Inovações no planejamento urbano trouxeram fama à capital

Especial aniversário de Curitiba - 318 anos

Gazeta do Povo | 29 de março de 2011

Durante toda sua história, Curitiba foi cenário de inúmeros projetos de ordenação urbana que chamaram a atenção mundo afora. A fama de cidade planejada vem da realização de ideias inovadoras, como o calçadão da Rua XV de Novembro e as estações tubo, e da continuidade dos programas urbanísticos. “O planejamento urbano foi o que deu a visão de que Curitiba pode ser uma cidade respeitada. Não temos uma importância econômica como São Paulo nem as praias do Rio de Janeiro, mas o que nos destacou foi o planejamento”, afirma o arquiteto Irã Dudeque, professor de teoria da Arquitetura na Pontifícia Universidade Católica do Paraná e na Universidade Positivo.

Um dos primeiros planos a ser colocado em prática em Curitiba é do tempo em que a cidade ainda se chamava Vila Nossa Senhora da Luz e do Bom Jesus dos Pinhais, nos idos de 1820. Na época, o povoado era composto por apenas 220 casas dispostas em forma circular. Cem anos mais tarde, influenciada pelo movimento nacionalista que exaltou o Brasil Moderno, Curitiba ganhou uma área central embelezada, com grandes avenidas, como a Visconde de Guarapuava, a Sete de Setembro, a Silva Jardim, a Iguaçu e a Getúlio Vargas.

O projeto executado pelo arquiteto francês Alfred Agache em 1943 foi o primeiro plano formal e deixou marcas na capital. “Ele previa uma série de círculos em volta da cidade, com grandes avenidas”, explica o professor de história da Arquitetura brasileira na Universidade Federal do Paraná Key Imaguire.

Confira abaixo os principais momentos da evolução urbana da cidade, com base em dados do Instituto de Pesquisa e Planeja­mento Urbano de Curitiba (Ippuc).

1950
Com 180 mil habitantes, Curitiba começa a colocar em prática o Plano Agache, que definia centros funcionais especializados para as áreas comercial, industrial, educacional e social. Em 1950 é iniciada a construção do Centro Cívico (foto 1), do Palácio Iguaçu e da Avenida Cândido de Abreu. Também são referências do plano Agache o bairro Rebouças, predominantemente industrial, o Centro Politécnico, com foco nas atividades universitárias, e o Mercado Municipal, na Avenida Sete de Setembro. Outra via importante no desenvolvimento da cidade, a Avenida República Argentina, na região sul de Curitiba, ganha pavimentação. Em 1955 é criado o primeiro Plano de Transporte Coletivo de Curitiba, que vigorou até 1974. No mesmo ano, seguindo o projeto de ordenação do trânsito na capital, é criada a Estação Rodoviária, no Centro.

1960
Os anos 60 foram marcados por intenso crescimento demográfico em Curitiba e a população atingia 470 mil habitantes. O aumento foi desorganizado nas questões urbanas que dizem respeito à habitação e à circulação pela cidade. Diante deste cenário é fundado em 1965 o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) e com ele surge outra alternativa ao Plano Agache: o primeiro Plano Diretor de Curitiba, sob responsabilidade de Jorge Wilheim. O plano é a base do modelo atual e traz diretrizes sobre o sistema viário (foto 2), zoneamento, loteamento, renovação urbana, preservação, revitalização dos setores históricos tradicionais e edificação. O projeto prevê o crescimento linear do Centro da cidade, com vias tangenciais de circulação rápida e desenvolvimento preferencial no eixo nordeste-sudoeste. Nesta década são criadas ainda a Urbanização de Curitiba (Urbs) e a Companhia de Habitação Popular de Curitiba (Cohab).Os anos 60 terminam com um estudo preliminar sobre a implantação do metrô na cidade, em 1969.

1970
A população atinge 609 mil habitantes e os investimentos no planejamento são intensos. A cidade toma forma, com 75 bairros e novos parques, áreas culturais e de lazer. Em 1970, Curitiba é destaque em todo o Brasil pela instalação do primeiro calçadão do país, na Rua XV de Novembro (foto 3), que três anos depois ganhou o seu conhecido Bondinho. Próximo dali é delimitado o centro histórico da cidade. No início da década de 1970 existem na cidade 37 favelas e a então Vila Pinto, atual Vila Torres, é uma das mais famosas. A preocupação com a drenagem se reflete na criação dos parques Barigui, São Lourenço e Barreirinha, em 1972. No ano seguinte, a Cidade Industrial de Curitiba (CIC) é integrada à capital e a região metropolitana é instituída, composta por 14 municípios. Os ônibus expressos começam a circular pelas ruas nesta década e o sistema de transporte público ganha atenção especial com a definição de eixos estruturais. Em princípio, 20 quilômetros de pistas exclusivas são destinadas aos veículos, que fazem a integração com outras linhas em terminais.

1980
As novidades no sistema de transporte público continuam. Em 1981 começa a circular pelas ruas de Curitiba o primeiro ônibus articulado do Brasil. Junto com ele é incrementada a integração entre as linhas expressas, alimentadoras e interbairros nos terminais de bairro. O Estacionamento Regulamentado de Veículos (Estar) entra em vigor, fazendo de Curitiba a segunda cidade brasileira a implementar a medida, atrás de São Paulo. A capital paranaense passa por uma divisão administrativa em que são definidas nove regionais, chamadas na época por “freguesias”. A década segue com a inauguração de novos parques, como o Bosque do Papa (foto 4), criado na ocasião da visita do Papa João Paulo II a Curitiba, e o Zoológico. O programa Lixo que não é Lixo inicia a coleta domiciliar de materiais recicláveis. No fim dos anos 80 é apresentado o projeto Bairro Novo, com ocupação das áreas no sul da cidade com lotes urbanizados e habitações. A cidade registrava 1 milhão de habitantes.

1990
Curitiba implementa as estações tubo, em 1991, e apresenta os ônibus biarticulados (foto 5). A linha Boqueirão foi a primeira e em seguida passaram a circular os ônibus ligeirinhos, linhas diretas entre terminais e estações. Com a proposta de realizar a ligação entre diferentes áreas da cidade sem a necessidade de se passar pelo centro, o Linhão do Emprego foi iniciado em 1997. Com 34 quilômetros de extensão, a avenida passava por 18 bairros na área sul da cidade com foco na geração de renda nas áreas que recebem a via. O Rebouças, bairro definido pelo Plano Agache como industrial, passa em 1999 por revitalização e ganha duas novas avenidas, a Dario Lopes dos Santos e a Maurício Fruet. A cidade tinha 1,3 milhão de moradores na década de 1990.

2000
Curitiba entra no novo século com 1,5 milhão de habitantes e revitalizações em vias importantes, como a XV de Novembro, a Riachuelo, a Avenida Iguaçu e a Praça Osório. A cidade adota o sistema de binários, com duas vias que seguem em sentidos contrários. No transporte coletivo, as fichas são substituídas por cartões eletrônicos. Em 2004, o Plano Diretor da cidade é revisado e apresenta novas diretrizes. A população também participa da elaboração do documento durante audiências públicas. O aprimoramento do projeto urbanístico da cidade segue com a criação da Linha Verde (foto 6). A primeira etapa compreende a ligação entre o Pinheirinho e o Prado Velho, com previsão de continuidade até o Atuba, completando a integração entre as regiões norte e sul.

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