Taxistas instalam câmera no ponto

Equipamento foi comprado graças a uma ‘vaquinha’ e deve garantir mais segurança no local

Folha de Londrina | 18 de dezembro de 2008

Revoltados com a morte do colega Nelson Roberto da Silva, 61 anos, no dia 29 de novembro, durante uma corrida, os motoristas que trabalham no ponto de táxi em frente ao Mercado Municipal de Curitiba resolveram tomar uma atitude a favor de sua segurança. O ponto, considerado ‘de família’ e com motoristas que trabalham no local há anos, conta agora com uma câmera de monitoramento.

A iniciativa foi do taxista Jefferson Borlin de Andrade, 38, que trabalha há 15 anos no ponto. Depois de dois dias de luto pela morte de Silva, ele sugeriu aos 21 colegas que trabalham no local a aquisição da câmera. A proposta foi aceita por unanimidade e com uma "vaquinha", os motoristas arrecadaram R$ 200,00, sem contar o valor da mão-de-obra da instalação do equipamento. A medida também conta com a ajuda da proprietária de uma lanchonete do Mercado Municipal, que disponibilizou aos taxistas o sistema de gravação de imagens.

A câmera de alta resolução foi instalada na parte superior do mobiliário do ponto de táxi, em um ângulo que registra todos os passageiros que entram nos veículos. Uma sugestão da direção do mercado adiou o início do funcionamento da câmera devido à localização dos fios que fazem a ligação do equipamento ao sistema de gravação de imagens. A fiação, que inicilamente passava pelo alto do mobiliário, será tubulada. "Fizemos uma reunião ontem com eles (os motoristas) para que fizessem a instalação adequadamente. Do jeito que estava ficava fácil para os vândalos arrebentarem os fios quando não tivesse nenhum taxista ali. Fizemos um acordo e a fiação vai ficar escondida", explica o chefe de divisão da administração do Mercado Municipal de Curitiba, Gerson Castro. Os motoristas agora aguardam uma nova instalação.

O investimento priorizou um equipamento que realmente ajudasse na identificação dos passageiros, e não mostrasse apenas vultos. "Se já tivesse a câmera ali, teria filmado a pessoa que entrou no carro (do taxista assassinado). Não vamos ter o Nelson de volta, mas vai evitar que outra pessoa seja assaltada ou morta", afirma Andrade.

Os motoristas Plinio Pontes, 62, e Oswaldo de Macedo, 67, que trabalham há mais de 30 anos no ponto do Mercado Municipal e já perderam três colegas em assaltos, acreditam que a câmera vai ajudar a identificar possíveis assaltantes. "Foi uma fatalidade que aconteceu, você não sabe quem está pegando. Pelo menos vamos ficar sabendo e reconhecer quem entra no táxi", refere-se aos passageiros que assaltam os motoristas.

Mais abalado que os demais, o taxista Alceu Gabriel Madureira, 70, agora guia sozinho o Gol número 451. Além do colega, ele perdeu o amigo de 10 anos. "Acho que quem tem que fazer isso é a prefeitura, mas acho que vai ajudar. Não temos segurança nenhuma", opina o motorista que só voltou a trabalhar depois de 10 dias da morte de Silva. "Ele (Nelson) era uma pessoa boa", lembra-se do amigo.


PM e prefeitura divergem sobre responsabilidade
A responsabilidade sobre a vigilância e segurança dos pontos de táxi da Capital dividem a Prefeitura Municipal e a Polícia Militar (PM). Por meio de sua assessoria de imprensa, a Prefeitura de Curitiba declarou que disponibiliza quatro integrantes da Guarda Municipal permanentes durante o dia no Mercado Municipal e à noite é realizado o patrulhamento na região. Mesmo com o fato de o ponto de táxi estar localizado fora do prédio, os motoristas de táxi também recebem o atendimento da Guarda Municipal. Porém, a assessoria de imprensa alega que a proteção dos motoristas quando realizam corridas é um problema de segurança pública e, consequentemente, de responsabilidade do Estado.

Em nota oficial enviada à FOLHA, a Polícia Militar afirmou que está à disposição dos taxistas e que sempre atende as solicitações quando é acionada, independente do local da ocorrência. A organização ressaltou ainda que "está empregando as escalas flexíveis, em que o efetivo é disposto em horários e locais indicados por estatísticas como sendo de maior probabilidade de ocorrências".

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