Frota velha e reduzida afeta trabalho da PM

Número de viaturas já é pequeno e parte ainda está sempre na oficina. Em cidades onde há veículos, faltam policiais para dirigi-los

Gazeta do Povo | 08 de março de 2011

Pelo menos 1,5 milhão de moradores da região metropolitana de Curitiba (RMC) sofrem com a falta de manutenção nas viaturas da Polícia Militar. Levantamento realizado pela Gazeta do Povo constatou que em duas das maiores cidades da RMC, Colombo e Almirante Tamandaré, a frota de apenas 14 viaturas chega a cair pela metade devido aos problemas mecânicos. Nos outros municípios, a reclamação se refere ao número reduzido da frota para a segurança pública. O baixo efetivo e a falta de manutenção das viaturas comprometem o policiamento.

Para fazer a pesquisa, a reportagem entrou em contato com todos os 26 destacamentos da PM da região metropolitana. Em seis deles, esteve pessoalmente e constatou vários casos de “viaturas baixadas”, termo usado na corporação para os veículos que deixam de ir às ruas por problema mecânico. Em alguns municípios, os comandantes dos destacamentos se recusaram a passar informações “por medida de segurança” e “para evitar que criminosos usem os dados como estratégia de atuação”. O comando da PM também não divulgou dados.

Em Almi rante Tamandaré, a falta de viaturas funcionando ficou evidente em dezembro, durante a final da Liga Municipal de Futebol. Na ocasião, dois homens foram assassinados no decorrer da partida. Revoltadas, testemunhas disseram que a falta de policiamento facilitou os crimes. Uma viatura da PM esteve em patrulha no estádio municipal momentos antes dos homicídios, mas precisou deixar o local para atender a um acidente de carro. A outra viatura também não pode permanecer no estádio durante o jogo.

Nesse e nos demais casos que se repetem diariamente, a situação poderia ser controlada se além das duas viaturas os outros quatro carros que ficaram estacionados por cerca de um ano no destacamento do município também pudessem sair às ruas. Porém, a falta de manutenção prejudica o patrulhamento na cidade com mais de 100 mil habitantes. “Solicitamos a manutenção, mas não tivemos resposta”, diz um policial que prefere não se identificar para evitar punição. “Levantar uma viatura é um procedimento longo e complexo. Até mesmo um reparo barato fica dias sem solução”, afirma outro policial de Pinhais, onde uma viatura deixou de realizar a patrulha por estar com o símbolo da PM desgastado.

“Caco velho”
Com 200 mil habitantes, Colombo já teve em seu pátio quatro viaturas paradas, restando três para o atendimento das ocorrências locais ou para substituir os veículos com problemas mecânicos nas cidades vizinhas. A quantidade de veículos que vão às ruas é insuficiente para cobrir a área de 197 quilômetros quadrados que o município compreende e que conta com áreas críticas, como o Alto Maracanã, o Guaraituba e a Vila Zumbi, por exemplo. “Entre as três [viaturas] que rodam, só uma é boa, as outras são uns ‘cacos velhos’”, reclama o policial. Os problemas são diversos, como carros que “andam dois dias e ficam três parados”, portas e vidros que não abrem e problemas na suspensão e pastilhas de freios.

Quando diversos chamados chegam ao mesmo tempo, os casos mais graves são passados na frente dos outros, fazendo com que o atendimento aos demais fique mais demorado ou até mesmo deixe de acontecer. “Desta maneira não podemos fazer o trabalho ostensivo, em que a população se sente segura, e ficamos restritos ao atendimento de ocorrências”, complementa o policial.

Os municípios menores em população, mas grandes em extensão, contam com uma viatura apenas, caso de Itaperuçu. Com equipe formada por dois policiais a cada turno, o destacamento da cidade fica fechado quando é preciso atender qualquer ocorrência tanto no centro quanto na região rural. Em diversas situações, policiais da vizinha Almirante Ta­­mandaré se deslocam para responder ao chamado. “É mais fácil pegar o ladrão na unha do que esperar a polícia”, afirma o comerciante José Calazan Stresser, que trabalha próximo ao destacamento e constantemente recebe pessoas à procura dos policiais que estão em patrulha.
Colaborou Gabriela Campos


Situação está normal, diz comandante da PM
Há um vácuo no caixa da Polícia Militar que se estende de novembro a março, período histórico que marca o final e o início da disponibilização de verbas para a corporação. Não foi diferente em 2011, mas “a situação está dentro da normalidade, proporcionalmente com o número de viaturas e de efetivo”, diz o coronel Mau­­rício Tortato, comandante do 17.º Batalhão, que engloba a re­­gião metropolitana. A frota na re­­gião tem 200 viaturas, entre mo­­to­­cicletas, carros para a rádiopatrulha, patrulha rural.

Em média, 10% estão baixadas, mas retornam aos destacamentos após três dias. “Esta não é a situação ideal, mas não compromete a segurança pública”, garante o comandante. “Mas não adianta ter viaturas se não tem efetivo pra rodar com elas”, disse um dos policiais ouvidos pela reportagem. Enquanto algumas viaturas ficam paradas por falta de manutenção, outras deixam de ir às ruas por falta de policiais. Segundo o comandante do 17º Batalhão, 167 homens estão sendo colocados na equipe da PM na região metropolitana, bem como nas patrulhas rurais. Os policiais estão na fase final do curso de formação, mas já realizam treinamento na ronda ostensiva.

O presidente da Associação de Defesa dos Direitos dos Policiais Militares Ativos, Inativos e Pensionistas (Amai), coronel Elizeu Ferraz Furquim, estima que entre 3 e 4 mil policiais desempenham funções diferentes daquelas para as quais foram designados. Para ele, isso é resultado de um critério que “está fora da melhor técnica e interfere na gestão dos comandos.” “Toda esta distribuição de viaturas e efetivo é uma jogada política. Só que ela tem um custo e quem paga é a sociedade.”

“Há muito tempo se discutem os mesmos problemas. Não temos efetivo e nem viaturas para atender a região metropolitana”, afirma o presidente do Conselho Comunitário de Segurança (Conseg) de São José dos Pinhais, Jaiderson Rivarda. As queixas também vêm de Piraquara. “A viatura fica alguns dias na cidade e depois volta para Pinhais. Nesse tempo o destacamento fica fechado”, diz a secretária do Conseg local, Indiamara do Rocio Szczpanik.

Em Pinhais, o presidente do Conseg, Sérgio Skiba, conta que parte da estrutura da PM é fornecida pela população. “Possibi­­litamos o conserto de vidros, troca de óleo ou pastilhas de freio. Mas se colocassem aqui seis viaturas, não teríamos contingente para todas elas.”

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