Réveillon colorido em Curitiba

Venda de fogos de artifício está 12% maior em relação ao ano passado. Alta no movimento pode significar mais acidentes com os artefatos

Gazeta do Povo | 31 de dezembro de 2010

A virada do ano promete ser colorida em Curitiba, região metropolitana e litoral. Mais de 450 toneladas de fogos de artifício devem recepcionar a chegada de 2011 nessas cidades, de acordo com estimativa da Associação Industrial e Comercial de Fogos de Artifício do Paraná. O índice de vendas nas lojas filiadas à associação está 12% maior em relação ao ano passado. Os números são promissores, mas a alta no movimento também pode significar mais atendimentos a pessoas feridas pelo artefato nos hospitais.

Apenas no Natal deste ano, o Hospital Evangélico recebeu oito casos desta natureza. No Hospital do Trabalhador (HT), entre o dia 24 de dezembro e ontem, foram atendidos sete pacientes. Já na passagem de 2009 para 2010, 14 pessoas foram encaminhadas ao Evangélico. No HT, entre os meses de dezembro do ano passado e janeiro deste ano, foram oito pacientes. Em diversas situações, os acidentes foram causados pela combinação do consumo de bebidas alcoólicas e o uso dos explosivos. As vítimas mais frequentes são homens jovens.

O uso incorreto de fogos de artifício pode resultar em queimaduras, perdas auditivas e até amputações – são frequentes os casos de pessoas que perdem dedos e até mesmo uma das mãos. “A principal recomendação é que não se faça o manuseio deste material, principalmente dos artefatos que disparam bombas, que são os que fazem os maiores estragos”, alerta o chefe do Serviço de Cirurgia Plástica de Queimados do Hospital Evan­gélico, José Luiz Takaki. Assim como os comerciantes do ramo, o médico também já percebeu o aumento nas vendas neste ano. “Notamos que tivemos mais queimados neste Natal em relação ao ano passado. Por isso precisamos estar atentos para as festas de Réveillon”, afirma.

O estudante Jean Ferreira Grossman, 15 anos, faz parte das estatísticas. A festa de Natal em sua casa terminou de forma inesperada. O jovem teve as duas mãos queimadas enquanto tentava acender um “buscapé”. Grossman adquiriu o produto em uma loja que não é especializada na venda deste material e não recebeu nenhuma orientação de como manuseá-lo. “Meus amigos colocaram as mãos na frente para proteger a bombinha do vento”, lembra. Foi neste momento, conta ele, que o fogo se espalhou pelas suas mãos. No primeiro instante, Grossman não percebeu a gravidade da lesão, mas em poucos minutos a região da palma das mãos e os dedos estavam cobertos por bolhas.

O garoto está com as mãos enfaixadas e não sabe até quando precisará ficar com o curativo. Sua única certeza é de que não irá mais utilizar produtos como esse. “Fica a lição para toda a família e os amigos”, afirma o irmão Jefferson, 19 anos, que o socorreu.

Prevenção
O primeiro passo para evitar transtornos é realizar a compra dos fogos de artifício em lojas especializadas, com profissionais habilitados a prestarem informações sobre o uso dos artefatos. O presidente da associação e empresário, Rodolpho Aymoré Júnior, ressalta que também é fundamental seguir todas as recomendações apresentadas na embalagem dos produtos. “Os fogos são seguros, se usados conforme as orientações.”

O proprietário de outro estabelecimento do ramo, Moisés Lanza, reforça o alerta. “O ideal é manter uma distância de 30 a 50 metros do artefato”, explica. Quando acionado, ele precisa estar firme no chão e caso falhe é necessário esperar até 20 minutos para fazer contato físico com o material. Nessas situações, a pólvora deve ser descartada.


Fogueteiro da rodada é a nova pedida
Uma alternativa encontrada para evitar acidentes com fogos de artifício é a eleição do fogueteiro da rodada. A brincadeira consiste em eleger uma das pessoas que está na festa de réveillon para que não beba e fique responsável pelo manuseio dos explosivos.

Do que depender do dentista Marcello Brasil, a festa de réveillon em sua casa será digna de um clube social e terá segurança garantida. Além de seguir rigorosamente as orientações presentes nas embalagens dos artefatos e ouvir as explicações da atendente da loja em que comprou os produtos, ele escolheu para sua filha Giovanna, de 12 anos, artefatos adequados à idade dela. “Vamos fazer a queima de fogos em um local afastado, distante dos familiares que estarão assistindo. Não queremos estragar nossa festa”, garante.

O pediatra Carlos Massignan também está confiante do sucesso da chegada de 2011 em sua casa. Pela primeira vez ele investiu na compra de fogos de artifício e separou um local seguro para o acionamento. Quem comemora é seu filho Luca, de 9 anos, que espera uma linda festa, mesmo sabendo que não irá se aproximar de nenhum artefato. “Ele não vai mexer em nada”, alerta o pai.

Socorro
Nos casos de queimaduras com fogos de artifício, a recomendação dos médicos é molhar o local com água corrente. Depois do resfriamento, a área deve ser coberta com um pano limpo, sem a necessidade de retirar o curativo improvisado até o atendimento médico. “Nestes momentos aparecem diversos produtos para serem aplicados no local, como pó de café, molho de tomate ou pasta de dente, mas nada disso deve ser usado”, explica o chefe do Pronto-Socorro e do quadro clínico do Hospital do Traba­lhador, Rached Hajar. As queimaduras de primeiro e segundo grau são mais dolorosas, porém superficiais. Já as lesões de terceiro grau ocasionam danos mais graves.


Animais precisam de cuidados especiais
Não são apenas os humanos que precisam de atenção durante as festas de réveillon. A virada do ano também representa um período de estresse para os animais que convivem com os barulhos de rojões. A exposição de cães, gatos e pássaros ao barulho excessivo pode ser prejudicial à saúde dos bichos.

De acordo com o presidente da ONG Pense Bicho, Aurélio Munhoz, nessas situações os animais podem se tornar agressivos, brigar uns com os outros ou se machucar na tentativa de se esconder do barulho. Em casos mais graves, os bichos apresentam até quadros de convulsões e paradas cardiorrespiratórias. Nas aves, em especial, o estresse altera seu ciclo reprodutivo e as afasta dos ninhos.

Para evitar tais problemas, Munhoz indica algumas medidas práticas e que amenizam o transtorno causado aos animais. “É recomendado deixar o bicho em um ambiente que abafa o som, como a lavanderia ou a garagem”, explica. Ele destaca que o ideal é deixá-los em ambientes cobertos, com portas e janelas fechadas. “Outra solução é utilizar cobertores para cobrir a casinha dos animais, abafando o som”, diz.

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