Muito além do Dó-Ré-Mi

A partir de 2012, todas as escolas brasileiras terão que oferecer ensino de música aos alunos

Folha de Londrina | 28 de abril de 2009

Aos poucos, a animação da sala transforma-se em concentração. Em seguida, sons deixam de ser desafinados e soam por meio de notas musicais de forma harmônica. São músicas, marchas e cirandas de renomados artistas reproduzidos com alegria por alunos da Escola Municipal Pró-Morar Barigui, da Cidade Industrial de Curitiba (CIC).

Na instituição, o contato com a música começa cedo, a partir dos 4 anos de idade, e se estende por toda a primeira fase do ensino fundamental. Durante as aulas, os estudantes têm contato com a musicalização, que serve como uma alfabetização musical, em que conhecem elementos e linguagens como ritmo, intensidade dos sons e timbre. Já iniciados musicalmente, os pequenos podem optar por oficinas de música, em que aprendem a tocar xilofone, flauta, violão, ou ainda participar do coral da escola.

Integrantes de famílias de baixa renda, as crianças apresentam rapidamente os resultados que o contato com as artes proporciona. Na sala de aula, as professoras percebem melhora de comportamento, interação e responsabilidade dos estudantes. Em casa, as crianças demonstram seus interesses por música, ao mesmo tempo que participam das manifestações culturais nas igrejas. ''Esses projetos resgatam valores de esperança, de um mundo melhor. Alguns alunos não tinham perspectiva e agora até dizem que querem ser flautistas'', conta a professora de música e uma das responsáveis pelos projetos, Viviane Elias Portela.

Gislaine Cristina Pereira de Souza, 9, se destaca na flauta e no coral. A estudante da quarta série quer ser veterinária, mas não pretende abandonar a música quando crescer. Até lá, garante que vai conhecer outros instrumentos musicais. ''Quero aprender violão e xilofone'', conta. Para ela, a participação nas atividades de música são um estímulo ao desenvolvimento. ''A gente melhora, começa a aprender mais. Se sente mais feliz.'' Junto com Gislaine, os jovens Bruno Luiz Oliveira, 9, e Ezequiel Alves Farias, 10, também afirmam que querem trabalhar com a música.

Assim como na Pró-Morar Barigui, os benefícios se repetem em todas as escolas municipais que desenvolvem projetos de música. Ao todo, o município conta com 70 corais e 19 fanfarras. Além disso, os estudantes participam de concertos didáticos, realizados em parceria com a Camerata Antiqua do Paraná e a Universidade Federal do Paraná (UFPR).

A professora Viviane garante, a música não tem contraindicação, pode ser trabalhada com as crianças em qualquer idade, com atividades específicas de acordo com cada faixa etária. ''Quanto mais cedo, melhor para o desenvolvimento da criança'', recomenda.


Lei é comemorada pela categoria
A lei 11.769, de 18 de agosto de 2008, determina que, a partir de 2012, todas as escolas brasileiras sejam obrigadas a oferecer o ensino de música nos ensinos fundamental e médio. A disciplina não é exclusiva e pode ser trabalhada com as demais manifestações artísticas: artes visuais, teatro e dança.

A nova determinação modifica a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), -número 9.394, de 20 de dezembro de 1996- que exigia o ensino da arte pelas instituições. Para o presidente da Associação Brasileira de Educação Musical (Abem), Sergio Luiz de Figueiredo, a medida é uma grande conquista para a categoria, que há tempos luta pela inclusão do conteúdo na grade curricular.

Muitas escolas, públicas e particulares, já trabalham a música durante as aulas de arte ou em atividades extracurriculares. A prática, porém, depende da iniciativa do profissional, do planejamento das escolas ou ainda de orientações de órgãos gestores. Mesmo com as atividades em andamento, a aplicação da lei vai exigir debates e adaptações por parte das instituições de ensino.


Profissionais exigem aulas ministradas por especialistas
A exigência de um profissional com licenciatura na área para ministrar as atividades é um ponto polêmico na lei que estabelece o ensino musical nas escolas. O artigo que determinava a execução das aulas por especialistas foi retirada da legislação. ''A lei resgata a especialidade do profissional licenciado em música'', argumenta o presidente da Abem.

A professora de música da Faculdade de Artes do Paraná (FAP), Angela Maria Trotta, conta que a procura pelo curso de Licenciatura em Música é tímida em relação às demais atividades musicais e artísticas. Mesmo assim, ela acredita que a nova lei vai aumentar a procura pelo curso. ''Os alunos já estão mais conscientes, principalmente pelo campo profissional que abriu com a lei'', afirma.

Angela defende o trabalho em música nas escolas por profissionais da área. ''A música é uma linguagem muito específica e os professores têm conhecimentos e habilidades. O ideal é que o professor seja habilitado na disciplina específica. Se não for possível, ele deve ser orientado por um profissional da área para usar a música de maneira adequada.''

Diretrizes da Secretaria Municipal de Educação (SME) recomendam às direções das escolas a realização de atividades musicais com os estudantes. No entanto, a falta de profissionais especializados na área impede que todas as instituições ofereçam contato dos alunos com a disciplina. De acordo com a coordenadora de ensino de música da SME, Cleonice dos Santos, isto acontece porque as vagas necessárias para atender toda demanda municipal não são preenchidas.

Desta forma, a principal mobilização da secretaria para a aplicação da lei é relacionada à formação continuada dos professores, com orientações de profissionais especialistas em música. Esta formação já é desenvolvida e a ampliação das capacitações por conta da lei será definida após um estudo financeiro.

A Secretaria de Estado de Educação informou à FOLHA, por meio de sua assessoria de imprensa, que a música já é trabalhada na disciplina de Arte e ainda não há discussões sobre a aplicação da lei. A previsão é que os planejamentos comecem no segundo semestre deste ano.


Socialização, cultura e desenvolvimento
Estudos da neurociência mostram: a música -assim como as demais manifestações artísticas- contribui em todos os aspectos do desenvolvimento neurológico, físico, emocional, social e mental. As atividades musicais, principalmente durante a infância, possibilitam uma série de benefícios.

''Promove o desenvolvimento individual, de suas habilidades, seus aspectos motores. E o social, nas aulas em grupo, em que o aluno experimenta cantar com o outro, precisa prestar atenção no entorno e pratica o senso crítico'', enumera a musicoterapeuta Sheila Volpi, coordenadora do curso de musicoterapia da Faculdade de Artes do Paraná (FAP).

O presidente da Associação Brasileira de Educação Musical (Abem), Sergio Luiz de Figueiredo, complementa. ''As atividades com música ajudam na autoestima, no resgate da cidadania e oferecem uma formação mais democrática. A experiência musical esteve presente em todas as sociedades humanas, desde sempre tivemos a manifestação musical'', afirma.

Cuidado: a hipertensão pode te pegar

É preciso ficar de olho na pressão alta, que muitas vezes não apresenta sintomas mas atinge boa parte da população

Folha de Londrina | 26 de abril de 2009

Matéria que fiz junto com o repórter Wilhan Santin, de Londrina. Fiquei responsável pelos personagens e a busca por alguns dados sobre a doença.

Talvez você seja hipertenso e ainda não saiba que tem a doença. É isso mesmo, a pressão alta, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), atinge em torno de 600 milhões de pessoas no mundo todo. No Brasil, estimativas indicam que pelo menos 30% da população adulta estejam com a pressão mais alta do que o normal. Quando se consideram apenas pessoas com mais de 60 anos, esse índice salta para 50%.

E o pior disso tudo é que são raros os que sentem algum mal-estar por conta da doença.''O organismo humano acaba se adaptando à hipertensão. A maioria dos hipertensos não sente nada. Estamos falando de uma epidemia que não é causada por nenhum mosquito, água contaminada, vírus ou bactéria, mas que está pegando muita gente'', alerta o cardiologista Antônio Nechar Júnior, de Londrina.

Mas como alguém se torna hipertenso? De acordo com o médico, existe uma série de fatores, porém o mais importante de todos é o genético. Boa parte dos hipertensos já tem a doença programada em seus genes, situação que Nechar Júnior compara a um barril de pólvora prestes a explodir. ''Ele está dentro do organismo, só não sabemos quando uma espoleta vai explodi-lo.'' As espoletas são os outros fatores de risco que vamos encontrando durante a vida: estresse, má alimentação, obesidade, sedentarismo, tabagismo. No entanto, isso não significa que quem não tem a predisposição genética para a doença esteja livre dela. ''Quem não tem o barril de pólvora pode fabricá-lo com os hábitos de vida equivocados'', explica o cardiologista.

Quando o ponteiro daquele aparelho de nome complicado, o esfigmomanômetro, indica que a sua pressão arterial é maior do que 120 por 80 milímetros de Mercúrio, ou 12 por 8, significa que as paredes de suas artérias estão mais rígidas do que deveriam estar, ou seja, estão perdendo a capacidade de dilatar e contrair. Com isso o coração é que acaba sofrendo.

''É como se a bomba de água do jardim estivesse ligada a mangueiras que estão com nós. Um hora ela para de funcionar. Da mesma forma, o coração que bombeia sangue para artérias endurecidas começa a crescer, hipertrofiar'', exemplifica o cardiologista. ''O nosso coração trabalha movido por impulsos elétricos. Quando esse músculo fica grande demais, a parte elétrica não funciona completamente; por isso, coração hipertrofiado é sinônimo de risco maior de morte súbita, que aumenta de 30% a 40%'', completa Nechar Júnior.

Contudo, não é só o coração que sofre. Outros órgãos do corpo humano, principalmente rins, cérebro e olhos, apanham pela falta de oxigênio, que começa a chegar de forma insuficiente até eles por causa da dificuldade de o sangue passar pelas artérias endurecidas. Pressão alta é uma das principais causas de insuficiência renal e pode causar também comprometimento da visão.

No cérebro, uma das consequências é a ''demência vascular''. A má circulação sanguínea crônica no órgão, causada pela pressão alta, resulta em micropontos de isquemia da massa cerebral, levando o doente a ter sintomas de esquecimento e lapsos de memória. ''É como se fosse um 'derrame crônico''', ressalta o cardiologista.


Desconhecimento da doença é um desafio
Doença que atinge aproximadamente 34 milhões de brasileiros, a hipertensão arterial tem como grande inimigo o desconhecimento da população a respeito de sua gravidade. Na avaliação do presidente da Sociedade Brasileira de Hipertensão, Fernando Nobre, esse cenário é ''muito ruim'', principalmente em relação às complicações cardiovasculares que a doença pode causar quando não tratada adequadamente.

Uma estimativa prevê ainda que apenas 50% dos hipertensos tenham conhecimento da doença, que 25% estejam em tratamento e 12,5% estejam com a pressão arterial controlada. O desconhecimento da doença, ou o abandono do tratamento, dificulta uma estimativa sobre a incidência.

Para o diretor do Departamento de Hipertensão da Sociedade Paranaense de Cardiologia, Osni Pereira Filho, a principal estratégia para o Dia Nacional de Combate à Hipertensão é alertar a população a respeito da doença.

Para isso, a Sociedade Paranaense de Cardiologia promove hoje uma atividade de mobilização no Passeio Público, das 9 às 17 horas, com orientações à população.

Rotina adaptada
Há um ano, a rotina de Felipe Klopffleisch, 21 anos, ganhou um novo elemento, o medicamento diário para controle da pressão arterial. Esse cuidado só foi determinado depois de uma consulta médica de rotina, que alertou o jovem para uma doença que não imaginava diagnosticar aos 20 anos de idade: a hipertensão. Até então, o estudante de Comércio Exterior não havia percebido nenhum sinal do problema.

O diagnóstico precoce evitou o aparecimento de sintomas e o início imediato do tratamento diminuiu a chance de problemas futuros. O cardiologista que acompanha Klopffleisch identificou como fatores para a hipertensão em plena juventude os casos na família, alguns quilos acima do peso ideal e a apneia durante o sono.

Como já praticava exercícios e tentava seguir uma alimentação balanceada, pouca coisa mudou no seu dia a dia para controlar a hipertensão.

Após um ano de tratamento, o jovem lembra que se assustou com o diagnóstico e o tratamento a ser seguido, principalmente por conta de sua idade. ''Achei estranho tomar remédio pelo resto da vida, é diferente, mas já me acostumei''. Agora, Klopffleisch garante que leva uma vida normal.

E é uma vida normal que o motorista Joaquim Nelson Coelho, 53, pretende levar depois que descobriu a razão de seu cansaço repentino para subir os três lances de escada de sua casa. A causa da hipertensão, conta, está nos pãezinhos a mais que costumava comer e no excesso do consumo diário de sal.

Com o diagnóstico de hipertensão feito há poucos dias, Coelho se prepara para novos hábitos alimentares e de atividades físicas. ''Tenho de diminuir a cervejinha, o sal, o açúcar e substituir o pão. Também vou começar a fazer hidroginástica''. Para Coelho, um fator importante o deixa ''à frente dos demais''. Ele não é e nem nunca foi fumante.


Cuidado com o sal
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o consumo diário de sal de uma pessoa normal deve ser de seis gramas. Para quem sofre de hipertensão arterial, a ingestão diária de sal não deve passar de quatro gramas. Porém, um estudo da Universidade de Campinas (Unicamp) aponta que os homens brasileiros consomem 17 gramas de sal por dia, e as mulheres, 13.

Presente em boa parte dos alimentos industrializados por ser um excelente conservante, o sal age no organismo humano atraindo líquido para dentro da circulação sanguínea; dessa forma aumenta o volume de líquidos no sistema circulatório, aumentando consequentemente a pressão arterial e causando o endurecimento das paredes das artérias.

Xô, estresse
As tensões de um dia corrido fazem com que o nosso corpo produza o hormônio Adrenalina, que faz com que as nossas artérias fiquem contraídas com a finalidade de levar mais sangue para o coração, que por sua vez vai possobilitar a chegada de mais oxigênio até o cérebro, deixando tudo pronto para uma reação brusca, uma explosão. É como se fosse uma herança ancestral da luta pela sobrevivência.

Praticar exercícios físicos e relaxar são as melhores alternativas para fugir do estresse, fator de risco para a hipertensão arterial. Fonte: Antônio Nechar Junior


Eu passei pelo MAPA
Em qualquer bate-papo em que a saúde entra na conversa é comum ouvir alguém se gabando: ''Minha pressão é 12 por 8''. ''Tudo bem, mas em que hora do dia?'', poderia replicar um outro mais entendido no assunto. O fato é que a nossa pressão arterial varia no decorrer das 24 horas do dia. Por isso, o Monitoramento Ambulatorial da Pressão Arterial (MAPA) é um bom instrumento para auxiliar os médicos no diagnóstico da doença.

Trata-se de um aparelho digital, que é instalado no paciente sem impedir as suas atividades normais do cotidiano, e que afere, no período de 24 horas, em torno de 80 a 100 vezes a pressão arterial, registrando todas as alterações.

De acordo com o cardiologista Evander Botura, o exame é importante para checar um fenômeno interessante que acontece no corpo humano. Ele explica que de manhã, por volta das 6 horas, ocorre uma descarga de hormônios do tipo ''catecolaminas'' no organismo, os quais promovem a aceleração do batimento cardíaco e a elevação da pressão arterial. ''A isso damos o nome de 'fenômeno do alvorecer'. É nesse horário que ocorre a maior parte dos derrames, infartos e também sangramentos nasais'', relata.

Ainda segundo Botura, à noite o normal é que a pressão diminua entre 15% e 20%. ''Essa diminuição é mau sinal, pois esse sujeito, além de hipertenso, não tem o mecanismo normal de relaxamento noturno de seus vasos sanguíneos, dessa forma fica mais propenso a complicações, principalmente cardíacas e renais''.

Contudo, apesar da importância do MAPA, o cardiologista ressalta que a aferição da pressão arterial continua sendo o melhor instrumento para o diagnóstico. ''É um exame simples e barato, que todo médico, independentemente da especialidade em que atue, devia fazer em seus pacientes. O mapeamento não precisa ser feito em todos, só em casos específicos, como naqueles que sofrem da 'síndrome do jaleco branco', ou seja, que ficam com a pressão alterada somente quando o médico vai aferi-la''.

Este repórter teve a oportunidade de passar pelo MAPA. Incomoda um pouco ficar com uma ''caixinha'' na cintura e com um manguito no braço, o qual deve ser estendido a cada vez que o aparelho começa a inflar, mas nada que chegue a atrapalhar a rotina de um jornalista. Pude comprovar a variação da pressão no decorrer do dia. A minha ficou entre 16 por 10 e 11 por 5.

Ao final do exame, o diagnóstico do médico: ''Está tudo certo com seu exame. A pressão aumentou de manhã e diminuiu à noite. Porém, você tem alguns picos durante o dia, provavelmente causados por estresse e tensão. Precisa relaxar mais.''

Espaços para compartilhar esperanças

Grupos de autoajuda significam motivação para aqueles que sofrem com algum tipo de distúrbio

Folha de Londrina | 31 de março de 2009

Torneira pingando, porta rangendo, gavetas abertas, toque do telefone e trânsito movimentado. Incômodos mínimos decorridos de situações comuns que se agravam e podem causar um ataque de nervos a muitas pessoas. Coisa de louco? Não. O descontrole emocional é muito mais comum do que se imagina e as pessoas chamadas neuróticas passam apenas por um momento de insatisfação.

O termo neurótico causa estranhamento e promove o preconceito. Por isso, a autoaceitação da doença é demorada e são poucos os que se submetem ao tratamento. "Feliz é aquele que enxerga. Eu digo que nós, que participamos do neuróticos anônimos, somos uma elite privilegiada de doentes emocionais que buscaram e encontraram um caminho para a recuperação", afirma Neide (os nomes utilizados nesta matéria são fictícios), 65 anos, frequentadora da irmandade Neuróticos Anônimos (N/A) há 15 anos.

No grupo, as pessoas com problemas emocionais têm a oportunidade de compartilhar suas experiências e escutar depoimentos de quem passa por situações semelhantes. Assim como as demais irmandades de anônimos, a recuperação vem da ajuda mútua, por meio da terapia do espelho, em que os participantes falam, escutam e refletem. São relatos de pessoas que não conseguem conter seus impulsos emocionais, sentem-se muito nervosas e, por isso, infelizes.

Não são apenas os neuróticos que têm um grupo para dividir os problemas e buscar apoio. Viciados em álcool, consumidores e devedores compulsivos, entre outros distúrbios, também contam com grupos de autoajuda (leia mais nesta página). São formas de controlar os distúrbios compartilhando impressões, dificuldades e também as conquistas.

Todo dia
No grupo do N/A, o período de recuperação dura 24 horas, que se repete diariamente. O objetivo é manter o equilíbrio emocional durante esse tempo, vivendo um dia após o outro. Para isso, os participantes usam o lema "Só por hoje evitarei o descontrole emocional". Como consequência, os chamados neuróticos em recuperação administram seus problemas e dificuldades sem grandes sofrimentos.

A neurose é consequência de um desconforto, dor ou insatisfação. O principal motivador desse quadro é o desamor, em que a grande maioria das pessoas apresenta o quadro da perda de um amor. "Os causadores são a falta de amor e a falta de amor-próprio, quando a pessoa não se conhece, não se valoriza e não vê o que tem de bom", analisa Neide.

Nas reuniões, os participantes têm acesso à literatura que apresenta os 12 Passos e as 12 Tradições, que pregam uma convivência harmoniosa e feliz. O tratamento é constante e conquistado a cada dia, com o conhecimento de que somos humanos, passíveis de erros e falhas. Os encontros não contam com orientações profissionais e todos compartilham seus problemas sem diferenciação.

A oportunidade de ser ouvido sem sofrer preconceitos deixou o técnico em estatística aposentado, Pedro Paulo, 56 anos, à vontade para participar das reuniões do N/A. Depois de 17 anos no alcóolicos anônimos, ele está há um ano compartilhando seus problemas emocionais e não perde nenhuma das reuniões realizadas duas vezes por semana. "Saio de lá calmo, consigo esvaziar meus pensamentos e me acalmo. Quando estou numa boa, recarrego a bateria", conta.

Depois de passar por uma depressão que lhe rendeu, aos 30 anos de idade, a aposentadoria no emprego, o integrante da irmandade se orgulha de agora ser respeitado pela sua família e pela comunidade em que mora. "É um crescimento espiritual, moral e material", diz, quando compara a relação com sua família antes e depois de participar do grupo, que define como o céu e o inferno.

Para Pedro Paulo, cada dia deve ser vivido de cada vez, com calma, e tudo em seu momento certo. "Só por hoje. Ontem nós conseguimos, amanhã não sabemos e a batalha é hoje. Com serenidade, primeiro as primeiras coisas".

Compulsão sexual
A Capital também conta com uma irmandade de anônimos que sofrem de compulsão sexual. Manuel, 35, um dos integrantes do grupo, explica que o problema começa quando "extrapola o equilíbrio, o que causa um desconforto. As pessoas perdem a vida, a identidade. A gente passa a ser um escravo da situação, não existe aquela cumplicidade da relação conjulgal".

Irmandade recente, os compulsivos sexuais anônimos não são recomendados apenas a pessoas em tratamento. Para Manuel, é uma oportunidade de ter contato com novas experiências e de auto-conhecimento. "Quem participa conhece uma realidade maior da vida. Aprende a direcionar a energia para o relacionamento, para a coragem, a humildade e a generosidade", afirma.


Desenvolvimento da doença emocional
A irmandade Neuróticos Anônimos trabalha com o desenvolvimento das doenças emocionais como uma curva, que começa com problemas menores, passa por um estágio chamado "fundo do poço" e finaliza com a recuperação. Esses estágios são apresenta Curitiba - A irmandade Neuróticos Anônimos trabalha com o desenvolvimento das doenças emocionais como uma curva, que começa com problemas menores, passa por um estágio chamado ''fundo do poço'' e finaliza com a recuperação. Esses estágios são apresentados na publicação ''Os Doze Passos e as Doze Tradições - Neuróticos Anônimos''.

A doença emocional começa quando as dificuldades deixam a pessoa triste. Os problemas aumentam, acarretam discussões familiares e trazem preocupações, infelicidade, irritabilidade e sentimento de culpa. O quadro se agrava com a perda de interesse e negligência. O meio encontrado para a fuga desta situação é a utilização de medicamentos.

É comum o uso de ''curas geográficas'', com a mudança de casa, emprego ou cidade. Ainda assim permanece o sentimento de fracasso e inferioridade, o que possibilita o uso de drogas, receitadas ou não. O próximo passo são pensamentos suicidas, solidão e severa preocupação com os problemas. Surge o medo de viver e de morrer, um medo que leva à depressão e ao pânico.

A recuperação começa quando todos os recursos de cura estão esgotados, depois do ''fundo de poço emocional''. A aceitação da doença e de ajuda leva ao entendimento de que a doença emocional é curável. A partir desse reconhecimento, nasce o otimismo, a tensão diminui e são tomadas novas atitudes. A pessoa passa a encarar a vida ''numa boa'', o auto-respeito volta a seus sentimentos, assim como a coragem, a fé em um poder superior e o prazer de viver.


Matérias produzidas sobre o assunto, pela jornalista Marian Trigueiros:

"O melhor de tudo é não ser julgada"
Diante dos apelos das vitrines do comércio, Ana, 33 anos, não conseguia mais controlar sua vontade de gastar. "Tudo me chamava muita atenção e, para completar, sempre gostei de perfumes, roupas e maquiagem. Acabou se tornando uma compulsão, mas que para mim era somente um prazer, um momento de euforia."

Antes de conhecer o Devedores Anônimos, Ana diz que tirava de um lugar para cobrir outro. "Fazia empréstimos, gastava todo o cartão de crédito e limite da conta. Minha dívida chegou a mais de R$ 5 mil, para uma pessoa que recebe um salário de R$ 700" revela.

Até conhecer o grupo, foram anos tomando remédios, tratamento com psicólogos. "O DA me proporcionou a identificação com outras pessoas. No grupo, não me condenam ou me chamam de caloteira. Sei que não posso sair de lá, mas hoje tenho dimensão do grande passo que já dei. Sempre que posso, ajudo a divulgar a doença, que nos faz sofrer muito", diz ela, que frequenta as reuniões há 11 meses.

História parecida e não menos dolorosa é a de Maria Rita, que chegou a acumular mais de R$ 15 mil em dívidas. "Sempre fui controlada, mas nos últimos anos desenvolvi a compulsão. Foram cinco anos só comprando, tanto que cheguei a ter 980 pares de sapato e mais de 40 cartões entre bancos e lojas. Ninguém percebe quando isso (vício) começa, apenas quando já está no buraco", alerta ela, que hoje anda apenas com o cartão do plano de saúde e de ônibus.

Depois de um ano e meio participando do DA, finalmente conseguiu equilibrar as finanças. "Sei que em um ano não terei mais nenhuma dívida, me procure novamente para confirmar. Agora, só compro o que preciso. No Natal, não gastei uma agulha, você sabe o que é isso?", brinca. "O apoio do grupo foi fundamental nesse processo, pois posso compartilhar minhas dificuldades."


AA é considerado uma irmandade
Em Londrina, o Alcoólicos Anônimos (AA) -que nasceu nos EUA, em 1935- oferece reuniões semanais desde 1988. É considerado uma irmandade, em que homens e mulheres compartilham suas experiências e principalmente esperanças com o objetivo de resolver o problema em comum. Segundo um dos coordenadores (uma norma do grupo não permite que os participantes sejam identificados), que deixou de beber há 25 anos, para a pessoa participar é necessário seguir os 12 passos da filosofia do AA.

"O primeiro é reconhecer o alcoolismo como doença e admitir sua impotência diante dela. Não somos terapeutas profissionais, porém, o trabalho de ajuda mútua e compartilhamento das experiências de recuperação fazem do grupo uma ferramenta no alcance da sobriedade. Contudo, cada caso deve ser avaliado separadamente; há aqueles que ainda podem necessitar de intervenção médica", revela.

Seguindo o mesmo princípio e filosofia do AA, o grupo de Devedores Anônimos (DA) também preza a ajuda de uns aos outros na recuperação do endividamento compulsivo. Também conhecida como oneomania, é o distúrbio no controle simples no trato com o dinheiro. Além da troca de informações, por meio das reuniões, quem sofre do mal tem a possibilidade de receber orientação e educação com planejamento financeiro.

"Antes de conhecerem o DA, os devedores se consideravam pessoas irresponsáveis ou moralmente fracas. Nas reuniões lidamos com todos os tipos de gastos e endividamentos: objetos, jogos, prostituição", lembra um dos integrantes do grupo, W. Jorge. Além das reuniões semanais, o DA realiza uma espécie de reunião fechada, com um trabalho individual, chamado Alívio de Pressão.

A Secretaria Municipal de Saúde oferece a Terapia Comunitária (TC). Presente em 12 unidade básicas de saúde, é um grupo de autoajuda que trata as pessoas em suas fragilidades. "O lema é ‘botar para fora’ e, para isso, falamos dos mais variados assuntos, como desemprego, insônia, alcoolismo. Temas que os afligem em seu dia a dia. Ninguém vai dar lição de moral, mas compartilhar as experiências de cada um e suas histórias de superação. Com isso, o resultado é, principalmente, a diminuição de doenças psicossomáticas", explica Maria da Graça .

Fé em duas rodas

Comunidade presta homenagem a Nossa Senhora do Carmo com procissão de motocicletas e faz alerta para a responsabilidade dos motociclistas no trânsito

Folha de Londrina |

Entre velas e faixas, as honras a Nossa Senhora do Carmo agradecem à santa pela proteção e pelas graças consedidas. No santuário que leva o mesmo nome da protetora, no bairro Boqueirão, as homenagens não se resumem apenas a orações. A paixão do pároco Luiz Alberto Kleina por motos resultou em uma procissão de motociclistas para a santa que, mesmo não tendo relação nenhuma com motocicletas, já conquistou novos devotos e pode ser considerada uma padroeira informal dos motociclistas.

''Tive a inspiração de levar a devoção e a espiritualidade em uma procissão de motociclistas'', conta o padre. No ano passado ele reuniu três mil pessoas para a primeira Procimotos. A atividade mobilizou toda a comunidade local e diversos grupos de motociclistas de Curitiba. Entre eles estava o policial civil Almir Alberti. Integrante do grupo Paladinos Moto Clube, Alberti participou da primeira Procimotos a convite de um amigo e se encantou com a movimentação das motocicletas em homenagem a Nossa Senhora do Carmo. ''Só estando no meio para ter a sensação. É muito gostoso''.

Neste ano, a festividade continua e pretende contar com a participação de cinco mil pessoas. Foram convidados para a segunda Procimotos aproximadamente 500 grupos de motociclistas de Curitiba e Região Metropolitana, o que possibilita a diversidade de estilo dos participantes. ''Cada um tem seu jeito curioso e especial de ser. E tem cada figura'', afirma o coordenador da procissão e também motociclista Marco Aurélio Lipinski. Devoto de Nossa Senhora do Carmo, Lipinski acredita que a mobilização é muito importante. ''A junção de motocicletas e religião dá certo. O que falta para a população é o temor a Deus, pois não temos mais tanto respeito ao próximo e a fé nos ensina isso'', diz.

Além das homenagens a Nossa Senhora do Carmo, a segunda Procimotos pretende sensibilizar os motociclistas para sua participação no trânsito. Com uma frota de 93.221 motocicletas e 19.091 motonetas em Curitiba, os organizadores do evento consideram fundamental o papel do motociclista na segurança do trânsito. Por isso, o encontro deste ano também terá um cunho educativo, com a distribuição de panfletos sobre responsabilidade, segurança e a importância do cumprimento das leis. ''Ao dirigir uma moto é necessário o respeito com as outras pessoas, isso é fundamental. O motociclista deve colaborar com a segurança no trânsito'', afirma Padre Luiz.

Os participantes da Procimotos irão realizar um percuso de 32 quilômetros do Santuário até a Paróquia Santa Ana, no bairro Abranches. Na volta dos motociclistas acontece ainda um show da Banda Blindagem. ''A participação da banda combina com o estilo dos participantes da procissão'', explica o padre. Os fiéis da comunidade também irão participar entre os dias 11 e 13 de julho de diversas missas e almoços festivos, além de uma corrida e uma caminhada pelo bairro.

A festa de Nossa Senhora do Carmo comemora a primeira aparição da santa, que aconteceu no dia 16 de julho 1251, a um integrante da ordem carmelita que estava no Convento de Cambridge, Inglaterra. Na aparição, Nossa Senhora estava rodeada por anjos e entregou a Simão Stock um escapulário, que representa sua proteção.

Curitibanos enfrentam frio até quinta-feira

Folha de Londrina | 22 de abril de 2009

De volta a Curitiba, o frio pegou de surpresa muita gente que estava nas ruas da cidade no feriado de ontem. A mínima registrada pelo Instituto Meteorológico Simepar foi de 14 graus centígrados e chegou a 21, mas o vento aumentou a sensação de frio na cidade.

As baixas temperaturas e os dias nublados, porém, continuam na Capital até a tarde de quinta-feira, quando uma massa de ar frio se desloca do Paraná e o sol volta a aparecer. A temperatura fica mais estável e amena, com poucas chances de chuva durante o final de semana. Enquanto Curitiba, Litoral e os Campos Gerais sofrem com o frio, o Interior do Estado segue com calor nos próximos dias. O meteorologista do Simepar,

Samuel Braum, explica que a constante mudança de clima é a principal característica do outono. Essa situação deve continuar até o inverno, quando há a predominância de temperaturas mais baixas.

Mesmo acostumados com a chegada repentina do frio, aqueles que trabalham nas ruas de Curitiba também foram pegos desprevenidos. O cobrador de ônibus Eliseu Moreira, 25 anos, percebeu que o dia de ontem não iria esquentar quando saiu de casa cedo, às 5 horas da manhã. Mesmo agasalhado, ele reclama da temperatura que faz dentro da estação-tubo onde trabalha. "Quando é frio, é muito frio, e quando está calor, é calor demais. Quando trabalhava (como cobrador) no ônibus não era tão castigado com o tempo", afirma.

O gari Altemir Silva, 41, que limpa as ruas da cidade durante oito horas diárias, prefere os dias mais frios para trabalhar, mesmo quando não espera por eles. "O calor desgasta bastante, deixa a gente cansado e tem ‘cara’ que chega a passar mal", explica, alegando que nos dias frios é mais fácil de se proteger com relação ao sol forte.

Acostumado com o frio de Videira, em Santa Caratina, onde morava antes de vir para Curitiba, o catador de materiais recicláveis José Batista dos Santos, 74, também não gosta da chuva enquanto está nas ruas, trabalhando. Nos demais dias, ele afirma que não liga se faz chuva ou faz sol.

Já aqueles que não conhecem o clima curitibano são pegos de surpresa quando realizam passeios turísticos pela Capital. A analista Juliana Lins, 21, veio de São Paulo e mesmo com a temperatura "parecida" com a cidade onde mora, sentiu frio em Curitiba. "Não vim preparada, mas quando cheguei aqui no sábado estava gostoso", lembra.

A dona de casa Margarida Evangelista Santos, 61, que veio de Vila Velha, no Espiríto Santo, trouxe na mala luvas e até mesmo um gorro, mas antes de enfrentar o frio de ontem se deparou com dias de sol. "Eu me espantei com o calor quando cheguei", conta.

Alta gastronomia no Mercado Municipal

Curso tenta desfazer a ideia de que chefes de cozinha só elaboram pratos difíceis

Folha de Londrina | 7 de abril de 2009

Ser chefe de cozinha parece um dom de poucos. No Mercado Municipal de Curitiba, qualquer pessoa interessada na área pode aprimorar seus dons culinários com a ajuda de renomados chefes de cozinha. Todos os sábados, um cardápio especial é preparado em uma aula-show, em que os chefes ensinam como elaborar pratos da alta culinária de maneira simples e acessível aos participantes.

A iniciativa, que começou no final de março, pretende aproximar os interessados em culinária da prática da alta gastronomia e estimular que ela seja aplicada em casa. ''O objetivo é desmistificar a figura do chefe que só faz comida difícil, que não pode ser feita em casa'', explica o coordenador do projeto, Vinícius França. ''Os participantes interagem mais na cozinha, têm descontração. É diferente de um programa de TV, pois as pessoas vão degustar e fazer em casa'' complementa a chefe Sônia Carlindo, que atua na gastronomia há 25 anos e é integrante da Federação Italiana de Cozinha (FIC).

Sônia garante que, ao contrário do que muitos pensam, qualquer pessoa pode se tornar um chefe de cozinha. ''Qualquer um pode ser um mestre cuca, desde que tenha bom senso, muito amor e muita paixão. Não é todo mundo que aguenta uma temperatura que chega a 60 graus na cozinha e ficar de 12 a 14 horas em pé'', conta a chefe, que veio de São Paulo para ministrar a aula de preparação do prato ''Papardelle com rag— de mignon orgânico''.

Regina Baldassari, 48, é prova de que a alta gastronomia é acessível a todos. Enfermeira durante 14 anos, largou a profissão da área da saúde para se dedicar a uma prática pela qual é apaixonada há muito tempo. Estudante de gastronomia e doceira, com emprego garantido em um restaurante, a futura chefe participou, no último sábado, da aula de Sônia. ''Para quem é leigo, é fácil de entender. Dá para aprender coisas novas e levar para onde está'', afirma, garantindo que pretende participar de todas as aulas.

O estudante de culinária Vilmar de Carli, 29, também aproveitou a oportunidade de aprimorar seus conhecimentos. Para ele, o projeto ''(A aula) Nos coloca em contato com uma culinária diferente, pois, dificilmente, temos a possibilidade de participar de alguma coisa'', afirma. Ele foi acompanhado pela amiga Ruth Fernandes, 32, que é mosaicista. ''Aprendi coisas bem interessantes para fazer um jantar mais elaborado. Mas, achei que a divulgação foi pouca'', diz.

Os ingredientes usados nas aulas são comercializados no recém-inaugurado Mercado Municipal de Orgânicos de Curitiba e cedidos pelos empresários do espaço. Os chefes são convidados por parceiros da Secretaria Municipal de Abastecimento: a revista Capital Gourmet e a escola Centro Europeu. A iniciativa também conta com colaboradores da área de equipamentos para cozinha.

O projeto caiu no gosto dos participantes. Algumas das próximas aulas já estão lotadas e com fila de espera. São perto de 30 vagas por aula. O coordenador do programa orienta os interessados a fazer as inscrições com antecedência. Para participar, os futuros cozinheiros precisam, apenas, fazer a inscrição e não é exigida experiência anterior na área.

Serviço:
As inscrições para as aulas de alta gastronomia no Mercado Municipal de Orgânicos são gratuitas e podem ser feitas pelo telefone (41) 3022-1049. Os encontros são realizados aos sábados, a partir das 11 horas, no Espaço Maurício Burmester.

Mentes brilhantes

Jovens paranaenses desenvolvem projetos científicos e contribuem para o desenvolvimento social

Folha de Londrina | 6 de abril de 2009

Pesquisas, leituras e grupo de estudos. Conhecimento a respeito de normas científicas, leis, entrevistas, funcionamento de mecanismos e produção de artigos. Esta é uma rotina comum a pesquisadores, mestres e doutores, empenhados em descobertas e análises profundas sobre diversos temas. Em geral adultos, estes pesquisadores ganharam a companhia de jovens também interessados pelo mundo científico.

Eles têm 15, 16 anos, mas se comportam como gente grande quando o assunto é o conhecimento. O passeio experimental pela escola em uma cadeira de rodas mostrou aos estudantes Gabriel Tadeu Sanson, 15, e Bruno Abdala Cândido Lopes, 16, as dificuldades enfrentadas pelos cadeirantes nas ruas. Depois de algumas pesquisas, a possível solução que os adolescentes encontraram para os desafios à acessibilidade foi a criação de um dispositivo de baixo custo. Ele permite a subida das cadeiras no meio-fio, uma das principais queixas ouvidas pelos jovens nas entrevistas.

Durante a realização do trabalho, a dupla conversou com fisioterapeutas e cadeirantes e também conheceu as leis de acessibilidade. Estudantes do curso de Engenharia da Universidade Positivo (UP) deram dicas de como inserir um dispositivo nas cadeiras de rodas disponibilizadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), para que pacientes de baixa renda tenham acesso à tecnologia.

O projeto deu certo e agradou muitos cadeirantes. Além do trabalho, a oportunidade de conversar com os cadeirantes e os novos conhecimentos sobre leis de acessibilidade deram aos jovens Bruno e Gabriel uma experiência que será levada para a vida. ''Eu não parava para pensar nas dificuldades que os cadeirantes enfrentam'', lembra Bruno. ''O que valeu do projeto foi ajudar as pessoas. Mexeu bastante comigo'', fala, com orgulho e brilho nos olhos, o estudante Gabriel.

Para chegar a resultados tão expressivos, a preparação não é fácil. Os estudantes se empenham - e muito - em pesquisas, leituras e conversas com especialistas na área. Esta maratona de conhecimento também foi vivida pelos colegas Rhayssam Poubel Arraes e Susan Amaral, ambos de 15 anos.

Embasado em literaturas utilizadas no ensino superior, Rhayssam buscou respostas a uma dúvida que teve aos 13 anos. ''Tive a preocupação com o tipo de jovem que está sendo criado. Porque existe uma grande preocupação com o corpo perfeito, um erotismo cada vez mais cedo. Como o jovem está filtrando tudo isso?''

Foi assim que surgiu o projeto ''Mídia televisiva: mãe dos sete pecados''. A argumentação de Rhayssam é de que a televisão, presente na maioria dos lares brasileiros, exerce uma grande influência na formação de crianças e adolescentes, o que deveria ser amenizado com a participação dos pais. ''É uma ação conjunta, nos lares, com os pais orientando os filhos a filtrarem as informações e despertando o senso crítico'', explica.

''Você sabe o que acontece com um psicopata quando é preso?'', perguntou a um professor a futura psiquiatra Susan. A partir desta dúvida, a adolescente iniciou uma pesquisa sobre um assunto polêmico: o tratamento a psicopatas e maneiras de evitar que a doença se manifeste.

O projeto ''Interface entre Lei e Psiquiatria: é possível tratar a mente de psicopatas?'' mostra que predisposições genéticas ou eventos ocorridos durante o desenvolvimento podem causar o comportamento de um psicopata. Porém, segundo ela, esta doença pode ser evitada com a identificação de seus sintomas durante a infância. ''Existe cura e prevenção para a doença. A visão do psicopata é errada, a maioria das pessoas não tem ideia da definição de um psicopata'', defende Susan.


Acelerador de partículas foi tema de estudo em Toledo
Aluno de uma escola pública no município de Toledo (Oeste), Leandro Volanick, 16 anos, estudou as experiências realizadas na Europa com aceleradores de partículas, o que poderia causar o chamado buraco negro. ''Se a experiência desse errado iria criar o buraco negro, que é como uma estrela que explode e atrai tudo para si. Mas não houve problema nisso'', explica o jovem, que fez o estudo com outros dois colegas de classe.

Mesmo sem contar com projetos de estímulo à pesquisa científica, os estudantes utilizaram os laboratórios de física e foram orientados por professores da disciplina. ''Eles mostravam o caminho e a gente ia atrás'', lembra Leandro, que pesquisou o assunto desde quando entrou no ensino médio.

O exemplo destes adolescentes mostra que qualquer jovem interessado em realizar pesquisas pode chegar muito longe. Com a participação em projetos escolares ou não, a iniciativa pode contagiar professores e alunos. Foi o que aconteceu em Toledo. Depois do êxito em seu projeto, Leandro e seus colegas foram convidados a organizar uma feira de ciências na escola.

Todos os jovens entrevistados participaram da edição 2009 da Feira Brasileira de Ciências e Engenharia da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Febrace), realizada março, na USP. O evento reuniu estudantes do ensino fundamental e médio de todo o Brasil para apresentarem seus projetos na área de Engenharia e Ciências Exatas, da Terra, Biológicas, de Saúde, Agrárias, Sociais e Humanas.


'O Brasil precisa de pesquisadores'
A psicóloga e psicanalista Shirlei Rialto Sesarino garante: todos podemos nos tornar cientistas. Ela explica que, de acordo com os estudos psicanalíticos, a predisposição à elaboração de pesquisas e estudos nas mais diversas áreas descarta uma interferência genética.

''Todos têm potencial, somos aparelhados para fazer qualquer coisa'', afirma. Ela ressalta que a formação durante a infância estimula ainda mais a curiosidade e o interesse por respostas. Isso acontece quando a pessoa está segura de seu espaço, principalmente junto à família.
Shirlei acredita que o envolvimento de jovens em projetos científicos não é prejudicial, desde que o adolescente não se sinta violado. ''Não podemos generalizar, mas para alguns este envolvimento também pode ser uma fuga de outra situação que está difícil de tratar'', complementa.

O professor Celso Hartmann, coordenador da Mostra de Soluções para uma Vida Melhor, das Escolas Positivo, acompanhou o desenvolvimento dos projetos de Gabriel, Bruno, Susan e Rhayssam. Um dos argumentos que mais utiliza em sala de aula para envolver os alunos é um cenário nacional. ''O Brasil precisa de pesquisadores e pessoas com novas idéias. Temos muitos problemas e poucas pessoas interessadas em como resolvê-los'', afirma.

Para o professor, um retorno positivo da participação dos alunos em projetos científicos é uma mudança de postura, que às vezes vale muito mais do que uma nota 10 no boletim. ''Eles percebem que podem ter sucesso, serem úteis para a sociedade. Fico apaixonado. Se 10% dos nossos alunos se envolverem, o mundo vai ficar melhor.''

Haste é solução para alongamento ósseo

Paraná é um dos primeiros estados a desenvolver a nova tecnologia. Procedimento é alternativa ao pino

Folha de Londrina | 2 de abril de 2009

O Paraná é um dos primeiros estados brasileiros a desenvolver uma nova tecnologia que atende pacientes com problemas ósseos decorrentes de traumas, encurtamentos congênitos ou estéticos. A Haste Intramedular Expansível, também conhecida por ISKD, promove o alongamento ósseo com a realização de procedimentos pouco invasivos e de rápido período de recuperação, mas é indicada apenas para casos específicos.

A ISKD é uma alternativa ao tratamento convencional de alongamento ósseo. Os demais procedimentos utilizam pinos dispostos para fora da perna do paciente, que causam grandes cicatrizes e dores. Criada pela empresa italiana Orthofix, com sede nos Estados Unidos, a tecnologia chegou ao Brasil há mais de um ano e segue todas as determinações da Agência Nacional de Saúde (Anvisa). "As cicatrizes são menores, a reabilitação é mais fácil e não há complicações", garante o ortopedista Richard Luzzi, do Grupo do Trauma Ortopédico do Hospital Universitário Cajuru (HUC).

A colocação da haste ocorre por um pequeno orifício de aproximadamente 1,5 centímetro. O equipamento é acomodado por dentro do osso e movimentos realizados pelos pacientes -monitorados por meio de leitura de um campo magnético presente no aparelho- ativam o alongamento da haste. O crescimento de cada dispositivo varia entre 50 e 80 milímetros e demora entre 60 e 80 dias. Caso o alongamento necessário seja maior que 8 centímetros, são realizados ciclos de alongamento.

O limite para o alongamento é definido proporcionalmente ao tamanho do tronco e membros do paciente. Os ossos mais comuns para a realização do procedimento são a tíbia e o fêmur.
Luzzi afirma que a recuperação é rápida, em alguns casos os pacientes voltam a caminhar ainda no período pós-operatório. Porém, diferente do que acontece no tratamento convencional, o alongamento da haste é irreversível. "Uma vez alongada, a haste não retrai", explica. Por isso, a escolha dos pacientes que passam pelo procedimento é muito minuciosa e as indicações muito específicas. Entre os grupos que não devem participar da cirurgia de ISKD são crianças, diabéticos e fumantes.


Cautela e rigor são fundamentais
''Os procedimentos são realizados apenas em casos muito específicos, que se adequam às condições do procedimento. A indicação é muito precisa'', ressalta o ortopedista Richard Luzzi, do Hospital Cajuru. O tratamento exige uma equipe multidisciplinar especializada e comprometimento do paciente, que passa por uma série de avaliações psicológicas.

O valor do procedimento ainda é muito caro. Cada haste custa em torno de R$ 35 mil, o que faz com que muitos planos de saúde não cubram o tratamento. Luzzi afirma, porém, que existe uma intensa divulgação sobre a tecnologia -principalmente na internet a interessados em recuperação estética-, sem a preocupação com a seleção dos pacientes. ''A cirurgia não pode ser realizada de qualquer maneira, tem que ter controle'', critica.

Desde a implantação no País, cinco locais realizaram a nova técnica. Pelo Sistema Único de Saúde (SUS) foram apenas duas cirurgias de colocação da haste. O Hospital Cajuru é o segundo local com maior número de realização de cirurgias, até agora foram seis pacientes que utilizaram a ISKD, entre eles a adolescente Fernanda Ronkoski, 14 anos, atendida pelo SUS.

Um acidente de carro aos 4 anos de idade causou em Fernanda uma lesão na cartilagem que promove o crescimento ósseo da perna esquerda. Durante dez anos, a garota passou por diversos tratamentos, entre eles, uma cirurgia para a colocação do pino externo e outra para desentortar a perna.

A solução de seu problema veio apenas há um ano, quando se submeteu à cirurgia de colocação da haste. Ela conta que a técnica causa menos dor em relação às que se submeteu anteriormente. ''Agora estou 100% e muito feliz. Antes doía, mas nessa (cirurgia) doeu um pouco, mas era uma dor que dá para aguentar tranquila'', afirma animada.

Entre os novos planos da adolescente, está o de voltar imediatamente à escola. A recuperação de sua perna acaba com um outro problema que sofreu durante a infância, o preconceito. ''Ela tinha muita dificuldade em fazer amizade. Todo dia que chegava na escola, ela me esperava chorando no portão'', lembra a mãe, Rosilene, falando das brincadeiras que Fernanda era alvo na escola.

Lixo reciclável trocado por flores

Folha de Londrina | 27 de março de 2009

Às quintas-feiras, o Paço Municipal de São José dos Pinais (Região Metropolitana de Curitiba) fica movimentado. Moradores de todas as regiões da cidade fazem fila na entrada do local, com toneladas de materiais recicláveis. Eles trocam pilhas de papel, papelão, garras de plástico, embalagens de vidro e outros produtos por flores da estação.

Semanalmente são recolhidas cerca de seis toneladas de lixo reciclável. Dois quilos do material equivalem a uma muda de petúnia, sálvia, vinca ou celosia. Todo o lixo arrecadado é vendido para empresas de reciclagem e os recursos oriundos com a negociação são direcionados à Associação de Proteção à Maternidade e Infância (APMI) do município.

É raro quem volte para casa levando apenas uma muda de planta. Com os materiais acomodados no porta-malas de seus carros ou até em carrinhos de mão, os moradores da cidade alcançam marcas de 20, 60 quilos. Quando o quintal de casa já está florido o suficiente, o lixo é entregue pelos moradores, que recebem vales para trocar em outra ocasião.

Conscientização
A professora aposentada Cealice Marlene da Cruz Teterycz, 58 anos, participa do projeto desde o começo. Ela aguarda a disponibilização das plantas de inverno para realizar a troca das mudas em seu jardim. Mesmo assim, continua a levar os materiais recicláveis recolhidos por toda a família. "Às vezes venho só deixar o lixo. É importante porque, mesmo ganhando a flor, a gente se conscientiza sobre o meio ambiente", afirma.

Engajada na prática da reciclagem há oito anos, a adminstradora Isabel Cristina de Andrade Ramos, 38, troca seu lixo por plantas há três. Ela aproveita a iniciativa para complementar as ações que realiza em casa e para educar desde cedo os filhos Rafael, 5, e Letícia, 1, sobre a conservação do meio ambiente. Ontem, ela levou os dois para escolher as novas flores que irão decorar o jardim. "Fiz curso de administração com ênfase ambiental, estive no lixão e vi, sei como é. O amanhã é deles e por isso estou os preparando para o futuro", conta.

As professoras Aderli Terezinha, 42, e Claudinéia Abondancia, 27, também aproveitam o projeto para trabalhar a educação ambiental entre seus alunos. Os estudantes do Ensino Fundamental ajudam na separação do lixo e participam da decoração da escola com as flores. "Eles já estão bastante sensibilizados. A gente percebe o cuidado deles em sala de aula, na organização", garantem.

Com o constante entra-e-sai de gente que leva lixo ao Paço, o responsável pelo horto, Luiz Carlos Ramos, conhecido como Carlinhos, não tem folga. Ele perde as contas de quantas pessoas passam pelo local nas quintas-feiras, mas não esquece de quantas plantas são entregues por semana. "São cerca de 1,5 mil mudas", diz. Ele conta que recebe apenas materiais entregues por pessoas físicas, uma vez que as empresas são responsáveis pelo encaminhamento de seus lixos.

Realizado há 13 anos, o projeto conquistou os moradores da cidade. Prova disso é que passou por diversas gestões, com apenas modificações para melhorias. O secretário Municipal do Meio Ambiente, Jair Melo, define a troca de lixo por flores como um projeto ambiental, mas também com cunho social, pois envolve a comunidade no processo e beneficia pessoas de baixa renda.

Para a próxima inovação no programa, a secretaria pretende estender a abrangência da iniciativa. Além de descentralizar os postos de troca, o objetivo é criar uma coorperativa de catadores de papel. "A flor é mais uma forma de sensibilizar a população, mas temos que tratar o lixo como um produto que vai ter um retorno para nós. Queremos principalmente um retorno para os agentes ambientais, nossos catadores de papel", afirma o secretário.

Reciclagem exige incentivo à comunidade

Projeto de lei pretende dar desconto no IPTU a bons separadores do lixo

Folha de Londrina | 26 de março de 2009

Pouco mais de uma década do surgimento da Família Folha -personagens em forma de folha para incentivar a reciclagem-, as discussões e práticas sobre a separação do lixo em Curitiba dependem das campanhas de sensibilização à comunidade. A coleta de materiais recicláveis entre 2004 e 2008 quase dobrou quando realizado um trabalho de incentivo.

Há cinco anos, os programas "Lixo que não é lixo" e "Câmbio verde", promovidos pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente recolheram na Capital 10,9 mil toneladas de materiais recicláveis. Em 2008, no segundo ano de uma campanha de mobilização realizada pela secretaria, o número passou para 18,4 mil toneladas. A média mensal nesses dois períodos foi de 712 e 1,2 mil toneladas, respectivamente.

As campanhas educativas sobre "O lixo que não é lixo" nos anos 1990 mobilizaram famílias inteiras e abriram a discussão sobre a reciclagem de resíduos. Com o impasse a respeito do Aterro da Caximba, perto de atingir sua capacidade máxima, o assunto volta à discussão na cidade. A Caximba recebe lixo de Curitiba e região metropolitana.

Um projeto de lei, protocolado no início do mês pelo vereador Paulo Frote (PSDB), pretende estimular ainda mais a separação de materiais recicláveis. A proposta sugere conceder abatimentos anuais no IPTU a contribuintes que realizem a separação correta do lixo. Em análise pela Comissão de Legislação e Justiça da Câmara Municipal, o projeto reacende a preocupação sobre a mobilização social para a separação de materiais recicláveis.

As definições para seleção dos contribuintes que irão receber o desconto e o valor do abatimento só serão definidos durante a elaboração da lei, caso seja aprovada. Mesmo assim, Frote acredita que a proposta é viável, pois a ausência de recursos provocada pela renúncia fiscal seria compensada com a economia no pagamento às permissionárias do aterro sanitário, referente às toneladas de lixo depositadas no local. Os contribuintes selecionados receberão ainda um selo verde, que os caracteriza como amigo do meio ambiente.

Caso o projeto vire lei, os moradores de um condomínio do bairro Cabral, região norte da Capital, terão grandes chances de serem contemplados. Há cinco anos, o prédio conta com um sistema completo de separação do lixo, que envolve os habitantes dos 118 apartamentos.

Os latões para lixo orgânico e reciclável presentes em cada andar do prédio foram substituídos por um conjunto de latões para papel, plástico, metal, vidro e materiais orgânicos, localizados agora na garagem. A resistência inicial de alguns moradores em descer ao subsolo para depositar o lixo foi logo substituída pela preocupação ecológica. Além da conscientização ambiental, o zelador do condomínio, Antônio Sérgio Santos, atribui ao fim do mau cheiro e a ausência de baratas pelos corredores a aceitação rápida da nova metodologia. "Agora não tem mais isso", garante.

A estrutura simples não exigiu muito investimento. Uma grande caixa de alvenaria comporta os latões, revestidos internamente de azulejo e coloridos adequadamente, com a indicação de cada material. A iniciativa facilitou também a coleta do lixo pelos catadores de materiais recicláveis.

O morador José Dimas Novaes Patriota, 64 anos, apostou na idéia de separação do lixo desde o início. Para ele, iniciativas como a do vereador são válidas porque colocam em voga o debate sobre o assunto. "O lado mais importante é o pedagógico, que mostra a importância de separar o lixo. Se a lei for aprovada, não será um grande desconto, mas vai incentivar a população a fazer isso. Além disso, qualquer desconto no IPTU é benvindo", afirma.

Kombi invade loja no Centro

Colisão envolveu ainda um caminhão, no cruzamento da Avenida Visconde de Guarapuava

Folha de Londrina | 25 de março de 2009


Uma Kombi utilizada pela Secretaria Municipal de Saúde invadiu uma loja de acessórios automotivos após um acidente no final da manhã de ontem na Capital. A colisão ocorreu entre o veículo e um caminhão, no cruzamento da Avenida Visconde de Guarapuava e da Rua Dr. Faivre, no Centro. Um dos passageiros da Kombi ficou ferido sem
gravidade.

De acordo com o motorista do caminhão e os agentes de trânsito da Diretran que atenderam à ocorrência, o acidente aconteceu quando a Kombi, que seguia pela Dr. Faivre, furou o sinal vermelho. O motorista do caminhão, carregado de resíduos de construção, tentou evitar o acidente, mas acertou a lateral direita do veículo da prefeitura, que transportava quatro passageiros idosos a consultas ambulatoriais. Com a colisão, a Kombi foi arrastada para a entrada da loja, localizada na pista esquerda da Visconde de Guarapuava. "Eu tentei evitar, mas o caminhão estava pesado", disse Aroldo dos Santos, que não se machucou, mas teve danos na frente do veículo.

O acidente causou um breve congestionamento na avenida, que ficou bloqueada por cerca de 20 minutos. Um dos passageiros teve ferimentos leves e foi encaminhado para o Hospital Cajuru. O motorista da Kombi passou mal, sentiu dores no peito, e foi atendido pelo Siate para observação.

A loja de acessórios automotivos teve danos apenas na estrutura da porta. Por um palmo, o veículo não acertou a vitrine, que mostra diversos aparelhos de CDs e DVDs. "Foi um sustão e um barulhão. A Kombi praticamente entrou na loja", conta o proprietário estabelecimento, Nelson Okimura. Ele diz que são constantes os acidentes no cruzamento. "(O carro) errou a entrada de veículos e nem pediu licença", brincou.

Alta-costura a serviço da ressocialização no Paraná

Iniciativa inédita no Estado capacita detentas da Penitenciária Feminina do Paraná

Folha de Londrina | 25 de março de 2009

Pelas próprias mãos, presas da Penitenciária Feminina do Paraná costuram um novo laço de esperança para suas vidas. Participantes do projeto "Costurando a Liberdade", elas têm acesso a novas oportunidades de ressocialização por meio da alta-costura. Christian Dior, Giorgio Armani e Valentino que se cuidem.

Do trabalho no setor de costura industrial da penitenciária, 12 detentas passaram para o curso ministrado por profissionais da grife Gianni Cocchieri. O projeto, uma parceria entre o Departamento Penitenciário do Paraná, a Secretaria de Estado da Justiça, o Provopar e a grife, levou, junto com os conceitos de qualidade, exclusividade e bom gosto, uma nova perspectiva para a volta à sociedade.

A iniciativa é inédita. Nenhuma penitenciária paranaense oferece prática em alta-costura aos detentos. O contato com tesouras e agulhas normalmente ocorre apenas na linha industrial, em que os integrantes não têm a visão completa do que fazem e não se envolvem com a produção. Os tecidos utilizados no projetos foram apreendidos pela Receita Federal e doados à Provopar.

Distante da vida das detentas, a alta-costura tornou-se em poucos meses uma paixão. Desde junho do ano passado, os sábados foram dedicados à prática de drapeado, barras, elaboração de zíper invisível e conhecimento de diversos tipos de tecidos. Em poucos meses foram produzidos 45 looks, o que surpreendeu os profissionais do projeto.

O mercado paranaense (e até mesmo o nacional) da alta-costura conta com poucos profissionais qualificados. São raros os cursos na área que oferecem a experiência adquirida pelas mulheres da penitenciária. Esse é mais um fator que causa grande expectativa às participantes do projeto, uma vez que a proposta é dar continuidade à formação e contratá-las na grife ou auxiliá-las na criação de novos ateliês em suas cidades de origem. "Damos muita motivação. Elas sentem medo do preconceito, mas digo que elas têm qualificação, que é fundamental para lutar contra isso", afirma a empresária de moda Vania Cocchieri, responsável pela capacitação.

Em 25 anos de atuação na área, Vania conta que se envolveu emocionalmente com a iniciativa. Para ela, é gratificante trabalhar em um projeto que "mexe com vidas, sonhos e mudanças de comportamento". "Quando alia o trabalho a um projeto social, tem um retorno muito maior. Muitos empresários deveriam ver como contribuir com a sociedade, pois ganha aprendizado e mão-de-obra qualificada", sugere.


‘Nunca imaginei trabalhar com isso’
Costureira desde os 15 anos de idade, Maria (os nomes das detentas são fictícios) teve seu primeiro contato com a alta-costura aos 62, na Penitenciária Feminina do Paraná. Desde que foi encaminhada ao local, há três anos, não deixou as agulhas de lado, ao trabalhar no setor de costura.

Para ela, a diferença entre a costura industrial e a alta-costura é "como a água e o vinho", pois envolve toda a maneira de manusear e trabalhar com os tecidos, o que deve ser feito com cuidado. Feliz com a participação no curso, Maria confessa que não imaginava ter um dia essa oportunidade. "Sempre admirei a alta-costura, mas nunca imaginei trabalhar com isso. Dificilmente encontraria esse curso em outro lugar", conta.

Orgulhosa, a costureira mostra suas produções que, mesmo inacabadas, chamam a atenção dos professores modelistas e colegas de curso. Ela conta que o que a envolve na alta-costura é o processo de produção. "As idéias vão surgindo, tem que usar a imaginação", explica. Para o professor modelista Edson Ivam Kraus, o resultado do trabalho de Maria foi surpreendente. "Não imaginava um resultado tão bom em tão pouco tempo. É muito gratificante", diz.
Aos 24 anos, Manoela começou a costurar depois de chegar à penitenciária. A partir do curso, encontrou uma opção para a nova vida quando voltar à sua cidade, em São Paulo. "A alta-costura tem mais beleza, mais arte", afirma.

Ressocialização
A diretora da penitenciária, Valderez Camargo da Silva, acredita que o curso está cumprindo seu papel de ressocializador durante o cumprimento das penas das detentas. Para ela, as participantes do projeto terão grandes oportunidades quando voltarem à sociedade. "O curso é especial porque a gente vê o crescimento da presa. Assim, ela vai mostrar que é capaz, que cumpriu a sua pena e que tem valor", diz.

"É a construção de uma nova identidade, uma oportunidade de transformar as coisas. Elas estão habilitadas para procurarem um outro caminho e fazerem uma outra história de vida", complementa a representante do Provopar, Vera Lúcia Silan Santos.

Problema renal infantil exige atenção

Hipertensão é responsável por cerca de 10% das doenças renais entre crianças, diz médica

Folha de Londrina | 21 de março de 2009

A falta de sensibilização a respeito de doenças renais em crianças prejudica o diagnóstico precoce e permite o desenvolvimento silencioso da doença. Enquanto os adultos já estão mais conscientes sobre o perigo da diabete e hipertensão para os rins, o diagnóstico tardio causa problemas irreversíveis aos pequenos.

Doenças renais só são identificadas a partir da realização de exames. Com as crianças, os principais são a verificação da pressão arterial e exames de urina. A falta de conscientização, porém, impede que os pais saibam da importância destes procedimentos.

A nefrologista Rejane Meneses, do Hospital Pequeno Príncipe, conta que a verificação da pressão arterial não é obrigatória nas consultas pediátricas. A solicitação do exame por parte dos pais é uma alternativa para identificar alterações no organismo das crianças. De acordo com a médica, a hipertensão é reponsável por cerca de 10% das doenças renais entre a população pediátrica. Também é comum a hipetensão arterial decorrente de problemas nos rins. A desinformação a respeito da prevenção de doenças renais em crianças é tamanha que, em muitos casos, os pacientes atendidos são encaminhadas diretamente para diálise. Outra alternativa de tratamento utiliza medicamentos.

Falta de crescimento, anemia, infecção urinária e a ocorrência de xixi na cama em idade avançada podem significar problemas renais. A nefrologista aponta ainda a preocupação com crianças obesas e com colesterol alto. Para alertar os pais, o Hospital Pequeno Príncipe realizou ontem avaliações gratuitas de hipertensão arterial e exames de urina em crianças e adolescentes. Em 2008, 346 crianças e adolescentes passaram pelas avaliações. Destes, 9% tinham alterações na pressão arterial e 19,6% apresentaram alternações na urina.

Preocupada com o problema de bexiga hiperativa diagnosticado em janeiro no filho Gabriel, 6 anos, a pedagoga Rosana Carvalho, 47, não sabia da possibilidade de doenças renais. Ontem, ela aproveitou a consulta à fisioterapeuta para realizar a avaliação. "Tinha desconhecimento total (sobre a doença em crianças). Achava que acontecia apenas com adulto", conta a mãe.

Acompanhado por especialistas, Gabriel verificou a pressão arterial e analisou a urina. O pequeno Mateus Henrique dos Santos, 5, também passou pelos exames. O pai do menino, Valdirio dos Santos, 33, também não sabia de problemas renais em crianças. "Enquanto jovem é melhor prevenir. Muitas pessoas não sabem que têm (doença nos rins) e quando descobrem já é tarde", alerta o pai.

Adoção HIV, uma possibilidade de amor

Promotora estima que menos de 1%das crianças e adolescentes soropositivos consigam um novo lar

Folha de Londrina | 18 de março de 2009

O medo de perder um filho em pouco tempo ou os cuidados e medicamentos necessários aos soropositivos faz com que muitas pessoas ignorem a possibilidade da adoção de uma criança portadora do vírus HIV. Esse medo, porém, impede a vivência de uma bela lição de vida, como definem os pais que deixaram de lado o preconceito.

Não existe um registro exato sobre os números de adoções de crianças e adolescentes com HIV. Os poucos casos são lembrados com alegria por profissionais dos abrigos onde moram os jovens. A promotora de Justiça da 2ª Vara da Infância e Juventude - Adoção, Marilia Vieira Frederico Abdo, arrisca a estimativa de menos de 1% de crianças e adolescentes soropositivos adotados. "Elas não têm chance", lamenta. A promotora conta que, nos cadastros de pais candidatos à adoção, a opção "criança com HIV" sempre é descartada.

Órfãos da Aids ou abandonados pela família biológica ainda recém-nascidos, crianças e adolescentes com HIV crescem em abrigos que dispõem de estrutura necessária para atender ao público. A criação de espaços específicos para os soropositivos não se justifica pelo preconceito ou a preocupação em deixá-los com outras crianças, mas pela infraestrutura -medicamentos, equipe técnica preparada e outros- que oferecem.

Em Curitiba, duas instituições abrigam 50 crianças e adolescentes, que vivem em uma grande família. São elas a Associação Paranaense Alegria de Viver (Apav) e a Associação Curitibana dos Órfãos da Aids (Acoa). "Não os preparamos para a adoção. Proporcionamos uma vida com qualidade, saúde. A adoção é consequência", afirma a coordenadora da Apav, Maria Rita Teixeira. Nos dois abrigos foram contabilizadas, nos últimos 15 anos, pouco mais de 30 adoções.

Lição de vida
A adoção de crianças com HIV segue no caminho contrário ao das outras. Enquanto os pais interessados em adotar se dirigem à vara específica e são apresentados a meninos ou meninas com o perfil que escolhem, a adoção de soropositivos é fruto de uma paixão entre atuantes da área e as crianças.

"Os pais que adotam (crianças com HIV) são pessoas extremamente especiais. Eu digo que quem adota é acima da média, que não vai achar dificuldade em nada, não vê obstáculos", afirma a promotora Marilia. Ela ainda complementa que, diferente do que esperam aqueles que rejeitam a adoção de crianças com HIV, a oportunidade de ter uma família contribui para o bem estar dos jovens. "A carga viral (quantidade do vírus HIV no organismo) baixa drasticamente quando a criança vai para uma família", comemora. "Ela vive muito bem. Só desenvolve a Aids se tem baixa imunidade. São saudáveis, independente do HIV", complementa Maria Rita, da Apav.

A coordenadora da Apav acompanha de perto a melhora que uma família traz às crianças soropositivas. Ela, que considera as mais de 100 crianças já atendidas pela organização como sua família, adotou há dez anos um filho soropositivo, experiência que considera uma "lição de vida". "A adoção nos ensinou a viver, a enfrentar as dificuldades, não ter medo do futuro. O ser humano é muito egoísta, quer satisfazer a vontade de exercer a paternidade, não está preparado para sofrer. Muitos deixam de ser feliz com medo no futuro", afirma.


Transmissão vertical pode ser evitada
Entre cada 100 gestantes com HIV que não fazem tratamento durante a gestação, 30 crianças nascem infectadas pelo vírus, o que caracteriza a transmissão vertical. As chances do vírus da mãe passar para o bebê caem para até 2% quando é realizado o acompanhamento durante o pré-natal.

A transmissão vertical pode ocorrer em três momentos: durante a gestação, na hora do parto ou na amamentação. A maior incidência é referente ao momento do parto, 60 a 70% dos casos. O HIV passa de mãe para filho por meio do sangue e secreções da membrana que protege o feto, rompida nas contrações do parto normal. Em menor índice, a transmissão ocorre no oitavo mês de gestação. Além disso, as mães soropositivas não podem amamentar seus filhos, pois o vírus HIV também é passado aos bebês pelo leite materno.

A transmissão vertical só é comprovada quatro meses após o nascimento da criança. O teste que identifica o HIV é realizado no primeiro mês de vida e repetido após três meses, quando a criança desenvolve sua própria imunidade. Se o resultado for negativo no segundo teste, a criança não foi infectada. Caso o resultado seja positivo nas duas dosagens, a criança possui o vírus HIV.

Iniciativa curitibana
A estrutura de atendimento de gestantes com HIV faz de Curitiba uma pioneira e um exemplo no combate à transmissão vertical. Todas as unidades básicas de saúde da cidade disponibilizam o teste diagnóstico do HIV, também a todas as gestantes atendidas pelo Programa Mãe Curitibana. Durante o pré-natal, elas são acompanhadas e recebem medicamentos para dimunir a carga viral.

De acordo com o coordenador do programa, Edvin Javier Boza Jimenez, os índices de transmissão vertical entre as mães atendidas pelo programa são altos em gestantes usuárias de drogas, prostitutas e moradoras de rua, que não dão continuidade ao tratamento.
As adolescentes também são um público que preocupam a equipe do programa. Muitas delas não se aceitam como soropositivas, começam tardiamente o acompanhamento ou ainda descobrem o HIV durante a gestação, por isso, também abandonam o pré-natal e colocam em risco o combate à transmissão vertical.


‘Cada um tem uma missão’
Para o adolescente Oliver (nome fictício), ser soropositivo não representa um problema em sua vida. Aos 17 anos, o jovem diz ter chegado à conclusão de que o convívio com o HIV é um sinal. "Já pensei que não precisava ter o vírus, não foi minha culpa, não abusei de nada. Cada um tem uma missão, se tenho HIV é que tenho que fazer alguma coisa", analisa.

Ele nasceu com o vírus, passado de sua mãe pela transmissão vertical. A descoberta aconteceu apenas aos 6 anos de idade, quando a mãe, que não sabia de sua sorologia e, por isso não fez acompanhamento específico para evitar a transmissão vertical, passou mal. Um teste verificou a presença do HIV em Oliver e em seu irmão mais novo, que hoje tem 15 anos.

De personalidade tranquila, Oliver está no último ano do ensino médio e faz um curso técnico em informática. No final do ano, presta vestibular para artes cênicas, para realizar o sonho de ser ator. Além dos compromissos com os estudos, o adolescente também se dedica à organização onde vive desde os 9 anos, a Associação Paranaense Alegreia de Viver (Apav). "Moro aqui, tenho de tudo e posso fazer algo para compensar isso."

O jovem mantém contato com a família, principalmente com a avó, com quem morou até os 6 anos. Mesmo sem a possibilidade de ser adotado, ele acredita que o receio dos pais em relação às crianças soropositivas é resultado da desinformação. "Não que a pessoa seja ignorante, mas não tem conhecimento sobre o assunto e fica com medo de adotar, até medo de pegar na criança. Isso não acontece, é só ter cuidado", explica. Para ele, a adoção é uma opção para ter filhos no futuro, além dos biológicos. Inclusive a adoção de crianças com HIV. "Você adotaria uma criança soropositiva", pergunto. "Com certeza", responde Oliver com brilho nos olhos.


Livro mostra dificuldades
No livro "Adoção PositHIVa - Adoção de crianças e adolescentes portadores de HIV/Aids em Curitiba", a jornalista Dayane Carvalho apresenta o dia-a-dia e as dificuldades da adoção de crianças e adolescentes com HIV na Capital.

Sensibilizada pela realidade dos jovens abrigados em casas de apoio, ela conheceu de perto a relação de amor criada com os pais adotivos. "Meu objetivo com o livro é fazer com que as pessoas saibam da possibilidade de adotar um filho HIV positivo. Que elas saibam que uma criança ou um adolescente soropositivo deve ser tratado como qualquer outra criança ou adolescente, deve ter uma vida normal e precisa do carinho de um pai e/ou de uma mãe. Pois o afeto, o carinho e o amor ajudam a aumentar a imunidade do seu organismo, tornando-o mais forte para enfrentar a doença", explica.

O livro está à venda nas Livrarias Curitiba. O valor é R$ 20,00 e toda a renda será destinada às organizações que atendem crianças soropositivas em Curitiba: Associação Paranaense Alegria de Viver (Apav) e Associação Curitibana dos Órfãos da Aids (Acoa). Mais informações sobre a produção e a adoção de crianças e adolescentes com HIV estão disponíveis no blog da jornalista: www.adocaoposithiva.blogspot.com.

A Curitiba das muitas crenças

Todas as grandes religiões estão na cidade. Comunidades convivem com respeito em relação às diferenças

Folha de Londrina | 17 de março de 2009

Da mesquita à igreja, da sinagoga ao terreiro de umbanda, do centro espírita ao templo budista ou a tantos outros locais. Estas são algumas opções para aqueles que procuram por conforto espiritual ou proximidade com Deus, independente de como Ele é chamado.

Curitiba não deixa a desejar no quesito religião. Na cidade são realizados rituais de todas as grandes religiões organizadas. Diferentes histórias, crenças e práticas retratam a diversidade da população composta por quase dois milhões de habitantes.

Para suprir as diferentes motivações e crenças, existem na cidade 331 locais considerados templos religiosos. São estabelecimentos cadastrados com alvarás ativos na Prefeitura Municipal, que podem estar ou não em funcionamento, sem contabilizar os espaços não cadastrados.

"Quem argumenta pela falta de opções religiosas em Curitiba não conhece a cidade. É um ‘cardápio’ religioso muito grande e são muitos grupos organizados", afirma o professor e pesquisador Luiz Alberto Souza Alves, graduado em Filosofia e Teologia, que faz estudos sobre as manifestações religiosas na Capital.

De acordo com o professor, as principais religiões envolvem o Cristianismo, característica marcante dos colonizadores europeus que fizeram de Curitiba um novo lar. A religião ortodoxa se destaca por reunir fieis de forma não identificada nas demais capitais brasileiras. Também são bastante frequentadas reuniões do candomblé, umbanda, espiritismo, religiões orientais, semitas e hinduístas.

A informação é comprovada pelo último Censo Demográfico realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No ano 2000 os curitibanos identificados como católicos eram 1,121 milhão, enquanto os evangélicos eram 300 mil, os espíritas 26,9 mil e os seguidores da umbanda 2,8 mil (veja infográfico). São diferentes religiões que mantém na cidade um diálogo ecumênico e de respeito entre si.


Conhecimento contra discriminação
Mesmo diferentes, as religiões apresentam em comum a proposta de oferecer a seus seguidores caminhos de proximidade com Deus e preocupação com o bem-estar comunitário. Para o pesquisador Luiz Alberto Souza Alves, o estímulo à capacidade de convivência com as diferenças é a principal função tradições religiosas. "A função é de ser humanizadora, de dar condições de se humanizar, se equilibrar. Exercer a caridade, benevolência, amor e se comprometer com a humanidade, com a justiça e com o diferente", explica.

Ele conta que observou em Curitiba casos de resistências e intolerâncias exercidos a algumas religiões. "São representantes que possuem análise teológica fundamentalista sem a capacidade de conviver com a diferença. Mas ninguém tem o mandado divino para dizer que esta ou aquela religião é verdadeira. Somos diferentes e dentro das diferenças a gente se completa", critica.

Mas isto parece ser coisa do passado. Nenhum dos representantes entrevistados pela FOLHA afirmou ter restrições a determinados segmentos e não se sentem discriminados. "Já discutimos muito este assunto, mas hoje a gente nem liga. Estamos muito bem colocados como religião. O que poderia nos atingir não atinge mais", conta a mãe de santo do terreiro de umbanda Pai Maneco, Lucília Guimarães.

"Acreditamos na igualdade entre as pessoas e respeitamos todas as religiões. Elas devem viver como quiserem, sem imposição religiosa", complementa o roush -líder religioso- da Congregação Israelita da Nova Aliança, Ezrah Ben Levy. Ele conta, porém, que a comunidade ainda sofre agressões de grupos neo-nazistas.

Conhecimento
"O diálogo com outras religiões enriquece a nós e ao próximo, à humanidade. Só teremos o conhecimento se nos permitirmos a troca de informação e ideias, o que promove o respeito", afirma o vice-presidente da comunidade muçulmana de Curitiba, Gamal Fouad El Oumairi. "O precocento vem da ignorância", reclama Lucília.

De acordo com os representantes das religiões, a discriminação é resultado da falta de conhecimento sobre as doutrinas e pode potencializar ainda mais a garantia da dignidade a todos. "Precisamos deixar de lado as diferenças dogmáticas e nos reunirmos para efetivamente contribuir com a sociedade", sugere o padre Domenico Costella, da paróquia Bom Pastor.


O que cada sistema religioso prega
Católica
- Para o padre Domenico Costella, da paróquia Bom Pastor, no Bairro Vista Alegre, a pós-modernidade atenta para uma grande preocupação em relação à subjetividade, quando o objetivo é a satisfação dos desejos e solução de problemas pessoais. Assim, fica de lado o envolvimento com as necessidades da comunidade e da sociedade. De acordo com ele, a maior dificuldade a Igreja Católica é estimular o envolvimento da comunidade nas questões sociais. Para isso, realiza em sua paróquia diversas ações com a participação dos fieis, que atendem à comunidade de baixa renda da região. A proposta não é apenas assistencialista, mas desenvolver as capacidades e a auto-estima da população. "A verdadeira perspectiva evangélica é a comunidade. O povo pensa que a religião é missa no domingo, mas não é fácil, não compromete ninguém", conta.

Espírita - "Todos têm que dar contribuições para a sociedade. É fundamental a modificação moral do ser humano", afirma Carlos Augusto de São José, da Federação Espírita do Paraná. A doutrina espírita tem como principal proposta a justiça e a promoção da renovação social para a construção de um mundo melhor, por meio de princípios como a crença em Deus, imortalidade da alma, reencarnação e leis morais. Em Curitiba existem 72 instituições espíritas, com participantes ativos nas reuniões e iniciativas de mobilização social.

Islâmica - Com aproximadamente 5 mil fieis em todo o Paraná, a comunidade muçulmana adepta ao Islamismo se reúne para preservar e difundir sua religião. Com fé em um Deus único, seus seguidores baseiam-se na lógica da razão e no livre-arbítrio. A base da religião é a instrução em todos os aspectos da vida, para as decisões nas áreas familiar, social e econômica. "A pessoa deve ter apenas um caminho, baseado na lógica, no intelecto. Precisamos ver o resultado das ações, não só o imediatismo", afirma o vice-presidente da comunidade muçulmana em Curitiba, Gamal Fouad El Oumairi.

Judaica - Sem a necessidade de grandes encontros para a prática da religião, a comunidade
judaica segue uma cultura que tem mais de 3,5 mil anos de história. Os fieis -aproximadamente 300 famílias na Capital- seguem os 613 mandamentos presentes na Lei da Torah, que determinam as práticas de sua vida desde o nascimento até a morte, como alimentos, vestimentas, rituais de nascimento, casamentos, divórcios e até mesmo relacionamento entre patrões e empregados. O objetivo da comunidade é manter as tradições entre os fieis e viver de acordo com o que prega a religião, considerada também uma cultura. "Nossa base é separar o santo do comum. Queremos viver uma vida sagrada, para seu próprio povo, que continue sendo judeu", explica Ezrah Ben Levy.

Umbanda - Estima-se que existam em Curitiba quatro mil terreiros de umbanda, a maioria deles funciona em casas, sem registros. A procura dos fieis é pelo trabalho espiritual, desenvolvimento da espiritualidade e solução de problemas de saúde ou emocionais. A prática que completou 100 anos em novembro passado é guiada pela fraternidade, caridade e respeito ao próximo. "O preconceito é por desconhecimento. As pessoas visitam e veem que não é nada daquilo que dizem", garante a mãe de santo Lucília Guimarães.

Mais informações nos sites:
www.arquidiocesedecuritiba.org.br www.feparana.com.br www.ibeipr.com.br www.israelitas.com.br www.paimaneco.org.br www.sotozencuritiba.org www.vedantacuritiba.org.br

Chega de ‘medicanês’ para explicar o remédio

Propostas foram discutidas ontem em audiência pública promovida pela Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba

Folha de Londrina | 17 de março de 2009

A bula explica. "Drágeas: cada drágea contém 10 miligramas de butilbrometo de escopolamina, correspondentes a 6,89 miligramas de escopolamina. Indicações do medicamento: espasmos do trato gastrintestinal (contrações do estômago e do intestino), espasmos e discinesias das vias biliares (contrações e alterações nos movimentos dos canais que conduzem a bilis) e espasmos do trato geniturinário (contrações e alterações do movimento dos canais dos órgãos sexuais e urinários). Este medicamento é contra-indicado aos pacientes com idade avançada especialmente sensíveis aos efeitos secundários dos antimuscarínicos, como secura da boca e retenção urinária".


O uso indiscriminado e incorreto de remédios é um perigo aos consumidores. A falta de informação, emprego de termos técnicos nas bulas e o consumo sem orientações fazem dos medicamentos a primeira causa de intoxicação e a segunda causa de mortes no Brasil. Em 2006, de acordo com o Sistema Nacional de Informações Toxicológicas (Sinitox) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), os medicamentos foram responsáveis por 30,67% das intoxicações (34,582 casos) e por 106 mortes. Entre as intoxicações, 1,061 mil foram causadas por auto-medicação, 1,944 mil por erro na administração e 433 por abuso.

Responsáveis pelas informações aos consumidores sobre a composição dos medicamentos, contra-indicações, possíveis efeitos colaterais e orientações para a administração do medicamento, as bulas deixam a desejar no quesito objetividade e simplicidade. As principais reclamações dos consumidores dão conta, principalmente, do uso de termos técnicos e do tamanho das letras, em geral, pequenas.

Para o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Produtos Farmacêuticos do Estado do Paraná (Sindifarma-PR), Edenir Zandoná Júnior, o material geralmente é direcionado à comunidade médica, não aos consumidores. Para ele, a eficácia do documento junto aos pacientes depende da utilização de linguagem simples e do aumento das letras. Mesmo com as observações, Zandoná garante que o material utilizado no Brasil é superior às bulas dos países europeus. "Preenche todas as necessidades, mas precisa mudar. O modelo de perguntas e respostas, por exemplo, torna mais acessível ao consumidor, identifica os problemas e efeitos colaterais", afirma.

Estas e outras sugestões foram discutidas ontem em uma audiência pública promovida pela Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba (SMS), para a adequação das bulas de medicamentos, prevista pela Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa). Representantes da comunidade médica, órgãos públicos, universidades e associações profissionais propuseram melhorias à iniciativa.

As contribuições curitibanas ao projeto foram referentes à disponibilização das informações para o uso racional dos medicamentos pelos consumidores. Para os participantes, é importante a descrição de todas as reações ao medicamento na bula, não apenas os sintomas principais; a notificação dos casos de intoxicação os órgãos de vigilância sanitária municipal, estadual e nacional; criação de duas bulas, uma destinada aos médicos e outra aos consumidores; disponibilização das bulas pela internet e necessidade de adaptação às normas pelos laboratórios oficiais, que atentem ao Sistema Único de Saúde. "A bula precisa evitar a intoxicação. O consumidor tem que saber dos cuidados, reconhecer as reações adversas. O cidadão é o gestor do risco, como um consumidor ativo", analisa o coordenador do Centro de Saúde Ambiental da SMS, Sezifredo Paz.

As propostas serão enviadas até o dia 25 deste mês à Anvisa. Depois de organizada o documento com as novas instruções, os laboratórios terão que aderir ao novo modelo em 270 dias. Para os participantes da audiência pública na Capital, a norma deve ser acatada pelos laboratórios em 120 dias.

Diagnóstico do glaucoma evita cegueira

Folha de Londrina | 12 de março de 2009

A verificação periódica da pressão ocular é a única maneira de identificar o glaucoma, doença que não apresenta sintomas e pode causar cegueira irreversível. Estima-se que a metade dos portadores não saiba de seu diagnóstico.

Se identificado no estágio inicial, o glaucoma pode ser controlado. Caso contrário, desenvolve-se até provocar a cegueira total. Para os especialistas da área, o desconhecimento a respeito da doença e a ausência de sintomas são os principais desafios no tratamento.

Comemorado hoje, o Dia Mundial do Glaucoma tem o objetivo de alertar a população sobre a importância do diagnóstico precoce da doença que afeta aproximadamente um milhão de brasileiros, além de um milhão de pessoas que não sabem do diagnóstico, de acordo com a Sociedade Brasileira de Glaucoma. A doença é uma das principais causas de cegueira do mundo.

O glaucoma se manifesta a partir de lesões no nervo óptico, responsável pela visão. A hipertensão ocular afeta as fibras que compoem o nervo, que gradativamente deixam de funcionar. Inicialmente são afetadas as células responsáveis pela visão periférica (visão lateral). A falta de visão se espalha em direção ao centro do olho, quando não há mais possibilidade de cura. Quando a doença está avançada, o paciente também sente ardência e vermelhidão nos olhos.

Esse processo é lento, dura entre dez e 20 anos, e, na maioria dos casos, manifesta-se quando o paciente passou dos 40 anos de idade -a estimativa é que 1% da população nessa faixa etária apresente o glaucoma. A predisposição à doença é maior entre negros, mulatos e pessoas com casos de glaucoma na família.

Um estudo realizado pelo departamento de oftalmologia do Hospital de Clínicas (HC) da Universidade Federal do Paraná (UFPR) com a comunidade de Piraquara (Região Metropolitana de Curitiba), ilustra estas características predominantes. Entre os pacientes atendidos pelo HC entre 2002 e 2003, 3,4% tinham mais de 40 anos e 90% desconhecia o diagnóstico.

Além do glaucoma causado por fatores biológicos, existem os tipos da doença causados por elementos alheios à hipertensão ocular, como lesões ou doenças nos olhos e o uso indiscriminado de colírios. "O colírio com corticóide ameniza os sintomas de conjuntivite e alergias, mas silenciosamente causa o glaucoma, que leva à cegueira", alerta o oftalmologista do HC, Lizandro Sakata.

Tratamento
O glaucoma é diagnosticado nos exames de rotina realizados em consultas oftalmológicas. A verificação da pressão ocular durante as consultas é recomendada pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia.

Assim que identificado o problema, o tratamento consiste no uso de colírio, com a possibilidade de intervenção cirúrgica. "A taxa de sucesso e controle da doença é alta. Dificilmente o paciente perde a visão quando faz o acompanhamento", afirma o oftalmologista Idior Saulo Zanoni. Por isso, ele ressalta que, mesmo em consultas para a solicitação de óculos, é necessária a realização permanente do exame.

O início imediato do tratamento assim que o glaucoma foi descoberto evitou que a secretária Nildicéia Pereira Gaissler, 43, perdesse a visão. As consultas à sua oftalmologista em Paranaguá (Litoral), cidade onde mora, não apontaram para o problema. Enquanto a vermelhidão nos olhos aumentava e ela observava arcos na visão.

Somente com a visita de uma amiga de Curitiba, em junho do ano passado, Nilcinéia foi alertada sobre o problema. "Se não fosse estava cega", lembra. A secretária realizou o tratamento com colírios e passou por uma cirurgia nos dois olhos. O olho esquerdo perdeu parte da visão, mas mesmo assim, ela comemora o êxito no tratamento. "Graças a Deus eu enxergo", comemora.

Hipertensão pode prejudicar os rins

Segundo especialistas, sintomas só se manifestam quando doença já está em estágio avançado

Folha de Londrina | 11 de março de 2009

Silenciosa, a doença crônica dos rins não apresenta sintomas de seu desenvolvimento e em muitos casos está relacionada a outros problemas de saúde, principalmente hipertensão arterial e diabete, responsáveis por 60% dos casos. Os demais são referentes a problemas genéticos, inflamações ou causas desconhecidas. Quando identificadas precocemente, elas reduzem a complicação da doença e facilitam o tratamento.

Aproximadamente 15% dos brasileiros apresentam problemas renais e 70% deles não sabem do diagnóstico. Isto acontece devido à ausência de sintomas no estágio inicial da doença, que só se manifesta quando está instalada e já compromete 80% dos rins."Quando tem sintomas o quadro é tardio", alerta a gerente-geral da Fundação Pró-Renal Brasil, Anelise Marcolin.

No mundo, as doenças do rim afetam um terço da população e um levantamento realizado em 2004 pela Sociedade Brasileira de Nefrologia mostra 3,2 mil pacientes renais no Paraná.

Para identificar o problema renal, as pessoas precisam ficar atentas a sintomas como alteração na coloração da urina e na frequência urinária, ardência para urinar, tonturas, enjoos, mal estar geral e anemia. As principais formas de evitar o desenvolvimento da doença é a realização periódica de verificação da pressão arterial e exames que medem o nível de creatinina no sangue, além de alimentação adequada e prática de exercícios físicos. O tratamento da insuficiência renal é feito a partir de medicamentos ou pela diálise e transplante, que têm valores altos e reforçam a necessidade de diagnóstico precoce.

A hipertensão prejudica o funcionamento dos rins quando deixa os vasos sanguíneos dos órgãos mais espessos e rígidos, o que torna a função renal insuficiente, podendo chegar à insuficiência total. A insuficiência renal inibe a filtragem dos elementos prejudiciais ao corpo, que sobrecarrega o coração e consequentemente interfere na pressão arterial, como em um ciclo que pode resultar na morte por doença cardiovascular.

A hipertensão arterial foi a causa dos problemas renais diagnosticados em outubro do ano passado na jovem Daianye Aparecida May, 19 anos. As fortes dores de cabeça e enjoos constantes a fizeram passar por diversas especialidades antes de iniciar seu tratamento de diálise. "Ninguém descobria a causa. Era uma dor de cabeça que não passava e achava que era o stress, estava trabalhando muito na época", lembra a fiscal de caixa de supermercado.

Os dois rins de Daianye foram prejudicados e ela aguarda pelo transplante enquanto passa pela diálise durante nove horas por dia. Ela faz o tratamento em casa e a diálise acontece enquanto a jovem dorme. Uma esperança para a doação vem de sua mãe, que passou por exames para verificar a compatibilidade. "É muito sofrido", conta.

Dia Mundial do Rim
Comemorado na quinta-feira, o Dia Mundial do Rim estimulou a realização de atividades de sensibilização à comunidade. Até sexta-feira, a equipe da Fundação Pró-Renal -entre eles José Eduardo Freire de Carvalho-, em parceria com o Sesc, oferece orientações sobre a doença e atendimentos gratuitos de verificação da pressão arterial e exames parciais de urina, com o objetivo de identificar possíveis pacientes renais.

O pedreiro Adão Andrade, 54 anos, aproveitou a oportunidade para verificar sua hipertensão, que apresenta há sete anos. Desde o diagnóstico -que não identificou problemas renais-, ele mede a pressão quatro vezes ao mês e considera o acompanhamento muito importante. "Onde tem posto de saúde, eu estou medindo", conta.

Neste ano, o lema da campanha é "Mantenha sua pressão arterial controlada". As atividades serão realizadas na Praça Rui Barbosa, das 9 às 17 horas.

População reclama de insegurança em praça

De acordo com comerciantes da 19 de Dezembro, o consumo de drogas é constante na região e espanta a clientela

Folha de Londrina | 11 de março de 2009

Criada em homenagem ao centenário da emancipação política do Paraná, ocorrida em 1853, a Praça 19 de Dezembro, mais conhecida como "Praça do Homem Nu", em referência à estátua, tornou-se um ponto de insegurança para moradores e comerciantes da região. Eles reclamam do consumo de drogas no local e constantes casos de brigas.

De acordo com os frequentadores da área, os problemas de segurança são consequência da falta de policiamento. Eles afirmam que a viatura da Guarda Municipal responsável pela vigilância da praça deixou o local após a instalação de uma câmera de segurança na esquina das ruas Cândido de Abreu e Inácio Lustosa, há aproximadamente três meses. A presença do equipamento, porém, não inibe a ocorrência de brigas e o consumo de drogas.

O aumento da violência foi percebido após o reforço do policiamento na Praça Tiradentes, próxima à do Homem Nu. "Antes não tinha muito (problema), mas depois que colocaram câmeras na Tiradentes aqui está virando uma bagunça", afirma o motorista Dorival Rodrigues, 56 anos, que trabalha no ponto de táxi da praça durante todo o dia.

Além da presença dos usuários de drogas durante a semana, a situação se complica aos domingos, quando diversos grupos de jovens se reúnem no local. Esta é uma das principais reclamações dos comerciantes e moradores. O consumo de bebidas alcóolicas é intenso, as brigas inevitáveis com a ocorrência de alguns atos obscenos. Os adolescentes também participam dos encontros e consomem bebidas alcóolicas. "Os maiores (de idade) compram as bebidas e entregam para os adolescentes", conta o funcionário de um mercado da praça, Jean Alex Ulian. Entre os grupos apontados pelos comerciantes da região estão os emos, vileiros e até mesmo skinheads.

A movimentação na praça prejudica os comerciantes da área, que percebem a queda nos atendimentos. Os taxistas deixam de pegar passageiros e ficam com medo de serem assaltados durante alguma corrida iniciada na praça. Para os comerciantes, os assaltos também são constantes. "Tem que trabalhar, não tem outro jeito, faço o que, fecho?", indaga um vendedor que não quis se identificar e está na praça há oito anos. Turistas e famílias que passeavam pela região também deixaram de frequentar a praça.

Na porta da escola
A proximidade da Escola Estadual Tiradentes, localizada em frente à praça, também preocupa. A movimentação de entrada e saída de alunos na hora do almoço é grande e possibilita abordagens e oferta de drogas. Para a diretora da escola, Regina Maria Foltran Scucato, a solução do problema está no trabalho de sensibilização dos alunos realizado dentro da instituição.
"Percebo que neste ano está um pouco menos, mas temos uma campanha na escola com a Patrulha Escolar e a Guarda Municipal", conta.

Outro lado
Os representantes da Guarda Municipal contestam a falta de segurança na praça. Os registros da corporação apontam para 12 atendimentos realizados no local de janeiro a março deste ano, referentes a orientação (1), ameaça (1), apoio e salvamento (2), banho em local impróprio (3), desordem (1), vandalismo (2), substâncias ilícitas (1) e vadiagem (1). Os registros não constatam o tráfico e consumo de drogas como marcantes na praça.

De acordo com a assessoria de imprensa da Guarda Municipal, a realização dos atendimentos significa que há monitoramento no local. Além disso, a corporação acredita que a permanência de andarilhos na praça não significa que eles estejam realizando roubos ou consumindo drogas, assim como a presença dos grupos de jovens.

A Guarda Municipal alega ainda que a ausência da viatura é compensada pela câmera de segurança, que tem alta precisão e pode identificar as pessoas sem a necessidade da presença de policiais no local. A câmera instalada na rua São Francisco também abrange parte da Praça 19 de Dezembro.

A FOLHA procurou a Polícia Militar (PM) para comentar a situação na praça mas não obteve retorno.