Falta de óculos pode ser a causa de notas baixas

É importante que pais e professores estejam atentos às crianças na escola. Desempenho fraco muitas vezes está relacionado com problema de visão

Gazeta do Povo | 9 de novembro de 2010

A falta de atenção durante as aulas e notas baixas no boletim podem significar muito mais que o desinteresse dos alunos pelos estudos. Essas situações são algumas das principais consequências dos problemas de visão, que afetam cerca de 30% dos estudantes em idade escolar no Brasil, de acordo com o Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO). Entre os responsáveis pelo baixo desempenho das crianças em sala de aula está a necessidade de correção ocular em casos de miopia, hipermetropia, astigmatismo e estrabismo, a visão monocular ou a ocorrência de patologias que exigem intervenção cirúrgica.

Por prejudicarem o desempenho dos estudantes em sala de aula, esses problemas são, muitas vezes, descobertos na escola. A maioria dos pais ignora a recomendação dos médicos e não levam os filhos para fazer avaliação oftalmológica aos 3 anos de idade, ampliando o período de convivência da criança com a dificuldade visual durante os primeiros anos da vida escolar. A partir do momento em que a visão passa a ser mais requisitada pelas crianças é que aparecem os primeiros sinais do problema.

Em diversas situações são os professores que percebem que algo está errado com os alunos. Esse quadro, porém, não isenta os pais de ficarem atentos aos sinais das crianças dentro de casa, durante as atividades cotidianas ou momentos de lazer. “Muitos casos estão ligados ao uso excessivo do computador e de videogames, quando os pais não orientam corretamente as crianças e elas forçam muito a visão”, pontua a pedagoga da Escola Estadual Emiliano Perneta Isolete Kurtz Ferreira. Na instituição, a média de alunos com necessidade de correção ocular varia entre uma e três crianças em cada sala.

Se orientados corretamente, os próprios educadores podem confirmar suas suspeitas. Um simples exame de acuidade visual feito na escola é capaz de apontar se o estudante precisa ou não de correção ocular. Na avaliação, a criança lê letras ou símbolos escritos em diferentes tamanhos e gravados em uma tabela posicionada a determinada distância. Cada olho é avaliado em separado.

A confirmação do problema só é dada pelo médico oftalmologista, mas mesmo assim a medida é considerada pelos especialistas como uma das mais eficazes para detectar os casos de dificuldade de visão. Isso porque ocorre no contexto escolar e evita a sobrecarga de pacientes no sistema de saúde. “Esta é a melhor maneira de identificar alguma dificuldade visual, pois não precisa ser feito pelo médico. Fica muito difícil disponibilizar exame oftalmológico para todas as crianças, é inviável incluir todos os estudantes de escolas públicas no sistema de saúde. Teríamos que multiplicar por 10 o número de médicos”, avalia o presidente da Associação Paranaense de Oftalmologia, Ezequiel Portella. A medida corretiva mais comum entre os alunos é o uso de óculos.

Diagnóstico
Quando as letras no quadro negro começaram a ficar embaralhadas e a visão passou a ficar embaçada, a estudante do Colégio Estadual Padre Cláudio Morelli Alana Souza Couto, 16 anos, não percebeu que estava com problemas de visão. Na época, estudante da 2.ª série do ensino fundamental, a jovem sofria com constantes dores de cabeça, mas a suspeita era de um problema genético comum em sua família. Nem mesmo o desempenho regular na escola chamou a atenção de sua mãe, a podóloga Maria Ângela Alves de Souza. “Ela se perdia na leitura, tentava entender o que estava escrito. Achá­vamos que ela era uma aluna razoável”, conta.

Para tentar resolver o problema, a estudante passou a ocupar as primeiras carteiras da sala, mas o diagnóstico só veio após a desconfiança da sua professora, que percebeu o esforço da aluna para enxergar o quadro. Alana passou por um exame de acuidade visual na escola e foi encaminhada a um oftalmologista, que indicou o uso de óculos para corrigir a miopia.

A mudança significativa no desempenho escolar foi percebida pouco depois do uso de óculos. “Melhorou muito, ela passou a se interessar mais pela escola”, garante Maria Ângela. A jovem, que rapidamente sentiu a diferença, alerta os estudantes para que fiquem atentos aos sinais dos problemas de visão. “É uma necessidade muito importante procurar o médico assim que perceber que a visão está diminuindo”, destaca.


Programa busca diagnóstico nas escolas
O diagnóstico e o tratamento de problemas visuais em crianças com idade escolar é o foco do programa Olhar Brasil, uma parceria dos governos estaduais com o Ministério da Saúde e implementado recentemente no Paraná. Cerca de 320 municípios do estado participarão da iniciativa que tem duração de três anos. Professores e educadores serão capacitados para fazer, a partir de novembro, exames de acuidade visual em estudantes da educação básica e nos alunos do programa Paraná Alfabetizado.

A previsão é fazer 105 mil consultas no estado. Neste primeiro ano de projeto serão investidos R$ 1,4 milhão, repassados pelo Ministério aos municípios. As capacitações começam nas próximas semanas, quando educadores receberão uma cartilha com orientações sobre os procedimentos corretos para fazer os exames de acuidade visual e como identificar os alunos com dificuldade de visão. Depois da triagem, os estudantes serão encaminhados aos especialistas e, a partir da necessidade de cada paciente, serão entregues óculos.

“O projeto tem uma iniciativa social e educacional muito grande, para que as crianças se tornem bons estudantes. Além disso, vamos levar atendimento médico preventivo aos alunos”, avalia o secretário estadual de Saúde, Carlos Moreira Júnior. Assim como as crianças, uma faixa etária que sofre com os problemas de visão será atendida pelo programa. São os alunos adultos do Programa Paraná Alfabetizado, que a partir dos 40 anos de idade precisam de atenção especial em relação à saúde ocular. “É de vital importância prestar atendimento aos alunos adultos. A partir dos 40 anos, a maioria dos casos é de dificuldade de visão”, ressalta a coordenadora estadual Paraná Alfabetizado, Izabel Cordeiro Ribas Andrade.


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