Travessias cheias de história

O vaivém de balsas e ferrys na Baía de Guaratuba completa 51 anos

Gazeta do Povo | 29 de abril de 2011

Fazer a travessia da Baía de Guaratuba a bordo de uma balsa ou de um ferryboat faz parte da rotina de muitas pessoas que visitam ou moram no litoral paranaense. Em 2011, o vaivém das embarcações entre Caiobá e Guaratuba completa 51 anos e resiste às discussões sobre a construção de uma ponte de acesso entre as duas localidades.

Com média de 3 mil embarques diários e cerca de 4 milhões de passageiros ao ano – considerando os feriados, quando o movimento chega a dobrar –, o Paraná é o estado que registra o maior número de passageiros em comparação às outras localidades onde a empresa F. Andreis, responsável pelo serviço, atua.

Ao todo, cinco embarcações – três ferryboats e duas balsas – fazem o trajeto de 1,2 quilômetro diariamente. Cada viagem dura em média sete minutos, sem contar o período de embarque e desembarque dos veículos. O tempo é curto, mas suficiente para que não faltem histórias de marinheiros e mestres.

O carnaval é a época mais movimentada: em média, 8 mil pessoas passam pela baía. É neste feriado e nas festas de fim de ano que a animação dos passageiros chega a situações extremas: pessoas pulam da embarcação para se refrescar na água ou aproveitam a travessia para pescar. Nenhuma destas práticas é recomendada, pois oferecem riscos à segurança dos passageiros.

Também estão nos registros das travessias os incidentes com carros que caem durante as manobras de embarque, além de veículos que não são engrenados corretamente e acabam pendurados nas balsas em movimento.

Manutenção
Até 1991, o poder público era o único responsável pela travessia. Foi quando a F. Andreis começou a trabalhar no local, assumindo as balsas enquanto o governo do estado fazia a travessia com os ferryboats. Com a licitação de 1996, a empresa ficou responsável por todas as embarcações que fazem o trajeto. O contrato teve duração de dez anos. Em 2009, uma nova concorrência foi aberta e a F. Andreis assumiu a concessão até 2019.

O início do sistema de travessias pela baía em 1960 trouxe para Guaratuba uma nova oportunidade de emprego para a população local. Anos depois, com a chegada da F. Andreis à cidade, vieram muitos trabalhadores de outros municípios, ao mesmo tempo em que a empresa incentivou a capacitação dos residentes interessados. Para trabalhar no sistema é preciso carteira de habilitação expedida pela Marinha Brasileira. O profissional começa como marinheiro de máquinas e pode chegar a mestre, responsável pela navegação.


Trabalho passa de pai para filho
O trabalho nas embarcações que fazem a rota entre Caiobá e Guaratuba é considerado uma paixão por muitos mestres e marinheiros. Na profissão há 38 anos, o mestre Messias Rodrigues Cordeiro, de 59 anos, garante que não teve nenhum dia de trabalho em terra. Todos foram sobre as águas. “Parece que nasci para fazer isso. Está no sangue”, diz.

Cordeiro é um dos trabalhadores que vieram para o litoral do estado especialmente para a manutenção da travessia e é um dos funcionários mais antigos da F. Andreis. Trouxe também a família para viver e trabalhar no lugar: o cunhado e três filhos são marinheiros, e outra filha atua na área administrativa. “Quem entra no serviço de água não sai mais”, afirma o mestre.


Qual é a diferença?
Conheça as diferenças dos tipos de embarcações usadas na travessia na Baía de Guaratuba:

Ferryboat: Possui estrutura de propulsão própria, em que os motores ficam na embarcação. Caso ocorra algum defeito no ferryboat, todo o equipamento fica impossibilitado de funcionar. No litoral, há três ferrys, cada um com capacidade para acomodar cerca de 40 veículos.

Balsa: É composta também por rebocadores, responsáveis pela movimentação da estrutura. As balsas são consideradas mais operacionais, uma vez que em situações de problemas no motor, o rebocador é facilmente substituído, o que não prejudica o funcionamento. Dois conjuntos de balsas e rebocadores realizam a travessia na baía de Guaratuba. Cada um deles comporta aproximadamente 75 veículos.

Há dois anos, Tiago Rodrigues Cordeiro, 23, um dos filhos de Messias, entrou na navegação. Ainda marinheiro auxiliar, o jovem conta que não esperava ingressar na profissão, mas começou a se envolver vendo em casa a dedicação dos familiares. Agora, ele pretende chegar ao cargo de capitão máximo, inspirado na experiência do pai. “Os marinheiros aqui admiram muito meu pai. Se eu conseguir chegar à metade do que ele é, já está bom”, afirma.

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