Liberdade sobre duas rodas

Grupos de motociclistas buscam diversão, amizade e belas paisagens para curtir a vida

Revista Dimensão | 155 | maio 2010

Eles dizem que são como abelhas. Basta se encontrarem que a aproximação é imediata. Do encontro passam para os cumprimentos e uma conversa que, mesmo sendo a primeira, parece ser entre amigos de muitos anos. Dali seguem para um destino que não importa ser perto ou longe. Para os motociclistas estradeiros, cada hora é hora e cada lugar é lugar. Basta uma rota para seguir.

Guiados pelos princípios de liberdade, respeito e fraternidade, os grupos de motociclistas se juntam para confraternizar e conhecer novos lugares. A distância não importa, o prazer está em sentir a estrada. “Queremos usufruir da liberdade ao ar livre, viver a estrada e não só passar por ela. Queremos sentir o cheiro, as cores, a temperatura da estrada, que com o carro pouco se percebe. Quando não temos motivo para viajar, a gente se encontra e vai a algum lugar”, afirma Cravinhos Jr, 57 anos e motociclista há 30.

Entre os motociclistas, pouco importam as cilindradas da moto que está ao lado. O objetivo principal é a companhia. Muitas vezes nem mesmo o nome do parceiro que viaja no grupo faz diferença, pois apelidos -nunca pejorativos- substituem o nome utilizado fora das estradas. “O que importa é a pessoa estar junto, o que dizemos é ‘que bom que você está aqui’. Queremos unir as pessoas, não importa quem é ou como”, diz Cravinhos.

Estimativas da Associação Brasileira de Motociclistas (Abram) e do site Mototur apontam mais de cinco mil grupos de motociclistas no Brasil, que reúnem, de acordo com o presidente da Abram, Lucas Pimentel, cerca de três milhões de motociclistas. Pimentel afirma ainda que o mercado duas rodas no país movimenta por ano US$ 10 bilhões.

Além do mercado de motos e equipamentos, o turismo é um dos grandes beneficiados com os movimentos de motociclistas. Na busca por belas paisagens, eles movimentam o mercado em qualquer canto do país. “Há uma procura muito grande por cidades com potencial turístico. Os motociclistas querem confraternizar e também conhecer novas cidades”, afirma o diretor comercial do site Mototur, Everson Lamar de Assunção. O site divulga cerda de 90% dos eventos direcionados ao público.

Em um final de semana, Assunção estima que cada motociclista gaste aproximadamente R$ 700,00 na cidade onde está. Em média, os eventos de médio porte reúnem cinco mil motociclistas que juntos trazem para a cidade mais de R$ 3 milhões. “O motociclista também se torna referência de informações turísticas para os amigos, pois está sempre viajando e indica as cidades”, diz.

Os motociclistas buscam também aventuras fora do Brasil. Cravinhos trabalha na Harley-Tours, que organiza viagens a rotas dos Estados Unidos e Europa. A ida de um casal para a tradicional Rota 66 na Califórnia, durante 15 dias, custa aproximadamente US$ 8.500,00. Lá eles passam por San Francisco, Los Angeles, Las Vegas e outras cidades. De acordo com Cravinhos, a grande diferença entre as viagens pelos Estados Unidos e pelo Brasil é a estrutura básica que os motociclistas encontram, como qualidade das estradas e rede hoteleira. “Aqui as estradas não são muito confiáveis, temos muitos problemas de segurança e de atendimento. Mas aqui o litoral é mais bonito”, garante.

Paixão de pai para filhos
Dificilmente apenas um integrante da família é motociclista. Dentro de casa esta paixão se estende a todos, que quase sempre participam das viagens. O advogado Rafael Torres, 23, é um exemplo disso. Desde os 18 anos gosta de pilotar e sua principal referência foi seu pai. “Sempre tive o sonho de comprar uma moto”, conta.

Há dois anos, ele e o pai seguiram por uma viagem de 15 dias pelo Chile e Argentina. Foi a oportunidade de estreitar ainda mais a relação pai e filho. “Nos tornamos parceiros. Durante a viagem um ajudava o outro, planejávamos tudo, fazíamos tudo junto. Quem anda é bastante unido.”

Além da companhia do pai, Torres também faz parte de um grupo de motociclistas, onde é o integrante mais jovem. Para ele, o que o atrai no motociclismo é a sensação de liberdade. “É a liberdade e a adrenalina. A gente chega de viagem de bem com a vida. É muito bom para aliviar o stress”, diz.

A fé também segue em duas rodas
Entre as velas em homenagem a Nossa Senhora do Carmo, o ronco dos motores chama a atenção na Paróquia do Carmo, em Curitiba. Lá, uma vez por ano a procissão é realizada em duas rodas. A iniciativa de criar a Procimotos foi do Padre Luiz Alberto Kleina, que é motociclista e apaixonado por motos. Na procissão ele reúne diversos motociclistas e grupos de motociclistas. “É um trabalho de evangelização e educação no trânsito. Também é uma forma de combate ao preconceito contra os motociclistas”, afirma o Padre.


Quanto mais longe, melhor!
E para chegar a qualquer distância com segurança, alguns cuidados são fundamentais, tanto para quem pilota há muitos anos quanto para quem iniciou no motociclismo há pouco tempo:
- Antes de tudo, faça uma boa auto-escola
- Comece as viagens por pequenos trajetos
- Pegue informações sobre o roteiro que irá fazer e a cidade para onde vai
- Esteja com a manutenção da sua moto em dia
- Respeite as leis de trânsito
- Utilize todos os equipamentos de segurança, como capacete, roupas resistentes e botas ou calçados reforçados
- Não tenha pressa! Não ande em alta velocidade
- Fique atento e concentrado ao trânsito
Fonte: Associação Brasileira de Motociclistas, Mototur e Cravinhos Jr.

Saiba mais:
Associação Brasileira de Motociclistas: www.abrambrasil.org.br
Harley-Tours: www.harleytours.com.br
Mototur: www.mototour.com.br

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