Psicologia contra violência infantil

Essa foi minha primeira matéria publicada no jornal...

Folha de Londrina | 5 de julho de 2008

Dados do Serviço de Investigação de Crianças Desaparecidas (Sicride) apontam índice preocupante de crianças desaparecidas mortas. Entre 2003 e 2005 foram registrados 263 casos de crianças desaparecidas. Destas, cinco foram mortas e três são possíveis vítimas de assassinos em série. Uma pesquisa solicitada pelo Sicride ao Departamento Penitenciário mostra que entre 144 casos de crimes cruéis contra crianças, como tortura e estupro seguido de morte, 24 pessoas tinham perfis de criminosos em série.

Para preparar melhor os policiais civis e federais na investigação desses crimes, foi realizada nesta semana, em Curitiba, um curso de capacitação sobre Vitimologia e Psicologia Investigativa. As técnicas de psicologia investigativa são incorporadas aos procedimentos policiais na realização de entrevistas com vítimas e suspeitos. ''São sinais que as pessoas mostram e que este método ajuda a identificar e analisar, como mentiras durante os depoimentos'', explica Marilia de Melo Costa, mestre em psicologia investigativa, uma das participantes do curso.

Outra contribuição da psicologia é a técnica de análise da geografia do crime. ''Aqui no Brasil não temos uma pesquisa científica para analisar a geografia do crime. São iniciativas isoladas, empíricas'', afirma a investigadora da Secretaria de Estado de Segurança Pública, Giovana Fabris. A análise geográfica avalia todos os aspectos da cena do crime na busca pelo autor. Também é feito um mapa mental, com os elementos de familiaridade dos suspeitos com os locais onde acontecem os crimes e proximidades.

A proposta da capacitação aos policiais é dar continuidade ao curso ministrado no ano passado por representantes do FBI (Federal Bureau of Investigation), sobre o perfil de criminosos e de assassinos em série. Entre os encaminhamentos do curso está a criação de um banco de dados estadual com assassinatos e características dos crimes.

Lúdico
Outra atuação da psicologia é o depoimento de crianças e adolescentes vítimas de violência. O atendimento evita causar mais trauma e constrangimento à vitíma. Para isso, ela é acompanhada por uma equipe técnica, formada por psicólogos e assistentes sociais, que realiza uma entrevista preparatória antes da audiência. As salas onde acontecem as conversas criam um ambiente lúdico e agradável, para que as crianças se sintam à vontade. Durante o depoimento, a criança não tem contato com o agressor e os juízes, promotores e advogados utilizam uma linguagem menos formal. ''Esta técnica diminuiu em 80% o dano causado às crianças. É o único modo de tratar dignamente uma criança e adolescente em um processo criminal'', afirma a promotora da Vara de Crimes Contra a Criança e o Adolescente, Carla Maccarini. Em dois meses, a Vara vai inaugurar uma sala específica para a realização de depoimentos das crianças e adolescentes sem que elas participem da audiência. O depoimento será realizado por meio de câmeras, sem contato com os juízes e também com o acompanhamento de uma psicóloga. A Vara realiza em média, audiências referentes a cinco processos por semana.

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