Um dia de sonho no castelo

Crianças carentes atendidas por projetos assistenciais visitam o Castelo do Batel, com direito a muita pizza e brigadeiro

Gazeta do Povo | 7 de outubro de 2010

Os problemas do dia a dia das famílias que moram na divisa entre Curitiba e Colombo, município da região metro­po­litana, ficaram para trás assim que o ônibus com as 25 crianças atendidas pelo Centro de Re­­ferência de Assistência Social (CRAS) do bairro Atuba começou a se mover na manhã de ontem, rumo ao centro da capital. Por algumas horas, elas esqueceram a precariedade e a violência que marcam a região e seguiram a um evento especial, onde foram tratadas como verdadeiros reis e rainhas.

O local da festa não poderia ser mais apropriado: o Castelo do batel. Já conhecido por algumas crianças, o espaço era definido como “um lugar maravilhoso”, que dificilmente seria visitado em outra ocasião. No trajeto, o passeio de ônibus já valeria a saída, tamanha animação das crianças. Pelo caminho foram inúmeras brincadeiras sobre os carros, os estabelecimentos comerciais e as pessoas nas ruas por onde passaram. “Qualquer passeio é o máximo, pois eles quase não saem do bairro”, conta a coordenadora do projeto desenvolvido no CRAS pela Universidade Livre do Meio Ambiente (Unilivre), em parceria com a Fundação de Ação Social de Curitiba (FAS).

Assim que chegaram ao cas­telo, os pequenos visitantes foram recebidos por um guia, que apresentou a eles o espaço mágico habitado no imaginário por reis, rainhas, príncipes e princesas. Logo depois, um banquete esperava por eles, que junto com as crianças de três outros projetos sociais foram servidos especialmente, como os convidados mais importantes. No cardápio, tudo o que qualquer criança mais gosta, mas nem sempre tem acesso. Pastéis, brigadeiros, sanduíches, pizzas, salgadinhos, bolos e frutas à vontade.

Desacostumadas ao tratamento prioritário, as crianças aproveitaram todos os momentos. Jho­natan Henrique Alferes Ferreira, de 12 anos, conta que é paparicado desta maneira apenas quando está doente. Seu amigo Rodrigo Alves Ribeiro, 10, ainda não conhecia o Castelo do Batel e adorou a oportunidade de comer brigadeiro e x-salada. “Está tudo muito gostoso”, afirma. “É muito divertido, ficamos felizes em poder vir até aqui, pois às vezes enjoamos de ficar sempre no bairro”, comemoram as amigas Márcia Ferreira, 12, e Miriam Ra­­mos, 11.

A festa foi oferecida por bares e restaurantes de Curitiba, no projeto Semana Solidária da Criança, que segue até o dia 9 de outubro. Ao todo, 57 estabelecimentos credenciados à As­­sociação Brasileira de Bares e Restaurantes no Paraná (Abrasel-PR) participam da iniciativa que neste ano vai atender cerca de 6,5 mil crianças de Curitiba, Londrina e Foz do Iguaçu. “É possível o setor privado realizar atividades voluntárias e proporcionar um momento de alegria para as crianças. Podemos transformar a sociedade e mostrar que não estamos pensando apenas no lucro. Queremos servir de exemplo”, afirma o presidente da Abrasel-PR, Marcelo Woellner Pereira, que realiza o evento em parceria com a FAS e com o Instituto Pró-Cidadania de Curitiba (IPCC).


Estímulo para seguir em frente
Enquanto apenas algumas horas de diversão podem parecer pouco tempo para as crianças que convivem em uma realidade conturbada, a educadora Silvana afirma que este é um período suficiente para despertar nelas a vontade de conquistar o sucesso em suas vidas. “Eles querem uma vida melhor e sabem que para isso precisam ir pelo caminho certo.” A psicanalista e doutora em psicologia do desenvolvimento Rosa Mariotto ressalta que o conhecimento das diferentes realidades é importante para o desenvolvimento das crianças. Para ela, essas oportunidades são válidas, pois garantem a diversão aos pequenos. “As diferenças individuais e como essas experiências são trabalhadas pelos adultos é que irão determinar o comportamento de cada um”, explica.

“A gente vê pela felicidade deles que vale a pena. Com isso eles percebem outra realidade, que podem ir atrás de seus sonhos e que precisam batalhar para ter uma vida melhor”, diz a presidente do IPCC, Helena Pereira Oliveira. O estudante Alisson de Souza Dias, 11, já sabe que caminho deve seguir para conquistar mais oportunidades. “Para ser respeitado preciso estudar e trabalhar. E é isso que vou fazer”, garante.

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