turismo uma alternativa à situação social de todo o litoral paranaense.

Gestora do projeto Turismo no Litoral do Paraná - Emoções o Ano Inteiro, realizado pelo Sebrae, Patrícia Albanez afirma que ainda é preciso buscar a excelência no atendimento em diversos setores e, principalmente, investir nos serviços turísticos, com empresas receptivos e oferta de passeios. A cidade também deve ficar mais bonita, com revitalização dos espaços públicos e principalmente uma nova entrada de acesso.


Projeto quer atrair cruzeiros
A expectativa é que, já na temporada de verão 2012, entre três e cinco navios de passageiros atraquem em Paranaguá, trazendo cerca de 15 mil visitantes e US$ 3 milhões para a região. A previsão foi um dos resultados do GT de Turismo Náutico.

O Porto de Paranaguá irá passar por reformas para a construção de um terminal de passageiros. A obra não ficará pronta para a próxima temporada, mas o superintendente da Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa), Airton Vidal Maron, conta que existem três possibilidades para a cidade nos próximos meses. “Temos a opção da parada de navios em frente ao templo de Nossa Senhora do Rocio, em frente à Ilha da Cotinga ou no Rio Itiberê, em frente à Capitania dos Portos”, afirma. Apesar de muitas operadoras de cruzeiros já estarem com os roteiros de viagens definidos, o secretário de estado do Turismo, Faisal Saleh, afirma que é possível realizar escalas em Paranaguá.


Roteiros
Veja quais as opções de passeio que Paranaguá oferece:

Cultural – Fandango, Boi de Mamão e outras danças.
Natureza – Baía de Paranaguá e ilhas do Mel, da Cotinga e dos Valadares.
Histórico – Casario tombado pelo Patrimônio Histórico e museus
Gastronômico – Barreado e frutos do mar.
Religioso – Templo de Nossa Senhora do Rocio e igrejas históricas.
Náutico – Porto de Paranaguá e passeios de barco pela baía.

Festival de inverno revitaliza Antonina

Evento ajudou a recuperar autoestima da população e a economia da cidade, arrasada pelas chuvas de março

Gazeta do Povo | 29 de julho de 2011

Todo mês de julho é tempo de intensa atividade cultural em Antonina. Neste ano, a 21ª edição do Festival de Inverno da Universidade Federal do Paraná (UFPR) encheu ruas, praças e o tradicional casario da cidade com atividades musicais e artísticas entre os dias 9 e 16 de julho. O evento é um dos mais importantes do calendário acadêmico e municipal. Durante uma semana, a cidade recebeu cerca de 40 oficinas, apresentações culturais diárias em espaços públicos e atividades para as crianças.

Neste ano, a realização do evento teve um significado especial. A cidade ainda se recupera dos estragos causados pelas chuvas que atingiram o litoral no mês de março, o que atrasou a organização do festival. Mesmo com a situação delicada, o evento foi mantido em Antonina. “Tivemos uma organização tardia por conta das chuvas e a produção foi mais corrida. Porém, o município entrou em um consenso de que não deveríamos interromper o evento e, sim, minimizar ao máximo o impacto da tragédia na rotina da cidade, para que ela volte mais rápido ao normal”, disse o secretário municipal de Cultura, Marcelo Vieira Gomes. Para potencializar a economia da cidade, todas as barracas de gastronomia e artesanato que abasteceram o festival foram ocupadas por cooperativas locais.

Troca
Ao mesmo tempo em que representa uma oportunidade de vivência para os estudantes fora do campus da universidade, o Festival de Inverno é uma oportunidade de crescimento para a cidade. A população participa intensamente, em especial nas oficinas que servem como aprimoramento para a geração de renda. Nesta edição, entre os 585 participantes das atividades, 449 eram antoninenses. “Isto agrega valor à comunidade, como uma fonte de renda extra. É uma troca de saberes e também de cultura”, observa o secretário. “O festival proporciona oportunidade de crescimento para as pessoas. A universidade vai até elas de uma maneira democrática, sem vestibular nem processo seletivo”, afirma o vice-reitor da UFPR, Rogério Andrade Mulinari.

O que é aprendido durante o festival pode ser aplicado em outros eventos importantes de Antonina. Integrantes de todas as escolas de samba locais participaram de uma oficina de alegorias e adereços, ministrada pelo carnavalesco e figurinista André Marins, que trabalha em agremiações do Rio de Janeiro. Os participantes resgataram os enredos antigos e criaram novos figurinos.

Para a fisioterapeuta Celina de Camargo Machado, 33 anos, que desfila desde os três anos de idade e também ajuda na confecção de alegorias em sua escola, a oficina serviu para aperfeiçoar a preparação das fantasias. “Aprendi técnicas que simplificam o trabalho e que usam materiais mais simples. É muito bom ver outros aspectos de produção”, diz. O carnavalesco conta que se surpreendeu com a tradição da cidade. “Me deparei com pessoas que são capazes de trabalhar muito bem em um carnaval no Rio de Janeiro. Não vim ensinar nada a eles, mas facilitar o trabalho”, afirma.


Vida dedicada ao festival
O som do saxofone que ecoou pelas ruas de Antonina, durante do Festival de Inverno da UFPR, encantou aqueles que ouviram a apresentação do estudante do curso de produção sonora Cainã Alves (foto), 20 anos. O que poucos sabem é que a paixão do jovem antoninense pela música cresceu no mesmo ritmo em que ele, ano a ano, participava do evento.

Cainã praticamente nasceu com o festival. Com um ano de idade, a mãe dele o inscreveu nas atividades infantis da primeira edição. Juntos, também assistiam aos shows. As primeiras oficinas aconteceram na década de 90, quando ele ingressou na Filarmônica Antoninense, de onde nunca mais saiu.

A relação de Cainã com o festival não ficou restrita às oficinas na sua cidade natal. Aos 17 anos, o jovem passou no vestibular da UFPR em Curitiba e um dos primeiros contatos que fez na universidade foi com a organização do evento. Em 2011, o estudante completou quatro anos de trabalho, entre apresentações, oficinas e atividades internas. A formatura, programada para o fim do ano, não deve encerrar a participação de Cainã. “Pretendo apresentar uma proposta para ser ministrante de uma oficina”, conta. “O festival reúne cultura, diversão, troca de informações. Tudo isso representa um crescimento intelectual com especialistas. Para mim, ele foi determinante.”

Pirâmide de alimentos dá lugar a prato

Modelo do “my plate” orienta que refeição seja composta por um prato com metade de vegetais, ¼ de grãos, ¼ de proteínas e ainda uma porção de laticínios

Gazeta do Povo | 03 de julho de 2011

A classificação dos alimentos para a manutenção de uma dieta saudável ganhou um novo formato. A pirâmide, que hierarquiza o consumo dos alimentos de acordo com sua composição, deu lugar a um prato. A nova configuração foi apresentada pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) no início do mês.

Conhecido como “my plate”, o novo modelo não é novidade no Brasil e já é recomendado pelos profissionais do país há anos. Ele orienta que uma refeição deve ser composta principalmente por frutas e legumes, além de porções de grãos e proteínas. A proporção sugerida é metade do prato com os vegetais, ¼ de grãos, ¼ de proteínas e ainda uma porção de laticínios.

O modelo do prato é considerado mais eficaz para orientar a população sobre como balancear as refeições. Além disso, é possível utilizar a mesma proporção tanto para o café da manhã quanto para o almoço ou o jantar. “Este modelo é mais simples de orientar como se deve montar um prato. Já a pirâmide soa como algo mais científico, difícil de visualizar e de entender”, avalia a professora do Departamento de Nutrição da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Regina Maria Ferreira Lang. Ela também considera a pirâmide como um modelo eficaz, mas que não dá o entendimento exato do que é uma porção de cada alimento. “A pirâmide classifica o que se deve consumir em um dia, já o prato é adaptado para cada refeição”, explica.

A reunião de variados tipos de alimentos na mesma refeição é um dos principais benefícios que o modelo de prato traz para a manutenção de uma dieta saudável, na avaliação do presidente da Sociedade Paranaense de Gastroenterologia e Nutrição, Julio César Pisani.

“Quanto mais variada é a refeição e mais elementos tiver, melhor a nutrição”, afirma. Ele ressalta que é importante oferecer ao organismo tudo o que ele necessita e que a quantidade de alimentos consumidos é um dos principais fatores para uma dieta saudável. De acordo com Pisani, é essencial incorporar estas medidas ao dia a dia. “Viver bem implica a aprender a comer e comer o suficiente para ter uma vida normal.”

Diferenças
Na pirâmide tradicional, a base é composta pelos alimentos mais recomendados, como os carboidratos e os vegetais, espécie de combustível e fontes de vitaminas para o corpo. No nível intermediário estão os ovos, o leite e demais leguminosas, enquanto o topo da pirâmide concentra o açúcar e a gordura, que devem ser evitados. “Ela serve como um guia para escolhas saudáveis, pautadas na adequação da proporção entre os grupos de alimentos. Porém é preciso muita explicação para entender, por exemplo, que no topo está o pior, o que deve ser consumido com moderação. Geralmente as pirâmides colocam o melhor no topo”, pontua a nutricionista Mariana Del Bosco, integrante da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso).

Estudo vincula uso de drogas a homicídios

Pesquisa mostra que consumo de entorpecentes vem aumentando e vincula assassinatos ao tráfico. Para pesquisador, legalização poderia amenizar o problema

Gazeta do Povo | 25 de junho de 2011

O consumo de drogas ilícitas no Brasil cresceu 172% entre os anos 2000 e 2007. A conclusão é do economista e pesquisador do Ins­tituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Daniel Cerqueira, que acompanhou a evolução da violência no país com o objetivo de identificar os fatores que causaram crimes violentos desde os anos 80. Segundo o pesquisador, esse aumento no consumo afetou diretamente os índices de violência no país e fez com que o mercado de drogas ilícitas se tornasse o principal elemento causador de assassinatos na última década.

Para medir o consumo de entorpecentes, Cerqueira analisou o número de brasileiros que morreram por envenenamento por drogas e a partir destes dados estimou o aumento dos consumidores no país. “A forma como as pessoas morrem expressa muito sobre a maneira como elas vivem. O crescimento das mortes significa que o consumo também deve ter crescido”, explica.

O consumo de drogas em alta movimentou o mercado do tráfico, que é caracterizado pela grande rentabilidade. Por se tratar de uma atividade ilícita, a violência é a única maneira de garantir que o mercado funcione e que os traficantes se mantenham à frente dele. De acordo com Cerqueira, outros casos de violência ligados ao consumo de drogas, como eventuais atos de usuários sob efeito dos entorpecentes e os crimes praticados para sustentar o vício, representam apenas 5% do total de homicídios.

A definição de um índice sobre o consumo de drogas no Brasil é vista com desconfiança por alguns especialistas. O estudo de Cerqueira é o primeiro a quantificar a incidência em todo o país, mas estudiosos da área acreditam que não é possível levantar tais informações com os dados disponíveis. “Não temos dados suficientes que nos permitam dizer se o consumo aumentou ou diminuiu. Trabalhos com contabilidade indireta e cálculos são muito arriscados”, pondera o sociólogo Michel Misse, coordenador do Núcleo de Estudos da Cidadania, do Conflito e da Violência Urbana da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Evolução
Ao acompanhar o contexto dos homicídios no país entre 1980 e 2007, o estudo de Cerqueira mostra que a violência no Brasil passou por variados ciclos. Durante três décadas, diferentes fatores, como a desigualdade social, a ausência de políticas públicas na área de segurança e o mercado de drogas ilícitas fizeram com que o índice de homicídios dobrasse. A taxa de assassinatos entre 100 mil habitantes, que era de 13 em meados da década de 1980, passou para 28 em 2003. Em números absolutos, foram mais de 1 milhão de homicídios.

Nos anos 1980, a desigualdade social acarretou uma forte onda de violência pelo país, que não foi suficientemente contida pelo sistema de segurança pública. O mercado de drogas e o consequente aumento do número de armas de fogo em circulação aparecem no final da década, com grande impacto no número de homicídios no Brasil.

A ineficiência dos sistemas de segurança pública desencadeou o aumento do mercado de segurança privada e a procura por armas de fogo nos anos 1990, considerada a década armamentista. Neste período, o mercado de drogas não representou grande influência sobre os homicídios, mas passou a se destacar nos anos 2000. “A partir de então as condições socioeconômicas melhoram, a desigualdade diminui, as polícias aumentam seus efetivos. Todos estes são fatores que interferem para diminuir os crimes violentos no país. O único determinante que vai contra os demais é a prevalência das drogas”, observa Cerqueira.

Impunidade e “gatonet”
A evolução histórica mostra que o tráfico de drogas não é o único responsável pela violência no Brasil, que decorre de diversos fatores. O ex-secretário nacional de Segurança Pública José Vicente Silva Filho discorda que o tráfico seja o principal elemento e aponta a impunidade como fator determinante para a violência no país. “O índice de esclarecimento de homicídios no Bra­sil é de 8%, de acordo com o último levantamento do Conselho Nacional de Justiça. Significa apenas que o autor foi identificado, mas não preso”, diz. “Na prática, isso mostra que o crime compensa, pois a possibilidade de o criminoso ser alcançado, punido e preso é muito baixa.”

A cientista social Sílvia Ramos, coordenadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes, no Rio de Janeiro, também acredita que o tráfico de drogas ocupa papel secundário na motivação de violência. Em especial na capital fluminense, a questão pelo controle de território tornou-se um forte motivador de homicídios. Ela afirma que essa tendência se acentuou nos anos 2000, com a crise gerada pela entrada das drogas sintéticas e pela grande repressão ao mercado ilícito. Um exemplo é o surgimento do “gatonet”, linhas clandestinas de tevê por assinatura, que passaram a ser controladas por milícias nas comunidades do Rio. “Houve uma diversificação dos negócios baseada no controle de território”, diz Sílvia. “Quem controlava as bocas de fumo agora controla inúmeros outros negócios com venda de gás, sinal de tevê por assinatura, transporte coletivo e outros, que também são rentáveis.”


Legalizar pode ser saída, dizem especialistas
A polêmica proposta de legalização das drogas é apontada como uma alternativa para reduzir os homicídios causados pelo tráfico. O argumento se sustenta na ineficiência das políticas de combate aos entorpecentes. Além disso, a violência e a corrupção deixariam de ser os instrumentos para a manutenção desse mercado. “Não tenho dúvidas de que em relação à violência sistêmica a legalização vai reduzir a violência. Com isso, não haveria mais necessidade de corrupção”, defende o pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Daniel Cerqueira. Na avaliação de especialistas, as políticas de prevenção e combate ao tráfico de entorpecentes são ineficazes, pois não conseguem impactar o problema.

Uma possível legalização das drogas, no entanto, não descartaria a necessidade de mecanismos de controle e tornaria imprescindível o investimento em estruturas de atendimento aos usuários e à prevenção ao uso, elementos que influenciam os índices de violência no Brasil. “Não podemos achar que iríamos liberar as drogas e pronto. O ambiente de liberação evita criminalizar o ato, mas a droga não será comprada em qualquer esquina”, diz o ex-secretário nacional de Segurança Pública José Vicente Silva Filho.

Para que a medida tenha sucesso, a antropóloga Ilana Strozenberg ressalta que é preciso o envolvimento de diferentes setores públicos. “A descriminalização, certamente, é um passo importante, mas que deve ser pensado com cuidado, articulado com políticas públicas diferentes das existentes”, afirma


Siri ganha versões na mesa caiçara

Carne do crustáceo é usada no preparo de receitas que vão além da tradicional casquinha frita

Gazeta do Povo | 24 de junho de 2011

A casquinha de siri não é o único modo de preparo do crustáceo. Ele é ingrediente de destaque nas refeições de quem vive na praia. Os cardápios dos restaurantes do litoral oferecem pratos variados preparados a partir da iguaria: bolinho, ensopado, pastel, panqueca, quibe ou até mesmo hamburguer.

Com grande produção e culinária diversificada, Antonina já é considerada a capital do siri. De acordo com estimativas da Secretaria Municipal de Agricultura e Meio Ambiente e da Colônia de Pescadores, cerca de 400 pescadores dependem da cata do crustáceo. A atividade movimenta a economia do município e o número de famílias envolvidas neste mercado tende a aumentar, com a profissionalização na culinária na comunidade.

A cozinheira Jaci Dias Pereira, 60 anos, é uma das principais responsáveis pela popularização do siri na gastronomia local. Ela é a presidente da Associação dos Moradores do Portinho, Graciosa de Cima e Graciosa de Baixo – conhecida como Siri do Portinho – e também acompanha o marido na cata do crustáceo há quatro décadas. Para Jaci, o siri é o sustento da casa e o que financia a criação dos filhos. Ela conta que há alguns anos o ingrediente era pouco consumido na cidade e destinado quase que inteiramente para mercados de Santos e São Paulo, por intermediadores. “Depois que participei de um curso sobre cooperativismo, percebi o valor que o nosso produto tem”, conta. Foi então que começou a mobilização para aumentar o consumo local, fazendo com que todos os restaurantes da cidade também investissem no prato e passassem a oferecer preparações variadas no cardápio.

A criação de uma associação de moradores foi uma das ações para fomentar a produção e utilização do siri na gastronomia de Antonina. Além de oficinas de artesanato e informática para geração de renda da comunidade, na sede da entidade, inaugurada em dezembro de 2008, funciona uma cozinha-escola e um restaurante. O estabelecimento abre nos fins de semana, com cardápio à base de siri e outros frutos do mar. As receitas são das próprias cozinheiras e demais mulheres da comunidade, que há décadas preparam os pratos com a carne do siri capturado em família.


Fresco
Disponível durante todo o ano, o siri vai direto da baía de Antonina para a mesa. Os pescadores demoram três horas para chegar aos pesqueiros e saem da cidade com a maré ainda baixa. Quando voltam, retiram a carne e já colocam à venda e para a produção dos pratos.

O ideal é retirar a carne do siri após o cozimento, em que ele é colocado vivo na panela com água fervente. Isso garante que a carne fique firme e não esfarele. No caso da carne congelada, ela deve descongelar dentro da geladeira. Outra dica da cozinheira Jaci é utilizar temperos frescos, cortados na hora da preparação do prato.

Ingredientes
1,5 quilo de carne de siri
2 ½ xícaras de arroz
4 tomates
½ cebola picada
Alho
Sal
Coentro e alfavaca frescos
1 xícara de sopa de coloral ou molho de tomate

Modo de preparo
Em uma panela com pouco óleo coloque 500 gramas da carne do siri para aquecer. Em seguida, acrescente a cebola picada, uma pitada de alho, o coentro e a alfavaca picados em pedaços pequenos e deixe esquentar por poucos minutos. Depois junte o coloral ou o molho de tomate. A cozinheira Jaci orienta que devem ser utilizadas poucas quantidades destes dois ingredientes para evitar que eles tirem o gosto do siri. Por último, adicione o arroz. Deixe refogar no modo tradicional de preparo do arroz, acrescentando água. Depois do cozimento, o arroz fica amarelado por conta do coloral ou do molho de tomate.

Molho
Em outra panela, prepare o molho do risoto com os mesmos ingredientes utilizados com o arroz. O molho deve ter a consistência mais cremosa do que o risoto. Para servir, cubra a porção do risoto com o molho de siri e salpique cheiro verde fresco. Jaci sugere bolinhos de siri e salada mista como acompanhamentos do prato.


Serviço
A Associação de Moradores Siri do Portinho serve os pratos feitos com siri durante os finais de semana. Rua Escoteiro Milton Oribe, 395 - Portinho de Baixo, Antonina. Fone 41-3432-4851


Capitania atua além do alto-mar

Órgão criado no império organiza o tráfego marítimo e preza pela vida do homem em portos e costas

Gazeta do Povo | 24 de junho de 2011

Criada pelo imperador Dom Pedro II em 1845, a Capitania dos Portos, presente nas então províncias marítimas brasileiras, tem atribuições específicas de “polícia naval, conservação do porto, inspeção e administração dos faróis, balizamento, matrícula da gente do mar e do tráfego do porto e das costas”, entre outras tarefas descritas no decreto da época. No Paraná desde 1853, a organização militar ligada à Marinha Brasileira pode ser considerada uma espécie de polícia “rodoviária” e departamento de trânsito – um ‘Detran’ – dos mares.

Assim como ocorre nas rodovias, a Capitania dos Portos tem a missão de defender a vida humana no ambiente marinho, além de organizar o tráfego aquaviário. Sem outra instituição afim no estado – como uma Delegacia Marítima ou uma Estação Naval, por exemplo – o órgão acumula funções. Ao mesmo tempo em que controla o movimento de embarcações nas águas, a capitania é responsável pela ação de socorro e resgates, pela emissão de documentos de habilitações e ainda pela oferta de cursos de ensino profissional marítimo. O combate à poluição do mar também faz parte das suas atribuições. “Nossa capitania é autossuficiente e tem estrutura para dar cabo dos obstáculos que surgem”, avalia o Capitão dos Portos do Paraná e Capitão-de-Mar-e-Guerra, o comandante José Henri­que Corbage Rabello.

Mesmo com tantas tarefas simultâneas, o comandante comemora o índice de “zero erro” no despacho de navegações que chegam e saem do Porto de Paranaguá, nos últimos seis meses. A unidade paranaense também se destaca como a que oferece maior número de cursos profissionalizantes em todo o Brasil. No próximo dia 11 de julho, a Capitania do Paraná irá receber pela primeira vez o comandante da Marinha do Brasil. A presença do alto comando da corporação é considerada como o reconhecimento pelo trabalho realizado pela unidade do Paraná.

Outros horizontes
As atividades relativas à segurança portuária se dividem com as ações realizadas com a população local. “Precisamos trazer a comunidade para conhecer as coisas do mar”, afirma o comandante. Em datas festivas, a população conhece de perto o trabalho desenvolvido pelo órgão.

Os visitantes, em especial alunos de escolas da região, participam de gincanas e palestras educativas e ainda visitam as embarcações e os acampamentos. As atividades cívico-militares acontecem principalmente em duas datas especiais: no dia 11 de junho, Dia da Batalha Naval do Riachuelo, Data Magna da Marinha do Brasil; e no dia 13 de dezembro, Dia do Marinheiro.

O atendimento para liberações de documentos navais e habilitações para condução de embarcações acontece diariamente, no período da manhã. Para receber o público, a capitania oferece um espaço construído especialmente a este serviço. Além disso, todos os procedimentos estão em fase de informatização, para dar mais agilidade aos processos.


Cisnes brancos em ação
Dentro da principal missão de cuidar da vida humana no mar, os militares da Capitania dos Portos são constantemente chamados para realizar atendimentos pelo litoral paranaense. As situações mais comuns são resgates de pessoas em embarcações que ficam à deriva, muitas vezes vindas de outros estados como Santa Catarina, São Paulo e Rio de Janeiro.

Há emergências que chamam a atenção dos militares. A mais recente foi o atendimento a uma dona de casa que mora em Guaraqueçaba e foi resgatada em trabalho de parto em alto mar. O caso aconteceu em maio deste ano, quando a mulher fazia o trajeto entre Guaraqueçaba e Paranaguá em um barco de carreira. No meio do caminho, a gestante iniciou o trabalho de parto e a capitania foi acionada. O atendimento terminou com o encaminhamento da mãe ao Hospital Regional em Paranaguá.

Fora das águas, a última grande ocasião em que os militares se mobilizaram foi durante a operação Águas de Março. Membros da capitania prestaram atendimento aos municípios do litoral paranaenses afetados pelas fortes chuvas que caíram no início de março. O órgão promoveu o acesso de bombeiros, equipes de resgates e donativos às regiões atingidas.


Energia que vem do subterrâneo

Encravada na Serra do Mar, usina hidrelétrica em Antonina produz energia em uma construção incomum, aberta aos visitantes

Gazeta do Povo | 24 de junho de 2011

A Usina Hidrelétrica Pedro Viriato Parigot de Souza, em Antonina, é um passeio inusitado para quem está acostumado com roteiros convencionais no litoral paranaense. Diferente de qualquer outra atração da região, a usina da Copel é pouco visitada e está instalada em cavernas criadas nos subterrâneos da Serra do Mar.

Além da localização, a estrutura e o funcionamento da usina são uma atração à parte. Criada na década de 70, ela utiliza a água do Rio Capivari, que fica represada na região de Curitiba (a 830 metros acima do nível do mar) e chega a Antonina por um túnel escavado no meio da serra.

A peculiaridade do roteiro começa no caminho que leva a todo o maquinário da usina. É preciso seguir de carro por um túnel com 1,1 km de extensão e desnível de 105 metros, que possui iluminação discreta. No percurso, grandes pedaços de rocha ficam aparentes, além dos cabos de alta tensão que, devidamente isolados, conduzem a energia até a subestação localizada do lado de fora. A sensação claustrofóbica despertada no túnel acaba assim que se chega à usina. Com iluminação branca, o ambiente não parece estar debaixo da terra.

No interior das cavernas, o visitante acompanha todo o trajeto que a água faz para ser usada na geração de energia. É possível sentir a passagem da água pela tubulação ao tocar nos grandes tubos, que, mesmo com vários metros de diâmetro, estremecem constantemente.

A imagem mais característica da usina pode ser vista da sala de comando: os quatro geradores que rodam a 514 rotações por minuto (RPM). “A energia do gerador passa para os transformadores, que elevam sua potência. Depois disso, na subestação a céu aberto, outros transformadores reduzem a tensão para o consumo residencial ou industrial”, explica o assistente técnico de operações Luiz Carlos Zeni.

O tour pela usina não é válido apenas para estudantes do ensino regular e alunos dos cursos de engenharia. É uma oportunidade para o cidadão comum conhecer todo o processo de geração de energia. “A pessoa, na sua casa, olha para este benefício na lâmpada ou na televisão, por exemplo, e sabe como chegou até ali. É possível conhecer toda a cadeia de produção, ver quantos profissionais e quanta tecnologia é envolvida”, explica a supervisora administrativa da usina, Elaine Broska Martins.


260 megawatts - Produção abastece o litoral
Assim como as demais unidades geradoras da Copel, a usina de Antonina faz uma homenagem a ex-governadores paranaenses. Pedro Viriato Parigot de Souza governou o estado entre 1971 e 1973 e também foi presidente da Copel na década de 60.

Com quatro geradores ligados ao Sistema Interligado Nacional, a usina tem capacidade de produzir 260 megawatts (MW), que corresponde a 8% da capacidade total da Copel. Com esta potência, a unidade é responsável por abastecer todos os municípios do litoral do estado e parte de Curitiba.

Outro diferencial da unidade é o desnível entre a represa (localizada na região de Curitiba) e a usina (em Antonina), que chega a 750 metros. No caminho entre Curitiba e o litoral, a água percorre 22 km de túneis pelo meio da Serra do Mar e a forte pressão com que ela chega ao maquinário possibilita que a energia seja gerada com pouco volume de água.

A construção da usina demorou 10 anos. Oito apenas para as escavações nas rochas e dois para a instalação propriamente dita. De acordo com a Copel, os 630 mil m3 de rochas extraídas transformadas em brita poderiam pavimentar uma estrada de 400 quilômetros de extensão. Já as 900 mil sacas de cimento gastas na concretagem seriam suficientes para construir 30 edifícios de 50 andares.

Serviço
O acesso à Usina Governador Parigot de Souza é feito pela PR-340. As visitas podem ser feitas somente às terças-feiras e precisam ser agendadas pelos telefones 41-3432-1120, ramais 6729 ou 6782.


Histórias guardadas sob as águas

Pelo menos 50 embarcações afundadas no litoral do Paraná marcam o estado como ponto importante na história naval brasileira

Gazeta do Povo | 24 de junho de 2011

O movimento das marés guarda sob as águas do litoral paranaense inúmeras histórias de navios que afundaram na região. Pelo menos 50 embarcações naufragaram no estado em aproximadamente quatro séculos, de acordo com levantamentos de historiadores.

A presença dos navios afundados no litoral mostra que o Paraná teve participação importante na história da navegação brasileira. Embarcações que seguiam com ouro e prata passavam pelo estado para reabastecer com mantimentos e também comprar mão de obra no mercado de escravos. A Baía de Paranaguá é a que concentra mais navios sob as águas, localizados próximo a entrada do Rio Itiberê (acesso à cidade pelo mar), na região das ilhas do Mel, das Peças e Superagui.

Apesar da pouca visibilidade, os naufrágios representam uma possibilidade de incremento do turismo e valorização da cultura local. Junto com a história de um navio surge também o imaginário popular. “As lendas transformam a praia comum em um lugar com histórias”, explica o diretor de turismo de Guaratuba, Mario José Natalino. Há alguns anos, a história da única embarcação que afundou na cidade, o Vapor São Paulo, caiu no esquecimento entre os moradores. O município investe agora na retomada de seu passado por meio de oficinas nas escolas. “Significa um resgate da cidade, em que os moradores conhecem sua própria história”, analisa.

Caçadores de tesouros
Incentivados pelas lendas que envolvem os naufrágios, muitos aventureiros buscam tesouros sob as águas. Os itens mais procurados são moedas de ouro, além de objetos de prata e cobre. A busca é encarada com seriedade pelos caçadores de tesouros, que investem dinheiro alto nas expedições. “A tradição oral é muito forte e as lendas atraem as pessoas. Se existe uma história, alguém vai procurá-la”, conta o tesoureiro do Instituto Histórico Geográfico de Paranaguá, José Maria Faria de Freitas.

Em muitos casos, os objetos encontrados nas embarcações ficam restritos a colecionadores particulares como forma de recompensa pelo apoio ao investimento, e sequer são catalogados. Nem mesmo os salvados, objetos que chegam à praia com o movimento do mar, são notificados. Por isso, os museus do estado guardam pouquíssimos objetos em seus acervos.

Em Paranaguá, por exemplo, restaram apenas alguns canhões do chamado “navio pirata”, história de naufrágio mais conhecida da cidade. Pesquisas apontam que alguns objetos estão em cidades longe do litoral paranaense, como a Lapa. Da embarcação de Guaratuba, um dos últimos registros é de uma empresa de Joinville que teria ficado com as peças, mas nada foi localizado.

As condições em que as peças são retiradas do fundo do mar dificultam o trabalho de conservação. Em geral, os objetos são conservados de maneira incorreta, o que danifica permanentemente sua estrutura. “Assim a história se dissipa, como um navio perdido na neblina. Este é um patrimônio coletivo e que o estado pode reverter como atração turística”, avalia a arqueóloga do Museu Paranaense, Claudia Inês Parellada, que tenta remontar o quebra-cabeças da história naval do estado com as poucas peças que restaram dos naufrágios paranaenses.


Lendas dão vida aos naufrágios
As histórias dos naufrágios alimentam o imaginário popular. Os dias de maré baixa na praia de Caieiras, em Guaratuba, revelam partes do Vapor São Paulo. Em novembro de 1868, sob o comando do oficial Jacinto Ribeiro do Amaral, marido da compositora e pianista Chiquinha Gonzaga, a embarcação voltava da Guerra do Paraguai com cerca de 600 passageiros, entre eles soldados feridos e médicos.

Em meio ao nevoeiro, o vapor encalhou ao se aproximar da costa e tombou. Um soldado morreu e os demais tripulantes se abrigaram nas grutas e nas casas dos moradores do povoado por três dias, aguardando o resgate. Muitos suspeitam que Chiquinha Gonzaga estava a bordo do navio. O principal argumento é de que a compositora era obrigada a acompanhar o marido em suas viagens. Mas nada comprovou sua presença entre os passageiros.

Já em Paranaguá, os piratas são os protagonistas do naufrágio mais famoso da cidade. Entre os séculos 16 e 18, a abundância de ouro e prata nas colônias da América Latina despertou o interesse de piratas, que saqueavam as embarcações que seguiam em direção à Europa.

Em 1718, o navio francês Le François, carregado de prata retirada do Chile, seguia rumo à França quando foi atacado por piratas a bordo da sumaca Louise, próximo à costa brasileira. Conhecedora da Baía de Pa­ranaguá, a embarcação francesa tentou se proteger em águas paranaenses, mas foi seguida pelos piratas.

Ciente do risco que se aproximava, a população parnanguara pediu proteção a Nossa Senhora do Rosário e foi atendida. Quando o navio pirata se aproximava da cidade, uma forte tempestade se formou, fazendo com que a embarcação afundasse próximo à Ilha da Cotinga. Muitos piratas se salvaram e se estabeleceram na cidade, formando famílias que existem até hoje. Análises dos documentos recuperados na embarcação apontam os sobrenomes Fedalto e Du Bois como de alguns dos piratas do Louise.


Embarcações
Cerca de 50 navios estão afundados no litoral paranaense. Veja as histórias mais conhecida

Cormorant: O cruzador da Marinha Britânica perseguia navios negreiros no litoral paranaense. Em junho de 1850, envolveu-se em uma batalha em frente à Ilha do Mel e foi atingido. O Cormorant não chegou a afundar, mas os brigues Donna Ana e Sereia foram incendiados. O Donna Ana se encontra na direção da Praia do Miguel, na ilha.

Dasland: O navio saía do Porto de Paranaguá em 1970 e se chocou em outra embarcação durante a madrugada. Para não atrapalhar o fluxo de navios que de dirigiam ao porto, o Daslan seguiu para um banco de areia, onde, em dez horas, encalhou e tombou.

Argentino: Assim como o Vapor São Paulo e o Daslan, o Argentino afundou depois de se chocar com um banco de areia. A embarcação está em mar aberto, próximo ao Farol das Conchas, na Ilha do Mel.

Mataripe: Navio carregado de munição bateu nas pedras e acabou em frente à Praia Deserta, na Ilha de Superagui.


Entre e fique à vontade

Famílias de Paranaguá abrem as portas de suas residências e recebem turistas como hóspedes

Gazeta do Povo | 24 de junho de 2011

Turistas que, mesmo longe de casa, procuram por um ambiente acolhedor para se hospedar encontram, em Paranaguá, a oportunidade de conhecer um novo tipo de acomodação. Incentivados pela Fundação Municipal de Turismo (Fumtur) e pelo Moto Clube Robalos Rebeldes, alguns moradores da cidade estão abrindo as portas de suas casas para hospedar visitantes.

Realizado desde o ano passado, o programa Hospedagem Familiar foi criado para atender à alta demanda por hotelaria durante o Paranaguamotos – Encontro Nacional de Motociclistas, que ocorre no mês de agosto. Nas últimas edições do evento, os cerca de 1,2 mil leitos disponíveis na cidade não foram suficientes para acomodar todos os participantes, que chegaram a dormir em barracas montadas nas praças.

Inédito no litoral paranaense, o programa é baseado em experiências que já acontecem na Europa. Ao invés de apenas se instalar em um hotel, o turista é recebido pelo anfitrião, que cuida pessoalmente de todas as suas necessidades, durante a estada na cidade. Os valores das diárias são equivalentes a hospedagens convencionais, em estabelecimentos de categoria semelhante. “A diferença é que não se presta somente o serviço, mas oferece-se um ambiente que é familiar e que favorece a troca de cultura”, destaca a coordenadora do programa, Dayanny Pires de Oliveira. O turista escolhe a residência onde deseja se hospedar pelo site da fundação e paga 50% do valor da diária para efetuar a reserva.

Vagas
As famílias interessadas em receber turistas passam por uma seleção, que avalia a localização e a estrutura das residências. Os moradores também recebem orientações sobre como receber bem os hóspedes e indicar os pontos turísticos da cidade. Assim como os hotéis, as residências são classificadas nas categorias econômica, turística e superior.

Na primeira edição, o programa teve 20 casas inscritas, mas apenas duas ficaram disponíveis devido à estrutura que oferecem. Para este ano, a expectativa é contar com novas famílias anfitriãs. A mobilização dos interessados já começou.

A hospedagem familiar funciona o ano inteiro, com possibilidade de acomodar visitantes durante as festas da Tainha e das Nações, que ocorrem nos próximos meses. O programa foi premiado pelo Ministério do Turismo como uma das melhores práticas entre os 65 municípios indutores do desenvolvimento turístico, que tem foco em investimentos nos padrões de qualidade na recepção de viajantes. Os primeiros resultados também animaram os integrantes da Fumtur, que já têm planos futuros para o programa. “Pensamos na hospedagem familiar como uma opção para a Copa do Mundo de 2014”, revela Dayanny.

Serviço:
Mais informações sobre o programa Hospedagem Familiar estão disponíveis no site www.fumtur.com.br


Casa de família com café, internet e academia
A participação da empresária Cassia Lisboa Pereira, 46 anos, no programa de hospedagem familiar aconteceu de uma forma inesperada. Dona de uma loja, ela não tinha ideia de como receber turistas em casa. A oportunidade surgiu a partir da mobilização da Fundação Municipal de Turismo (Fumtur) com os moradores de Paranaguá.

De olho na fonte de renda extra, a empresária fez pequenos reparos na estrutura, além de comprar móveis e roupas de cama, investimento que chegou a R$ 1,2 mil. Com a casa adaptada, ela recebeu dez pessoas durante o encontro nacional de motociclistas, que ocuparam quatro dos cinco quartos da residência. “Acolher as pessoas na sua família é um compromisso muito sério. Temos que atender a todos sem colocar funcionários para prestar o serviço, senão descaracteriza o programa. Por isso foi bem puxado”, conta. Classificada na categoria superior, a casa de Cassia dispõe de TV a cabo, internet sem fio e café da manhã completo. Ela, o marido e o filho adolescente deram conta de todo o trabalho.

Os lucros obtidos com a hospedagem ainda não cobriram os investimentos, mas a empresária garante que fez novos amigos com a experiência. “Ficamos em um clima família. Foi muito divertido.” O grupo mantém contato frequente e alguns turistas já fizeram reservas na casa de Cassia para a festa deste ano.

Para o hóspede Divo Vidal, que mora em Palmeira (PR), o diferencial da hospedagem familiar é se sentir em casa. “Tudo é muito confortável”, afirma. Ele esteve em Paranaguá no ano passado e pretende utilizar mais as hospedarias familiares.

Prevendo mais movimento, a empresária prepara novas melhorias na casa. Já montou uma academia de ginástica e ainda pretende atender à principal reivindicação dos apaixonados por motocicletas: construir uma cobertura para abrigar os veículos.