Transformar é melhor do que só ajudar

Um novo perfil de voluntário ganha força no Brasil. São pessoas que não se satisfazem com o assistencialismo. Querem seragentes de transformação

Gazeta do Povo | 5 de dezembro de 2010

Fazer aquilo que se gosta e ajudar a transformar uma comunidade, cidade ou o mundo em que vivemos. Essa experiência tem sido vivida por um número cada vez maior de pessoas que não se contentam mais em apenas dedicar seu tempo, conhecimento e força de vontade ao assistencialismo. Os voluntários com esse novo perfil trabalham para ser agentes de transformação.

“Isto significa proporcionar o desenvolvimento das comunidades, estimulando o empreendedorismo social para que o grupo cresça, não precise sempre do trabalho voluntário e possa ainda formar novos agentes”, explica Rodrigo Starling, coordenador de projetos sociais do Instituto de Gestão Organi­zacional e Tecnologia Aplicada (IGETEC), integrante do Comitê de Entidades no Combate à Fome e pela Vida (Coep) em Minas Gerais.

Starling ressalta que esta prática acompanha a preocupação com a sustentabilidade, fator indispensável no mundo globalizado. “Não existe a possibilidade de um país crescer sem o conceito do voluntariado transformador uma vez que os cidadãos também são responsáveis pelo desenvolvimento das nações”, avalia.

O trabalho voluntário transformador está ao alcance de todos e pode ser aplicado em qualquer área. “Para provocar a real mudança é preciso apenas fazer a atividade da melhor maneira possível”, defende o analista de projetos do Centro de Ação Voluntária de Curitiba (CAV), Thiago Baise. “Qualquer ação é transformadora”, garante. Na data em que se comemora o Dia do Voluntário no Brasil, ele destaca que, assistencialista ou transformadora, a atividade voluntária é importante e traz mudanças na vida de quem precisa de ajuda. “Podemos dizer que as duas andam em paralelo. Depende muito do momento de vida do voluntário.”

O impacto que o trabalho social traz para as comunidades depende muito do desempenho de quem o pratica. Para que as potencialidades de cada um sejam aproveitadas ao máximo, é preciso que o voluntário saiba o que pretende fazer e como. “É aquilo que dá brilho nos olhos”, define Baise. O ponto de partida é verificar o que ele quer para o mundo e então começar as mobilizações ou potencializar ações já existentes.


Um robô para amenizar a quimioterapia
Os períodos em que as crianças passam por sessões de quimioterapia no Hospital de Clínicas da Universidade Fe­­­deral do Paraná, em Curitiba, ficam menos difíceis com a ajuda de Robinho. O robô criado pela profissional liberal e contadora de histórias Mara Xavier Melnik, 40 anos, explica tudo o que acontece com elas a partir de suas próprias experiências.

O personagem passa pela invasão das células caretas no corpo (referência lúdica ao câncer), pelo tratamento e a consequente queda de cabelo. “O contato com o Robinho diminui o medo e a ansiedade”, afirma Mara.

O projeto surgiu da necessidade de explicar aos pequenos o que eles precisam enfrentar durante o internamento. A escolha de um robô para brincar com as crianças aconteceu depois que um paciente se comparou ao personagem Robocop, durante a implantação de um cateter em seu corpo.

Com as informações técnicas fornecidas por enfermeiras do hospital, Mara criou todo o enredo da história. “É possível perceber como realmente as coisas se transformam. O ambiente do hospital é muito triste, mas a gente chega com a proposta de brincar e encontra muitas coisas boas nas crianças. Nosso trabalho é transformar este período tão difícil, para que elas tenham pelo menos uma boa lembrança do lugar”, afirma Mara.


Trabalho e superação que não têm preço
Depois de trabalhar como empregada doméstica por mais de 20 anos, Rosalina da Luz Gutervil, de 53 anos, não se contentou com a aposentadoria e resolveu colocar em prática uma vontade antiga: realizar trabalho voluntário. A baixa escolaridade não foi empecilho para que ela montasse grupos de geração de renda na comunidade onde mora, o bairro Jar­­dim Weissopolis, em Pi­­­nhais, na região metropolitana de Curitiba. Com muita pesquisa, participação em cursos e perseverança, ela montou uma cozinha industrial, onde produziu pães, geleias e outros alimentos.

O sucesso foi conquistado com a produção de pães de mel. Depois de algum tempo, ela abriu sua própria empresa, a Dr Cook, onde faz os doces que vende para hotéis, restaurantes e outros estabelecimentos. Como ação de responsabilidade social da empresa, a empreendedora utiliza sua cozinha para ensinar grupos da comunidade todo o processo de produção e gestão dos negócios. Por mês, os grupos vendem cerca de 35 mil pães de mel. “É um sonho. Saber que consegui melhorar a vida das pessoas com trabalho não tem preço.”

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