'Anjos’ para ajudar a comunidade em Curitiba e região

Voluntários se organizam e criam redes de apoio que vão desde doações a acompanhamento em hospitais

Folha de Londrina | 9 de janeiro de 2009

Quando um problema de saúde ou uma necessidade urgente aparece e não há ninguém para ajudar, somente um "anjo" pode encontrar a solução. Várias comunidades de Curitiba e Região Metropolitana podem contar com eles, que estão sempre a postos para socorrer quem precisa, independente do horário ou do problema.

Chamados por Anjos do Bairro, Sementes do Amanhã ou outros tantos nomes, grupos de voluntários se organizaram e criaram uma rede de apoio à população. As ações vão desde acompanhamento a doentes em hospitais, passam por doações de roupas, alimentos, medicamentos e ainda indicações a empregos. As pessoas apoiadas pelo grupo também recebem cadeiras de rodas e de banho.

A iniciativa foi criada em 2001 -Ano Internacional do Voluntariado-, em uma parceria entre a Secretaria Municipal de Saúde e Conselhos Locais de Saúde, com o objetivo prioritário de combater a mortalidade infanto-materna. Porém, nos encontros com as gestantes, os integrantes dos grupos perceberam que para garantir melhores condições de vida ao público, é necessário um atendimento à toda família.

"A gente não fomenta a miséria e o vício", afirma Ernani da Silva, coordenador do comitê Anjos do Bairro, que atua no Alto Atuba e outras regiões próximas. Ele explica que a ação do grupo não é apenas suprir necessidades emergenciais ou momentâneas, como a fome, mas sim estimular o desenvolvimento completo da família e a inserção social. "A gente conhece a família, as condições para trabalhar e insere no mercado de trabalho", diz.

O trabalho é articulado com as unidades de saúde do bairro. Os agentes comunitários de saúde indicam as famílias selecionadas durante as visitas domiciliares e que precisam de apoio. Depois de identificado o público, entram em ação os "anjos", que se dividem entre os colaboradores -empresários, comerciantes e comunidade, que fazem doações- e os voluntários que "colocam a mão na massa".

Em uma breve caminhada pelo bairro, é facil encontrar voluntários do grupo Anjos do Bairro, que conta com mais de 70 pessoas. A maioria dos que são voluntários hoje foram ajudados pelo grupo e pretendem continuar. "Não tem coisa melhor que ajudar a quem precisa", afirma o mecânico Reinaldo de Jesus, 26. "Não tem dinheiro que pague por ouvir ‘que Deus te abençoe’", complementa Simone Dias de Souza, 35.

O momento do ano mais esperado pelos Anjos do Bairro é o dia do Natal Solidário, quando são distribuidos brinquedos às crianças. Os pequenos voluntários também se divertem, como Davidson da Paz, 13 anos. "Estamos ajudando com trabalho." Aos 76 anos de idade e muitos dedicados à ajudar o próximo, Maragarida Silva é responsável pela organização dos brinquedos entregues e separação das roupas doadas. "Me sinto muito bem fazendo este trabalho", conta.


‘Saí do inferno e estou no céu’, relata voluntário
Entre os depoimentos mais interessantes sobre a atuação do Anjos no Bairro está a história de João Maria de Almeida, 56. Hoje ele se orgulha da confiança e das responsabilidades atribuídas a ele, uma realidade muito diferente da que vivia há cinco anos.

"Conheci o grupo através do ‘litrão’. Se não fosse por eles não existia mais nem o osso", brinca. Depois de quase entrar em coma pelo consumo de bebidas alcóolicas, Almeida passou por um tratamento e, com a ajuda dos Anjos do Bairro, conseguiu um emprego na área da construção civil.

"Saí do inferno e estou no céu, ninguém depositava um pingo de confiança em mim. Agradeço muito, a gente não pode desistir", diz. O coordenador do grupo, Ernani Silva, faz uma comparação da situação de Almeida antes e depois do acompanhamento. "Antes ele era sujo de barro, hoje está sujo do seu trabalho, de dignidade."

Para Rodrigo Silva, 27, o encontro com os Anjos do Bairro foi apenas o começo de uma vida nova. Morando em Curitiba há três semanas, ele e sua família vieram de Pelotas, Rio Grande do Sul, e conseguiram ajuda para encontrar emprego e casa. "Se não tivesse ajuda estaria em dificuldade, não teria como correr sozinho, sem apoio". Ele garante que pretende retribuir atuando pelo bem do próximo. Além da ajuda a João e Rodrigo, a supervisora do Distrito de Saúde da regional Boa Vista, Elizabeth Guinart Araújo, também comemora os resultados alcançados com os grupos. Para ela, a principal contribução dos voluntários é a inserção das unidades de saúde nas comunidades.

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