Site de inscrição vaza dados de estudantes

MEC nega vazamento, mas candidatos tiveram acesso a página de concorrentes. Falhas geraram exoneração e mais mudanças de calendário

Gazeta do Povo | 19 de janeiro de 2011

Depois das reclamações de candidatos sobre a dificuldade de acesso no portal do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) e ter de prorrogar o prazo de inscrição até as 23h59 de amanhã, o Ministério da Educação (MEC) teve de se justificar ontem pelo vazamento de informações de estudantes que já haviam se cadastrado no sistema. Os problemas seguidos ainda resultaram na alteração do calendário de outras seleções do MEC e na exoneração do presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), José Joaquim Soares Neto, responsável pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), cuja nota é usada no Sisu e também tem apresentado falhas.

Ontem, diversos estudantes de todo o Brasil relataram que tiveram acesso aos dados de outros candidatos do Sisu, que oferece 83 mil vagas em 83 universidades federais do país. Além de estarem disponíveis, as informações poderiam até ser alteradas. A Gazeta do Povo recebeu relatos de alunos que se surpreenderam ao encontrar dados de outras pessoas ao acessarem a área restrita do site por. Em nota, o MEC negou o vazamento de dados e explicou que o acesso à página de outro candidato foi ocasionado quando eram feitas manutenções para aumentar a capacidade de acesso do sistema. O ministério confirma que o problema ocorreu na noite de segunda-feira e se repetiu na manhã de ontem “O MEC assegura que em nenhum momento foi possível a troca de inscrição ou a manipulação dos dados dos estudantes.”, afirma a nota.

Mesmo com a garantia do MEC, o candidato curitibano Carlos Tadeu Severino, de 47 anos, conta que percebeu o problema às 20h06 da última segunda-feira. Após diversas tentativas de acesso à página do Sisu, que apresentava demora no carregamento e não abria, Severino encontrou dados pessoais – como nome, e-mail, telefone e número de inscrição no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) – de uma estudante da Bahia, que concorre a uma vaga na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. “Tinha até a opção para alterar dados. Se eu fosse uma pessoa de má-fé, teria alterado. A opção apareceu, mas não tentei.”, garante Severino.

Na noite de segunda-feira, o estudante Éder de Almeida Rosa, 26 anos, também encontrou informações que não eram suas no site do Sisu. Na página, ele conta ter conseguido alterar os dados de um candidato do município de Guaraniaçu (PR). “Cheguei até a página da inscrição para o curso que a outra pessoa gostaria de concorrer, mas não conclui para evitar transtornos a ele e a mim”, conta. Todos os passos das alterações foram registrados por Rosa.

Tecnologia
Duas possibilidades são apontadas por especialistas como possíveis causas para os problemas registrados no site do Sisu: falta de estrutura para comportar os acessos de todos os candidatos e erro na programação do sistema. Na avaliação do professor da Universidade de Campinas (Unicamp) e pesquisador em segurança computacional, Paulo Lício de Geus, o congestionamento no site caracteriza problemas no servidor, que ocorre quando muitos usuários acessam o site ao mesmo tempo. Quando muitos dados são solicitados de uma só vez, o sistema pode ficar lento ou não finalizar.

“É preciso fazer uma estimativa de quantas pessoas podem acessar o site simultaneamente e quais os períodos de maior movimento”, explica. Com o levantamento, é definida a estrutura de servidores que será necessária para arquivar os dados. “Não sabemos exatamente o que aconteceu, mas parece que não foi feita a estimativa e não foi providenciada a instalação física adequada”, supõe.

Com relação ao vazamento dos dados dos candidatos, Geus as define como um “erro crasso” na programação do sistema. “Se não houve intenção do candidato de localizar outras informações é porque o programador escreveu o sistema de maneira errada, foi uma falha na programação”, afirma. Ele ressalta que esse tipo de erro “não deve acontecer em hipótese nenhuma” e que para o problema chegar aos candidatos também faltaram testes para verificar a eficácia do sistema.

O professor da Universidade Federal de São Carlos e pesquisador na área de tecnologia de informação, Antônio Carlos Diegues Júnior, acredita que o site do Sisu não estava preparado para receber a grande quantidade de acessos e que houve um expressivo crescimento no número de candidatos entre 2010 e 2011. “Mais do que uma questão de informática, este é um fator da expansão do ensino público nos últimos anos”, analisa. Para ele, o aprimoramento no sistema ocorrerá gradualmente, nos próximos anos.

Solução exige uma década

Primeiro passo para evitar tragédias como a do Rio de Janeiro é retirar moradores de área de risco. Poder público, porém, não sabe nem o tamanho do problema

Gazeta do Povo | 16 de janeiro de 2011

Aniela Ameida e Carolina Gabardo Belo

Depois de assistir à pior catástrofe natural já registrada no Brasil, na região serrana do Rio de Janeiro, em que morros foram abaixo e 549 pessoas morreram– pelo menos até o fechamento desta edição, já que o número tende a subir –, o país se pergunta: quantos mais morrerão até que seja feito algo? Para reverter o cenário de catástrofes naturais – como as que mataram 135 pessoas em Santa Catarina, em novembro de 2008; 120 no Rio, em abril de 2010; e 57 no Nordeste, em junho do ano passado– seriam necessários ao menos dez anos, advertem os especialistas. “É possível reverter essa situação em uma década de trabalho bem elaborado, com recursos bem aplicados e perseverança, com continuidade”, diz o engenheiro geotécnico e ex-presidente da Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica (ABMS), Luiz Antoniutti Neto.

Uma década poderia até ser tempo suficiente para solucionar a falta de planejamento e acabar com ocupações irregulares em áreas de risco espalhadas em 95% do território nacional. Para que o Brasil chegue a esse resultado, porém, é preciso que a ocupação e a dinâmica das cidades sejam encaradas como prioridade em todas as esferas do poder público.

Estimativas do Conselho Regional de Engenharia (Crea) apontam que pelo menos 9,5 milhões de pessoas moram em áreas de risco, próximas a rios, fundo de vales ou em grandes encostas. Esse número pode chegar a 40 milhões (cálculo da ONG Amigos da Terra), já que as estimativas sobre o assunto são escassas e desencontradas. Sobrevoando as áreas atingidas, na última semana, a presidente Dilma Rousseff reconheceu que “moradia de risco no Brasil é regra, não exceção”. Prometeu ajuda e admitiu que o problema é das três esferas de governo. O governo federal, entretanto, não tem sequer ideia do tamanho do problema a ser enfrentado. Nem Ministério da Integração Nacional, nem Defesa Civil Nacional têm estimativa do número de moradores em área de risco no país.

Ignora-se que a ocupação intensa e desordenada do solo em 43% dos municípios brasileiros foi uma das principais causas de inundações e alagamentos, segundo a Pesquisa Nacional de Sanea­mento Básico de 2008 do Instituto Brasileiro de Geografia e Esta­tística. Essas consequências tendem, ainda, a ser potencializadas caso as propostas de alterações do Código Florestal sejam aprovadas pelo Congresso Nacional. Segundo a coordenadora do programa Rede das Água da Fundação SOS Mata Atlântica, Malu Ribeiro, quando foi criado, em 1965, o Código Florestal incluía a proteção de topos dos morros e beiras de rios para garantir a segurança do uso e ocupação do solo. As novas propostas, po­rém, devem flexibilizar essa proteção. “É uma incoerência querer modificar a legislação justamente quando a natureza está nos dando o troco pela falta de planejamento na ocupação”, argumenta.

Como fazer
O primeiro passo para pôr um ponto final às tragédias a que o Brasil assistiu nessa semana é a realização de um mapeamento de todas as áreas críticas. A partir daí é necessário traçar um plano de ações, envolvendo evacuação de terrenos, recolocação de moradores ou pequenas intervenções para solução de problemas. Entre as medidas estão o replantio de florestas, a construção de parques ou piscinões para o escoamento da água da chuva e a desocupação de áreas vulneráveis.

Na prática, a perspectiva otimista esbarra na falta de planejamento de municípios, estados e governo federal. Engenheiros e urbanistas ressaltam que muito poderia ser evitado se as tecnologias existentes fossem aplicadas de maneira correta. “Nós acostumamos a acudir a população somente quando acontece o problema, sem medidas preventivas. Em qualquer região, seja ela qual for, é 20 vezes mais caro consertar a área depois de uma catástrofe do que investir em medidas preventivas”, afirma o presidente do Crea do Rio de Janeiro, Agostinho Guerreiro.

A ausência de políticas de habitação consolidadas é apontada como um fator decisivo para as ocupações irregulares e consequentes acidentes naturais. Malu lembra que depois das enchentes ocorridas em Parati e Niterói, em 2010, o governo estadual do Rio se comprometeu a apresentar um plano de desocupação das áreas de riscos. Isso nunca aconteceu.

“Já temos conhecimento técnicos e instrumentos como os Planos Diretor e de Prevenção de Risco, mas as ações não são estruturadas, efetivadas e nem recebem recursos”, concorda o diretor executivo da ONG Habitat para a Humanidade no Brasil, Demóstenes Morais. A isso, o presidente nacional da Associação Brasileira de Engenheiros Civis, Ney Fernando Perracini de Azevedo, acrescenta a ausência de planos diretores mais rígidos e fiscalização. “Os planos diretores permitem construções em áreas impróprias. É um convite ao desastre”, alerta.


Prevenção
O que o poder público deveria fazer:

- Implementar um plano de planejamento urbano e habitacional, para ocupação estratégica das áreas.
- Efetivar o Plano de Previsão de Acidentes.
- Elaborar o levantamento e o mapeamento das áreas de riscos que contemplem a composição do solo, inclinação do terreno e possibilidade de alagamento.
- Promover um plano de desocupação dos locais vulneráveis já habitados.
- Promover a recuperação ambiental das áreas, evitando a reincidência na ocupação.
- Criar novas áreas de proteção ambiental, como parques.
- Monitorar as áreas de moradia de risco e reforçar a fiscalização de ocupação irregulares.
- Investir em tecnologia e potencializar a parceria entre especialistas e governos.

Diferença entre gêneros reflete em desempenho

Avaliação aplicada no Brasil mostrou que meninas são melhores na leitura e meninos se destacam em Ciências e Matemática

Gazeta do Povo | 11 de janeiro de 2011

A última edição do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), referente ao ano de 2009 e divulgado no início de dezembro, mostrou, entre outros dados, algo que os professores já perceberam há tempos: a diferença de gênero também se reflete no desempenho dos estudantes em sala de aula. A pesquisa avaliou alunos de 15 anos em 65 países e mostrou que, no Brasil, as meninas são mais eficazes em leitura, enquanto os meninos se destacam em Ciências e Matemática.

Além de uma simples diferença, este quadro representa um amplo desafio aos docentes, que precisam lidar com as potencialidades de cada um e ao mesmo tempo estimular os alunos nas áreas em que eles não têm tanto interesse. A tarefa não é fácil, pois exige atenção e jogo de cintura dos professores na hora de passar os conteúdos aos jovens, que também apresentam características individuais no aprendizado.

“O professor precisa estruturar a maneira de ensino prevendo a diversidade na maneira de aprender. Estas diferenças são maiores que a questão do gênero, elas acontecem de pessoa para pessoa”, ressalta a doutora em Educação e professora do curso de Pedagogia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Evelise Portilho.

Os relatos de alguns professores do ensino fundamental e médio mostram que as diferenças são realmente notáveis. De acordo com eles, as meninas são mais concentradas nas atividades de leitura e produção de texto, ao mesmo tempo em que os meninos são mais agitados e se interessam por experimentos científicos e atividades de cálculo. “Até mesmo os livros que eles escolhem são aqueles que aprofundam o conhecimento científico e tecnológico. Nas discussões sobre as obras, os meninos participam muito mais quando trabalham com estes temas”, conta a professora de Língua Portuguesa, Lucimara Costa Gai. Ela ainda ressalta que entre as meninas, a preferência é por assuntos ligados ao sentimento.

Nas aulas de Matemática, a professora Simone Danielle Tychanowicz sente que os alunos absorvem facilmente a matéria por já estarem mais familiarizados com unidades de medidas e cálculos em geral. “Por outro lado percebo que as meninas precisam rever o conteúdo em casa. Elas vão bem na disciplina porque estudam bastante”, diz. O mesmo acontece nas aulas de Ciências e Química ministradas pelo professor Fernando Costa. “O interesse pelas atividades práticas em laboratório é dos meninos, enquanto as garotas ficam mais tímidas. Mas, quando é preciso fazer leituras, elas compreendem muito mais.”, afirma.

Ensino
Para chamar a atenção dos estudantes nas disciplinas, Evelise afirma que os professores precisam estar atentos aos interesses dos jovens, bem como estimular diferentes habilidades, as chamadas múltiplas inteligências. “Se o aluno tem predomínio em uma modalidade não podemos deixar de potencializar as outras, que também são importantes”, diz.

O ideal é desenvolver atividades que se aproximam da realidade dos jovens e oportunizar a interação entre os alunos durante os estudos, promovendo o ensino colaborativo, quando os estudantes aprendem uns com os outros, o que de acordo com Evelise é muito válido. “O ensino não precisa ser focado apenas no professor, pois não existe uma única maneira de ensinar”, garante. Na prática, os docentes garantem que a iniciativa dá resultados, uma vez que alia as potencialidades de meninos e meninas nos grupos de estudo.


Habilidades ficam estampadas no boletim
Prestes a ingressar no ensino médio, o estudante Tulio Peiter, de 14 anos, percebe suas principais habilidades ao analisar as notas do boletim. Suas médias em Matemática e Ciências superam as notas em Língua Portuguesa. Para ele, isto acontece pelo fato de que o raciocínio lógico é mais fácil de entender e chega a ser divertido. “É como se fosse um jogo em que devemos encontrar o resultado”, define. Sua colega Jéssica Farias Pereira, 14 anos, conta que não sente dificuldade em nenhuma disciplina, mas confessa que sua preferência é pela leitura. “Gosto mais de ler do que fazer outras coisas. Sempre tive essa facilidade”, afirma.

Os estudantes contam que, assim como eles, seus colegas de classe apresentam desempenhos semelhantes nas disciplinas de acordo com o gênero. Os jovens ainda observam posturas diferentes dos professores em relação à atenção aos estudantes. Muitos investem mais nas explicações aos alunos com dificuldade em absorver a matéria.

Mesmo com as preferências, Tulio e Jéssica se esforçam para aprimorar seus desempenhos. Para isso, investem pesado nos estudos e aproveitam o contato com os professores. “Procuro perguntar bastante e tirar minhas dúvidas, é preciso se impor. Tem que correr atrás e se adaptar à matéria”, explica Tulio.


Cultura também determina as diferenças
Toda a vida escolar de meninos e meninas é marcada pelas diferenças de comportamento e desempenho entre os dois gêneros. A rivalidade entre eles é a marca das primeiras séries do ensino fundamental. Já nos anos que antecedem o ensino médio, o interesse pelo sexo oposto começa a se despertar. Nesta fase, em que ocorre a puberdade, o desenvolvimento de cada gênero também interfere no desempenho escolar. Geralmente as meninas se desenvolvem mais rapidamente, enquanto os meninos amadurecem em um ritmo mais lento. A professora do setor de educação da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Maria Rita de Assis César aponta, no entanto, outro fator determinante para a diferença entre os gêneros: a formação.

“Ao invés de uma diferença biológica, é mais interessante pensar na maneira com que os jovens são tratados no processo educacional como um todo, em casa, na escola e na rua”, afirma. Na avaliação da especialista, há um direcionamento em toda a formação do aluno assim que se descobre o sexo, quando ele ainda está no útero de sua mãe.

Às meninas são direcionados afazeres que exigem capricho, limpeza e humanidades e aos meninos atividades técnicas, ligadas ao matemático. “É lógico que o resultado será diferente, os estímulos são diferentes. Qualquer pesquisa biológica ou neurológica em relação a isso é bobagem”, opina a especialista.

Os pais também são responsáveis pelos resultados apresentados pelos estudantes em sala de aula, advertem os estudiosos no assunto. Além de estimular seus filhos em suas diversas potencialidades, eles precisam investir também na formação de um gênero mais plural, com diversas habilidades.

Réveillon colorido em Curitiba

Venda de fogos de artifício está 12% maior em relação ao ano passado. Alta no movimento pode significar mais acidentes com os artefatos

Gazeta do Povo | 31 de dezembro de 2010

A virada do ano promete ser colorida em Curitiba, região metropolitana e litoral. Mais de 450 toneladas de fogos de artifício devem recepcionar a chegada de 2011 nessas cidades, de acordo com estimativa da Associação Industrial e Comercial de Fogos de Artifício do Paraná. O índice de vendas nas lojas filiadas à associação está 12% maior em relação ao ano passado. Os números são promissores, mas a alta no movimento também pode significar mais atendimentos a pessoas feridas pelo artefato nos hospitais.

Apenas no Natal deste ano, o Hospital Evangélico recebeu oito casos desta natureza. No Hospital do Trabalhador (HT), entre o dia 24 de dezembro e ontem, foram atendidos sete pacientes. Já na passagem de 2009 para 2010, 14 pessoas foram encaminhadas ao Evangélico. No HT, entre os meses de dezembro do ano passado e janeiro deste ano, foram oito pacientes. Em diversas situações, os acidentes foram causados pela combinação do consumo de bebidas alcoólicas e o uso dos explosivos. As vítimas mais frequentes são homens jovens.

O uso incorreto de fogos de artifício pode resultar em queimaduras, perdas auditivas e até amputações – são frequentes os casos de pessoas que perdem dedos e até mesmo uma das mãos. “A principal recomendação é que não se faça o manuseio deste material, principalmente dos artefatos que disparam bombas, que são os que fazem os maiores estragos”, alerta o chefe do Serviço de Cirurgia Plástica de Queimados do Hospital Evan­gélico, José Luiz Takaki. Assim como os comerciantes do ramo, o médico também já percebeu o aumento nas vendas neste ano. “Notamos que tivemos mais queimados neste Natal em relação ao ano passado. Por isso precisamos estar atentos para as festas de Réveillon”, afirma.

O estudante Jean Ferreira Grossman, 15 anos, faz parte das estatísticas. A festa de Natal em sua casa terminou de forma inesperada. O jovem teve as duas mãos queimadas enquanto tentava acender um “buscapé”. Grossman adquiriu o produto em uma loja que não é especializada na venda deste material e não recebeu nenhuma orientação de como manuseá-lo. “Meus amigos colocaram as mãos na frente para proteger a bombinha do vento”, lembra. Foi neste momento, conta ele, que o fogo se espalhou pelas suas mãos. No primeiro instante, Grossman não percebeu a gravidade da lesão, mas em poucos minutos a região da palma das mãos e os dedos estavam cobertos por bolhas.

O garoto está com as mãos enfaixadas e não sabe até quando precisará ficar com o curativo. Sua única certeza é de que não irá mais utilizar produtos como esse. “Fica a lição para toda a família e os amigos”, afirma o irmão Jefferson, 19 anos, que o socorreu.

Prevenção
O primeiro passo para evitar transtornos é realizar a compra dos fogos de artifício em lojas especializadas, com profissionais habilitados a prestarem informações sobre o uso dos artefatos. O presidente da associação e empresário, Rodolpho Aymoré Júnior, ressalta que também é fundamental seguir todas as recomendações apresentadas na embalagem dos produtos. “Os fogos são seguros, se usados conforme as orientações.”

O proprietário de outro estabelecimento do ramo, Moisés Lanza, reforça o alerta. “O ideal é manter uma distância de 30 a 50 metros do artefato”, explica. Quando acionado, ele precisa estar firme no chão e caso falhe é necessário esperar até 20 minutos para fazer contato físico com o material. Nessas situações, a pólvora deve ser descartada.


Fogueteiro da rodada é a nova pedida
Uma alternativa encontrada para evitar acidentes com fogos de artifício é a eleição do fogueteiro da rodada. A brincadeira consiste em eleger uma das pessoas que está na festa de réveillon para que não beba e fique responsável pelo manuseio dos explosivos.

Do que depender do dentista Marcello Brasil, a festa de réveillon em sua casa será digna de um clube social e terá segurança garantida. Além de seguir rigorosamente as orientações presentes nas embalagens dos artefatos e ouvir as explicações da atendente da loja em que comprou os produtos, ele escolheu para sua filha Giovanna, de 12 anos, artefatos adequados à idade dela. “Vamos fazer a queima de fogos em um local afastado, distante dos familiares que estarão assistindo. Não queremos estragar nossa festa”, garante.

O pediatra Carlos Massignan também está confiante do sucesso da chegada de 2011 em sua casa. Pela primeira vez ele investiu na compra de fogos de artifício e separou um local seguro para o acionamento. Quem comemora é seu filho Luca, de 9 anos, que espera uma linda festa, mesmo sabendo que não irá se aproximar de nenhum artefato. “Ele não vai mexer em nada”, alerta o pai.

Socorro
Nos casos de queimaduras com fogos de artifício, a recomendação dos médicos é molhar o local com água corrente. Depois do resfriamento, a área deve ser coberta com um pano limpo, sem a necessidade de retirar o curativo improvisado até o atendimento médico. “Nestes momentos aparecem diversos produtos para serem aplicados no local, como pó de café, molho de tomate ou pasta de dente, mas nada disso deve ser usado”, explica o chefe do Pronto-Socorro e do quadro clínico do Hospital do Traba­lhador, Rached Hajar. As queimaduras de primeiro e segundo grau são mais dolorosas, porém superficiais. Já as lesões de terceiro grau ocasionam danos mais graves.


Animais precisam de cuidados especiais
Não são apenas os humanos que precisam de atenção durante as festas de réveillon. A virada do ano também representa um período de estresse para os animais que convivem com os barulhos de rojões. A exposição de cães, gatos e pássaros ao barulho excessivo pode ser prejudicial à saúde dos bichos.

De acordo com o presidente da ONG Pense Bicho, Aurélio Munhoz, nessas situações os animais podem se tornar agressivos, brigar uns com os outros ou se machucar na tentativa de se esconder do barulho. Em casos mais graves, os bichos apresentam até quadros de convulsões e paradas cardiorrespiratórias. Nas aves, em especial, o estresse altera seu ciclo reprodutivo e as afasta dos ninhos.

Para evitar tais problemas, Munhoz indica algumas medidas práticas e que amenizam o transtorno causado aos animais. “É recomendado deixar o bicho em um ambiente que abafa o som, como a lavanderia ou a garagem”, explica. Ele destaca que o ideal é deixá-los em ambientes cobertos, com portas e janelas fechadas. “Outra solução é utilizar cobertores para cobrir a casinha dos animais, abafando o som”, diz.

Mega da Virada pode passar de 200 milhões



Gazeta do Povo | 31 de dezembro de 2010

O prêmio da Mega da Virada chegou a R$ 200 milhões e já é considerado o maior valor pago pelas loterias no Brasil. O sorteio acontece hoje, às 20 horas, e as apostas podem ser feitas até às 14 horas.

De acordo com a Caixa Eco­nomia Federal (CEF), responsável pelo sorteio, até quarta-feira foram arrecadados R$ 360 milhões em aproximadamente 11 milhões de apostas. O alto número de jogos foi o responsável pelo aumento do prêmio. Este valor é composto pelo acúmulo de 5% do total destinado aos prêmios de cada concurso durante o ano e pela arrecadação específica da Mega da Virada.

A notícia animou os apostadores, que correram para as 10,6 mil casas lotéricas espalhadas pelo Brasil. Em Curitiba, houve fila em frente aos estabelecimentos. Ontem a CEF registrou a arrecadação média de R$ 8,6 milhões por hora em todo o país.

O palpite da gerente da lotérica Campeão da Sorte, localizada na Praça Rui Barbosa, Ivete de Lima, é que o volume de arrecadação aumente hoje. “Para sexta-feira esperamos um movimento maior ainda e até mesmo o prêmio de R$ 220 milhões”, prevê.

Na fila de apostadores, a professora aposentada Maristela Elias, de 54 anos, estava confiante de que seria a ganhadora em um de seus seis jogos. A sensação de sorte era reforçada pelo seu dia preferido na semana, a quinta-feira. “Pretendo adquirir a casa própria, ajudar a família e uma ONG de proteção aos animais”, afirma. Em outra lotérica, a diarista Cristina Santos, 29 anos, fazia as contas de quanto investiu em apostas. Foram 11 durante a semana, um bolão e mais cinco na tarde de ontem. “Não tenho nem ideia do que fazer com o dinheiro se ganhar”, diz.

Jogo
Para concorrer à bolada, o apostador pode utilizar os volantes especiais da Mega da Virada ou os comuns da Mega-Sena. A aposta simples custa R$ 2. Caso ninguém acerte os seis números, o prêmio será entregue para acertadores da quina ou quadra, sem acumular para o próximo sorteio. O sorteio será feito em São Paulo e transmitido ao vivo para todo o país.


Compras
Aplicado na poupança, o prêmio total da Mega da Virada renderia mensal­mente cerca de R$ 1,28 milhão. Para gastar todo o dinheiro, o ganhador po­deria usar R$ 333 mil por mês, durante 50 anos. Co­­m o prêmio, é possível comprar:
- 8 mil carros populares
- 40 mil motocicletas 125 cilindradas
- 10 edifícios com 20 andares e cinco apartamentos no valor de R$ 200 mil em cada pavimento

Pele bem cuidada é poupança para futuro

Além do sol, a má alimentação e a pouca hidratação também colocam em risco o maior órgão do corpo humano

Gazeta do Povo | 30 de dezembro de 2010

Diz a sabedoria popular que as atitudes de hoje são responsáveis pelo que seremos amanhã. Quando o assunto é pele, a máxima é a mais absoluta verdade. Além da fragilidade natural que ocorre com o passar dos anos, o resultado da atenção (ou falta de) dedicada ao maior órgão do corpo humano ao longo da vida aparece na terceira idade. Isto não significa, no entanto, que seja tarde demais para prevenir problemas que ainda possam aparecer.

Algumas marcas surgem naturalmente com o tempo e não exigem preocupações. Mas os médicos dermatologistas alertam para doenças causadas principalmente pelo efeito acumulativo da exposição ao sol e que podem evoluir para um caso de câncer de pele. A mais recorrente é a chamada ceratose actínica, identificada como uma área avermelhada que muda de cor e descama, que causa sensação de agulhadas e se localiza principalmente em áreas de grande exposição, como face, região do colo, couro cabeludo calvo e dorso das mãos. Para evitar o agravamento do problema, os especialistas indicam consultas periódicas com o dermatologista e orientam os pacientes a procurá-los imediatamente em caso de qualquer dúvida sobre a origem da mancha.

Mesmo considerado um dos maiores inimigos da pele, o sol não é o único responsável pelos problemas que surgem com o passar dos anos. “É um conjunto de fatores associados à idade, ao meio ambiente e ao estilo de vida. Não podemos mudar a carga genética que trazemos ou os fatores ambientais aos quais estivemos expostos no passado, mas podemos decidir agora por uma terceira idade melhor e com mais qualidade”, afirma a dermatologista Kátia Sheylla Malta Purim. A médica garante que a prática de exercícios físicos, uma alimentação balanceada e a preocupação com o bem-estar emocional, espiritual e cultural contribuem para a saúde da pele. “Procuro orientar os pacientes sobre estas questões independente da idade e da queixa”, diz.

É com este pensamento que os irmãos Arvido, de 79 anos, e João Grimberg, 81, cuidam da saúde. Durante a juventude, ambos não receberam orientações sobre a exposição correta ao sol, mas assim que o assunto veio à tona, não pensaram duas vezes. Há aproximadamente 20 anos, época em que o protetor solar entrou em circulação no país, eles passaram a investir na proteção da pele e evitam exposição solar durante o meio do dia. A boa alimentação e a vida ativa dos dois são outros fatores considerados fundamentais para a boa saúde que desfrutam. Eles praticam natação regularmente e continuam exercendo suas atividades profissionais de advogado e dentista, respectivamente.

Os sinais do tempo não deixaram de aparecer, mas não incomodam a dupla. Filhos de europeus, cada um teve uma reação diferente à exposição ao sol. Arvido, que é mais claro e pratica natação em piscina coberta, convive naturalmente com algumas marcas na pele e realiza o tratamento indicado por sua dermatologista sempre que preciso. “Qualquer marca que aparece procuro minha médica”, conta.

Já João, que tem a pele mais bronzeada, nada ao ar livre nos horários recomendados e também segue à risca as orientações de sua médica. Por estar em constante contato com os profissionais da saúde, descobriu há alguns anos um câncer de pele no braço, resultado da exposição ao sol durante muito tempo. Com a doença em estágio inicial, o procedimento de retirada foi simples e desde então não teve mais problemas desta natureza. “Minha preocupação constante com a qualidade de vida contribui para a minha saúde”, garante.

Idade
Com o passar dos anos, a tendência é que a pele fique mais seca e fina, as unhas sem brilho e os cabelos com menos volume. Também é comum a incidência de sinais como dermatites, inflamações que provocam coceiras; angiomas, pequenas “bolinhas” vermelhas pelo corpo; fibromas, uma espécie de tumor benigno formado nos tecidos; e manchas causadas pelo sol. Estes sinais fazem parte do envelhecimento natural da pele e não representam riscos. Eles podem ainda ser potencializados por doenças que interferem na imunidade e facilitam a ocorrência de infecções, como o herpes causado pela ativação do vírus da varicela que estava latente. Para estes diagnósticos, os tratamentos são os mesmos aplicados em pacientes com outras idades, e assim como os demais, varia apenas de acordo com o estado da doença.


Atenção redobrada no verão
As altas temperaturas e o calor durante o verão exigem cuidados redobrados com a pele. A recomendação do chefe do serviço de dermatologia do Hospital de Clínicas (HC) da Universidade Federal do Paraná, Jesus Rodriguez Santamaria, é mantê-la hidratada a partir do consumo constante de água e com o uso de cremes hidratantes, além de evitar exposição ao sol do meio do dia, entre às 10 e às 16 horas. Roupas leves e chapéus também são fundamentais para esta época do ano.

Santamaría ressalta que o sol é uma importante fonte de vitaminas e que ele não deve deixar de ser aproveitado como tal. Para isso, deve-se utilizar o início e o final do dia para que as vitaminas sejam absorvidas pela pele. “É preciso ainda ter atenção especial com a higiene e manter as dobrinhas bem secas. Isso evita assaduras.”

Independente da estação do ano, iniciativas corriqueiras também contribuem para o bem-estar da pele. “Os idosos gostam de banho mais quente e de usar bucha, mas tudo isso resseca ainda mais a pele. Eles precisam fazer uma hidratação caprichada, utilizar pouco sabonete durante um banho rápido e não deixar a água muito quente”, orienta a dermatologista e professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Fabiane Mulinari Brenner.

A hidratação da pele ainda enfrenta um pouco de resistência entre os homens, mas não deve deixar de ser feita pelo menos duas vezes ao dia. Entre os cremes disponíveis no mercado, os mais eficazes são os que apresentam as substâncias ureia e lactato de amônio na composição. “Os pacientes não querem um procedimento agressivo, mas orientação de cuidados no dia a dia”, observa Fabiane.

Transformar é melhor do que só ajudar

Um novo perfil de voluntário ganha força no Brasil. São pessoas que não se satisfazem com o assistencialismo. Querem seragentes de transformação

Gazeta do Povo | 5 de dezembro de 2010

Fazer aquilo que se gosta e ajudar a transformar uma comunidade, cidade ou o mundo em que vivemos. Essa experiência tem sido vivida por um número cada vez maior de pessoas que não se contentam mais em apenas dedicar seu tempo, conhecimento e força de vontade ao assistencialismo. Os voluntários com esse novo perfil trabalham para ser agentes de transformação.

“Isto significa proporcionar o desenvolvimento das comunidades, estimulando o empreendedorismo social para que o grupo cresça, não precise sempre do trabalho voluntário e possa ainda formar novos agentes”, explica Rodrigo Starling, coordenador de projetos sociais do Instituto de Gestão Organi­zacional e Tecnologia Aplicada (IGETEC), integrante do Comitê de Entidades no Combate à Fome e pela Vida (Coep) em Minas Gerais.

Starling ressalta que esta prática acompanha a preocupação com a sustentabilidade, fator indispensável no mundo globalizado. “Não existe a possibilidade de um país crescer sem o conceito do voluntariado transformador uma vez que os cidadãos também são responsáveis pelo desenvolvimento das nações”, avalia.

O trabalho voluntário transformador está ao alcance de todos e pode ser aplicado em qualquer área. “Para provocar a real mudança é preciso apenas fazer a atividade da melhor maneira possível”, defende o analista de projetos do Centro de Ação Voluntária de Curitiba (CAV), Thiago Baise. “Qualquer ação é transformadora”, garante. Na data em que se comemora o Dia do Voluntário no Brasil, ele destaca que, assistencialista ou transformadora, a atividade voluntária é importante e traz mudanças na vida de quem precisa de ajuda. “Podemos dizer que as duas andam em paralelo. Depende muito do momento de vida do voluntário.”

O impacto que o trabalho social traz para as comunidades depende muito do desempenho de quem o pratica. Para que as potencialidades de cada um sejam aproveitadas ao máximo, é preciso que o voluntário saiba o que pretende fazer e como. “É aquilo que dá brilho nos olhos”, define Baise. O ponto de partida é verificar o que ele quer para o mundo e então começar as mobilizações ou potencializar ações já existentes.


Um robô para amenizar a quimioterapia
Os períodos em que as crianças passam por sessões de quimioterapia no Hospital de Clínicas da Universidade Fe­­­deral do Paraná, em Curitiba, ficam menos difíceis com a ajuda de Robinho. O robô criado pela profissional liberal e contadora de histórias Mara Xavier Melnik, 40 anos, explica tudo o que acontece com elas a partir de suas próprias experiências.

O personagem passa pela invasão das células caretas no corpo (referência lúdica ao câncer), pelo tratamento e a consequente queda de cabelo. “O contato com o Robinho diminui o medo e a ansiedade”, afirma Mara.

O projeto surgiu da necessidade de explicar aos pequenos o que eles precisam enfrentar durante o internamento. A escolha de um robô para brincar com as crianças aconteceu depois que um paciente se comparou ao personagem Robocop, durante a implantação de um cateter em seu corpo.

Com as informações técnicas fornecidas por enfermeiras do hospital, Mara criou todo o enredo da história. “É possível perceber como realmente as coisas se transformam. O ambiente do hospital é muito triste, mas a gente chega com a proposta de brincar e encontra muitas coisas boas nas crianças. Nosso trabalho é transformar este período tão difícil, para que elas tenham pelo menos uma boa lembrança do lugar”, afirma Mara.


Trabalho e superação que não têm preço
Depois de trabalhar como empregada doméstica por mais de 20 anos, Rosalina da Luz Gutervil, de 53 anos, não se contentou com a aposentadoria e resolveu colocar em prática uma vontade antiga: realizar trabalho voluntário. A baixa escolaridade não foi empecilho para que ela montasse grupos de geração de renda na comunidade onde mora, o bairro Jar­­dim Weissopolis, em Pi­­­nhais, na região metropolitana de Curitiba. Com muita pesquisa, participação em cursos e perseverança, ela montou uma cozinha industrial, onde produziu pães, geleias e outros alimentos.

O sucesso foi conquistado com a produção de pães de mel. Depois de algum tempo, ela abriu sua própria empresa, a Dr Cook, onde faz os doces que vende para hotéis, restaurantes e outros estabelecimentos. Como ação de responsabilidade social da empresa, a empreendedora utiliza sua cozinha para ensinar grupos da comunidade todo o processo de produção e gestão dos negócios. Por mês, os grupos vendem cerca de 35 mil pães de mel. “É um sonho. Saber que consegui melhorar a vida das pessoas com trabalho não tem preço.”

Pagamento de comissão alimenta “empurroterapia” nas farmácias

Prática comum em drogarias do Paraná, substituição de remédio prescrito pelo médico é proibida e prejudica clientes, atendentes e farmacêuticos

Gazeta do Povo | 12 de novembro de 2010

Seis entre dez paranaenses já receberam a indicação de atendentes de farmácias para trocar o remédio de referência ou o genérico por um similar. Destes, 60% foram influenciados e aceitaram a proposta, de acordo com levantamento de opinião realizado pelo instituto Paraná Pesquisas, com exclusividade para a Gazeta do Povo. O levantamento mostra que a abordagem dos atendentes é recorrente e que o valor destes medicamentos em relação aos demais é determinante para a troca em quase 80% dos casos.

Muito comum nos estabelecimentos farmacêuticos, esta prática interfere no tratamento dos pacientes e na conduta dos farmacêuticos. E ela só ocorre porque existe um esquema de pagamento de comissões, que envolve redes de farmácias e laboratórios.

As irregularidades começam no balcão da farmácia, com a indicação de medicamentos pelos atendentes. Esta é uma função atribuída exclusivamente aos farmacêuticos, que são os responsáveis por toda a venda de remédios nos estabelecimentos. Proibida pela Lei Federal nº 9.787, de 1999, a troca de medicamentos de referência ou genérico pelos similares é permitida apenas quando o nome do produto está especificado na receita prescrita pelo médico. “Tentar empurrar o similar é má-fé. O cliente precisa ter clareza de que deve procurar o farmacêutico para ser orientado”, alerta o vice-presidente do Conselho Federal de Farmácia, Walter Jorge João.

O medicamento similar não passa pelos testes de bioequivalência e biodisponibilidade que verificam se ele é equivalente aos demais e quais suas reações no organismo. A ausência desta avaliação impossibilita a certeza de que o remédio possui a mesma qualidade ou efeito no tratamento. A expectativa é que este quadro mude até 2014, quando todos os medicamentos deste tipo já tiverem passado pelo processo de avaliação, conforme determinação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Por enquanto, apenas os remédios similares considerados de maior risco, como antibióticos, antineoplásicos (para casos de câncer) e antirretrovirais (direcionados aos pacientes HIV positivo), por ordem de prioridade, já estão em processo para a adequação dos testes.

Troca
A venda dos medicamentos similares tornou-se a grande fonte de lucro das redes de farmácias. O estímulo para que os atendentes façam parte das campanhas é o pagamento de comissões que complementam o salário dos funcionários. Algumas redes estabelecem metas de vendas para o estabelecimento – que chegam a R$ 35 mil por mês–, de acordo com a comercialização média do ponto e a localização da loja. “A farmácia vive do similar e não do genérico ou de referência, que não dão lucro”, afirma a atendente de uma farmácia de Curitiba que prefere não se identificar. Ela conta que cinco laboratórios pagam comissão e, estipuladas as metas de venda de diversos medicamentos similares, os atendentes são obrigados a atingir a cota, sob o risco de serem dispensados caso não consigam.

Para atingir a meta estabelecida pela administração das redes, não resta aos atendentes outra opção que não seja a indicação do medicamento no balcão da farmácia. Entre eles a prática é chamada de “trocar a receita”, quando se consegue convencer o consumidor a escolher o similar ao invés dos outros medicamentos. O argumento mais forte para o sucesso da troca é o preço dos produtos. O valor baixo em comparação aos demais é fruto do acordo com os laboratórios e da maneira como os orçamentos são apresentados pelos atendentes. “A ordem é trocar a receita. Para isso, mostramos o valor inicial do medicamento ético e o do similar com o desconto. Assim fica bem mais barato”, explica a atendente, que costuma usar a expressão “tenho o medicamento de outro laboratório, que está mais em conta e tem o mesmo princípio ativo” para garantir a venda.

Os medicamentos similares também são adquiridos por um valor muito inferior ao de mercado. Com a compra de poucas unidades, as redes ganham dos laboratórios lotes de remédios que são vendidos a preço baixo. O ganho dos lotes permite que praticamente todo o lucro obtido com a comercialização fique com a rede. “A farmácia coloca um preço no medicamento prevendo mais 4% que será repassado ao atendente”, denuncia. Geralmente os gerentes das farmácias ganham R$ 1 na venda de cada caixa, enquanto os atendentes precisam vender pelo menos dez unidades para começarem a receber a bonificação. O tamanho do esquema é percebido no final do mês, quando os salários chegam a dobrar graças às comissões.


Pagamento é controverso
Mesmo que seja paga pela venda de um medicamento similar ou de referência, a comissão não é proibida e varia de acordo com os acertos entre as redes de farmácias e os laboratórios. Entre os profissionais da área, a medida é alvo de críticas por estimular o consumo de medicamentos. “É imoral estimular o paciente a levar um medicamento que não precisa”, afirma a presidente do Sindicato dos Farmacêuticos no Estado do Paraná, Lia Mello de Almeida. “Este consumo pode não ser necessariamente o adequado ou não é o que o usuário precisa”, complementa a presidente do Conselho Regional de Farmácia do Paraná, Marisol Dominguez Muro.


Medo e desinformação inibem denúncias
Mesmo com as trocas diárias de receitas, as denúncias desta prática ilegal são praticamente inexistentes. Em 2008 e 2009, apenas um caso foi notificado por ano enquanto em 2010 duas denúncias passaram pelo Conselho Regional de Farmácia do Paraná. O grande motivador das denúncias é a orientação dada pelo médico assim que percebe que o tratamento de seu paciente foi alterado. Nos demais casos, raramente o consumidor fica ciente de que sua compra foi induzida. A fraude é comprovada pela análise da receita com a nota fiscal do medicamento comprado na farmácia.

“A partir do momento em que a receita do médico não é obedecida, ele não pode ser responsabilizado por alguma complicação no tratamento. A troca é uma mercantilização incorreta”, garante o diretor da rede de urgência da Secretaria Municipal da Saúde de Curitiba e integrante da Relação Nacional de Medicamentos (Rename), Matheos Chomatas. A orientação do professor Niazy Ramos Filho, do Departamento de Clínica Médica do Hospital de Clínicas do Paraná (UFPR), é seguir exatamente a recomendação do médico, pois a troca do medicamento não garante a eficácia no tratamento. “Na prática temos pacientes que tomam o remédio, mas não melhoram porque precisam de determinada dose que não está no medicamento trocado. Se o paciente começar a tomar o medicamento e o efeito não for o esperado, é preciso procurar novamente o médico”, diz.

Com a função de supervisionar tudo o que acontece nas lojas e a conduta de combater esta prática, os farmacêuticos têm medo de denunciar a troca de receitas ao mesmo tempo em que podem ser responsabilizados pela atividade. “É uma situação que foge da autoridade do profissional, que não consegue participar das compras ou da determinação das comissões”, avalia a presidente do Sindicato dos Farmacêuticos no Estado do Paraná, Lia Mello de Almeida. No contato com os profissionais, ela percebe que muitos sofrem assédio nas redes para que não se sejam contrários à troca.

Também com medo de se comprometer na farmácia onde trabalha e de perder referência de emprego nas demais redes, um farmacêutico funcionário de uma grande rede afirma que os profissionais são orientados a entrar no esquema da troca de receitas. “Não gosto de empurrar medicamento similar e já deixo bem claro que trabalho desta maneira. Muitos gerentes fazem cara feia para isso.” Mas nem todos conseguem se impor desta forma e acabam convivendo com o dilema profissional.

O presidente do Sindicato das Farmácias do Paraná, Edenir Zandona Júnior, confirma a troca de receitas em algumas redes da capital e lamenta que a prática aconteça. “É um problema complicado. Se não tem comissão, não tem estímulo, entusiasmo, mas não podemos generalizar”, diz. De acordo com ele, algumas empresas estabeleceram um pró-labore fixo para inibir a indução da compra de determinados medicamentos. Já o presidente da Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma), Sérgio Mena Barre­to, afirma que as 28 redes filiadas à organização não fazem a troca de receitas por convicção. “É uma prática condenável. Não se pode induzir o cliente a comprar determinado medicamento”, afirma.

A reportagem procurou as redes de farmácia da capital. Apenas a Rede Nissei afirmou que a troca de receitas é proibida em suas lojas. As demais não retornaram o contato.

Falta de óculos pode ser a causa de notas baixas

É importante que pais e professores estejam atentos às crianças na escola. Desempenho fraco muitas vezes está relacionado com problema de visão

Gazeta do Povo | 9 de novembro de 2010

A falta de atenção durante as aulas e notas baixas no boletim podem significar muito mais que o desinteresse dos alunos pelos estudos. Essas situações são algumas das principais consequências dos problemas de visão, que afetam cerca de 30% dos estudantes em idade escolar no Brasil, de acordo com o Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO). Entre os responsáveis pelo baixo desempenho das crianças em sala de aula está a necessidade de correção ocular em casos de miopia, hipermetropia, astigmatismo e estrabismo, a visão monocular ou a ocorrência de patologias que exigem intervenção cirúrgica.

Por prejudicarem o desempenho dos estudantes em sala de aula, esses problemas são, muitas vezes, descobertos na escola. A maioria dos pais ignora a recomendação dos médicos e não levam os filhos para fazer avaliação oftalmológica aos 3 anos de idade, ampliando o período de convivência da criança com a dificuldade visual durante os primeiros anos da vida escolar. A partir do momento em que a visão passa a ser mais requisitada pelas crianças é que aparecem os primeiros sinais do problema.

Em diversas situações são os professores que percebem que algo está errado com os alunos. Esse quadro, porém, não isenta os pais de ficarem atentos aos sinais das crianças dentro de casa, durante as atividades cotidianas ou momentos de lazer. “Muitos casos estão ligados ao uso excessivo do computador e de videogames, quando os pais não orientam corretamente as crianças e elas forçam muito a visão”, pontua a pedagoga da Escola Estadual Emiliano Perneta Isolete Kurtz Ferreira. Na instituição, a média de alunos com necessidade de correção ocular varia entre uma e três crianças em cada sala.

Se orientados corretamente, os próprios educadores podem confirmar suas suspeitas. Um simples exame de acuidade visual feito na escola é capaz de apontar se o estudante precisa ou não de correção ocular. Na avaliação, a criança lê letras ou símbolos escritos em diferentes tamanhos e gravados em uma tabela posicionada a determinada distância. Cada olho é avaliado em separado.

A confirmação do problema só é dada pelo médico oftalmologista, mas mesmo assim a medida é considerada pelos especialistas como uma das mais eficazes para detectar os casos de dificuldade de visão. Isso porque ocorre no contexto escolar e evita a sobrecarga de pacientes no sistema de saúde. “Esta é a melhor maneira de identificar alguma dificuldade visual, pois não precisa ser feito pelo médico. Fica muito difícil disponibilizar exame oftalmológico para todas as crianças, é inviável incluir todos os estudantes de escolas públicas no sistema de saúde. Teríamos que multiplicar por 10 o número de médicos”, avalia o presidente da Associação Paranaense de Oftalmologia, Ezequiel Portella. A medida corretiva mais comum entre os alunos é o uso de óculos.

Diagnóstico
Quando as letras no quadro negro começaram a ficar embaralhadas e a visão passou a ficar embaçada, a estudante do Colégio Estadual Padre Cláudio Morelli Alana Souza Couto, 16 anos, não percebeu que estava com problemas de visão. Na época, estudante da 2.ª série do ensino fundamental, a jovem sofria com constantes dores de cabeça, mas a suspeita era de um problema genético comum em sua família. Nem mesmo o desempenho regular na escola chamou a atenção de sua mãe, a podóloga Maria Ângela Alves de Souza. “Ela se perdia na leitura, tentava entender o que estava escrito. Achá­vamos que ela era uma aluna razoável”, conta.

Para tentar resolver o problema, a estudante passou a ocupar as primeiras carteiras da sala, mas o diagnóstico só veio após a desconfiança da sua professora, que percebeu o esforço da aluna para enxergar o quadro. Alana passou por um exame de acuidade visual na escola e foi encaminhada a um oftalmologista, que indicou o uso de óculos para corrigir a miopia.

A mudança significativa no desempenho escolar foi percebida pouco depois do uso de óculos. “Melhorou muito, ela passou a se interessar mais pela escola”, garante Maria Ângela. A jovem, que rapidamente sentiu a diferença, alerta os estudantes para que fiquem atentos aos sinais dos problemas de visão. “É uma necessidade muito importante procurar o médico assim que perceber que a visão está diminuindo”, destaca.


Programa busca diagnóstico nas escolas
O diagnóstico e o tratamento de problemas visuais em crianças com idade escolar é o foco do programa Olhar Brasil, uma parceria dos governos estaduais com o Ministério da Saúde e implementado recentemente no Paraná. Cerca de 320 municípios do estado participarão da iniciativa que tem duração de três anos. Professores e educadores serão capacitados para fazer, a partir de novembro, exames de acuidade visual em estudantes da educação básica e nos alunos do programa Paraná Alfabetizado.

A previsão é fazer 105 mil consultas no estado. Neste primeiro ano de projeto serão investidos R$ 1,4 milhão, repassados pelo Ministério aos municípios. As capacitações começam nas próximas semanas, quando educadores receberão uma cartilha com orientações sobre os procedimentos corretos para fazer os exames de acuidade visual e como identificar os alunos com dificuldade de visão. Depois da triagem, os estudantes serão encaminhados aos especialistas e, a partir da necessidade de cada paciente, serão entregues óculos.

“O projeto tem uma iniciativa social e educacional muito grande, para que as crianças se tornem bons estudantes. Além disso, vamos levar atendimento médico preventivo aos alunos”, avalia o secretário estadual de Saúde, Carlos Moreira Júnior. Assim como as crianças, uma faixa etária que sofre com os problemas de visão será atendida pelo programa. São os alunos adultos do Programa Paraná Alfabetizado, que a partir dos 40 anos de idade precisam de atenção especial em relação à saúde ocular. “É de vital importância prestar atendimento aos alunos adultos. A partir dos 40 anos, a maioria dos casos é de dificuldade de visão”, ressalta a coordenadora estadual Paraná Alfabetizado, Izabel Cordeiro Ribas Andrade.


Antibiótico ganha tratamento de tarja preta

Norma que obriga farmácia a reter receita médica entra em vigor em 30 dias. Objetivo é reduzir o uso indiscriminado de medicamentos antimicrobianos

Gazeta do Povo | 29 de outubro de 2010

Dentro de um mês não será mais possível comprar antibiótico sem receita médica nas farmácias. A nova regra, cujo objetivo é reduzir o consumo indiscriminado do medicamento no país, foi publicada ontem no Diário Oficial da União pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e passa a valer a partir de 28 de novembro. Infectologistas alegam que o uso excessivo de antibióticos está produzindo superbactérias, como a KPC (klebsiella pneumoniae carbapenemase), que matou 42 pessoas no Distrito Federal e em São Paulo neste ano.

A venda já exigia a prescrição médica, mas essa norma quase sempre era desrespeitada. Para evitar que isso aconteça, as farmácias só poderão entregar o antibiótico mediante a apresentação da receita em duas vias. Uma delas ficará retida no estabelecimento para cadastro no Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados (SNGPC), feito em livros ou sistemas digitais. A outra será devolvida ao cliente com a assinatura do farmacêutico responsável para comprovar o atendimento.

“Nem sempre a exigência da receita era cumprida e isso causou o uso indiscriminado dos antibióticos, levando à resistência bacteriana. A determinação é importante por dar acesso aos que realmente precisam do tratamento”, explica a chefe da Vigilância Sanitária de Produtos da Secretaria da Saúde do Paraná, Jussara de Fátima Serrato dos Santos.

A resolução da Anvisa prevê ainda que as receitas terão validade de dez dias a partir da data de emissão e que os rótulos deverão apresentar a inscrição “Venda sob prescrição médica – Só pode ser vendido com retenção da receita”. O descumprimento das medidas poderá acarretar em interdição da farmácia, além de multas que podem chegar a R$ 1,5 milhão. “Esta é uma boa iniciativa, pois sabemos que ocorrem abusos na venda destes medicamentos. Mas também reconhecemos que a farmácia é, muitas vezes, o estabelecimento de saúde da população que não consegue atendimento imediato no serviço público”, pondera a presidente do Conselho Regional de Farmácia do Paraná, Marisol Dominguez Muro. Ela diz que não apenas as farmácias devem ser alvo de ações de controle. “O aparecimento da bactéria não ocorre na farmácia, mas sim no ambiente hospitalar, que é o grande vilão, onde os pacientes estão com a imunidade comprometida”, diz.

O presidente da Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma), Sérgio Mena Barreto, e o presidente do Sindicato das Farmácias do Paraná, Edenir Zandona Júnior, afirmam que a adequação das farmácias à regra será trabalhosa, com a instalação de novos sistemas para o cadastro de receitas e acomodação dos medicamentos. Eles consideram a medida importante, mas também se preocupam com o acesso aos remédios pelos pacientes.

De acordo com os profissionais, o difícil atendimento no sistema de saúde é um fator complicador para o tratamento das doenças, considerando as novas medidas da Anvisa. “Como será o acesso aos medicamentos pelas pessoas que não conseguem atendimento médico?”, questiona Barreto. “É uma pena que quem vai pagar é o consumidor”, complementa Zandona Júnior.

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que mais de 50% das prescrições de antibióticos no mundo são inadequadas. Só no Brasil, o comércio desse tipo de medicamento movimentou R$ 1,6 bilhão, em 2009, segundo relatório do instituto IMS Health. São comercializadas no país mais de 90 substâncias antimicrobianas que possuem registro, como amoxicilina, azitromicina, cefalexina e sulfametoxazol, sem contar os medicamentos com uso exclusivo no ambiente hospitalar.

Klebsiella
A restrição à venda de antibióticos é a segunda medida de prevenção da Anvisa contra a KPC. Antes, já havia determinado a instalação de dispensadores de álcool gel acessíveis a pacientes em hospitais e clínicas médicas.

Os casos de KPC, até agora, estão restritos a pessoas hospitalizadas com baixa imunidade, como pacientes de UTIs. A superbactéria pode ser transmitida por contato direto ou pelo uso de objetos em comum. Especialistas dizem que lavar as mãos com água e sabão é a medida mais eficaz para evitar a disseminação da KPC e dos micro-organismos resistentes no ambiente hospitalar.


Prescrição médica
A venda de antibióticos nas farmácias terá um controle mais rígido a partir de 28 de novembro. Veja o que muda:
- O medicamento só pode ser entregue com a apresentação da receita médica em duas vias.
- Uma via será arquivada na farmácia e a outra devolvida ao consumidor com carimbo do farmacêutico, que comprova o atendimento.
- A movimentação das receitas será cadastrada no Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados (SNGPC).
- As receitas passam a ter validade de dez dias a partir da data de emissão.
- As embalagens e bulas dos medicamentos também serão alteradas. Elas devem trazer na caixa a inscrição “Venda sob prescrição médica – Só pode ser vendido com retenção da receita”.
- As mudanças nas embalagens devem ser feitas em até 180 dias.
- A Anvisa recomenda que os médicos entreguem as receitas escritas de forma legível e sem rasuras.
Fonte: Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).


Engorda de praia só em 2011

Projeto para ampliação da faixa de areia em Matinhos depende do aval da Capitania dos Portos. Depois disso, a licitação para escolha da empresa responsável pelas obras vai durar 45 dias

Gazeta do Povo | 27 de outubro de 2010

O projeto de engorda da orla de Matinhos, no litoral do Paraná, deve começar no próximo mês, com a licitação para escolha da empresa que ampliará a faixa de areia. Mas as obras propriamente ditas devem ficar só para o ano que vem. O recurso disponível para a recuperação do local, de cerca de R$ 30 milhões, é oriundo do Programa de Ace­leração do Crescimento (PAC) do governo federal (R$ 12 milhões) e de contrapartida do governo do estado (R$ 18 milhões). A licitação ainda não foi lançada porque depende do aval da Ca­­pitania dos Portos – trata-se de uma exigência do Instituto Ambiental do Paraná (IAP) com relação à licença ambiental prévia. O projeto vai ampliar em 50 metros a faixa de areia na orla de Matinhos, entre o Morro do Boi e o início do balneário Fló­rida, em uma extensão de sete quilômetros.

De uma lista de 13 exigências pontuadas pelo IAP para que a licença ambiental seja expedida, a autorização do projeto por parte da Capitania dos Portos é a última delas. Assim como a autoridade marinha, outras instituições foram indicadas pelo instituto para aprovarem o projeto. Entre elas, a prefeitura de Matinhos, o Conselho Estadual do Desenvol­­vimento Territorial do Litoral Paranaense, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), o Departamento Nacional de Produção Mineral e o Conselho do Patrimônio Histórico do Paraná: todos já manifestaram parecer favorável às obras.

O Conselho solicitou que a orla de Matinhos, que é de interesse de preservação, não passe por modificações e que as barreiras a serem construídas em quatro pontos da praia não se tornem obstáculos aos pedestres. “Explicamos que a paisagem já está modificada por conta deste assoreamento e as obras visam recuperar a orla, em um cenário que não ficará igual, mas muito melhor do que te­­mos hoje”, explica o secretário estadual de Desen­­volvimento Urbano, Wilson Bley Lipski.

O secretário argumenta que as exigências do IAP não estavam previstas no cronograma inicial do projeto e contribuíram para o atraso das obras. Ele acredita que o aval da Capitania dos Portos sairá nesta semana e, com isso, o processo de licitação tenha início no começo de novembro. A previsão é que o procedimento de concorrência dure aproximadamente 45 dias e seja concluído ainda neste ano. Além da autorização das entidades, o IAP também solicitou a apresentação do plano de contingência para eventuais incidentes ambientais decorrentes da operação da draga que irá retirar a areia do fundo do oceano, bem como a indicação dos responsáveis pelos programas e as medidas de monitoramento da obra, todos já entregues, de acordo com Lipski.

Incerteza
O prefeito de Matinhos, Eduardo Antonio Dalmora, reclama da falta de esclarecimentos para o atraso e ressalta que todos os procedimentos já foram tomados. “A praia está destruída e o dinheiro está na conta há um ano e quatro meses. Está praticamente tudo pronto, mas infelizmente a obra ainda não saiu do lugar”, critica. Ele também afirma que não sabe se a troca de governo irá interferir no andamento do processo. “Eu não sei como fica, se o dinheiro volta ou não ao governo do estado e ao governo federal. Nosso grande receio é perder esta verba que já está garantida”, diz. O secretário de Desenvolvi­­mento Urbano afirma que este será um tema presente no período de transição do governo e dificilmente o recurso arrecadado será perdido.

Dalmora espera a conclusão da engorda para dar início à segunda fase do projeto, a revitalização da orla que será realizada com recursos do PAC2. Enquanto as obras não ficam prontas, o secretário municipal de Turismo e Desenvolvimento Econômico, Ruy Hauer Reichert, lamenta que a praia permaneça em más condições por mais uma temporada. “Em grande parte da orla temos apenas um barranco, não há como usar a área e isso dificulta muito o turismo.” Consideran­­do os atrasos e o período para execução da obra, Reichert acredita que apenas na temporada de 2013 todo o projeto esteja concluído e a frequência de turistas na cidade tenha um incremento significativo. “Com a obra, a engorda e a revitalização da área, a praia vai ficar muito bonita. Vamos atrair muitos turistas”, diz.


Projeto exige monitoramento constante
Entre diversas tentativas de conter a erosão na praia de Matinhos, a engorda é considerada a mais adequada e eficaz para solucionar o problema. Sem aplicação em outras praias paranaenses, a medida, que tem previsão para durar cerca de 10 anos, exige monitoramento constante para verificar a continuidade do projeto. Na análise do professor do laboratório de Estudos Costeiros do departamento de Geologia da Universidade Federal do Paraná Rodolfo José Angulo este é um dos principais fatores que podem garantir que o investimento tenha o resultado esperado. “Desta forma será verificado se a colocação da areia deu certo, se é preciso corrigir possíveis erros ou fazer adaptações e obras complementares”, diz.

Angulo acredita que os impactos causados pelo projeto serão superados pelos ganhos que a medida irá trazer. “Como a obra tem caráter de recuperação, não teremos grandes impactos. O principal será durante a dragagem no fundo do mar, mas as questões positivas são maiores”, explica, referindo-se à engorda da orla e a interrupção da erosão.

Golpistas falsificam até carimbos



Gazeta do Povo | 15 de outubro de 2010

A confecção de carimbos para empresas e profissionais depende única e exclusivamente da boa fé de clientes e fornecedores para evitar o uso de dados falsos. Sem o amparo de nenhuma legislação específica na área, os empresários do ramo afirmam que não há nenhuma segurança para inibir casos de estelionato. Além de carimbos, falsários usam dados cadastrais de empresas para aplicar vários tipos de golpe. Em média, um caso de falsificação que usa o carimbo, entre outros materiais, chega por mês à Delegacia de Estelionato de Curitiba.

“Não existe legislação neste sentido. Os fornecedores precisam estar com a ‘antena levantada’ para verificar a real intenção do cliente, mas essa não é uma obrigação dele e muitas vezes o profissional pode não perceber que se trata de um falsário”, afirma o presidente do Sindicato das Indústrias Gráficas no Estado do Paraná (Sigep)/ Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abrigraf) Regional Paraná, Sidney Paciornik. De acordo com ele, os carimbeiros e donos de gráficas não contam com um respaldo que os oriente sobre os procedimentos a serem tomados para verificar a idoneidade do cliente.

O delegado Dirceu Schactae afirma que um dos principais alvos são as empresas que deixaram de funcionar, mas continuam ativas na Junta Comercial. À partir desta situação, os golpistas preparam toda a documentação falsa. “Os proprietários de empresas que estão ativas perante o fisco precisam ficar atentos ou devem dar baixa para resolver a situação”, alerta.

O presidente da Sigep orienta que, para não ser vítima de um golpe, a alternativa é não dar apenas ao carimbo a autenticidade de documentos. Ele indica outros elementos mais eficazes para atestar a veracidade das informações, como papéis especiais, selos holográficos, tintas diferenciadas e impressões em marca d’água.

Uma das únicas alternativas encontradas para tentar impedir a produção de carimbos que podem ser usados em golpes é a emissão de nota fiscal, que exige o número do Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) ou do Cadastro de Pessoa Física (CPF) do cliente. “Não tem sentido pedirmos para um terceiro confirmar a informação de que o cliente realmente trabalha na empresa ou é o profissional. É uma relação de confiança”, analisa.

Golpe
O empresário Ildomar Igna­chewski sentiu na pele a fragilidade da relação entre carimbeiros e clientes. Pela primeira vez em 20 anos, ele precisou prestar esclarecimentos à polícia sobre um carimbo que confeccionou. A encomenda foi feita a um chaveiro que terceiriza o serviço de Ignachewski, em nome de uma escola estadual localizada no bairro Hauer.

A tentativa de golpe foi descoberta quando o cliente não buscou o produto e uma funcionária do chaveiro foi à escola para entregar o carimbo, mas ninguém na instituição havia feito a encomenda. A diretora, que prefere não se identificar, conta que pagou pelo produto para reter o carimbo e registrou uma denúncia no 7.º Distrito da Polícia Civil, que está investigando o caso.

Assim como a maioria dos colegas de profissão, o empresário não possui artifícios para controlar os pedidos, principalmente porque recebe diversas solicitações de terceiros. “Como vamos saber que a encomenda é para fraudes?”, questiona.

Cuidados no berço evitam sufocação

Acessórios macios são perigo para bebês, pois podem prejudicar respiração durante o sono. Recomendação é fazê-los dormir com a barriga para cima

Gazeta do Povo | 11 de outubro de 2010

A principal causa de morte em acidentes de crianças com até 1 ano de idade no Brasil é a sufocação, de acordo com dados do Datasus/Ministério da Saúde, referentes ao ano de 2007 e informados pela ONG Criança Segura. Um dos maiores fatores de risco nesses casos é a utilização incorreta de acessórios nos berços. Nos Estados Unidos, a Comissão de Segurança de Produtos de Consumo (CPSC) e a Agência Americana de Controle de Alimentos e Medicamentos (FDA) recomendaram a suspensão do uso de posicionadores para bebês após o registro de 12 mortes no país, nos últimos 13 anos. As vítimas foram crianças que dormiam com o equipamento.

Os especialistas orientam que apenas um cobertor deve estar no berço enquanto a criança dorme. Em hipótese alguma é indicada a utilização de bichos de pelúcia, posicionadores ou almofadas laterais. Nem mesmo o travesseiro é recomendado. “Qualquer objeto macio oferece risco de sufocação”, alerta a coordenadora de mobilização da Criança Segura, Jaqueline Soares Magalhães. Durante o sono, a criança – que deve dormir com a barriga para cima – pode se virar, fazendo com que os acessórios macios obstruam as vias aéreas e causem a consequente a sufocação. O risco é grave porque, com pouca idade, os bebês ainda não possuem mecanismos de defesa e não conseguem se desvirar ou retirar objetos do rosto.

Durante os primeiros meses de vida, a criança precisa dormir em colchões elevados, com inclinação de 35° ou 40°. Esse mecanismo evita a sufocação com o refluxo, uma vez que os bebês conseguem expelir o líquido, impedindo que a secreção chegue aos pulmões. A inclinação indicada evita que eles escorreguem para debaixo dos cobertores e sufoquem. À medida que as crianças amadurecem, os riscos diminuem e cabe aos pais observarem o desenvolvimento dos pequenos em relação aos cuidados que devem ser tomados.

O coordenador da Pastoral da Criança Internacional, Nelson Arns Neumann, ressalta que os cuidados durante o sono reduzem em 70% os riscos de morte súbita de crianças. Mesmo importantes, ele considera que o assunto ainda não é abordado com a devida urgência. “As organizações norte-americanas ficaram em alerta com 12 mortes nos últimos 13 anos enquanto no Brasil é muito diferente. Nem todos os pais utilizam a posição correta para os bebês dormirem. Qualquer risco deve ser alertado à comunidade”, analisa.

Desde o nascimento de Julia, há oito meses, a publicitária Cláudia Maria Ticianeli Battis­tella, de 29 anos, segue rigorosamente os cuidados estabelecidos pela pediatra. Muitas precauções são facilitadas pela personalidade de sua filha que já demonstra algumas vontades. “Ela não gosta de cobrir os braços, sempre dorme com eles para fora”, conta a mãe. Cláudia afirma que já percebe diversos sinais de maturidade em Julia e a estimula para se defender de situações de risco. Ela, que mantém o colchão inclinado e o berço livre de almofadas, considera a informação um elemento fundamental para evitar que problemas graves aconteçam. “É mais do que um dever, pois mãe não deve apenas dar amor, ela precisa ser 100% cuidadosa, não deixando seu filho em perigo”, afirma.

Mobilização
Para alertar os pais sobre a necessidade dos cuidados com os pequenos, a ONG Criança Segura lançou uma campanha em que o foco é a sufocação e o engasgamento. No site da organização os pais encontram informações interativas sobre como deixar as casas preparadas e livres de perigos.

Mais informações:
www.crianca-segura.ning.com


Segurança nos detalhes
Assim como o uso de bichos de pelúcias, travesseiros ou almofadas, outras situações consideradas inofensivas pelos pais podem representar risco às crianças. Ainda na hora do sono, os médicos não recomendam que os filhos durmam com os pais. “É proibido”, alerta a pediatra e neonatologista Rosângela Garbers. Além de prejudicar o sono dos pais, existe a possibilidade de a criança ser sufocada com os cobertores, ter problemas com o aquecimento em excesso e ser esmagada pelos pais.

Seguindo pela casa, a recomendação é ter cuidados com cortinas ou persianas compostas por cordas longas, que podem acarretar em estrangulamento; e com objetos pequenos como moedas, colares de contas ou botões, que apresentam facilidade de serem engolidos. As crianças também podem engasgar com pedaços grandes de comida ou se queimarem com as refeições dos pais. Por isso, não é correto comer com os pequenos no colo.

Os andadores também compõem a lista de produtos perigosos. Além de ser desnecessário para que as crianças aprendam a andar, o objeto é um dos maiores responsáveis por acidentes entre crianças de cinco a 15 meses de idade. O uso de andadores causa quedas graves em escadas ou tropeços. Já os baldes são responsáveis por diversos casos de afogamento. Quando as crianças caem com a cabeça na água, não conseguem voltar à posição devido ao peso da cabeça em relação ao restante do corpo.

A chegada do Dia das Crianças exige atenção especial para a compra de brinquedos. Os produtos devem ser adequados à idade da criança e aprovadas pelo Inmetro. Entre os brinquedos, as bexigas são muito perigosas. Os pedaços de borracha formados depois que o objeto estoura fazem com que as crianças se engasguem se colocados na boca.

Seguindo pela casa, a recomendação é ter cuidados com cortinas ou persianas compostas por cordas longas, que podem acarretar em estrangulamento; e com objetos pequenos como moedas, colares de contas ou botões, que apresentam facilidade de serem engolidos. As crianças também podem engasgar com pedaços grandes de comida ou se queimarem com as refeições dos pais. Por isso, não é correto comer com os pequenos no colo.

Os andadores também compõem a lista de produtos perigosos. Além de ser desnecessário para que as crianças aprendam a andar, o objeto é um dos maiores responsáveis por acidentes entre crianças de cinco a 15 meses de idade. O uso de andadores causa quedas graves em escadas ou tropeços. Já os baldes são responsáveis por diversos casos de afogamento. Quando as crianças caem com a cabeça na água, não conseguem voltar à posição devido ao peso da cabeça em relação ao restante do corpo.

A chegada do Dia das Crianças exige atenção especial para a compra de brinquedos. Os produtos devem ser adequados à idade da criança e aprovadas pelo Inmetro. Entre os brinquedos, as bexigas são muito perigosas. Os pedaços de borracha formados depois que o objeto estoura fazem com que as crianças se engasguem se colocados na boca.


Sono seguro
Pequenos detalhes garantem a segurança dos pequenos enquanto dormem:
Acomode no berço apenas o bebê e o cobertor.
Não deixe bichos de pelúcias, travesseiros ou objetos fofos junto com a criança durante o sono.
A criança deve dormir de barriga para cima e posicionada no centro.
Utilize colchões firmes, sem embalagem plástica.
O lençol ou a manta devem ficar presos embaixo do colchão.
Cubra o bebê até a altura do peito, com os braços sobre o cobertor. Para evitar o frio, utilize blusas e uma luva.
Não agasalhe a criança em excesso. O ideal é vesti-la com uma peça de roupa a mais que os adultos estiverem usando em temperatura ambiente.
Fonte: ONG Criança Segura, Pastoral da Criança e Hospital Pequeno Príncipe

Um dia de sonho no castelo

Crianças carentes atendidas por projetos assistenciais visitam o Castelo do Batel, com direito a muita pizza e brigadeiro

Gazeta do Povo | 7 de outubro de 2010

Os problemas do dia a dia das famílias que moram na divisa entre Curitiba e Colombo, município da região metro­po­litana, ficaram para trás assim que o ônibus com as 25 crianças atendidas pelo Centro de Re­­ferência de Assistência Social (CRAS) do bairro Atuba começou a se mover na manhã de ontem, rumo ao centro da capital. Por algumas horas, elas esqueceram a precariedade e a violência que marcam a região e seguiram a um evento especial, onde foram tratadas como verdadeiros reis e rainhas.

O local da festa não poderia ser mais apropriado: o Castelo do batel. Já conhecido por algumas crianças, o espaço era definido como “um lugar maravilhoso”, que dificilmente seria visitado em outra ocasião. No trajeto, o passeio de ônibus já valeria a saída, tamanha animação das crianças. Pelo caminho foram inúmeras brincadeiras sobre os carros, os estabelecimentos comerciais e as pessoas nas ruas por onde passaram. “Qualquer passeio é o máximo, pois eles quase não saem do bairro”, conta a coordenadora do projeto desenvolvido no CRAS pela Universidade Livre do Meio Ambiente (Unilivre), em parceria com a Fundação de Ação Social de Curitiba (FAS).

Assim que chegaram ao cas­telo, os pequenos visitantes foram recebidos por um guia, que apresentou a eles o espaço mágico habitado no imaginário por reis, rainhas, príncipes e princesas. Logo depois, um banquete esperava por eles, que junto com as crianças de três outros projetos sociais foram servidos especialmente, como os convidados mais importantes. No cardápio, tudo o que qualquer criança mais gosta, mas nem sempre tem acesso. Pastéis, brigadeiros, sanduíches, pizzas, salgadinhos, bolos e frutas à vontade.

Desacostumadas ao tratamento prioritário, as crianças aproveitaram todos os momentos. Jho­natan Henrique Alferes Ferreira, de 12 anos, conta que é paparicado desta maneira apenas quando está doente. Seu amigo Rodrigo Alves Ribeiro, 10, ainda não conhecia o Castelo do Batel e adorou a oportunidade de comer brigadeiro e x-salada. “Está tudo muito gostoso”, afirma. “É muito divertido, ficamos felizes em poder vir até aqui, pois às vezes enjoamos de ficar sempre no bairro”, comemoram as amigas Márcia Ferreira, 12, e Miriam Ra­­mos, 11.

A festa foi oferecida por bares e restaurantes de Curitiba, no projeto Semana Solidária da Criança, que segue até o dia 9 de outubro. Ao todo, 57 estabelecimentos credenciados à As­­sociação Brasileira de Bares e Restaurantes no Paraná (Abrasel-PR) participam da iniciativa que neste ano vai atender cerca de 6,5 mil crianças de Curitiba, Londrina e Foz do Iguaçu. “É possível o setor privado realizar atividades voluntárias e proporcionar um momento de alegria para as crianças. Podemos transformar a sociedade e mostrar que não estamos pensando apenas no lucro. Queremos servir de exemplo”, afirma o presidente da Abrasel-PR, Marcelo Woellner Pereira, que realiza o evento em parceria com a FAS e com o Instituto Pró-Cidadania de Curitiba (IPCC).


Estímulo para seguir em frente
Enquanto apenas algumas horas de diversão podem parecer pouco tempo para as crianças que convivem em uma realidade conturbada, a educadora Silvana afirma que este é um período suficiente para despertar nelas a vontade de conquistar o sucesso em suas vidas. “Eles querem uma vida melhor e sabem que para isso precisam ir pelo caminho certo.” A psicanalista e doutora em psicologia do desenvolvimento Rosa Mariotto ressalta que o conhecimento das diferentes realidades é importante para o desenvolvimento das crianças. Para ela, essas oportunidades são válidas, pois garantem a diversão aos pequenos. “As diferenças individuais e como essas experiências são trabalhadas pelos adultos é que irão determinar o comportamento de cada um”, explica.

“A gente vê pela felicidade deles que vale a pena. Com isso eles percebem outra realidade, que podem ir atrás de seus sonhos e que precisam batalhar para ter uma vida melhor”, diz a presidente do IPCC, Helena Pereira Oliveira. O estudante Alisson de Souza Dias, 11, já sabe que caminho deve seguir para conquistar mais oportunidades. “Para ser respeitado preciso estudar e trabalhar. E é isso que vou fazer”, garante.

Infestação de ratos põe Paraná em alerta

Multiplicação de roedores preocupa na região metropolitana de Curitiba. Animais podem transmitir doença cuja taxa de letalidade está próxima de 30%

Gazeta do Povo | 6 de outubro de 2010

Pelo menos 25 proprietários rurais de Campina Grande do Sul e Quatro Barras, ambas na região metropolitana de Curitiba, estão sofrendo com a infestação de ratos silvestres em suas terras. O fenômeno é conhecido como “ratada” e acontece durante o período de seca da planta taquara, uma espécie de bambu que serve de alimento para os roedores. Quando essa planta perde as sementes, os ratos procuram por comida nas casas e propriedades rurais. Diante da situação, a Secretaria de Estado de Saúde (Sesa) enviou alerta aos demais municípios do Paraná. Por enquanto, nenhuma outra cidade registrou ocorrências.

Neste ano, a seca da taquara coincidiu com a época em que os ratos estão mais ativos biologicamente por causa da reprodução e pelo nascimento de novos animais, o que provoca aumento na população desses bichos. O último registro de ratada no estado foi entre 2004 e 2005 nas regiões de União da Vitória, General Carneiro, Guarapuava, Irati, Pato Branco e Cascavel. Antes disso, o fenômeno havia sido registrado em meados da década de 70.

“É um inferno, os ratos atacam toda a ração para criação animal”, reclama o proprietário rural Ivanir Zanela. Morador de Quatro Barras, em apenas um dia chegou a recolher mais de 30 ratos. Para conter o avanço dos animais, Zanela coloca ração em diversas áreas do sítio onde trabalha em Quatro Barras. O produto misturado com veneno fica exposto no paiol, no galinheiro, na estrebaria e no chiqueiro durante a noite, quando os ratos saem das tocas. Durante o dia, o chacareiro retira o produto para que os animais de criação não tenham contato com o veneno. Uma máscara é a única proteção usada por ele.

Zanela conta que o problema começou há cerca de um mês e meio, mas a mobilização dos demais produtores ganhou força há 20 dias. Ainda sem receber nenhuma visita da equipe da Vigilância Sanitária do município, ele acredita que conseguiu reduzir o número de animais na propriedade com o veneno. “Mas se sair com o carro por aí, você não vence de contar os ratos que estão na estrada”, afirma.

Doenças
A grande preocupação das autoridades de saúde é a transmissão da hantavirose pelos ratos silvestres. O vírus é transmitido pela urina, fezes e saliva do animal em contato com os humanos e a doença afeta principalmente os pulmões e o coração. A forma mais comum de contágio é pela respiração, quando acontece a inspiração da poeira contaminada. A doença também é transmitida pelo contato de machucados com as excreções, pela ingestão de alimentos contaminados e pela mordida do rato infectado, que é a maneira mais rara.

A chefe da Divisão de Zoo­noses e Animais Peçonhentos da Secretaria de Saúde (Sesa), Gisélia Burigo Rúbio, ressalta que os cuidados dos proprietários são determinantes para impedir a aproximação dos ratos. “Os cuidados são fundamentais para afastá-los. Para isso é preciso evitar que os alimentos fiquem expostos”, explica. Gisélia ressalta ainda que o uso de veneno deve ser feito com orientação dos órgãos de controle e que o produto deve ser registrado. “A Vigilância Sanitária faz o controle químico seguro. É preciso seguir as orientações”, alerta. Ela também não recomenda a queima dos animais, que pode causar grandes incêndios, ou tentar matá-los a pauladas, pois as excreções podem respingar e acarretar a contaminação.

Nesta semana, equipes da Vigilância Sanitária dos dois municípios e da Sesa fizeram visitas a alguns proprietários. Os técnicos coletaram animais para verificar se os ratos estão ou não infectados com a hantavirose. Diagnosticada em 1992, a doença já registrou até hoje 198 casos no Paraná, com 71 mortes. Até 2004, o estado apresentava os maiores índices da doença no país. Com as medidas de controle adotadas após a última ratada, caiu para a terceira colocação.


Meio urbano também exige precauções
Enquanto a área rural sofre com as ratadas, é preciso lembrar que o combate aos ratos nas regiões urbanas também deve ser constante.

Em Curitiba, o foco das ações de combate são as ratazanas, que transmitem a leptospirose, doença com altos índices de letalidade. O biólogo responsável pelo Centro de Controle de Zoonoses e Vetores da Secretaria Municipal da Saúde, Juliano Ribeiro, ressalta que a participação da população é indispensável. “Para resolver o problema de qualquer praga urbana é preciso evitar a água, o alimento, o abrigo e o acesso dos animais”, alerta.

A orientação é evitar o contato com a água de enchentes, com a lama da chuva ou áreas próximas a rios, que podem estar contaminadas com a bactéria da leptospirose, que apresenta fácil penetração na pele. É preciso vestir luvas e botas para lavar áreas que podem estar contaminadas. “Em Curitiba a leptospirose é muito grave. A doença afeta os pulmões e o clima da cidade favorece os problemas respiratórios”, explica Ribeiro. Assim como nas propriedades rurais, os moradores do meio urbano devem guardar adequadamente os alimentos, não deixar o lixo aberto e manter os terrenos limpos, sem entulho ou mato alto.


Hantavirose
Os sintomas da doença aparecem de 4 a 60 dias após a contaminação. No Paraná, a média é de 15 dias para o aparecimento dos primeiros sinais. Veja quais são eles:
- Febre
- Dor de cabeça
- Mal-estar geral
- Dores no corpo
- Dificuldade respiratória que aparece rapidamente, “da noite para o dia”. Este é o principal fator que caracteriza a hantavirose.


Cuidados
A pessoa contaminada deve procurar um hospital e informar que esteve em área silvestre. A informação é importante para a prescrição do tratamento adequado. Veja as medidas para evitar os ratos:
- As casas devem manter uma distância mínima de 50 metros da área de plantio e da mata;
- A área deve ser limpa, com a grama aparada e sem entulhos que podem servir de abrigos para os ratos;
- Não deixe os grãos de um dia para o outro na área de colheita. Os ratos podem se aninhar entre os produtos;
- O paiol para armazenar grãos deve ser arejado, com portas e janelas. Antes de entrar, lave o local com uma solução cuja proporção é de um litro de água sanitária diluído em nove litros de água. Espalhe-a pelo local com cuidado para não levantar poeira e deixe agir por 30 minutos;
- Em casa, guarde os alimentos em latas e não os deixe abertos;
- Use barreiras na soleira das portas para impedir a entrada dos ratos;
- Feche as janelas ao anoitecer. Ratos silvestres têm hábitos noturnos;
- Em caso de infestação, procure a Vigilância Sanitária do município.
Fonte: Secretaria de Estado da Saúde.