Pequenas sensações

Artista retrata diversos espaços da Capital em miniatura

Folha de Londrina | 29 de outubro de 2008

O ateliê da artista Rita Pires pode ser considerado uma pequena linha de produção. Não apenas pelo espaço físico em que ela e sua equipe, composta por outras duas artistas, trabalham, mas também pelo que é criado no local: pequenos ambientes.

Utilizando diversos materiais como papel, massinha, argila, madeira, bijuterias, botões, as artistas produzem cadeiras, telefones, mesas, livros, alimentos e outros objetos que compõem cenários variados.

A preferência de Rita, responsável pela elaboração final das peças, é por temas ligados à cultura, ambientes, profissões, arte e casa. ‘‘Sou muito ligada à casa, como os curitibanos, gosto do ambiente, reparo muito no ambiente’’, conta a artista que nasceu em Rio Negro (109 km a sudoeste de Curitiba), mas se considera natural da cidade onde mora há 35 anos e não quis revelar sua idade.

No ínicio, Rita trabalhava apenas com o bordado em ponto cruz, que foi substituído pelas miniaturas quando a artista começou a inserir pequenos elementos ao bordado.

Foi em 1989 que Rita começou com as miniaturas e não parou mais. ‘‘Foi surgindo’’, conta. Hoje, ela alia a produção livre para suas exposições com encomendas, em que atende lojas e consumidores particulares. Atualmente são produzidas aproximadamente 70 peças por semana.

‘‘Quem vê não imagina, mas é bem árduo’’, diz Rita ao mostrar uma de suas obras. Mesmo quando recebe uma encomenda de produções com o mesmo tema, a artista se preocupa em cuidar especialmente com o acabamento e o caimento de cada obra. ‘‘Aí está o encanto, fazer um de cada jeito.’’

A artista ainda não tem novas exposições agendadas, apenas o lançamento (sem data marcada) de um livro sobre seu amigo e artista Helio Leites, que também trabalha com miniaturas.


Pedacinhos de Curitiba
Nos mínimos detalhes, espaços tradicionais de Curitiba são representados em miniaturas. Doces, frutas, quadros, todos os elementos de locais como a Confeitaria das Famílias, a Feira de Livros Usados, a Villa Anna Biscoitos Caseiros, a Casa Hilu e o Mercado São Jorge são reproduzidos perfeitamente em baixa escala.

As obras foram apresentadas na exposição ''Espaços Curitibanos'', que reuniu 12 casas de comércio antigas homenageadas em miniatura. ''São comércios antigos que mantém características originais e foram agregando a modernidade. Locais em que ainda posso entrar e sentir o cheiro, olhar, conversar com os donos'', explica a escolha dos locais, a idealizadora da exposição, Rita Pires.

''A idéia não é fazer maquete, mas uma homenagem ao espaço, tentar captar a alma dos objetos, cada ambiente tem sua personalidade de acordo com os objetos'', diz.

O projeto surgiu em 2006, quando a artista inscreveu a proposta no edital da Lei Municipal de Incentivo à Cultura. Depois de um ano e meio e ''muito trabalho'', todas as obras estavam prontas. ''Foi um sonho que eu tinha, produzir sem precisar vender, fazer o que quisesse'', afirma. O trabalho também fez parte da pós-graduação da artista.

A produção contou com muitas conversas com os proprietários, observação dos locais retratados e fotografias. ''Fazia de acordo com a sensação do ambiente'', lembra. Depois de passar pelos locais escolhidos, a artista compôs cada um dos espaços de maneira diferente. Todos os elementos das obras foram produzidos no ateliê.

Além da exposição dos espaços de Curitiba, as 12 obras fizeram parte da exposição ''Diálogos em Miniaturas'', junto com trabalhos que uniram peças em tamanho real com miniaturas e objetos em miniatura com poemas. Das 12 obras, quatro foram compradas pelos proprietários dos comércios.


Valorização local
A professora do curso de Arquitetura da Universidade Positivo (UP), Maria das Graças Rodrigues Santos, acredita que o trabalho de Rita Pires promove uma oportunidade do curitibano reconhecer sua história.

''As pessoas acreditam que a preservação é só o tombamento, a legislação. Mas esse trabalho é uma forma do morador se identificar com a cidade e contribui para a educação patrimonial e a necessidade de preservar. Alguns destes espaços os alunos não conhecem, mas traz a memória da família'', afirma.

Maria das Graças, que leciona Técnicas Retrospectivas, aproveitou as obras de Rita Pires para trabalhar com os alunos a escala e a representação dos espaços, que fazem parte da formação dos arquitetos.

As obras de Rita ficaram expostas na biblioteca da UP e, além disso, está prevista para o início do ano que vem uma oficina sobre miniaturas, ministrada pela artista.

''Todo mundo achou lindo, a qualidade de arte e o nível de detalhe. Ela trabalha nos mínimos detalhes, é uma perfeição que representa exatamente o lugar'', faz um comentário sobre a obra.

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